terça-feira, abril 13, 2010

LUIZ GARCIA

Problemas em Roma
O GLOBO - 13/04/10

Não demorou muito: no fim da semana passada, o Vaticano pela primeira vez reconheceu a necessidade de providências práticas contra o problema da pedofilia no clero. E anunciou atitude inédita: colaborar com a Justiça civil na investigação de denúncias de abusos sexuais envolvendo sacerdotes.

A nova postura foi anunciada sem rodeios.

“Somente assim poderemos reconstruir um clima de justiça e confiança plena na Igreja Católica”, disse o portavoz do Vaticano, Frederico Lombardi.

A espinhosa questão dos abusos sexuais de menores por sacerdotes viera à tona na Semana Santa. Enquanto o pregador oficial do Vaticano colocava a Igreja como vítima de ataques injustos, cardeais de prestígio investiram contra os padres culpados de abusos, que definiram como “traidores do Evangelho”.

Era uma acusação e também uma autocrítica.

Nem uma coisa nem outra tinha ocorrido até agora, em relação ao problema, que raramente foi encarado de frente pelo Vaticano. Na missa da Sexta-Feira Santa, o pregador oficial do Vaticano, Raniero Cantalamessa, citou relatos sobre pedofilia de sacerdotes — e a indiferença da cúpula da Igreja a essas acusações. O Papa Bento XVI não abriu a boca.

Mas outros sacerdotes tomaram a iniciativa de condenar os abusos sexuais.

Um cardeal chegou a cobrar do Vaticano atitude inédita: enfrentar a “dolorosa realidade”. O enfrentamento poderia ter duas frentes de combate: punição dos culpados e investigação das causas do problema.

Uma pergunta continua no ar: qual seria o fator singular que torna o problema tão frequente na Igreja Católica? A resposta parece ser mais óbvia ainda: o celibato. Seria absurdo imaginar que o celibato induz à pedofilia. Mas talvez faça sentido imaginar que uma minoria não desprezível dos católicos que escolhem a batina seja indiferente à proibição do casamento. E nesse grupo existiria segunda minoria, cuja indiferença seria justificada por uma tendência à pedofilia.

Palpiteiros de fora podem admitir que o Vaticano não pode acabar com o homossexualismo ou a pedofilia. Mas pode rever os critérios de avaliação dos candidatos ao sacerdócio. A tendência ao homossexualismo pedófilo não é muito difícil de ser detectada.

O combate oficial e aberto aos abusos sexuais não vai além da promessa de punição do crime da pedofilia. Mas talvez possa abrir um debate interno sobre a exigência do celibato.

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