quinta-feira, abril 22, 2010

CLÓVIS ROSSI

O Bric já rachou
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/04/10


SÃO PAULO - Não passou nem uma semana desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva proclamou, em Brasília, a unidade de ação do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e eis que dois de seus integrantes (Brasil e Índia) disparam sobre um terceiro (China).
Henrique de Campos Meirelles, presidente do Banco Central do Brasil, diz que a valorização da moeda chinesa "é absolutamente crítica para o equilíbrio da economia mundial".
Duvvuri Subbarao, o colega de Meirelles no Banco Central indiano, reforça: "Se a China revalorizasse o yuan, teria um impacto positivo no nosso setor externo. (...) Se alguns países administram sua taxa de câmbio e a mantêm artificialmente baixa, o peso do ajuste cai em certos países que não administram sua taxa de câmbio tão ativamente".
Detalhe nada secundário: a manifestação de Subbarao é rigorosamente idêntica à de Timothy Geithner, o secretário norte-americano do Tesouro, mas não tem parentesco algum com o que se ouviu na cúpula do Bric.
Não se trata de minimizar o Bric. Países grandes, territorial e populacionalmente, são por definição candidatos a potências. Nem precisava a Goldman Sachs dizê-lo.
Trata-se apenas de não cair na fanfarra vazia que cerca o grupo, por enquanto apenas uma mesa de debates.
Prova-o a divergência em torno do câmbio. Meirelles aponta o yuan valorizado como uma das duas grandes distorções da economia global (a outra é o deficit de crescimento nos países ricos).
A moeda chinesa desvalorizada facilita exportações e dificulta importações, o que cria os problemas apontados pelo presidente do BC indiano e a distorção global citada por Meirelles.
É esse o ponto que tende a dominar a discussão econômica doravante, além da guerra entre a Casa Branca e Wall Street.

Nenhum comentário:

Postar um comentário