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Até a oposição reconhece que o deputado Antonio Palocci foi um dos melhores ministros da Fazenda do Brasil moderno, em um difícil período de transição. Articulado, inteligente e educado, ganhou respeito e credibilidade em todos os segmentos da economia e da politica. Não culpava a herança maldita de FHC por todos os problemas do Brasil, não dividia o país entre pobres e ricos, não dizia que os fins justificam os meios. Competente, discreto e moderado, sem envolvimento com o mensalão, em tudo aparentava ser o oposto do Zé Dirceu. Certamente seria o candidato ideal de Lula e do PT, até o quase inverossímil “caso do caseiro” que levou à sua queda. Bill Clinton foi um ótimo presidente, fez dois governos de paz e prosperidade e sofreu um impeachment, não porque fez sexo com Monica Lewinsky na Casa Branca, mas porque mentiu. No Brasil se debochou muito do puritanismo e da hipocrisia dos americanos. Aqui, nenhum presidente ou ministro cairia por um escândalo sexual ou amoroso. Nem mesmo se um presidente do Senado usasse um lobista para pagar as contas da amante. No máximo, como no caso Bernardo Cabral e Zélia, podia cair no ridículo. Palocci não roubou nem deixou roubar, mas caiu. Quis a fatalidade que, no caso da casa de Brasília, surgisse o depósito suspeito na conta da testemunhachave. Provavelmente cerca de 99.9% das pessoas de bem, honestas, democráticas, cristãs, crentes, desconfiariam. Mas era verdade. Se fosse em um thriller de conspiração política, o leitor abandonaria o livro — seria inverossímil, um abuso da sua boa-fé, dos limites da “suspensão da descrença” indispensável à ficção. A violação do sigilo bancário do caseiro, em beneficio de Palocci, merece todas as condenações e punições legais, mas o que este prosaico episódio mostra é que, na vida real, está tudo por um fio, que um golpe da sorte, ou a sua falta, pode mudar tudo da noite para o dia. Sem o caseiro Francenildo, provavelmente não haveria nem Dilma candidata. Com a economia bombando como agora, nem Serra e Aécio juntos poderiam enfrentar Palocci. A única certeza é que até outubro tudo estará incerto. NELSON MOTTA é jornalista. |
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