quarta-feira, março 10, 2010

MERVAL PEREIRA


Contradições
O GLOBO - 10/03/10

O prestígio internacional do presidente Lula está abalado depois de sua absurda mudez diante da morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo em uma prisão, após 85 dias de greve de fome, e de sua aproximação com a ditadura teocrática de Mahmoud Ahmadinejad no Irã.

O jornal espanhol “El País”, hoje o mais influente da Europa, que havia lhe dado o título de “homem do ano”, retirou simbolicamente seu apoio com uma crítica em editorial, afirmando que o governo brasileiro poderia exercer mais pressão sobre o regime cubano, em especial na área de defesa de direitos humanos.

Antes disso, já havia publicado um artigo do editor da respeitada revista de assuntos internacionais “Foreign Policy”, Moisés Naím, que colocou Lula como um dos cinco grandes hipócritas de 2009.

Os outros quatro hipócritas, segundo Naím, seriam: Os banqueiros, que sempre desdenharam o Estado e acreditavam no mercado e que, apesar de terem sido salvos pelo Estado na recente crise internacional, não aprenderam a lição; O ex-primeiro-ministro inglês Tony Blair, que declarou ter “profunda repulsa” por ditadores para justificar a necessidade de tirar Saddam Hussein do poder, mesmo que não tivesse armas de destruição em massa, mas, poucos dias depois, foi ao Azerbaijão para dar uma palestra na empresa do empresário mais rico do país, e se reuniu com o ditador Ilham Aliyev, amigo de seu anfitrião; “Os galãs” do Partido Republicano americano, que acusaram Bill Clinton de conduta inaceitável no affair Monica Lewinsky, e agora aparecem envolvidos em escândalos sexuais, como o governador da Carolina do Sul, Mark Sanford, ou o senador John Ensign; E os magistrados britânicos que deram ordem de prisão à ministra de Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, acusada de crimes de guerra nos conflitos entre o Hamas e Israel na Faixa de Gaza, mas não acusaram Obama, Bush e Blair, por exemplo, pelos milhares de mortos no Iraque e Afeganistão.

Lula entrou na lista por não criticar as condutas autoritárias de seu amigo Hugo Chávez, e de criticar as eleições democráticas ocorridas em Honduras, enquanto defende a eleição fraudada de Mahmoud Ahmadinejad no Irã.

A leniência de Lula com a ditadura de Cuba, explicitada pela amistosa visita a Fidel no mesmo dia da morte de Zapata, reforça certamente a lista de justificativas.

Ontem, a agência de notícias Associated Press (AP) divulgou uma entrevista com Lula em que ele volta a falar sobre a prisão de dissidentes cubanos. O presidente brasileiro trata Cuba como se não fosse uma ditadura, e faz comparações absurdas com o sistema judiciário brasileiro: “Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos de prender as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem a do Brasil”.

Ou então: “Eu gostaria que não ocorresse (prisão de presos políticos), mas não posso questionar as razões pelas quais Cuba os prendeu, como não quero que Cuba questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil”.

O mais grave, porém, é que Lula tratou como bandidos os presos políticos cubanos, e mais uma vez culpou o morto: “Eu acho que greve de fome não pode ser utilizada como um pretexto dos direitos humanos para libertar pessoas. Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.

Esses comentários do presidente Lula são preocupantes porque denotam que ele faz uma confusão terrível entre regimes democráticos e ditaduras, tratandoos igualmente.

É uma confusão mais grave do que a que faz entre o público e o privado. Recentemente, para justificar as inspeções que finge fazer em obras do PAC, mal acobertando a antecipação da campanha eleitoral, disse que só com “o olho do dono” as coisas andam.

Essa confusão conceitual de Lula pode ser definida pelo princípio da contradição de Aristóteles. Com duas proposições contrárias, se uma é verdadeira a outra é falsa.

Se Lula se diz um democrata, não pode aceitar a ditadura cubana. Se aceita, não é democrata.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garante que não procede o comentário, publicado na coluna de domingo, de que esteja armando “umas bombinhas”, por onde passa no exterior, contra o provável candidato tucano à Presidência da República, José Serra, e muito menos que essa atitude seja parte de uma campanha sua para ser vice-presidente na chapa oficial de Dilma Rousseff.

De acordo com Meirelles, analistas que seguem o Brasil “leem o que Serra fala; eles leram a entrevista do senador Sérgio Guerra ( presidente do PSDB); leem o que o Nakano fala (Yoshiaki Nakano, ex-secretário de Fazenda de São Paulo no governo Mario Covas), o que o Bresser Pereira fala (ex-ministro da Fazenda e da Administração)”.

Meirelles diz que, quando esses analistas lhe perguntam o que acha das declarações do presidente do PSDB à revista “Veja”, de que se o partido ganhar vai mudar tudo na economia; ou de uma declaração do Serra, de que o câmbio tem que ser desvalorizado, e que os juros têm que cair, “eles sabem que não fecham as contas, dá inflação”.

O que eu faço, diz o presidente do Banco Central, é exatamente descartar isso.

Digo que independente do que algumas pessoas possam falar, acho que, devido aos ganhos de crescimento econômico, a melhora de padrão de vida da população, hoje o suporte político para estabilidade econômica não dá margem para grandes mudanças.

“E quando insistem, digo que o PSDB tem excelentes economistas, que fizeram grande trabalho no governo.

“Eu mesmo sugiro que conversem com o Armínio (Fraga, ex-presidente do Banco Central)”, conta.

O deputado do PT que está trabalhando na legislação que descriminaliza o uso de drogas é Paulo Teixeira, de São Paulo.

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