REVISTA VEJA
Lya Luft
Quando a natureza mata
"A natureza não mata apenas com enchentes, deslizamentos,
terremotos e tsunamis. Mata também pelas mãos do homem,
o que é bem mais preocupante"
Menina do interior, tive a natureza como presença enorme em torno da casa e por toda a pequena cidade: paisagem, abrigo, fascinação, surpresa, escola de permanência e também de transitoriedade. Mantive um laço estreito com esse universo, e quando posso durmo de janelas e cortinas abertas, para sentir a respiração do mundo. Porém, cedo também aprendi que a mãe natureza pode ser cruel. Granizo perfurando folhas e arrasando a horta, geada castigando flores, raios matando gente. De longe, ouvia falar em terremoto, quando o vasto mundo ainda era distante. Agora que o mundo ficou minúsculo, porque o Haiti arrasado, o Chile destruído e a Europa nevada estão ao alcance do meu dedo no computador ou no controle da televisão, a velha mãe se manifesta em estertores que podem ser apenas normais (o clima da Terra sempre mudou, às vezes radicalmente, antes de virmos povoar este planeta), mas também podem ser rosnados de protesto, "ei, o que estão fazendo comigo essas pequenas cracas que se instalaram sobre minha pele?".
Ilustração Atômica Studio |
Mas a natureza não mata apenas com enchentes, deslizamentos, terremotos e tsunamis. Mata pela mão dos humanos, o que pode parecer um fato em escala menor, mas é bem mais preocupante. Homens, mulheres e meninos-bomba quase diariamente se explodem levando consigo dezenas de vidas inocentes: pais de família, mães ou crianças, mulheres fazendo a feira, jovens indo para a escola. Bandidos incendeiam um ônibus com passageiros dentro: dois morrem logo, outros vários curtem em hospitais o grave sofrimento dos queimados. Não tinham nada a ver com a bandidagem, estavam apenas indo para o trabalho, ou vindo dele. Assaltantes explodem bancos em cidades do interior antes tranquilas. Criminosos sequestram casais ou famílias inteiras e os submetem aos maiores vexames e terror. Como está virando costume, a gente agradece por escapar com vida.
Duas mães deixam num barraco imundo cinco crianças, algumas com menos de 6 anos. Sem comida, sem força, sem presença, sem a menor higiene. O policial que as encontra leva duas menorzinhas para casa, onde sua mulher lhes dá banho e comida. As crianças, de tão fracas, mal conseguem se alimentar. O homem chora: tem três filhos pequenos, e há algum tempo perdeu uma filhinha. A maldade humana agride até esse homem que com ela deve ter frequente contato.
A natureza, da qual fazemos parte, mata com muito mais crueldade através de nós do que através do clima ou de movimentos da terra, e de maneira bem mais assustadora: pois nós pensamos enquanto prejudicamos o nosso semelhante. Temos a intenção de atormentar, torturar, matar, mesmo que em vários casos seja uma consciência em delírio – estamos tão drogados que achamos graça de tudo. Mas somos responsáveis por nos termos drogado.
De modo que, como me dizia um amigo, o ser humano não tem jeito, não. Ou: esse é o nosso jeito, a nossa parte na natureza. De um lado, os cuidadores, que vão de pais e mães até médicos e enfermeiras; do outro lado, os destruidores, que são os bandidos, mas também (que tristeza) eventualmente pais e parentes. E contra eles, tanto ou mais do que contra a natureza não humana, somos impotentes. O que faz a criança diante do abandono materno? Em relação ao pai, tio ou irmão estuprador? O que fazem passageiros de um ônibus, pacíficos e cansados, diante do terror imposto por bandidos? Nada. Migalhas humanas soterradas por maldade e frieza, como num terremoto ou tsunami somos soterrados pela lama, pelos destroços, pelas águas.
Resta filosofar um pouco: de que vale a vida, quanto vale a minha, e como a usamos, se é que pensamos nisso? Pensar pode ser meio chato, e ainda por cima traz alguma inquietação. A natureza poderosa, encantadora e cruel também somos nós: que a gente não fique do lado dos animais assassinos, como a orca, que depois de matar três pessoas continua, como foi anunciado, "fazendo parte do time", no parque americano.
Antes de usar um adesivo "salve as baleias", eu quero um adesivo "salve as pessoas, que são parte da natureza".
fernandopessoaMe surpreende a forma que a senhora se refere aos animais.Quando não fala com hostilidade diz que eles "até fizeram parte da sua vida" só vi a senhora se dirigir aos animais como objetos... uma coruja (que até tinha nome) que vivia numa gaiola, viados presos gato morto por seu irmão. Suas histórias são de tragedias.Quanto ao ser politicamente correto dos que a senhora se refere é que, ativistas prouram respeitar todas as especies não só as ditas humanas.
ResponderExcluirO que esta senhora tem contra os animais, em especial os marinhos?
ResponderExcluirMais uma vez vez a cronista Lya Luft nos brinda com uma pérola de sua "sabedoria" ao terminar uma de sua crônicas com o seguinte trecho: "A natureza poderosa, encantadora e cruel também somos nós: que a gente não fique do lado dos animais assassinos, como a orca, que depois de matar três pessoas continua, como foi anunciado, "fazendo parte do time", no parque americano.
Antes de usar um adesivo salve as baleias", eu quero um adesivo "salve as pessoas, que são parte da natureza".
Outro ataque contra a sensciência dos animais ocorreu em 2004 com o título: Baleias não me emocionam
- artigo de 2004: http://veja.abril.com.br/250804/ponto_de_vista.html
Será falta de sensibilidade para entender que todos fazem parte do mesmo planeta e que a violência ocorre primeiro por parte do tratador que aprisiona o animal? Será um desejo de polemizar?
Essa mulher tem uma relação ultrapassada com os animais. Do século passado, como muitas outras por aí. Mas o diferente de agora, do que se espera de uma escritora. eu esperava maior sensibilidade, não em prufundidade, mas em abragência. Acabei lendo o texto dela de 2004. A relação doentia dela com uma coruja engiolada, já reveleva a relação de egoísmo e cegueira com os animais. E depois ela fala da Baleia que matou a treinadora como se ela tivesse total consciência e que tivesse agido para fazer o mal. Essa mulher não conhece e não entende os animas, de uma forma até infantil.
ResponderExcluirComo que essa mulher está aí, escrevendo besteiras e coisas sem graça???