sexta-feira, março 19, 2010

LUIZ GARCIA


A avenida falou
O GLOBO - 19/03/10

A Avenida Rio Branco não brinca em serviço: é a voz do povo, sim senhor. Uma voz que protesta ou exige. Às vezes contra o governo, outras com apoio de alguma área do poder, como agora, sempre falando alto e fazendo alguma diferença, nem sempre imediata, mas invariavelmente relevante.

A passeata de quarta-feira foi o segundo protesto da multidão contra um homem só: o deputado Ibsen Pinheiro, autor da emenda que redistribui para todos os estados os royalties do petróleo hoje pagos ao Rio e ao Espírito Santo, em cujas águas estão os principais campos petrolíferos do país. Antes dele, só o então presidente Fernando Collor teve essa honra, quando os cariocas foram para a rua pedir o seu impeachment.

Na prática, a emenda significa golpe quase fatal nas economias dos dois estados e uma merreca para todos os outros.

E sem qualquer garantia de que sirva ao provável objetivo político da tunga: levar votos para a candidatura de Dilma Roussef. O que permite uma especulação óbvia: o pessoal de Brasília deve estar convencido de que ela não tem muitos eleitores por aqui. Vai ver, não tem mesmo. Especular sobre uma possível relação entre a emenda e o panorama eleitoral não é tão gratuito como pode parecer. A esta altura, muito pouco do que acontece no mundo político está desvinculado do calendário eleitoral.

E o êxito do protesto desta semana no Rio também tem alguma coisa a ver com o panorama eleitoral. Dependendo bastante, é claro, do papel que Ibsen vier a desempenhar na campanha de Dilma. Se vier a ser o companheiro de chapa, a tunga na economia fluminense — mesmo que a emenda seja derrubada no Senado — será tema importante na briga de votos no estado.

Isso pode ser especulação vadia. O que importa mesmo agora é o recado que os cariocas mandam aos senadores: não sejam, por favor, parceiros na tunga.

Pois é disso que se trata. O resto do país nada tem a ganhar com uma gravíssima crise econômica aqui no Sudeste.

A Avenida Rio Branco não perdeu uma parada até hoje.

Às vezes, demorou um pouco. Mas sua voz sempre acabou sendo ouvida e respeitada

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