sexta-feira, março 05, 2010

LUIZ GARCIA


Polícia mais esperta

O GLOBO - 05/03/10


Um tempo atrás, ladrões entraram em nossa casa. No meio do dia, num sábado de verão. Graças a Deus, só o cachorro estava em casa. Como as verdades devem ser contadas, tratase de um cachorro de madame: aparentemente, aderiu com entusiasmo ao saque das gavetas.

Por sorte, os ladrões foram presos.

Por azar, já tinham se livrado do botim.

Por acaso, ficamos sabendo como a polícia trabalhava na investigação desse e de outros casos: os detetives tinham uma rotina de 24 por 48. Ou seja, trabalhavam 24 horas e descansavam 48. Um sistema obviamente maluco: ninguém trabalha 24 horas sem parar. Escrevi sobre o absurdo do sistema. As autoridades não deram a menor bola.

No fim das contas, os meus ladrões foram presos. Aparentemente, trabalhavam no esquema da polícia, e usaram as primeiras 24 horas para vender os computadores e o mais. A sociedade pode se ter livrado de três marginais; minha mulher ficou na saudade das joias e dos computadores perdidos.

O episódio, imagino, dá-me autoridade ou pelo menos pretexto para aplaudir a adoção pela nossa polícia de uma nova forma de trabalhar. Por enquanto, é apenas experiência: durante um ano, sete delegacias cariocas, de Copacabana a Campo Grande, terão policiais trabalhando num novo sistema: trabalharão oito horas por dia, com descanso semanal.

Segundo a Secretaria de Segurança, a novidade foi recebida com entusiasmo.

Primeiro, porque simultaneamente haverá um reforço de 500 policiais recém-formados — em alguma delegacias, o aumento dos quadros será de cem por cento. Acima de tudo, diversos depoimentos de policiais e seus chefes mostram que todos estão convencidos de que o novo sistema é mais eficiente. Devem ter razão: é assim que funcionam os mais sofisticados sistemas policiais do mundo.

Uma vantagem óbvia da novidade é fazer com que o trabalho da Polícia Civil comece logo em seguida à notificação do crime — liberando para seu trabalho normal de patrulhamento das ruas os policiais militares, que hoje perdem tempo tomando conta dos locais de crimes até a chegada dos policiais civis.

É verdade que o melhor sistema de trabalho é apenas tão bom quanto a eficiência e a dedicação de quem o opera. E a novidade que agora se implanta depende dessas virtudes. Na véspera da implantação da nova distribuição do trabalho policial, podemos apenas torcer para que tudo dê certo. Por dever de ofício, prontos para botar a boca no trombone se não der.

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