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Há uma questão internacional para a qual a diplomacia de Lula poderia fazer a diferença: Cuba. A ilha dos Castro é a última sobra da Guerra Fria e nota-se, pelo mundo afora, uma clara disposição de encerrar esse capítulo. Barack Obama já fez gestos na direção da normalização das relações com a ilha. Mas falta a parte de Cuba. O pessoal espera que a direção cubana faça gestos na direção de uma abertura política e econômica. Ninguém está pedindo que o regime e o partido comunista cubano se imolem em praça pública. Mas que se movimentem no sentido de alguma distensão. Lula tem a confiança de Fidel e Raúl Castro. Dispõe (ou dispunha) de credibilidade no governo americano e na comunidade internacional. O seu papel seria o de ajustar o ritmo das aberturas, garantindo a cada lado que um gesto positivo teria uma resposta igualmente favorável. Por exemplo: Lula seria o portador de uma garantia aos Castro, pela qual a libertação dos dissidentes políticos corresponderia a medidas de liberação do comércio a serem tomadas por Obama. Mas, para fazer esse papel, o presidente Lula e seus mais próximos assessores deveriam acreditar ou entender que o regime cubano precisa se abrir e caminhar no sentido da democracia. Eis o obstáculo. Nunca se ouviu uma fala de Lula condenando ou fazendo alguma mínima restrição às práticas arbitrárias em Cuba. Até um certo momento, muita gente entendia que se tratava de tática. Lula não faria essa condenação em público para não perder seu acesso privilegiado aos Castro. Mas, depois que o presidente brasileiro endossou a tese do regime cubano de que os dissidentes são terroristas ou bandidos comuns tentando subverter um governo legítimo, parece que não havia tática nenhuma. Lula não se colocou no meio, na condição de fazer a ponte, mas ficou do lado cubano, agitando bandeiras e exigindo dos americanos que reconheçam seus erros e levantem o embargo unilateralmente. Nessa visão, o embargo é o responsável por tudo. Como os cubanos não podem importar roupas dos EUA, o governo é obrigado a matar os dissidentes. Aí não dá. Analistas que ainda apoiam a diplomacia de Lula dizem que ele faz isso para contrabalançar a ação de Chávez, ou seja, para impedir que o bolivariano assuma a liderança da esquerda latino-americana. Mas o que Lula faz, nesse e em outros episódios, é alinhar-se concretamente com Chávez e com os regimes arbitrários pelo mundo afora. Quais os resultados dessa diplomacia? Cuba continua isolada, pobre e sem perspectivas, especialmente depois que o preço do petróleo caiu e a Venezuela, já quase quebrando, não pode mandar mais dinheiro. O presidente Lula pode prometer um viaduto, uma usina de álcool, mas seus recursos econômicos não vão além disso. (Cuba só vai sair do buraco quando os atuais exilados cubanos levarem seus capitais para a ilha). Ahmadinejad continua buscando a bomba. Argentina e Uruguai continuam se desentendendo, assim como Colômbia e Venezuela. A Argentina limita as importações brasileiras. A Bolívia de Morales e o Paraguai de Lugo só estão mais ou menos de bem com o Brasil porque Lula entregou os ativos da Petrobras e topou pagar mais pela energia de Itaipu. E a diplomacia comercial? Países aqui da América Latina, como Chile, Peru e Colômbia, continuam fazendo acordos de livre comércio e implementando seus negócios com Estados Unidos, União Europeia e até China, enquanto o Mercosul não consegue avançar em nenhuma negociação. Reparem, o Brasil não lidera nem o Mercosul; na verdade, está paralisado pelas divergências dentro do bloco. Honduras se normalizou, mas de um modo totalmente contrário ao que fez a diplomacia brasileira. E nem é preciso falar da suposta mediação entre Israel e palestinos. Isso tudo é uma pena. Lula foi recebido com aplausos na comunidade internacional. O líder popular, da esquerda, chegava ao poder de uma grande nação, governava com democracia e boa política econômica. Eis o cara para ajudar a conduzir o mundo nessas direções. Mas ele foi para outro lado, como a comunidade internacional percebe. E lamenta. |
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