sábado, fevereiro 13, 2010

REGINA ALVAREZ

Crédito farto

O GLOBO - 13/02/10


O ano começa com previsões muito otimistas para a expansão do crédito imobiliário no Brasil. Estudo elaborado pela consultoria Austin Rating prevê crescimento de 21% no volume de crédito concedido a pessoas físicas e jurídicas, excluindo os empréstimos da Caixa. Em dois anos, a expansão do crédito imobiliário seria de 47,5%, com o volume de empréstimos chegando a R$ 10 bilhões.

Confirmadas as projeções, o crédito imobiliário, sem contabilizar a Caixa, terá crescido 550% em seis anos, já que em 2005 essas operações somavam R$ 1,5 bilhão.

São números impressionantes.

E decorrem de um conjunto de fatores que refletem o amadurecimento da economia. A estabilização monetária, a partir de 1994, abriu caminho para a previsibilidade e um ciclo de crescimento, mas uma série de outras conquistas foram necessárias para que os bancos se voltassem para o setor, considerado de risco.

Dados do Banco Central mostram uma radiografia do financiamento total destinado à habitação e reforçam as previsões da Austin. O crédito saltou de R$ 22 bilhões, em janeiro de 2003, para R$ 84 bilhões, em dezembro passado.

Quase quadruplicou.

Neste caso, com a participação da Caixa, líder absoluta do segmento, embora a presença mais forte dos bancos privados e do Banco do Brasil já se destaque (vejam nos gráficos).

Na visão de Luis Santacreu, economista da Austin, foi preciso ir muito além do controle da inflação para destravar esse mercado: — É interessante lembrar que o mercado de crédito só começou a decolar em 2006. Muita coisa teve que acontecer para que o sistema financeiro ganhasse confiança para emprestar.

O crescimento da economia, o aumento da renda das famílias, a queda dos juros, a formalização do mercado de trabalho e o grau de investimento obtido pelo Brasil são fatores que contribuíram de forma decisiva para aumentar a confiança do sistema financeiro, fazendo com que se voltasse para o crédito imobiliário.

— No Brasil, temos um déficit de oito milhões de moradias.

Assim, além da melhora do quadro macroeconômico, existe uma demanda em potencial muito forte — destaca Alex Agostini, economistachefe da Austin.

Esse potencial já foi percebido pelo mercado financeiro.

O setor Imobiliário e de Construção é quem lidera o ranking de variação da Bovespa nos últimos 12 meses, com alta de 179%, batendo inclusive setores como o de Consumo e Varejo (158,1%); Transportes (118%) e Petróleo e Sal (97%).

Parte da alta é motivada pelo programa Minha Casa, Minha Vida e pela orientação do governo para que os bancos públicos sejam mais agressivos na concessão de crédito imobiliário: — O mercado gosta de antecipar os ciclos de crescimento, para poder surfar o maior tempo possível. A alta mostra a avaliação positiva que o setor está recebendo — explica Agostini

Aqui é diferente

O crescimento forte do crédito imobiliário no país não representa, por enquanto, risco de uma bolha como a que detonou a crise nos EUA. Alex Agostini diz que não há motivo para preocupação.

Primeiro, porque o crescimento vem de uma base muita baixa e também porque as condições para a concessão desse crédito ainda são muito rígidas: — Aqui, a hipoteca não é transacionada no mercado financeiro, como nos EUA, onde as regras eram, e ainda são, muito mais frouxas. Por aqui, mesmo que haja aumento da inadimplência, não teremos o mesmo estrago.

Outro dado que nos difere é a representação que o setor tem na economia, algo em torno de 10%, no Brasil, contra 60%, nos EUA.

Ganhos de escala

O processo de internacionalização do Banco do Brasil abrangerá a área de tecnologia. O banco decidiu centralizar no Brasil as plataformas de processamento de dados das operações realizadas nas agências e escritórios no exterior.

O objetivo é gerar ganhos de escala, já que com essa estratégia não precisará manter grandes bases lá fora, como existem hoje em Londres, Tóquio e Nova York. Apesar do processamento centralizado, o BB seguirá as regras do país onde estiver instalada a agência. O bancão está investindo fortemente no projeto de internacionalização. Planeja a compra de instituições na Argentina, em outros países da América Latina e nos Estados Unidos.

COM ALVARO GRIBEL

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