Sinais da ata O Globo - 05/02/2010 Não é só o desejo do mercado. A ata do Copom deixou claro que o Banco Central prepara o terreno para a elevação dos juros no curto prazo. O mercado discute agora se a primeira alta será em março ou abril, mas os sinais do BC indicam que a decisão já estaria tomada. Assim, o que parece cada vez mais difícil de se concretizar é o desejo da outra banda da equipe econômica, contrária à elevação dos juros A ata divulgada ontem tem um sentido de urgência que não estava na anterior. Cresceu a preocupação com as pressões sobre a demanda e a trajetória da inflação. Como destaca a análise da Consultoria LCA, os trechos em que o BC avaliava essa trajetória como “contida” e “benigna” foram substituídos por uma nova redação que alerta para os riscos de elevação da inflação. A avaliação sobre a ocupação da capacidade instalada na indústria também mudou, mostrando com mais nitidez a preocupação com o esgotamento da ociosidade decorrente da retomada da demanda doméstica. “Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos”, diz um dos trechos do documento. Ao tratar da política fiscal, o BC incorporou informações novas à ata, que apontam para uma pressão maior dessa variável sobre a demanda, explica Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. O BC passou a trabalhar com um superávit primário de 2,18% do PIB em 2010, descontada a parcela relativa aos gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da meta global de 3,3% do PIB. Isto porque resolveu contabilizar não apenas a parcela de gastos do Orçamento de 2010, mas também os restos a pagar de 2009 transferidos para este ano. Somadas, essas despesas chegariam a 1,12% do PIB. Na ata de dezembro, a estimativa era de que fossem descontadas despesas de 0,68% relativas ao PAC da meta cheia. — Se alguém tinha alguma dúvida de que o BC pretende elevar os juros no futuro próximo, pode dirimila com a leitura da ata. Agora a discussão é outra: quando (março ou abril) e de quanto será a alta — afirma Leal. Aversão ao risco I Produzido pela Galanto Consultoria, o gráfico acima mostra o comportamento dos títulos públicos nos países da Europa que enfrentam grave crise fiscal. A situação da Grécia, Portugal e Espanha contribuiu fortemente para as turbulências de ontem nas bolsas do mundo. Os investidores estão cobrando um prêmio maior do governo para comprar esses títulos: — Esse aumento mostra que os governos terão dificuldade para se financiar e honrar compromissos. É uma crise semelhante a que o Brasil enfrentou nos anos 90 — explica Monica de Bolle, economista da Galanto. Aversão ao risco II O gráfico acima é outro sinal de que a crise global não chegou ao fim. A cotação do ouro, considerado um dos ativos mais seguros pelos investidores, permanece alta. Os preços estão acima dos registrados em dezembro de 2008, indicando que a aversão ao risco está forte. Se em 2008 a onça estava cotada na casa de US$ 800, este ano se mantém acima de US$ 1.100. A projeção da RC Consultores é uma cotação de US$ 1.050 no final do ano. |
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