terça-feira, fevereiro 02, 2010

REGINA ALVAREZ

Piso e teto

O GLOBO - 02/02/10


O aumento iminente da taxa básica de juros como ação preventiva do Banco Central para conter a demanda é visto com naturalidade por muitos economistas.

O principal argumento é que as ações do BC precisam de tempo para produzir resultados e o que se vê à frente é uma demanda superaquecida, crescendo em um ritmo acima do PIB, que precisa ser contida, pois representa risco futuro de inflação.

Assim, dizem esses especialistas, é melhor que o BC tome as medidas cabíveis para impedir que o fantasma da inflação volte a nos assombrar.

Melhor seria que o país estivesse preparado para crescer sem risco de volta da inflação. Que a economia seguisse uma trajetória de crescimento sustentado, sem recuos e sem receios. Mas não é isso que deve acontecer.

Teremos um 2010 com crescimento em torno de 6%, mas em 2011 essa taxa deve recuar para algo em torno de 4,5%. A demanda aquecida é problema pela falta de investimentos que sustentem o crescimento da economia, sem pressões inflacionárias.

Ao governo caberia criar as condições para o crescimento sustentado, mas a política fiscal vai no sentido oposto.

O economista Raul Velloso constatou que as contas fechadas de 2009 só confirmam o problema para o qual já alertara em meados do ano passado. Na crise, o governo elevou o ritmo de crescimento dos gastos correntes e reduziu o dos investimentos.

Quando o certo seria ter feito o contrário. Os investimentos federais, que em novembro de 2008 correspondiam a 6,2% dos gastos correntes, fecharam o ano em 6,1%.

Fernando Montero, economistachefe da Convenção Corretora, destaca que os investimentos correm atrás da demanda, quando deveriam estar à frente: — Está claro que falta ao país capacidade interna de poupança para crescer de forma sustentada. Faltava antes e falta mais agora.

O aumento iminente da Selic só confirma que não criamos condições para crescer de forma sustentada. O piso dos juros é uma das taxas mais altas do planeta. E o teto de crescimento muito aquém das nossas necessidades.

Plano B

O governo vai tentar de tudo para liquidar a fatura do modelo de partilha do pré-sal na Câmara, concluindo a votação do projeto antes do carnaval.

Uma hipótese cogitada nos bastidores do Congresso é o uso de uma manobra regimental para derrubar o destaque do deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), atenuando, assim, o desgaste dos parlamentares da base que são do Nordeste.

A proposta de Ibsen é dividir os royalties entre todos os estados brasileiros, o que implica perdas para o Rio de Janeiro e Espírito Santo, mas beneficiaria os demais.

A manobra regimental consiste no encaminhamento da votação de forma que, no momento de discutir o destaque do deputado Ibsen Pinheiro, não seja mais possível pedir verificação de quórum.

O destaque seria rejeitado por votação simbólica, sem nominar os parlamentares que votarem com o governo.

No fim do ano, a divisão da base abriu espaço para a aprovação da emenda de Ibsen no plenário da Câmara, e o governo, assustado, preferiu adiar a votação para 2010.

Hora da verdade

A ONU anunciou ontem que 55 países reafirmaram suas metas voluntárias para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Foi um passo à frente na luta contra o aquecimento global, após o fracasso nas negociações de Copenhague, durante da COP-15, em dezembro passado. O professor da USP José Goldemberg, especialista no assunto, explicou que o desafio agora será estudar cada uma das ações propostas para saber como será feito o monitoramento do corte de emissões: “Após o fracasso de Copenhague, havia o receio de que os países recuassem e não reafirmassem perante a ONU o compromisso dos cortes. Agora é preciso saber como mensurar esses cortes de emissões, principalmente em países como a China, onde existe pouca transparência”, explicou.

Bons ventos

Depois da contratação de 1.800 MW no leilão de energia eólica realizado em dezembro, a Associação Brasileira de Energia Eólica espera que o governo mantenha a contratação de, pelo menos, mais 1.000 MW por ano, para manter o setor aquecido. A expectativa é conseguir nos próximos 10 anos ocupar entre 6% a 8% da matriz energética do país.

Seria um crescimento forte em relação ao patamar atual, de 1%, mas ainda muito baixo na comparação com outros países, como Dinamarca (22%), Espanha (16%), Portugal (13%). A China aumenta sua oferta de energia eólica em 8.000 MW por ano.

NOVA CENTRAL: Estão andando bem as conversas entre líderes empresariais para a criação da Central Nacional dos Empreendedores (CNE).

COM ALVARO GRIBEL

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