domingo, fevereiro 14, 2010

ELIANE CANTANHÊDE

Pobre Brasília

FOLHA DE SÃO PAULO - 14/02/10


BRASÍLIA - Quando as gravações de Arruda com a sacola de dinheiro foram ao ar, Lula reagiu dizendo que "imagens não falam por si".
Quando Arruda foi preso, Lula disse a auxiliares que "não era bom para o país nem para a política".
Com a opinião pública comemorando tanto o Carnaval quanto a prisão do governador, Lula deu uma das suas guinadas estonteantes e seguiu o rumo do Judiciário e do próprio Supremo, declarando o oposto: as imagens que antes não falavam por si passaram a ser chocantes. "Fiquei chocado quando apareceu aquele filme..."
Afinal, o que pretende Lula com sua imensa popularidade?
A pergunta de 1,7 milhão de eleitores do DF, porém, é mais objetiva: em quem votar para o governo em outubro? Não sobra ninguém.
Em 20 anos de eleições, o DF teve apenas três governadores: Roriz, Cristovam e Arruda. Roriz teve três mandatos (fora um por nomeação) e depois renunciou ao Senado para não ser cassado por corrupção. Cristovam não se reelegeu. Arruda já tinha renunciado ao Senado, agora é a desgraça final.
O DF, assim, coleciona dois troféus de corrupção: o primeiro governador preso e o primeiro senador da República -Luiz Estêvão- cassado depois da ditadura.
Só nos faltava o vice-governador Paulo Octávio. Não falta mais. Ele faz malabarismos para se equilibrar como substituto de Arruda, mas, com tantas citações na operação Caixa de Pandora, o tombo é certo. Ninguém quer a intervenção, mas ela parece provável.
E em outubro? Cristovam não superou a derrota na reeleição e não vai se candidatar. O PT se contorce com Agnelo Queiroz, que viu os filmes de Arruda com a dinheirama e fingiu que não. As alternativas à esquerda não convencem.
Daí o terror: sem ter em quem votar, vem aí Roriz de novo? Ele é o suposto chefão da "organização criminosa" que tomou de assalto a capital. Ou seja: a origem de tudo.

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