segunda-feira, fevereiro 01, 2010

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Cada coisa é uma coisa

O Estado de S. Paulo - 01/02/2010


Não adianta comprar roupa de astronauta para pesca submarina. Em outras palavras, cada produto é bom para aquilo para quê ele é desenhado. É até possível algumas adaptações darem certo, mas não é o ideal e existe sempre o risco de as coisas se complicarem. No mundo dos investimentos ou das aplicações financeiras não é diferente. Cada produto tem um perfil que o faz mais indicado para um determinado fim. Na hora de investir, o que precisa ser comparado são produtos similares. Aí o conhecimento detalhado de cada aplicação faz diferença, já que custos com administração, corretagens e comissões, além da carga tributária incidente, podem piorar o desempenho e comprometer a rentabilidade, como acontece atualmente com alguns planos de previdência privada abertos.

Ninguém espera altos rendimentos de uma caderneta de poupança; por outro lado, ninguém espera alta segurança de uma aplicação em derivativos de linhas de financiamento residencial para as classes D e E nos Estados Unidos. Se esta regra for respeitada, e a aplicação feita de forma criteriosa, todo investimento é bom, porque atende um objetivo específico para o qual aquele plano foi desenhado.

A atividade seguradora oferece entre seus produtos, basicamente, dois tipos de investimentos diretos: os planos de previdência privada aberta e os planos de capitalização.

Os planos de previdência privada aberta, ao longo dos últimos anos, se transformaram num dos melhores investimentos do mercado, desde que respeitada sua característica fundamental: ser um plano de longo prazo, no qual o Governo troca com o investidor uma redução proporcional na carga tributária pela manutenção do dinheiro por um prazo mínimo progressivo, antes do qual o saque da importância investida não só deixa de ser interessante, como se torna extremamente onerosa.

Assim, investir num PGBL ou num VGBL dinheiro que pode ser necessário no curto prazo, ou para o qual se espera uma alta rentabilidade num período menor do que dez anos, é escolher um investimento pouco apropriado.

Já os planos de capitalização são produtos com um desenho completamente diferente e altamente particular. Criados na França, estes planos encontraram forte apelo junto aos brasileiros em função de suas características básicas, que o tornam uma mistura de loteria com programa de investimento de médio prazo.

Se brasileiro não gostasse de jogo, o Governo não teria desenvolvido a coleção de loterias colocadas à disposição da população pela Caixa Econômica Federal e pelos Governos dos Estados.

De outro lado, a certeza de receber um valor certo, depois de um determinado tempo de aplicação, é uma ferramenta cômoda para a realização de uma série de ações, desde a compra de um novo automóvel até uma viagem, sem necessidade de grandes contas ou movimentos complexos para a desaplicação do dinheiro.

Por isso, é uma aplicação rotineiramente realizada por um amigo que é também um dos maiores economistas do País. Ele compra planos de capitalização para não se preocupar em dispor do dinheiro para finalidades específicas que tem em mente, num horizonte médio de dois anos. Com a vantagem de, ainda por cima, poder ser sorteado e aí ganhar uma bolada

De forma bastante simples, o plano de capitalização pode ser definido como uma loteria em que não há perdedores e isso o torna extremamente atraente para boa parte dos brasileiros. Afinal, o que pode ser mais gostoso do que jogar na loteria, não ganhar, mas, após um determinado período de tempo prefixado, ter parte do dinheiro jogado devolvido com juros?

Atualmente, os planos de capitalização vão muito além deste desenho e se prestam com boas vantagens competitivas para viabilizar uma série de promoções, o que tem feito com que sua procura cresça regularmente, à medida que estas alternativas vão se tornando mais conhecidas.

O que é preciso se ter claro é que cada coisa é uma coisa e que não adianta querer levar vantagem comprando a coisa errada.

*Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado.

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