terça-feira, janeiro 26, 2010

WALDEMAR ZVEITER

Alto preço


O Globo - 26/01/2010


Recentemente o Irã testou uma versão mais veloz e precisa de um míssil capaz de atingir Israel, países do Sudoeste da Europa e bases americanas no Golfo Pérsico. Esse é mais um sinal do terreno perigoso que a diplomacia brasileira pisa ao aproximar-se de Teerã, num momento em que a tensão daquele país com o Ocidente aumenta de tom. Antes disso, o Conselho da Agência Internacional de Energia Atômica já havia condenado o Irã por seu polêmico programa nuclear e pela recusa a permitir ampla inspeção internacional em suas instalações atômicas.

Dos 35 países da atual junta de governadores daquela agência internacional, 25 apoiaram resolução proposta pela Alemanha que exigia de Teerã a garantia de que o Irã não manterá em funcionamento nenhuma instalação nuclear não declarada. Venezuela, Malásia e Cuba votaram contra o documento. O Azerbaijão não estava representado.

Ao abster-se, o Brasil aliou-se ao Afeganistão, ao Paquistão, ao Egito, à Turquia e à África do Sul.

Afinal, o que quer a diplomacia brasileira com essa atitude e ao receber com pompa e cerimônia o presidente do Irã, quando EUA, Israel e os principais países da Europa protestam contra a escalada militar e ameaçam aumentar as sanções econômicas contra ele? Se o objetivo é atropelar os esforços dos EUA e outras potências ocidentais para frear o programa de armas nucleares do Irã, certamente o caminho é esse.

O que faz o presidente Lula legitimar a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad na primeira hora, quando milhares de cidadãos iranianos eram violentamente reprimidos, com centenas de presos e cinco condenados à morte por denunciarem fraudes comprovadas em todo o país? As relações do Brasil com os Estados Unidos já estavam tensas depois que o governo brasileiro criticou a atuação dos americanos na crise de Honduras e o aumento da presença militar na Colômbia. Se a intenção é esfriar as relações com Washington e arranhar a crescente reputação brasileira como poder global, essas atitudes não poderiam ser mais adequadas.

Ahmadinejad veio ao Brasil e disse que sua intenção é fortalecer a paz.

Mas na verdade ele é um radical, que já manifestou publicamente sua intenção de “varrer Israel do mapa”. Há quem argumente que a aproximação da diplomacia brasileira com o Irã e o alinhamento com outros países que se contrapõem às grandes democracias ocidentais sejam uma estratégia para conquistar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Sem dúvida, a pergunta que se põe é: não seria muito alto o custo político de voltar as costas para as principais potências ocidentais e legitimar uma figura política como Ahmadinejad? Se real, o suposto objetivo junto à ONU pode ser frustrado, além de muito provavelmente afastar o Brasil do grupo nas nações democráticas.

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