quarta-feira, janeiro 27, 2010

RUY CASTRO

Ciberpegadinhas

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/01/10

RIO DE JANEIRO - Há meses, o departamento de informática de um grande banco me manda apelos desesperados para que eu atualize meu cartão, sob pena de vê-lo cancelado. "Basta clicar no endereço xis", diz o aviso. O estranho é que não sou cliente do tal banco, e ele, generoso, em vez de me cancelar logo o cartão, continua me dando oportunidades de me redimir.
Outra empresa, que não se identifica, insiste em me passar comprovantes de depósito pagando por serviços que não me lembro de ter prestado. Pede que eu clique no endereço ipsilone para checar os dados e o valor. E ainda outra, também sem se identificar, avisa que tem um reembolso de dinheiro a meu favor e quer saber meu banco, minha agência e minha conta para o depósito.
Um plano de saúde de que não sou sócio me escreve repetidamente dizendo que posso reduzir o custo e manter todos os serviços do plano, bastando clicar para descobrir como. Já o Correio avisa que tenho um Sedex retido em meu nome e, se eu clicar assim ou assado, eles mandarão entregá-lo.
Uma mensagem cruel, porque apela para nossos bons sentimentos, é a do desempregado que pede ajuda para arranjar "uma colocação" e anexa o currículo para meu exame. É tão difícil de ser ignorada quanto a da mulher que diz: "Amooor, foi maravilhoooso, veja nossas fotos, você estava demaaais, não deixe ninguém ver". Você não se lembra de ter protagonizado nada tão espetacular nos últimos tempos, mas, quem sabe...
A internet está cheia de pegadinhas como essas. Um clique em falso e sua vida financeira estará em mãos de pilantras. Eu próprio, às vezes, quase sucumbo à curiosidade. Mas sou alertado pelo uso rude da língua portuguesa nas ditas mensagens. Os piratas do ciberespaço não conseguem disfarçar seu semianalfabetismo crônico.

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