segunda-feira, janeiro 25, 2010

NAS ENTRELINHAS

Loucuras de verão


Denise Rothenburg
Correio Braziliense - 25/01/2010
Se a próxima reunião ministerial repetir a ênfase em temas eleitorais, é melhor Lula levar a galera para a sede do PT, dispensar as formalidades e os carros oficiais


Estas primeiras semanas de janeiro já deram uma demonstração de que o jogo eleitoral será pesado. Dos dois lados. Primeiro, foi o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, falando sobre a extinção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ora, ora… Que ele queira acabar com o uso eleitoral dos programas tudo bem. Mas os programas?! Exagerou na dose.

O exagero, no entanto, fica pequeno quando comparado aos malabarismos governamentais que vieram antes e depois das declarações de Sérgio Guerra. A ginástica eleitoral começou para valer quando o governo esticou o prazo de adaptação daqueles que correm o risco de exclusão do Bolsa Família — por causa da renda familiar per capita superior a R$ 140 ou pelo cadastro desatualizado há mais de dois anos. Quem está nessa situação poderá continuar recebendo o Bolsa Família até 31 de outubro, a data do segundo turno da eleição.

O governo pode ter suas razões. Até porque, em 2009, foi esse o prazo e ninguém reclamou. Mas, em 2010, fica difícil ao cidadão comum desvincular a decisão do calendário eleitoral. Por que esse período de adaptação sem o benefício não pode ir até julho ou agosto? Por que outubro, justamente o mês da eleição? Isso, ninguém explicou. A sensação é a de que, como o presidente Lula é popular, ele pode tudo e acabou. Quem estiver insatisfeito, paciência.

Muito se falou da reunião ministerial da última semana. Pelas informações, o encontro da Granja do Torto tratou basicamente de temas eleitorais. Lula disse que o deputado Ciro Gomes é o candidato dele em São Paulo, chamou o presidente do PSDB de babaca e por aí foi. Chamado pelo presidente tucano para o ringue eleitoral, Lula nem piscou. Entrou com os dois pés.

O presidente não é candidato à reeleição. Portanto, em tese, assuntos eleitorais deveriam ficar fora do encontro de trabalho dos ministros, embora a pré-candidata, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, estivesse presente. Em princípio, a primeira reunião ministerial do ano deveria servir para cada ministro dizer como estão as obras e programas em suas respectivas áreas.

Uma reunião de pessoas tão ocupadas deveria servir para cuidar dos assuntos governamentais que interessam à maioria dos brasileiros, como, por exemplo, medidas para amenizar os estragos causados pelas chuvas em todo o país, os gargalos do crescimento econômico — porque não estamos no patamar chinês, o primeiro a sair da crise — e por aí vai.

Se a próxima reunião ministerial repetir a ênfase em temas eleitorais, é melhor Lula levar a galera para a sede do PT, dispensar as formalidades, a liturgia do cargo e os carros oficiais.

Enquanto isso, na sala de Temer…

No momento em que Sérgio Guerra e Lula fazem evoluções barulhentas na avenida pré-eleitoral, a ministra Dilma e o governador de São Paulo, José Serra, permanecem discretos. É deles que a população — e o PMDB — espera ouvir o enredo. E, como ninguém sabe hoje ao certo para que lado o vento soprará em outubro, o PMDB vai ficando onde tem hoje casa, comida e roupa lavada. Seu presidente licenciado, Michel Temer, sabe que sua força como candidato a vice na chapa encabeçada por Dilma vem justamente da possibilidade de controlar uma maioria dentro do partido. Enquanto ele estiver com esse comando, o vice é dele e ninguém tasca. É isso que seus aliados querem mostrar ao PT na convenção do dia 6.

O PMDB será o protagonista do primeiro grande movimento eleitoral de 2010. O resto tem sido, digamos, uma loucura de verão que tem prazo para acabar. Pelo menos, é isso que se espera. Menos ataques, menos uso das máquinas estatais e mais trabalho. Do PSDB e, principalmente, do governo. Se as batidas dessas primeiras semanas se repetirem, que Oxalá nos proteja.

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