sexta-feira, janeiro 08, 2010

LUIZ GARCIA

Cair na estrada

O GLOBO - 08/01/10

Um ano atrás, Barack Obama se mudou para a Casa Branca levando no bolso as esperanças de admiradores no mundo inteiro. Presidentes do Partido Democrata, pelo menos a partir do século passado, chegaram ao poder em momentos difíceis, e alguns deles deram conta do recado.

Aconteceu com Roosevelt, que derrotou a depressão dos anos 30 com o seu New Deal e mobilizou o povo e a economia para a guerra contra o nazismo, cujo fim levou os EUA à posição de liderança que ocupam até hoje. Aconteceu com Lyndon Johnson, comandante de todas as reformas sociais — inclusive no campo racial — que eram esperadas de John Kennedy.

Não foi bem o caso com Jimmy Carter, tão bonzinho e tão fraquinho que não conseguiu se reeleger, e nem mesmo com Bill Clinton, que parece bem mais competente na sua atual profissão de expresidente dos Estados Unidos.

Obama chega ao fim do seu primeiro ano na Casa Branca com uma de suas promessas praticamente cumprida: a reforma do sistema de saúde, expandindo — e também moralizando — o que talvez seja a política social mais importante dos EUA.

Mas parece ser quase só isso. A reforma do sistema financeiro, que entrou em crise no fim do ano passado, ainda esbarra na incapacidade, ou relutância, da classe política (democratas, inclusive) quanto a realmente fazer cara feia para os grandes bancos.

Esse diagnóstico não é realmente original.

Outro dia, no “New York Times”, ele foi apresentado por um intelectual de esquerda — lá tem disso também, embora não seja uma esquerda parente próxima de suas primas europeias. Ou da brasileira, embora no nosso caso seja mais apropriado falar em esquerdas, num vasto e variado plural.

Os esquerdistas americanos não são organizados em partidos populares, nem brigam por ministérios. E, claro, não têm bancadas no Congresso. Curioso, não? Mas, por isso mesmo, não seria simples para qualquer presidente americano recrutá-los para defenderem, de forma intensa e organizada, as políticas da Casa Branca.

Obama, que ainda tem a simpatia da opinião pública, precisa simplesmente preservar e usar essa simpatia para administrar com eficiência a sua maioria nominal no Congresso. E, sempre que possível, cair na estrada para falar com o eleitorado. E ouvi-lo também.

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