quinta-feira, janeiro 28, 2010

KENNETH MAXWELL

O primeiro ano de Obama

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/01/10



A MANCHETE escolhida pelo jornal "Guardian Weekly" para sua capa, na semana passada, refletia uma conclusão bastante sombria: "A mudança real ainda não chegou", dizia o texto.
O artigo, assinado por Gary Younge, fala sobre a cidade de Prestonbury, no empobrecido condado de Floyde, Estado da Virgínia Ocidental. A "narrativa" da posse de Obama foi um "conto de fadas", observou Younge, no sentido de que "um país dividido se uniu para celebrar a eleição de seu primeiro presidente negro". A realidade vem sendo muito diferente. Para muitos, a "mudança" prometida por Obama foi mudança para pior: o desemprego está em alta, os preços das casas estão caindo, as guerras impopulares continuam. Os índices de popularidade de Obama, ao fim de seu primeiro ano de mandato, são os mais baixos de qualquer presidente desde Eisenhower.
O condado de Floyde foi por muito tempo um baluarte do Partido Democrata. Em 2004, John Kerry venceu a eleição presidencial por margem de 25%, lá. Mas em 2008 John McCain venceu em Floyde por dois pontos percentuais, o primeiro republicano a fazê-lo em mais de uma geração. A nova oposição populista, no entanto, não se confina aos velhos partidos políticos ou à Virgínia Ocidental. O movimento que se opõe aos impostos altos e ao governo grande, encorajado pela rede de TV Fox News, transformou-se agora em uma formidável coalizão de oposição às elites. Em Massachusetts, o Estado democrata arquetípico, um desconhecido senador estadual republicano, Scott Brown, foi eleito para a cadeira que Teddy Kennedy ocupou no Senado Federal por décadas antes de morrer.
A perda do assento de Kennedy no Senado foi uma derrota marcante para os democratas, porque lhes custou um voto essencial para a aprovação do pacote de reforma da saúde da Obama; isso causou arrepios na liderança democrata em Washington. O senador eleito Scott Brown reiterou uma promessa de campanha, a de dar o voto decisivo para a derrota da reforma da saúde de Obama, que pelas normas do Senado requer 60 votos para ficar imune à oposição republicana.
Mas a verdadeira história talvez esteja na maneira pela qual a mídia convencional perdeu de vista a revolução que estava em curso em Massachusetts, e o mesmo vale para a Casa Branca. E isso a despeito dos 411 discursos, comentários e declarações públicas, e 158 entrevistas que Obama fez no ano passado, segundo o cômputo da CBS News. A desafiadora tarefa que o presidente Obama terá de enfrentar agora, como observou o jornal "Los Angeles Times", será convencer milhões de americanos zangados de que "suas políticas econômicas lhes propiciarão um futuro melhor". Não será nada fácil.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de
PAULO MIGLIACCI

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