sexta-feira, janeiro 22, 2010

ELIANE CANTANHÊDE

Fora de hora

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/10


Segundo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a candidata do PT, Dilma Rousseff, "mentiu no passado sobre seu currículo e mente hoje sobre seus adversários, usa a mentira como método".
E, para os presidentes do PT, Ricardo Berzoini, que sai, e José Eduardo Dutra, que entra, o candidato do PSDB, José Serra, é "hipócrita" por se preservar e usar Guerra como "um jagunço da política".
Não é enriquecedor? O polo do bate-boca e do bate-nota é se, em caso de vitória, os tucanos vão ou não acabar com o PAC, como ele fosse algo mais do que três letrinhas de objetivo midiático. Mas isso é o de menos, mero pretexto.
As acusações são vagas, adjetivas e inconsequentes, acompanhadas de mais uma representação da oposição na Justiça contra a propaganda ilegal de Dilma e Lula, como se só eles descumprissem a lei e só a lei eleitoral fosse descumprida.
Além de toda a sua irrelevância, esse nível de "disputa política" é grosseiramente inoportuno.
Enquanto isso... os eleitores assistiam pela TV às homenagem aos 18 militares e ao diplomata Luiz Carlos da Costa, que morreram representando o Brasil na missão de paz da ONU no Haiti.
Enquanto isso... os eleitores viam, horrorizados, a tragédia que não está no Haiti, mas aqui nas nossas barbas: as enchentes e desabamentos que já mataram quase 60 pessoas em São Paulo e mais de 70 no Rio desde o final de 2009. São famílias inteiras soterradas nos Estados mais ricos, mais populosos e com os maiores colégios eleitorais do país, ao lado de Minas.
A meteorologia prevê mais tempestade hoje para o Rio, e São Paulo continua com milhares de pessoas que perderam suas casas e seus pertences sem saber para onde ir, como e por quanto tempo. Quem quer governar o país deveria ter mais o que fazer do que trocar desaforos vazios -e que, certamente, não dão voto para ninguém e podem tirá-los de todos.

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