domingo, janeiro 24, 2010

CLÓVIS ROSSI

Grande momento, reação pequena

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10


SÃO PAULO - Quando comecei no "Estadão", faz já longos 45 anos, o lendário jornalista Cláudio Abramo havia saído pouco antes, mas legara uma frase que seus contemporâneos repetiam aos que chegavam: "Um grande jornal se conhece nos grandes momentos".
Pena que o governador José Serra, que conviveu com Abramo, já na Folha, não tenha aprendido a lição, aplicada à política.
Se tivesse, saberia que é justamente em um "ano anômalo", como classificou este 2010, que começa horrível, que se conhecem os grandes administradores.
É verdade que as chuvas têm sido excepcionais, que a cidade cresceu de forma anárquica, que parte da população não colabora jogando lixo em tudo quanto é canto, que nem o prefeito nem o governador podem dançar a dança da chuva para que caiam menos águas ou, ao menos, que chova no mar, digamos.
Mas, dada a anomalia, que tal reagir a ela com um esquema igualmente fora do comum de defesa civil em todos os seus aspectos?
É tão difícil assim mobilizar todos os recursos da Companhia de Engenharia de Tráfego e da Polícia Militar para orientar os motoristas e tentar evitar que caiam nas ratoeiras que as chuvas armam ou para tirá-los delas?
É tão difícil assim montar frentes de trabalho emergenciais para limpar bueiros, córregos, rios, desobstruir enfim o máximo possível de pontos de alagamento?
Não existem na cidade mais rica do país especialistas em emergências para montar com eles e os funcionários públicos um gabinete de crise para pronta reação?
Tanto Gilberto Kassab como Serra reagem burocraticamente, molemente, nesses "grandes momentos" -tristes, mas grandes. Não é exatamente o comportamento que se espera de quem se supõe que vai disputar uma eleição presidencial esgrimindo o bordão de gerente -e competente.

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