domingo, janeiro 31, 2010

CARLOS HEITOR CONY

Romeu e Julieta

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/01/10


A historinha aconteceu com amiga minha. É verdadeira, tão verdadeira que terei de disfarçar para contar o milagre sem mencionar o santo. Digamos que ela se chama Ligia, é atriz de sucesso, casou-se aos 26 anos, separou-se e engatou caso com um colega de profissão, ator bastante conhecido, dez anos mais velho. Até aí, uma história banal, sem nada de extraordinário.

Ela ia a uma festa e foi procurar um anel que havia ganhado do ex-marido. Não o encontrou. Pensou que tinha sido roubada. Uma vez por semana vinha a faxineira, que era de confiança, mas nunca se sabe.

Comentou com o companheiro. Era a primeira vez que dava por falta de alguma coisa em sua casa. O homem ficou sem jeito, perguntou se ela não tinha usado o anel e o perdera por aí. Ela garantiu que não. Estava tão chateada que o homem resolveu contar a verdade. Confessou que roubara o anel na primeira noite em que dormiram juntos. Não sabia que era uma joia tão importante assim, um simples anel, de valor duvidoso.

'Mas por que fez isso?', perguntou a mulher espantada.

Ele contou uma história comprida. Os anos de palco lhe davam treino para ser convincente. O anel era presente de outro homem, símbolo de uma união que acabara. Nem era ciúme o que sentia. Mas um sinal de que ela tivera um passado. Ficaria ele com o anel e lhe daria outro, com uma pérola e um diamante, jóia antiga, de outros tempos, era conhecido como Romeu e Julieta.

'E onde está o meu anel? Quero-o de volta!'. 'Trago amanhã', prometeu o amante.

No dia seguinte, ela recebeu o anel antigo todo arrebentado, e o novo, com pérola e diamante, e um bilhete: 'O anel que te roubei era vidro e se quebrou, o amor que eu tinha, era muito, por isso acabou'.

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