domingo, dezembro 20, 2009

REINALDO AZEVEDO

NÃO! EU NÃO OS DEIXAREI EM PAZ!

VEJA ONLINE - 20/12/09

Chego a ficar comovido com o fato de os petralhas se preocuparem com o meu futuro mais do que eu mesmo e do que a minha família. Se Dilma ganhar, eles prevêem, revelando a sua [dos petralhas] natureza vingativa e totalitárias, dias muito difíceis para mim. Em outros tempos, esse tipo de delinqüência acenaria com aquela generosidade dos fortes. “Ganhamos? Ah, deixem o cara aí como o ‘menino de MEP’, né?, dando cotoveladas e chutes. Afinal, todo mundo tem o direito de resistir ao hálito das trevas na nuca…” Que nada! Eles querem mesmo consumar a violação do direito à divergência. Eles não têm nenhum receio de revelar qual é o seu intento. Porque isso é mesmo da natureza do pensamento que abraçam. Essa gente é só a periferia da esquerda, sei bem; não tem teoria, conceito, nada; não lê um miserável livro que oriente suas escolhas. Mas percebeu direitinho qual é a metafísica. Assim, eles imaginam uma Dilma vitoriosa e um Reinaldo esmagado — eu e qualquer outro que ouse divergir.

Caso o vitorioso seja José Serra, aí eles me vêem como um desses esbirros que andam por aí com sua isenção sempre a favor do governo, porta-voz informal do poder, a justificar com igual destreza o certo e o errado. E ainda indagam: “Sem falar mal do Lula, o que vai lhe restar?” Pra começo de conversa, quem disse que eu deixaria de “falar mal de Lula” (para ficar na linguagem que eles abraçam)?

Lula não me interessa. Ele me provoca mais preguiça do que excitação intelectual (como poderia?). Essa espetacularização a que ele submete sua vida privada desperta em mim aquele sentimento da “vergonha alheia”, que vocês sabem muito bem o que é; aqueles momentos em que você se constrange no lugar do outro. Eu me ocupo de Lula como figura central de um partido político que tem um projeto de poder. E escrevo “projeto” porque a obra ainda está longe do fim — segundo seus próprios seguidores —, embora em curso.

Eu me ocupo de Lula como principal expoente de uma visão de estado e de sociedade que eu repudio. E já escrevi aqui: pouco me importa saber se o governo está dando “certo” ou “errado”; se está indo “bem” ou “mal”. Tenho uma medalha no peito ao menos: escrevi na revista Primeira Leitura que era bobagem imaginar que Lula faria um governo desastroso. Ao contrário, observei, será até mais convencional em economia do que Serra - e estávamos em 2001. Nunca antevi a catástrofe. O QUE EU FALEI, SIM, FOI OUTRA COISA, BEM MAIS SÉRIA, BEM MAIS SEVERA: “O MAIOR RISCO QUE O BRASIL CORRE É O GOVERNO DO PT DAR CERTO!!!”

Vejam que brutal honestidade intelectual, não? E esse “dar certo” queria dizer justamente isso que temos. O PT governa o Brasil segundo as regras da economia de mercado — ou quase (*) — e, em troca, vai nos pedir que lhe cedamos pedaços da institucionalidade; em troca, vai no pedir um país menos democrático, menos livre, menos subordinado às regras do estado democrático e de direito.

E isso está em curso. E, por isso, eu os repudio. E continuarei a repudiá-los, pouco me importa quem esteja no poder: o próprio Lula, Serra, Dilma ou J. Pinto Fernandes. Ademais, conhecemos muito bem como os petistas se comportam quando estão na oposição: com o mesmo desrespeito pelas instituições! Se, no poder, não punem as invasões de terra; na oposição, eles as estimulam (a exemplo do que fazem em São Paulo); se, no poder, eles tentam controlar a imprensa, a exemplo das propostas estapafúrdias saídas da tal Conferência de Comunicação de Franklin Martins, na oposição, eles se tornam as principais fontes de vazamento de informações sigilosas; se, no governo, são eles a pedir uma Constituinte, na oposição, eles tentam sabotá-la, como se viu com o processo que resultou na Constituição de 1988; se, no governo, eles propõem uma reforma da Previdência, como fizeram, na oposição, eles põem a tropa na rua contra essa mesma reforma; se, no governo, eles chamam a Lei de Responsabilidade Fiscal de inegociável, na oposição, eles recorrem ao STF contra ela; se, no governo, fazem o mensalão para comprar partidos e parte do Congresso e negam que tenham praticado qualquer crime, na oposição, eles põem a tropa na rua contra… o mensalão!

A lista seria infindável! E essa moral não me serve, pouco me importa se a economia cresce 0,1%, 1%, 10% ou 100%. Fosse esse o meu parâmetro, chamaria a tirania chinesa de governo exemplar — afinal, nenhuma economia cresce tanto como aquela e tira tantas pessoas da pobreza. É o crescimento chinês que garante o bom momento do Brasil — pelo menos até que os doidos no aquecimento global não decidam que aquele país tem de crescer só 4%… E a China provoca em mim nada menos do que horror, com seu totalitarismo eficiente. EU NÃO NEGOCIO LIBERDADES PÚBLICAS POR UM POUCO MAIS DE ARROZ. “Ah, mas os miseráveis negociam”. RESPONDO ASSIM: QUE OS MISERÁVEIS TENHAM COMIDA, MAS EU NÃO OS ESCOLHEREI COMO GUIA DAS MINHAS UTOPIAS; TAMBÉM NÃO CREIO QUE DEVAM SER REFERÊNCIA EM MATÉRIA DE LIBERDADE. O fascismo foi “eficiente” por um largo período. Como foi o stalinismo.

Repudio de modo veemente, claro, explícito, as tentações totalitárias do PT, expressas até num programa político em que vai apresentar a sua candidata; repudio aquela linguagem da divisão, do confronto, do ódio, do esmagamento do outro; repudio seu compromisso reiterado com a mentira — mente de modo miserável sobre o passado para chamar para si não apenas as glórias que tem, mas também as que não tem. De novo: pouco me importa quantos acreditam. Não é a crença da maioria que faz uma verdade.

LULA PODERIA MUITO BEM ENGORDAR A SUA BIOGRAFIA COM HEROÍSMOS QUE NUNCA TEVE, MAS NÃO PRECISARIA ROUBAR A BIOGRAFIA ALHEIA PARA ISSO.

Assim, petralhinhas, sosseguem: pouco importa quem seja o vitorioso, estarei aqui. E combatendo em nome das mesmas causas, das mesmas idéias. Dando cotoveladas e chutes. Não aceito o hálito das trevas no meu cangote.

ANCELMO GÓIS

Xadrez no Maracanã

O GLOBO - 20/12/09


O plano de segurança do Ministério da Justiça na Copa de 2014 inclui DPs com dez celas, pelo menos, em cada estádio.
O modelo é inspirado no dos alemães, em Berlim, na Copa de 2006. A ideia é pôr os arruaceiros em cana ali mesmo.

Há vagas
Na crise global, quando a Vale demitiu, Lula tratou a empresa com requintes de crueldade.
Agora, com o reaquecimento do mercado, a empresa volta a contratar. A mineradora se prepara para reativar a pelotizadora de São Luís, parada desde janeiro. Vai contratar 188 técnicos.

Até tu, Brutus?
A inglesa BBC recusou veicular no exterior a campanha publicitária do Fundo Amazônia, feita pelo BNDES. Alegou que a questão das mudanças do clima era muito controversa.

Como controversa?
Eurico x Parmalat

A 2ª Câmara Cível do TJ-RJ mandou Eurico Miranda cumprir a ordem de indenizar a Parmalat em R$720 mil.
Em 1997, o cartola acusou a empresa de "corromper" árbitros para beneficiar o Palmeiras na final do Brasileiro daquele ano, contra o Vasco.

Saudades do Porcão
Na Rio 92, o Itamaraty pôs no Riocentro uma filial do Porcão, cujo nome foi motivo de riso por se tratar de evento ecológico, contra a sujeira no planeta.
Já em Copenhague, muita gente passou fome (até Dilma). A comida era horrível nos quatro restaurantes. A salvação foi a fila do cachorro quente.

Edições 70
Além do Leya, outro grupo editorial português, o Edições 70, vai investir no mercado brasileiro.
A editora da terra de Pedro Álvares Cabral vai diversificar seu catálogo aqui, atualmente limitado a livros jurídicos.

Povão quer voar
A Gol, que geralmente vende passagens na internet, abriu sua primeira loja própria, quinta. Fica no Largo 13, em Santo Amaro, São Paulo, espécie de Mercadão de Madureira paulistano.
O objetivo é atingir as classes C e D.

Segue...
A julgar pelo primeiro dia de vendas, a meta foi alcançada. O povão quer mesmo voar.
Foram vendidas 51 passagens, num total de R$12 mil, quase o esperado para todo o primeiro mês. Os destinos preferidos foram Salvador, Recife e Fortaleza, nesta ordem.

Sampa no Rio
São Paulo, quem diria?, ganhará uma miniatura... no Projac.
É que o ambiente da próxima novela das 19h da TV Globo, "Tempos modernos", é o centro antigo paulistano, reproduzido em computação gráfica e num cenário, que terá o Largo Paissandu e o Vale do Anhangabaú.

Andréa Pachá, conselheira do CNJ, recebeu o Diploma Bertha Lutz.
O escritório Antonelli & Associados é um dos ganhadores do Innovare VI pelo audiolivro destinado a estudantes de direito com deficiência visual.

Retratos da vida I
Ruy Castro, o coleguinha e escritor rubro-negro, descobriu num manicômio público em Salvador, na penúria, o ex-zagueiro Onça, 66 anos, que atuou pelo Flamengo entre 1968 e 1971.
Segundo Ruy, nos últimos tempos, Mário Felipe Pedreira, seu nome, vivia na miséria, abandonado pela família.

Nos bons tempos...
Onça, no apogeu (foto), diz Ruy, "mesmo depois de ter voltado para a Bahia e encerrado a carreira, era sempre visitado por admiradoras cariocas, entre as quais atrizes e cantoras".
Jogou 164 vezes com a camisa do Fla, num time que tinha como ídolo Fio Maravilha.

Retratos da vida II
Não faz muito, o técnico Andrade, do Flamengo, valia no mercado tanto quanto uma nota de R$3. Mas, depois do hexa, sua estrela não para de subir.
Semana passada, em três dias, a loja da Olympikus no clube vendeu 600 camisas do cara.

Ordem e livro
Uma cruzada liderada pelo editor José Mário Pereira, da Topbooks, e pelo escritor Ferreira Gullar fez Eduardo Paes rever a decisão de tirar das calçadas e praças os livreiros de rua.
Quinta, Zé Mário chegou para trabalhar e até se emocionou ao ler uma cartinha de gratidão enviada por vários livreiros.

JULIA DUALIBI - O ESTADO DE SÃO PAULO

'Imaginei que o Brasil não voltasse a ver censura prévia'' FHC considera 'absurdo' qualquer atropelo à mídia e alerta que democracia no País deve ser 'cuidada permanentemente'

Julia Duailibi

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a liberdade de imprensa é o contrapeso "fundamental" para a democracia. "A crítica sempre incomoda. Mas a função de quem está na mídia é criticar e de quem está no governo é entender a função da mídia. Não pode, como agora, antes de qualquer coisa, dizer que você não pode entrar em tal matéria. Me parece absurdo."
Para FHC, que combateu o regime militar de 1964, a censura prévia pela qual passa o Estado é um resquício daquele período. "Imaginei que o Brasil não voltasse a ver esses momentos de censura prévia." Abaixo, a entrevista:
Como o sr. vê a censura ao Estado?
Com espanto. Imaginei que o Brasil não voltasse a ver momentos de censura prévia. Depois que o STF acabou com a Lei de Imprensa, dava a impressão de que iríamos para outro caminho.
No Brasil, há um flerte com medidas autoritárias?
Isso no Brasil é permanente. Nossa raiz histórica não é democrática. As pessoas custam a aceitar o jogo da democracia, do respeito à lei. A tendência é da arbitrariedade do poder. A democracia aqui tem de ser cuidada permanentemente porque toda hora há forças, no fundo, contrárias a ela.
Que forças são essas?
Forças culturais. Isso vem da nossa cultura, que é formada numa visão onde a separação entre o público e o privado é confusa, onde o favoritismo, o clientelismo e o arbítrio permanecem como uma tendência. Aqui a ideia de quem pode, quem não pode se sacode é generalizada.
A ANJ diz haver uma escalada de decisões na Justiça contra liberdade de imprensa no País.
Não poderia dizer que há uma escalada, mas como isso tem uma base cultural, quando não há forças que contrapõem firmemente, isso renasce. Mesmo neste último congresso sobre os meios de comunicação houve tendências controladoras. Não creio que prevaleçam. A minha aposta é que as forças mais abertas, mais democráticas, avancem no Brasil.

DANUZA LEÃO

Para que o amor dure

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09


Nesse contrato haveria uma cláusula igualzinha a quando se aluga um apartamento: o tempo de duração da relação

É POSSÍVEL PRETENDER que uma mulher e um homem jurem se amar para o resto de suas vidas? Difícil, mas é o que acontece milhares de vezes por dia, na maioria dos países, em cerimônias de casamento. É como um contrato em que regras são estabelecidas mas nem sempre cumpridas, mas há quem garanta que regras foram feitas para isso.
Mas essa, convenhamos, é muito radical. Seria um sonho amar e ser amada pela mesma pessoa até o fim dos dias, no lugar de passar a vida tentando, tentando, se decepcionando, sofrendo, fazendo sofrer. Seria maravilhoso que as pessoas se casassem e se amassem para sempre, mas não é sempre que isso acontece.
E quando não acontece, são meses, às vezes anos de sofrimento para um monte de gente: os próprios, os filhos dos próprios, os pais dos próprios, os amigos que falam e tomam partido, ficam amigos de um lado e rompem com o outro, fora a divisão dos bens, a pensão alimentícia etc.; uma desestruturação geral, um caos.
Mas já que é um contrato, porque não mudar as regras, com a concordância dos dois envolvidos?
Poderia ser assim: tudo mais ou menos igual, mas já determinando, antes, o que é de quem, em caso de separação. Quando isso é feito no tempo das rosas, entre beijos e carinhos, pode ser uma tarde bem divertida um dizendo "ah, mas se a gente se separar, o som é meu", enquanto o outro responde "se você fica com o som, então eu fico com a TV", e sobretudo quem fica no apartamento e quem sai.
Tudo escrito num bloquinho, assinado pelos dois, que dali iriam direto para a cama rindo e dizendo que nada daquilo aconteceria jamais, pois o amor deles seria eterno.
Nesse contrato haveria uma cláusula, para mim a principal, igualzinha a quando se aluga um apartamento: o tempo de duração da relação. Um ano seria um prazo ótimo: nem curto demais, nem longo demais. Quando o dia chegasse, estariam automaticamente descasados e separados, e caberia apenas uma pergunta, como no programa de Silvio Santos: vai continuar ou vai desistir? Depois da resposta, ou uma nova lua de mel, ou cabe ao que vai sair fazer as malas e desaparecer sem ter que discutir a relação; sem ter que discutir a relação, está claro?
Essa cláusula preservaria e muito as uniões, e os casamentos durariam bem mais. Por quê? Vejamos.
Se uma pessoa sabe que num dia determinado o contrato termina -e ela está feliz com sua vida-, faz o quê? Trata de cuidar muito bem do seu marido/mulher, de encher de carinhos, de fazer as vontades, de se comportar como o parceiro/a ideal.
Se fizer assim, dificilmente o outro/ outra vai deixar de amar, e a prorrogação do contrato por mais um ano será automática. No ano seguinte, a mesma coisa, os mesmos cuidados, os mesmos carinhos. Sinceramente: se você sabe que pode perder aquela pessoa numa data já determinada, não vai fazer todas as gracinhas para que isso não aconteça?
Mas se mesmo assim um se apaixonar por outra/o e ficar esperando ansiosamente pela data do fim do contrato para fazer as malas e se mandar, é porque não ia dar certo mesmo.
E nesse caso terá que pagar uma multa, exatamente como nos contratos de aluguel. Assim, com o dinheiro da multa, o que foi deixado poderá fazer uma viagem - a Foz do Iguaçu ou às ilhas gregas- e lá encontrar mais um verdadeiro amor de sua vida.

GAUDÊNCIO TORQUATO

O jogo de Aécio Neves

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/12/09


Tancredo Neves era ás na arte de dizer um sim puxando as letras do não. Depois de entrevista a um repórter, pediu para ler o texto. Lá estava: "Não pretendo ser governador de Minas." Pediu licença, pegou a caneta e emendou: "Não pretendo ser candidato a governador de Minas."

Aécio Neves herdou a matreirice do avô. Anuncia, em nota, sua desistência do páreo presidencial de 2010. Antes que a leitura sugira fechamento de portas, é mais que oportuno o esclarecimento. Aécio, como a raposa Tancredo, quer dizer: "Quero ser presidente da República, mas reconheço que José Serra tem preferência. Cedo a vez para ele."

O gesto do governador mineiro, bem pensado, terá implicações na frente política com vista à disputa do próximo ano. Ao deixar José Serra entre a cruz e a caldeirinha - o governador paulista é tolhido na alternativa de recuo -, Aécio contribui para acelerar o processo eleitoral, ajustar o foco do discurso dos contendores, definir as alianças eleitorais e clarear os horizontes, que até o momento se mostram nebulosos. Com sua decisão o mineiro também demonstra preferência pela hipótese bastante utilizada no enfrentamento de circunstâncias adversas: nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta, pode ser uma curva. O desvio momentâneo poderá ser-lhe útil para galgar, no futuro, meta mais ambiciosa que a vaga do Senado por Minas Gerais.

A retirada de Aécio da arena presidencial estreita o espaço de articulação do PSDB. A observação ampara-se no perfil de um governador que transita com facilidade na esfera partidária, colecionando amigos e simpatizantes nas grandes agremiações. Trata-se de um político de centro, identificado com um escopo pontuado por conceitos como modernização, eficiência e eficácia, desburocratização e integração de estruturas. Não se veste da coloração ideológica pesada que se impregna em bolsões de partidos, inclusive do PT, identificando-se como tucano defensor do ideário da social-democracia, cuja balança ajusta os pesos de uma economia aberta e plural com controles do Estado para evitar excessos. Por isso mesmo Aécio Neves se recusa a entrar no jogo do "a favor ou contra" o governo Lula. Tanto apoia programas como critica desvios.

O selo que inventou - "pós-lulismo" - lhe conferiria, enquanto candidato, boa condição para escapar da armadilha que o PT seguramente vai arrumar para capturar as oposições. A armadilha chama-se plebiscito. O petismo/lulismo anuncia a todo momento que a comparação entre os oito anos de FHC e os dois mandatos de Lula será objeto central da campanha. Aécio, de maneira cordial, sem arengas, fugiria à emboscada. Como? Reconhecendo pontos positivos, sem louvações exageradas, e pontuando sobre áreas que estão a merecer ajustes. Já o governador Serra terá dificuldades para enveredar por essa trilha, eis que simboliza o oposicionismo dos embates históricos entre PSDB e PT. Ademais, agrega valores, ideias e atitudes mais próximas ao perfil técnico de Dilma Rousseff. A verdade é que o ideário de ambos não parece tão diferente, havendo quem garanta ter o paulista visão até mais estatizante que a pré-candidata de Lula. As divergências dão-se mais na esfera de abordagens formais e detalhes do que no plano substantivo.

Sob o prisma partidário, diminuem as chances de amplo leque de alianças em torno da chapa oposicionista. O PSDB poderá atrair boa fatia do PMDB, por exemplo, mas essa parcela poderia ser mais larga caso Aécio fosse o candidato. O mesmo poderia ocorrer com outros partidos, entre eles o PDT, que chegaram a acenar simpatia pelo candidato mineiro. O estreitamento do espaço de articulação na seara oposicionista poderia ser compensado com a chapa puro-sangue. Serra e Aécio formariam uma dupla de peso e respeito. Mas esse é o busílis do tucanato. O risco é alto. Se ambos perderem a campanha, ficariam sem palanque. Passariam boa temporada em limbo político exatamente no ciclo em que se começa a enxergar a aura de um Brasil potente no contexto das nações. Ora, a viabilidade de derrota conta com certa lógica aritmética, fácil de recitar. Vejamos os grandes números que cercam a base da pirâmide: a Previdência Social beneficia cerca de 75 milhões de brasileiros, o salário mínimo laça 43 milhões e o Bolsa-Família, distribuído a 12 milhões de famílias, atinge 46 milhões de pessoas. Se considerarmos que os maiores contingentes desses programas tendem a votar pensando no bolso (leia-se também estômago), deduz-se que será dado um voto de agradecimento aos patrocinadores. Núcleos insatisfeitos - que se localizam nos estratos médios - poderão fazer contraponto ao discurso emotivo das margens, sem condições, porém, de abalar a avalanche que delas virá.

As oposições terão de achar um verbo para desconstruir espaços sociais pulverizados de programas, ações e benesses. Mudar? Se a palavra for essa, a candidata governista alçará voo. Melhorar, ajustar, aperfeiçoar? Soariam como promessas nas nuvens da abstração. A desconstrução dessa arquitetura seria possível sob um perfil que não assumisse o papel de cavaleiro do tropel da desarrumação. Essa seria a jornada de Aécio Neves. Que, ao ver o caminho tomado por obstáculos, não teve dúvidas. Imitou o gesto de Júlio Cesar ao atravessar o Rio Rubicão: "Alea iacta est" - a sorte está lançada. Mas a dúvida que aflige tanto a oposição quanto a situação persiste: e se José Serra desistir mais adiante, Aécio toparia entrar no lugar dele? Em política não existe ponte quebrada que torne inviável a volta de um cavaleiro andante. Os momentos fazem as circunstâncias. O que era impossível ontem poderá acontecer amanhã. Os timoneiros, os guerreiros, os estrategistas, os vencedores costumam se valer da audácia. Valor que T. S. Elliot brindou com a frase "somente aqueles que se arriscam a ir longe conseguem saber até onde podem chegar".

Resta saber o que Tancredo Neves, com seu indecifrável sorriso, andou cochichando aos ouvidos do neto nestes dias pré-natalinos.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Noite feliz


O GLOBO - 20/12/09


Aqui na ilha, verdade seja dita, o Natal nunca foi dos mais famosos. Há até quem sustente que Papai Noel não aparece por cá porque não confia no ferrobote (no original, ferryboat, mas o pessoal acha que o nome é por causa do ferro que ela dá na gente, logo o correto é isso mesmo), ou se recusa a pagar um absurdo para atravessar a baía apenas com um trenó velho e alguns animais aveadados. Contam-me também, não sei se é fato, que a tentativa de promover um Natal de amigo oculto não deu certo, até porque a maior parte entendeu mal a brincadeira e se escondeu o Natal inteiro, sem dar nem receber presente, tendo no fim achado a ideia tão besta que ninguém quis mais nem discutir a realização de outra festa de amigo oculto.

Este ano, porém, a coisa promete. Mostrando, mais uma vez, como nosso mundo é cheio de surpresas, a novidade natalina saiu de onde menos se esperava. Pasmem, mas quem está promovendo o novo Natal na ilha é Zecamunista, é o que estou lhes dizendo. Será que se confirmam os rumores de que, materialista empedernido, ateu impenitente, herege militante, ele é visto com frequência, antes do nascer do sol, encostado na porta da igreja de São Lourenço e argumentando com o santo em gestos veementes, talvez pedindo perdão pelos seus muitos pecados? Será que também se confirmam outros rumores, segundo os quais é dele o braço munificente que custeia as ricas novenas de Santo Antônio de uma certa viúva? Será mesmo, enfim, que ele se benze furtivamente, quando passa pela frente da Matriz?

Creio que nada disso vem ao caso, não vamos expor a intimidade de ninguém, ainda mais quando isso pode ser alvo de exploração política. O que vem ao caso é que todos têm comentado a grande movimentação que passou a ser notada na casa dele, desde fins de novembro. De início, pensou-se que ele estava promovendo mais um torneio de pôquer, depois que, numa sucessão estonteante de blefes amparados por suas grandes habilidades, raspou as fichas de seus contendores de Feira de Santana, mas deu o dinheiro quase todo para sua Fundação para a Defesa da Mulher-Dama Desamparada, podendo ser que agora estivesse precisando de algum apoio financeiro.

– De apoio financeiro eu estou precisando mesmo – me disse ele, quando o procurei para esclarecer os boatos. – Mas apoio de algum burguês endinheirado, não de um mero intelectual a serviço dos altos e baixos interesses de Wall Street, como você.

– Eu, a serviço de Wall Street?

– É uma avaliação genérica, tenha calma, não é caso de paredão, não é caso nem de uma temporada de trabalhos forçados na Sibéria. Tudo no Brasil está a serviço de Wall Street e da alta burguesia, a começar pelo governo. Você se lembra do que diziam do ditador Getúlio Vargas?

– Em que sentido?

– No sentido que interessa. O que diziam era que ele era o pai dos pobres e a mãe dos ricos. Agora o presidente é outro, mas é o mesmo, pai dos pobres, mãe dos ricos.

– Bem, de certa forma...

– De certa forma, não. De todas as formas, cada dia mais! Tudo a serviço da burguesia internacional!

– Nesse caso, por que você me disse que queria o apoio um burguês?

– Ah, é diferente. É porque eu estou organizando um Natal especial aqui na ilha, um patrocínio ajudaria nas despesas.

– Natal? Você, organizando um Natal?

– Um Natal do proletariado, um Natal da consciência de classe, um Natal sem esse embuste de Papai Noel. Ou, por outra, desmistificando esse Papai Noel americanalhado. O nosso vai sair numa carroça puxada por oito jegues e com um chapéu na mão, para, em vez de dar presentes, recolher as esmolas com que os plutocratas e corruptos querem comprar a consciência do povo. Esse pessoal que está aqui em casa está ensaiando para o cortejo que eu pretendo organizar.

– Pelo que eu estou vendo, a coisa vai ser boa, com essas moças daí.

– Não vulgarize minhas intenções! Não me venha com suas inferências vulgares! Essas são minhas colaboradoras num objetivo sociopolítico, elas vão me ajudar no projeto de socialização de nossas riquezas.

– Zeca, você me desculpe, mas agora eu sou obrigado a achar que essa é uma ideia desmiolada. Que riquezas são essas? Quer dizer, ar puro, paisagens bonitas e assim por diante, que é mesmo o que nós temos, já estão socializados, todo mundo pode desfrutar à vontade.

– Você se esquece de nossa principal riqueza. É mais um exemplo de alienação e baixa autoestima. A nossa principal riqueza somos nós mesmos.

– Está certo, mas você vai socializar a nós mesmos? Não entendi.

– Você vai entender e vai querer também se socializar. Socializar, no nosso caso, significa estarmos à disposição de qualquer pessoa que pretenda usar nossos préstimos de forma legítima.

– Você quer dizer trabalhar de graça?

– Isso não, nada de alienar nossa mais-valia. Isto aqui é uma terra de lazer, eu me refiro à socialização do lazer. Por exemplo, meu lazer está aberto ao lazer de qualquer conterrânea que queira desfrutar de mim de graça.

– Ah, já vi tudo. E você acha mesmo que as mulheres vão topar?

– Eu sou pela igualdade dos sexos, são as mulheres na vanguarda do socialismo científico. E, além do mais, foi ideia delas. Você vai ver que noite.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Arestas outras

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/12/09

Murmura-se, entre desembargadores paulistas, que Fausto de Sanctis foi afastado do processo MSI-Corinthians não só a pedido de advogados que viram parcialidade em seu despacho.
É que haveria gente contra sua decisão de remeter a ONGs beneficentes recursos dos leilões da PF com bens apreendidos. Que, em tese, pertencem à União.

Palavra de filho

João Marcello Bôscoli está montando, para o ano que vem, uma empresa que cuidará exclusivamente da obra de Elis Regina.
O produtor musical cumpriu à risca a promessa que fez ainda na adolescência. Isto é: que ao completar 40 anos - em 2010 - dedicaria parte de seu tempo à conservação do trabalho e da memória de sua mãe.

Pirata oficial

Tradicional encontro de internautas, a Campus Party Brasil, versão 2010, terá convidado inusitado: Kevin Mitnick, o ex-hacker mais famoso do mundo.
Sua "especialidade" lhe rendeu a prisão em 1995, da qual foi libertado em 2000 com uma condição: manter-se longe de computadores por três anos. Hoje, Kevin é consultor de segurança.

london first

Jamie Oliver, o "chuchuzinho" britânico, ficou em segundo lugar na lista de autores com o maior número de vendas na década de 2000, de acordo com a Nielsen BookScan.
Em primeiro lugar está outra inglesa, "Miss Harry Potter" J.K. Rowling.
Dan Brown, americano, ficou na terceira posição.

Habitat "inatural"

Tem gente bastante intrigada com a falta de organização em Copenhague. Com o caos instalado, foram os integrantes das ONGs que acabaram de fora do Bella Center. Inscritos somavam 22 mil, para espaço onde cabiam mil.
Desconfia-se ter havido um processo de "seleção natural". Afinal, ambientalistas reconhecidamente cobram, pressionam e vazam informações.

Responsabilidade social

Crianças do bairro Ermelino Matarazzo participaram, na quarta, de concerto com o maestro João Carlos Martins. Parte do projeto Musicalização, da Fundação Bachiana Filarmônica, com a Fundação ArcelorMittal Brasil.

Servidores da Anac montaram, pela primeira vez, o Natal Solidário no Rio de Janeiro. Em prol do Lar Anália Franco.

No lugar dos tradicionais brindes de fim de ano para clientes, a White Martins vai destinar a verba correspondente aos Doutores da Alegria.

O Projeto Centro de Aprendizagem - parceria da Chevron com o Discovery Channel - recebeu o Corporate Citizenship Partnership Award, nos EUA. O projeto beneficia 4 mil alunos da rede pública do Rio.

O Grupo TV1 lança a ação Espalhe Vida em seu hotsite. A cada cartão de Natal virtual e gratuito mandado, um real será destinado à entidade.

A ONG Acredite - Amigos da Criança com Reumatismo, registrou recorde de atendimentos. Para comemorar, promoveu evento para pacientes e familiares, com a distribuição de cestas e de presentes.

Ação da Mitsubishi Pró Brasil deu frutos. Arrecadou mais de cem toneladas de alimentos.

A Casa Eurico comanda a ação de doação de calçados Faça do Seu Passado um Grande Presente. Em prol da ONG Gotas de Flor com Amor.

Tico Sahyoun, do Amigos Para Sempre, entregou o 1º módulo do Centro Educativo do projeto à população de Canapi, no Nordeste.

Clientes que levarem seus antigos jeans à loja 7 For All Mankind do Iguatemi terão desconto na compra de um novo. As calças antigas serão destinadas ao Instituto Florescer.

MARCO ANTONIO VILLA,

O poder e a glória

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09

Inegavelmente, Lula é, até agora, o maior mito da nossa história. O fenômeno nasceu nos anos 70, gerado por um conjunto de fatores


O CULTO ao presidente Lula chegou a tal ponto que não causará estranheza se alguma edição popular da Bíblia iniciar com: "No princípio, Lula criou...". Inegavelmente, ele é, até este instante, o maior mito da nossa história.
Esse fenômeno nasceu nos anos 70, ainda durante o regime militar. Foi produzido por um conjunto de fatores. De um lado, pela ausência de novas lideranças sindicais, produto da supressão das liberdades pelo regime militar. Por outro, devido à repressão que atingiu o Partido Comunista Brasileiro, além das cisões do final da década de 60. O PCB acabou perdendo espaço no movimento operário. E a pequena influência que manteve foi por meio de alianças com os sindicalistas conhecidos como pelegos.
Foi nesse campo aberto que apareceu Luiz Inácio Lula da Silva, em 1977. Tinha sido eleito, dois anos antes, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Após a divulgação por esta Folha do relatório do Banco Mundial, em que ficou demonstrado que o índice de inflação de 1973 tinha sido manipulado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, Lula iniciou uma campanha pela reposição salarial. Não obteve resultado, mas chamou a atenção da imprensa nacional.
O novo líder operário foi imediatamente adotado por alguns intelectuais de São Paulo. Eles criticavam Vargas, o PCB e o populismo. Ambicionavam participar da grande política, mas não tinham voto.
A eles se somaram os derrotados da luta armada, também sem influência popular, e os membros das comunidades eclesiais de base, da Igreja Católica. Estes últimos obtiveram ampla inserção nos movimentos sociais, que surgiram nos anos 70, mas careciam de formação política sólida.
Sustentado por essas três vertentes, Lula foi incensado como líder popular: antipopulista, anticomunista e católico. Em pouco tempo, transformou-se na maior referência do sindicalismo. As greves de 1978-1980, dirigidas de forma atabalhoada, fizeram a transição de líder sindical para dirigente partidário.
Em 1980, foi um dos fundadores do PT e seu primeiro presidente. Outra vez Lula foi usado como referência de ruptura. O PT seria o primeiro partido de trabalhadores do Brasil, apagando a história de mais de 60 anos dos partidos operários.
Anos antes, os mesmos intelectuais haviam transformaram Lula no primeiro sindicalista "autêntico" do ABC, mas a região teve movimentos grevistas desde a década de 20.
Tudo o que falava era considerado original, sábio. Quando exagerava na dose -como numa entrevista, em 1979, em que elogiou a "determinação" de Adolf Hitler-, era perdoado.
Durante 20 anos participou de cinco eleições. Ganhou uma, em 1986, eleito deputado constituinte. Mesmo assim, o mito não foi abalado. Pelo contrário, os intelectuais do partido transformaram as derrotas em vitórias políticas, sempre encontrando alguma razão para os fracassos.
O processo de construção mítica foi ampliado depois da eleição de 2002. Todos os êxitos do governo foram creditados a ele, e as dificuldades e problemas de difícil resolução a curto prazo foram imputados a uma herança maldita dos governos anteriores, especialmente da presidência FHC. Continuou contando com a colaboração entusiástica de intelectuais. Tudo o que falava ou fazia era considerado extraordinário. Era uma espécie de Espinosa de São Bernardo do Campo.
Na crise do mensalão, o encanto não foi quebrado. Tudo teria sido tramado pela imprensa golpista. Mais uma vez, a figura de Lula era o divisor de águas. O caixa dois teria sido colocado de ponta-cabeça. Os destinatários dos recursos não contabilizados seriam o partido e a campanha. Era a corrupção positiva, companheira.
Com a reeleição, o mito chegou ao auge. Ultrapassou as fronteiras nacionais. O ufanismo entrou na ordem do dia. O delírio do presidente que foi ungido em Caetés para libertar o Brasil tomou conta do noticiário. Como nas ditaduras do "socialismo real", o presidente foi considerado infalível. Se Stálin, pouco antes de morrer, dissertava sobre linguística, Lula passou a explicar até as variações climáticas.
Porém, como o mito foi construído em vida, corre o risco de o próprio Lula ajudar a destruí-lo. Se perder a eleição de 2010, terá de descer do Olimpo. As críticas à sua liderança irão crescer, inclusive dentro do PT.
Há muito deixou de ouvir contestações e negativas dos que o cercam. Os áulicos só dizem sim. O todo-poderoso voltará ao mundo real. O mito vai resistir?

MARCO ANTONIO VILLA, 54, é professor de história da UFScar (Universidade Federal de São Carlos) e autor, entre outros livros, de "Jango, um Perfil".

PAINEL DA FOLHA

CLS, abre-alas de 2010

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09


Apresentado no programa de televisão do PT como elemento garantidor das conquistas do governo Lula, o projeto da Consolidação das Leis Sociais deve chegar ao Congresso em fevereiro, logo depois do recesso.
O texto em elaboração no Planalto tem três eixos principais. O primeiro consagra em lei instâncias de participação e fiscalização como conferências, comitês e ouvidorias. O segundo elenca os programas propriamente ditos que se tornariam perenes. Por fim, haveria uma espécie de lei de responsabilidade social, com metas para a esfera federal, Estados e municípios em questões como redução da pobreza e número de pessoas atendidas pelos programas.


All-star 1. O gesto de Aécio Neves (PSDB) sinalizando inclinação para concorrer ao Senado -ainda que essa palavra não tenha sido pronunciada no anúncio de quinta-feira- acentua a percepção de que em Minas, como em nenhum outro Estado, a disputa pelas duas cadeiras se dará entre um time de pesos-pesados.

All-star 2. Além do próprio Aécio, caso rejeite mesmo a opção de ser vice de José Serra, a corrida pelo Senado terá, no mesmo campo, o ex-presidente Itamar Franco (PPS).

All-star 3. Pelo campo lulista virão o vice José Alencar (PRB), que já anunciou a disposição de concorrer se a saúde permitir, e o petista derrotado no duelo entre Fernando Pimentel e Patrus Ananias pela candidatura ao governo. Para completar, o PT tenta convencer Hélio Costa (PMDB) a buscar a reeleição, saindo da disputa estadual.

Dobradiça. É quase um milagre de Natal. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, emergiu da novela que culminou com a retirada da pré-candidatura presidencial de Aécio em bons termos tanto com o governador de Minas quanto com o de São Paulo.

Mix. A soma do Arrudagate com o anúncio de quinta-feira resultou num fim de ano amargo para um time pluripartidário de políticos que vinha orbitando em torno do projeto presidencial de Aécio.

Pano rápido. Já o PMDB, embora repleto de viúvas do governador de Minas, viu ao menos um aspecto positivo no episódio: desde meados da semana só se fala em Aécio e Serra, o que serviu para virar a página do tombo que Lula deu no PMDB com a história da "lista tríplice" de candidatos a vice de Dilma Rousseff (PT).

O portador 1. Na noite de quinta-feira, num bar algo escondido na Asa Norte de Brasília, um homem chegou com uma sacola plástica e sentou-se numa mesa discreta. Entregou o conteúdo a outro homem, que o aguardava, e saiu cerca de dez minutos depois com a sacola vazia na mão. Seu interlocutor foi embora do bar logo em seguida.

O portador 2. O homem que fez a entrega era Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil na era José Dirceu. Pivô do primeiro escândalo do governo Lula, Waldomiro voltou a circular em Brasília após longo exílio em Goiânia.

Luz... O governo federal injetará R$ 5 milhões na transformação dos antigos estúdios da Vera Cruz, onde houve a pré-estreia de "Lula, o Filho do Brasil", num complexo audiovisual. O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), entrará com mais R$ 1 milhão na empreitada.

...câmera. O convênio com a União prevê um total de R$ 21 milhões em investimentos no município até 2011. O pacote cultural também inclui revitalização de bibliotecas.

Breca. O relator Geraldo Magela (PT-DF) pretende colocar no Orçamento de 2010 um dispositivo para impedir que o governo cancele mais de 50% das chamadas emendas de bancada, de execução tradicionalmente baixa.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Dirceu subestima os mineiros e se superestima. Depois de todas as bobagens que fez, continua se achando um mestre da intriga política."
De EDUARDO GRAEFF , secretário-geral da Presidência no governo FHC, sobre o ex-ministro e deputado cassado, para quem o eleitor de Minas "nunca perdoará" Serra pela saída de Aécio da disputa presidencial.

Contraponto

Encalhai bem!


No recém-lançado "Atentai Bem! Assim Falou Mão Santa", o jornalista Zózimo Tavares relata episódio ocorrido quando o hoje senador governava o Piauí, nos anos 90.
Com projeto para retomar as obras de um porto marítimo em Luís Correia, Mão Santa (PSC) encomendou uma série de levantamentos e testes, um deles para verificar a profundidade da água no local. Feita a medição, um técnico levou o resultado ao governador:
-A barimetria acusou 1,90 m de profundidade média.
Mão Santa não se mostrou nem um pouco satisfeito:
-Rapaz, a piscina lá de casa tem 1,90 m de fundura, e eu nunca pensei em botar navio dentro dela!


MERVAL PEREIRA

O Supremo na berlinda

O GLOBO - 20/12/09


O Supremo Tribunal Federal (STF) esteve no centro dos debates políticos nos últimos dias, na situação incomum de ver suas decisões serem questionadas ao vivo pelos próprios membros, no caso da censura judicial ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ou por um governo estrangeiro, no caso o da Itália, que pediu esclarecimentos sobre o voto do ministro Eros Grau no processo da extradição do terrorista Cesare Battisti

Na discussão sobre se a decisão judicial de proibir o jornal “O Estado de S. Paulo” de publicar uma reportagem feria o que o Tribunal havia decidido sobre liberdade de imprensa, ao se definir pelo fim da Lei de Imprensa, uma questão técnica se sobrepôs à discussão conceitual sobre o tema.

Segundo o jurista Sérgio Bermudes, considerado um dos maiores constitucionalistas do país, “não cabia a reclamação, que só vale quando num determinado processo há o descumprimento de uma decisão proferida. Por exemplo, o Supremo anulou um determinado contrato, e os tribunais inferiores decidem dar execução a esse contrato. A parte lesada pode reclamar ao Supremo”.

No caso do “Estadão”, explica Bermudes, tecnicamente a decisão do ministro Cezar Peluso estava certa, por que não houve um descumprimento de decisão no caso específico. “O Supremo se pronunciou contra a Lei de Imprensa, mas não se pronunciou naquele processo específico, se pronunciou genericamente.

Se o Supremo tivesse declarado a Lei de Imprensa inconstitucional em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), aí sim a reclamação valeria. Mas nesse caso não vale”, diz.

Nos bastidores do STF, corre que o voto do ministro Ayres Britto sobre a Lei de Imprensa teria sido muito mais amplo do que a maioria da Corte queria, e agora os juízes estariam começando a modelar a liberdade de imprensa, que teria sido excessiva para muitos deles.

A tendência do Supremo é reafirmar o princípio a favor da liberdade de imprensa, mas agora querem ver caso a caso como se aplica. E eventualmente uma interpretação mais restrita pode surgir.

No caso da extradição de Cesare Battisti, a polêmica começou logo no dia seguinte à votação, quando o relator, o mesmo Cezar Peluso, disse que não tinha condições intelectuais para redigir a decisão do Supremo, ressaltando pela ironia o que considerava incongruência da decisão de extraditar o italiano, mas permitir que o presidente da República não cumpra os acordos internacionais firmados pelo país.

A palavra-chave na votação foi “discricionário”. Os ministros que votaram a favor de que cabia ao presidente da República a decisão final sobre a extradição consideraram que ele tinha poderes “discricionários” para decidir, o que na ocasião foi discutido em plenário e transmitido ao vivo pela TV Justiça.

O ministro Eros Grau se recusou, na ocasião, mesmo instado pelo presidente do Supremo, Gilmar Mendes, a incluir no seu voto a definição de que o presidente deveria seguir o tratado de extradição firmado com o governo italiano.

Dias depois, questionado pelo governo italiano por uma “questão de ordem”, Eros Grau admitiu que seu voto não dava poderes “discricionários” ao presidente da República.

O jurista Joaquim Falcão, diretor da Faculdade de Direito da FGV do Rio, diz que o Supremo “é o local das interpretações conflitivas, e isso não chamo de divisão. Não há divisão em termos políticos ou doutrinariamente ideológica. A tendência do Supremo não é previsível, o que é bom. Mas a imprevisibilidade gera insegurança”.

Para Joaquim Falcão, televisionar a reunião do Supremo “antecipa interpretações sobre o voto e permite esse vai e vem”. A publicidade, com a natural divergência, estaria criando uma situação de insegurança. “Não se faz Supremo sem a comunicação das decisões”.

As dúvidas sobre o voto do ministro Grau não existiriam se os procedimentos do Supremo Tribunal Federal fossem semelhantes aos da Suprema Corte dos Estados Unidos, lembra Falcão.

Lá, os juízes ouvem as partes sem que discutam entre si, apenas arguem os advogados.

Depois, se trancam em uma sala que não tem nem secretária, e discutem, às vezes vigorosamente, até chegarem a um acordo.

Falcão diz que, quando nos Estados Unidos se anuncia o voto do Supremo, “já se anuncia a ementa, que palavra por palavra é discutida antes da divulgação da decisão.

O debate não é público.

Também o voto derrotado é divulgado”.

O jogo de poder está na formulação da ementa, que é o anúncio oficial da Corte sobre o resultado final do julgamento.

No caso da Lei de Imprensa, por exemplo, a ementa de Carlos Ayres Britto dizia a certa altura: “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive procedente do Poder Judiciário, sob pena de se resvalar para o espaço inconstitucional da prestidigitação jurídica.” Os juízes do Supremo que discordam dessa afirmação tão ampla deveriam ter impedido que a ementa fosse publicada nesses termos, para deixar claro que, em outros julgamentos, a questão seria retomada.

Um dos sucessos do Supremo dos Estados Unidos, segundo Falcão, é ir moldando suas decisões ao longo do tempo. Ele exemplifica com o conceito de pena de morte, que nestes últimos anos foi sendo afinado.

Primeiro aprovaram sua legalidade, anos depois disseram que não pode ser aplicada em menores, e mais adiante, ao aprofundar o que seria “punição cruel e fora do comum”, a Suprema Corte definiu que determinado tipo de injeção não pode ser aplicada, por ser “cruel”. “Esse processo de refinamento é natural”.

Para Joaquim Falcão, o que está em jogo é qual o nível de pressão que o Supremo pode aceitar. “Quando o Supremo aceita pressões que podem mudar votos já dados, ou nuançar votos já dados, é um problema gravíssimo para o país”, adverte.

ELIO GASPARI

A nova morte de Edmond Safra, na ficção

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09



Repórter finou-se em agosto mas reapareceu em dezembro, como uma assombração para Lily, viúva do banqueiro

NA SEMANA passada o andar de cima do circuito Nova York-Paris-Londres, com breve escala no Rio e São Paulo, ganhou um assunto para os tititis de fim de ano. É o livro "Too Much Money" ("Dinheiro Demais", inédito em português, US$ 13,69 no Kindle), do jornalista Dominick Dunne, refinado cronista das contas bancárias, lençóis e crimes da grã-finagem mundial. Ele contou uma história autobiográfica numa trama de ficção.
Dunne morreu em agosto, aos 84 anos. Trabalhou na revista "Vanity Fair" (Park Avenue, no livro), onde publicou diversas reportagens sobre as indecifráveis circunstâncias da morte de Edmond Safra, um dos mais poderosos banqueiros do mundo, em dezembro de 1999. O jornalista foi um algoz da gaúcha Lily Safra, viúva do bilionário. Ele achava que, com suas altas amizades, a senhora bloqueara seu trabalho.
Dunne trocou nomes, misturou biografias e chutou o pau da barraca. Como o próprio "New York Times" apontou, a ricaça Perla Zacharias, uma das principais personagens do livro, parece-se muito com Lily. Perla é sul-africana, Lily é brasileira; uma tem villa em Biarritz, a outra em Monte Carlo. Um dos maridos de Perla suicidou-se com dois tiros no peito, e o último, o banqueiro Konstantin, morreu asfixiado num banheiro. Com Lily sucedeu o mesmo: Alfredo Monteverde (o fundador do Ponto Frio) tinha um tiro na aorta, e Safra morreu trancado num banheiro durante um incêndio no seu apartamento de Monte Carlo.
Para alegria dos leitores, Dunne colocou Perla Zacharias na paisagem do alpinismo social dos filantropos bilionários. As orquídeas custam mil dólares e há ternos de sete mil. O Valentino de dez mil da baronesa lésbica Liagra desliza para o tapete, e a cozinheira pula de uma janela porque errou a mão do suflê. As boas casas são pintadas com 17 mãos de tinta e um casal esconde o cadáver de um convidado para não baixar o pique da festa. Dunne ensina que em Manhattan há apenas dez edifícios chiques, quatro na Quinta Avenida, três na Park, um na Gracie Square, outro em Sutton Place e o último na rua 53, diante do East River.
Dunne manipulou biografias de milionárias do final do século passado. Adele Harcourt, a princesa da filantropia que morreu em 2007, aos 105 anos, é Brooke Astor. Ela doou mais de US$ 100 milhões e terminou seus dias comendo o caviar que o demônio amassou. O filho octogenário deixava-a com lençóis sujos, avançou sobre seu patrimônio e está prestes a tomar merecida cadeia.
Dunne/Bailey e Perla Zacharias vivem como rato e gato em "Too Much Money". Ele querendo escrever um livro sobre a morte do banqueiro e ela azucrinando-lhe a vida. (Lily Safra conseguiu que a justiça inglesa mandasse destruir uma edição do livro "Empress Bianca", escrito por uma fofoqueira. Ele foi reeditado com 17 supressões e a versão original custa 500 dólares no eBay.)
O mistério da morte de Konstantin é um assunto que não termina. Ele tinha mal de Parkinson, mas se tornara paranoico por excesso de medicação. Sua guarda de segurança israelense não estava de serviço na noite do incêndio. O fogo durou duas horas, os bombeiros demoraram para chegar e foram retardados pela polícia, que algemou o chefe da segurança quando ele tentou subir ao apartamento.
Segundo a versão oficial de Biarritz/ Monte Carlo, o fogo foi ateado por um enfermeiro americano (ex-boina verde) que pensou em se transformar no herói que salvaria o patrão. O moço passou quase dez anos na cadeia e continua dizendo que o acidente foi provocado por misteriosos assaltantes. Poderiam ser jagunços da máfia russa, com quem o magnata tinha contas a acertar.
Dunne, como Bailey, sabia que tinha um câncer. Vivo, poderia ser processado. Morto, tirou do arquivo um casamento anterior de Perla Zacharias e mencionou derradeiras e barulhentas mudanças feitas no testamento de Konstantin. Ele protegeu suas fontes e, até certo ponto, a receita funcionou. Dois irmãos de Edmond Safra, os banqueiros José e Moshe, vivem no Brasil, mas Bailey não se ocupou deles, nem de seus representantes.

MÃO DE GATO
Nesta semana o STF entra em férias. Em junho deste ano e em dezembro do ano passado, no escurinho do recesso, a banca aproveitou o fim do expediente para entrar com um pedido de liminar que varreria para longe de seus cofres a demanda da choldra que pede de volta as perdas impostas às suas poupanças pelos planos Bresser e Verão. Nas duas ocasiões a manobra falhou porque as luzes do cinema acenderam-se. Não se sabe se haverá uma terceira tentativa.

LULA AJUDA O PSDB
Lula deu um presente ao tucanato quando disse que o PMDB deve organizar uma lista de nomes para a vaga de vice-presidente na chapa da candidata Dilma Rousseff. Os tucanos estavam dispostos a quaisquer acrobacias para empurrar com a barriga a decisão do PMDB. Para eles, o ideal seria que a escolha ficasse para a convenção do partido, em junho. Para isso, chegaram a inventar a candidatura do governador Roberto Requião. Ao falar em lista, Nosso Guia resolveu a questão e empurrou a decisão do PMDB para junho.

PRÉVIAS TUCANAS
Aécio Neves lastimou que o PSDB não tenha organizado um sistema de prévias para a escolha do seu candidato a presidente. Para que as coisas fiquem claras, evitando-se a vaga responsabilização de uma sigla, as prévias do PSDB não se realizaram por três motivos: 1) Porque o governador José Serra não as queria. 2) Porque o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, sabendo que Serra não as queria, resolveu não brigar por elas. 3) Porque o governador Aécio Neves, sabendo que Sérgio Guerra não estava a fim de brigar por uma coisa que Serra não queria, resolveu ficar em copas.
Típica empulhação tucana.

DILMA FRITA
Se a ministra Dilma Rousseff for submetida a outra cenografia como a de Copenhague, talvez possa disputar uma vaga de vereador em Muriaé. Ela teve que disputar câmeras com Carlos Minc, prestígio com Marina Silva e tribuna com Lula. Só faltou disputar o salto em distancia com Maurren Maggi.

CIGARRO APAGADO
A tesoura fez um estrago no paraíso dos executivos de grandes empresas. A Souza Cruz sempre foi uma espécie de campeã no bom relacionamento com seus funcionários e esteve entre as primeiras firmas a oferecer planos de saúde e de aposentadoria aos seus quadros. A festa acabou. Em três anos sucessivos cerca de 400 executivos aposentados da empresa levaram mordidas do plano de saúde. Quem pagava R$ 1.000 em 2005 pagaria R$ 1.650 neste ano. A 70ª Vara do Trabalho do Rio congelou liminarmente um aumento de 15%. Sempre que o patronato avança sobre os direitos da patuleia acredita-se que a tunga só atingirá a turma do andar de baixo. É engano.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e acompanhou o julgamento da censura imposta ao "O Estado de S. Paulo" pelo empreendedor Fernando Sarney. Pela sua lembrança, o Supremo Tribunal tomou uma decisão que resultou, por seis votos a três, na permanência da mordaça.
Na sexta-feira o cretino soube que Fernando Sarney retirou a ação contra o jornal porque achou que seu gesto foi interpretado como uma tentativa de "restringir a liberdade de imprensa".
Como Eremildo é idiota, acreditou. Ele concluiu que Fernando Sarney tornou-se um defensor da liberdade de imprensa, deixando ao Supremo o papel de preservador da censura.

CELSO LAFER

Partidarização da política externa

O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/12/09


A política externa tende a ser, no Brasil e em outras nações, uma política de Estado, e não de governo ou de partido - como vem ocorrendo na Presidência Lula -, em função de certas regularidades da inserção internacional de um país. Essas regularidades contribuem para dar, com as adaptações devidas à mudança das circunstâncias, uma dimensão de continuidade à ação diplomática. É isso que explica por que a política externa tende a ser uma política de Estado.

No caso do Brasil são exemplos esclarecedores de regularidades: a localização geográfica na América do Sul; a menor proximidade dos focos de tensão presentes no cenário internacional; a escala continental que dá relevância ao nosso país na vida internacional; a importância de um pacífico relacionamento com dez vizinhos; a natureza do contexto regional latino-americano, que é distinto de outros; os cuidados no gerenciamento da forte presença dos EUA nas Américas e no mundo; as realidades das assimetrias de poder; o desafio do desenvolvimento.

A dimensão de continuidade confere coerência à ação diplomática e contribui para a credibilidade da política externa do Estado. Continuidade, no entanto, não é imobilismo, pois o objetivo da política externa como política pública é traduzir necessidades internas em possibilidades externas. Mudanças assim ocorrem seja em função da identificação de novas necessidades internas, seja por conta da avaliação de novas possibilidades ou dificuldades externas, provenientes das transformações do sistema internacional. A construtiva interação continuidade/mudança tem feito, no correr dos tempos, da política externa brasileira, como política de Estado, uma "obra aberta", continuamente enriquecida no seu repertório por aquilo que cada governo e cada chanceler, em distintas conjunturas, acrescentam de relevante à inserção internacional do País.

É natural que a política externa leve em conta, na sua execução, além da avaliação do cenário internacional, os dados da política interna de um governo. No caso, por exemplo, das mudanças promovidas na Presidência Geisel, uma dimensão importante foi a de fazer dela um componente do processo de distensão e de encaminhamento da redemocratização. Esta dimensão, aperfeiçoada na gestão do chanceler Saraiva Guerreiro, propiciou, com a redemocratização, um consenso em torno da política externa como política de Estado. À existência deste consenso referiu-se Tancredo Neves em novembro de 1984. Evidentemente, ele pretendia acrescentar uma nota própria à diplomacia brasileira. Por isso, na sua viagem ao exterior, como presidente eleito, no começo de 1985, indicou que ia inserir na agenda externa brasileira a democracia e os direitos humanos em consonância com os dados internos, provenientes da redemocratização.

O empenho na manutenção de um consenso em torno da política externa como política de Estado foi uma das notas dos governos dos presidentes do Brasil democrático - de Sarney a FHC. Hoje esse consenso não existe mais, como vem apontando Rubens Ricupero. O esgarçamento crescente desse consenso é fruto da inédita partidarização da política externa promovida pelo governo Lula. Explicita-se pela desconsideração do que foi feito antes, por meio da asserção de um marco zero diplomático. É o tema do recorrente "nunca jamais em tempo algum na História desse país", denegador dos méritos da política externa como política de Estado.

A partidarização tem como um dos seus componentes a indicação do professor Marco Aurélio Garcia como assessor diplomático do presidente. Com efeito, este, como prócer do PT, que sempre cuidou das relações externas do partido, se incumbiu de zelar por essa partidarização, que a cúpula do Itamaraty incorporou nas suas práticas diplomáticas, a elas atribuindo, com preponderância, a nota de uma política de governo.

A partidarização vem crescendo, nos últimos tempos, facilitada pelas boas condições da presença do Brasil no cenário internacional e pela positiva imagem do presidente no mundo. Um símbolo da partidarização é a recente filiação do chanceler Celso Amorim ao PT.

A partidarização responde a três objetivos. O primeiro e o mais óbvio, desde o início, foi e é o de dar uma satisfação ideológica aos segmentos mais radicais da base de apoio do presidente para compensá-los pelos elementos de continuidade da responsável política econômica do governo FHC. O segundo foi e é o de identificar no PSDB o inimigo político com o qual cabe travar, ao modo de Carl Schmitt, em todos os campos, uma guerra pública. O terceiro, que se vincula ao anterior, é o de glorificar o presidente Lula, desconstruindo politicamente FHC, conferindo também ao seu significativo legado diplomático a característica de uma "herança maldita".

A consequência dessa postura instigará, no debate eleitoral que se inicia, um forte componente partidário no campo da política externa, em detrimento da sua dimensão de política de Estado.

Do ponto de vista da condução da política externa, a partidarização vem levando a equívocos da gestão diplomática. O mais clamoroso é a desmedida de uma ilusão voluntarista empenhada em realçar o papel da liderança do presidente no mundo e a sua capacidade de encaminhar, a partir do Brasil, todos os grandes problemas da vida internacional - da paz no Oriente Médio à não-proliferação nuclear militar do Irã, passando pelos problemas de Honduras, pela alteração da geografia econômica do mundo e pelo término planetário da fome. O ativismo voluntarista contribuiu, inter alia, para os insucessos das candidaturas brasileiras a postos internacionais.

Os antigos diziam que a diferença entre o remédio e o veneno é a medida. A falta de medida é o veneno da atual partidarização da política externa. Propicia, na incessante busca de prestígio, a inconsequência de muita agitação para poucos resultados.

Celso Lafer, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores no governo FHC

ELIANE CANTANHÊDE

Serra e seus múltiplos adversários

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09



BRASÍLIA - Pelo Datafolha, Serra chega ao fim do ano com sólidos 37%, mas Dilma sobe bem e vai para 23%. A rejeição é equivalente, de 19% e 21%, e a eleição esquenta.
Na espontânea, quando o pesquisado pode chutar o nome que bem entender para presidente, Lula é o grande vencedor, com 20%, deixando os dois reais candidatos empatados em 8%. Excluída a chance de citar Lula, o resultado é significativo. Serra tem 8%, concorrendo com dois adversários: Dilma, com 10%, e o "candidato do Lula", com 8%. Faça a conta de somar. Agora, subtraia: muitos acham que Serra é o candidato do Lula, mas um dia vão parar de achar.
Logo, a oposição tem um candidato forte, mas o governo reúne condições bem favoráveis. Mais ainda considerando-se discurso, numeralha, a estrutura, a penca de partidos e, a depender do PMDB, cerca do dobro de tempo na TV.
A oposição, pois, tem de preservar e ampliar o seu principal capital: o candidato. Não dá para brincar, nem para se dividir e menos ainda para errar. O cenário é difícil.
Já o governo precisa equilibrar o apoio a Lula com o voto a sua candidata. Persiste uma enorme distância entre eles, mesmo Dilma tendo suplantado mais um obstáculo: Ciro Gomes. Em todos os cenários, ela está à frente dele, que tende a esfarelar caso entre em campanha sem Lula, sem força partidária, sem aliados e sem suporte.
Não há dados sobre a consequência da saída de cena de Aécio no quadro eleitoral, mas fica claro que os votos de Ciro, se ele trocar a eleição nacional pela paulista, vão se pulverizar. Serra, Dilma e Marina Silva lucram exatamente a mesma coisa: três pontos cada um. Ciro fica ou sai, e não muda nada.
O governo não pode errar, e a oposição, além disso, precisa acertar. O próximo passo crucial é a definição dos vices, que andou para trás no caso de Dilma e está bloqueada para Serra enquanto Aécio não vem. Se é que virá.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! O Natal do Papai Camelô!

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/12/09



E as ofertas de peru pela internet: tem peru até de R$ 1.200! Deve ser o peru do Brad Pitt!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Deputada carioca quer proibir frentistas de usar shortinho curto. E como é o nome dela? Ines PANDELÓ! Ela não quer que o povo veja o pandeló das outras! O povo não quer panetone, quer pandeló!
E um amigo meu apelidou a sogra dele de Zelaya: "Está há três meses aqui em casa, não fala em ir embora e só falta o chapelão. Porque bigode ela já tem". Sogra Zelaya.
E o avião do Lula faz tanta escala pelo mundo que tá sendo chamado de PINGA-PINGA! O Pinga-Pinga do Lula! Quer ver um outro nome pro avião do Lula? AIR LAMBIQUE! Ou AIR GUARDENTE!
E um amigo meu acordou super-romântico cantando: "La ultima noche que pase contigo/ Errei no buraco e acertei no umbigo". Rarará!
E as compras de Natal? A hora do mugido. Vai pro shopping e fica mugindo: muuuito caro! E precisa pegar senha pra subir escada rolante de shopping. Senha 2079! Pode subir! E aquela que foi fazer compras no Papai Camelô, na 25 de Março, e disse que só tem roupa de lycra, tudo apertado, aparece até a cicatriz da cesariana e a periquita fica em alto relevo. Tendência Verão 2010: periquita em alto relevo!
E as ofertas de peru pela internet. Tem peru até de R$ 1.200. Deve ser o peru do Brad Pitt! E eu não faço compras porque não tenho saco pra Papai Noel. Rarará! E o verdadeiro espírito de Natal é made in China. Tudo com batelia lecalegável e cheque do Bladesco!
Copenhague Urgente! O Ecotrem da Alegria: Minc, Serra, Dilma, Lula, Marina. É comitiva ou fuga em massa? Só faltou levar a Geisy da Uniban, a Mulata Globeleza e o Zina!
E implicaram com as vacas brasileiras: elas soltam pum e esquentam o planeta. A vaca brasileira não é poluente, é carnavalesca! E vaca solta outra coisa. Rarará! Os países ricos vão querer que a gente pague imposto pelo pum da vaca: IPUMtu e IPUMva! Os ecologistas são tão radicais que vão lançar a campanha "Extingam os Humanos". Sua simples existência prejudica o planeta. Um ecologista disse que a raça humana é a pior peste do planeta. O que ele sugere? Suicídio em massa? Rarará!
"Salve o Planeta. Mate-se!" E como disse um amigo meu: "Se tivesse julgamento em Copenhague pra quem soltasse gás poluente, meu pai pegava perpétua". Rarará!
Eu mandaria um amigo meu apelidado de BUJÃOZINHO! Um único pum dele abastece a fila de táxis do aeroporto de Cumbica. É mole? É mole, mas sobe! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.