domingo, dezembro 20, 2009

JULIA DUALIBI - O ESTADO DE SÃO PAULO

'Imaginei que o Brasil não voltasse a ver censura prévia'' FHC considera 'absurdo' qualquer atropelo à mídia e alerta que democracia no País deve ser 'cuidada permanentemente'

Julia Duailibi

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a liberdade de imprensa é o contrapeso "fundamental" para a democracia. "A crítica sempre incomoda. Mas a função de quem está na mídia é criticar e de quem está no governo é entender a função da mídia. Não pode, como agora, antes de qualquer coisa, dizer que você não pode entrar em tal matéria. Me parece absurdo."
Para FHC, que combateu o regime militar de 1964, a censura prévia pela qual passa o Estado é um resquício daquele período. "Imaginei que o Brasil não voltasse a ver esses momentos de censura prévia." Abaixo, a entrevista:
Como o sr. vê a censura ao Estado?
Com espanto. Imaginei que o Brasil não voltasse a ver momentos de censura prévia. Depois que o STF acabou com a Lei de Imprensa, dava a impressão de que iríamos para outro caminho.
No Brasil, há um flerte com medidas autoritárias?
Isso no Brasil é permanente. Nossa raiz histórica não é democrática. As pessoas custam a aceitar o jogo da democracia, do respeito à lei. A tendência é da arbitrariedade do poder. A democracia aqui tem de ser cuidada permanentemente porque toda hora há forças, no fundo, contrárias a ela.
Que forças são essas?
Forças culturais. Isso vem da nossa cultura, que é formada numa visão onde a separação entre o público e o privado é confusa, onde o favoritismo, o clientelismo e o arbítrio permanecem como uma tendência. Aqui a ideia de quem pode, quem não pode se sacode é generalizada.
A ANJ diz haver uma escalada de decisões na Justiça contra liberdade de imprensa no País.
Não poderia dizer que há uma escalada, mas como isso tem uma base cultural, quando não há forças que contrapõem firmemente, isso renasce. Mesmo neste último congresso sobre os meios de comunicação houve tendências controladoras. Não creio que prevaleçam. A minha aposta é que as forças mais abertas, mais democráticas, avancem no Brasil.

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