quinta-feira, dezembro 17, 2009

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Mercosul para Chávez

O Estado de S. Paulo - 17/12/2009


O Senado brasileiro aprovou a entrada da Venezuela no Mercosul e, portanto, a subordinação do bloco às ambições e projetos pessoais do caudilho Hugo Chávez. O mesmo erro já foi cometido pelos Parlamentos da Argentina e do Uruguai. Só falta a aprovação do Congresso paraguaio para o caudilho bolivariano ganhar poder de voto e de veto na outrora promissora união aduaneira. "Não estamos fazendo uma avaliação do governo Chávez, porque os governos passam, mas a integração econômica, política e cultural vai ficar", disse o senador Aloizio Mercadante, líder do PT. Talvez o senador saiba quando terminará o reinado chavista. Nesse caso, sabe mais que os venezuelanos.

Para quem não foi premiado com essa iluminação, é uma tolice distinguir a República Bolivariana da Venezuela de seu atual governo, quando se trata de avaliar custos, benefícios e riscos de uma associação diplomática. Tolice de igual calibre é mencionar a importância do comércio entre os dois países para justificar o apoio brasileiro à ampliação do bloco.

O comércio entre os dois países cresceu como resposta a interesses concretos, assim como os investimentos de empresas brasileiras no país vizinho. Segundo o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), autor do relatório final sobre a admissão da Venezuela, a intensificação de relações econômicas com o Brasil decorreu de uma decisão política do governo venezuelano. Essa decisão, afirmou o senador, foi baseada na premissa de inserção do país no Mercosul. "Assim, não aprovando a adesão da Venezuela, estaremos convidando um país vizinho ? nosso sexto maior cliente no mundo ? a procurar outros parceiros", concluiu.

Essa argumentação carece de fundamento. Em fevereiro de 2005 entrou em vigor o Acordo de Complementação Econômica (ACE-59) entre os países do Mercosul, a Venezuela, o Equador e a Colômbia. Foram incluídos entre seus objetivos a formação de uma área de livre comércio, a integração dos transportes e a cooperação no setor energético.

Esse compromisso deveria bastar, no caso de um acordo sério, para os governos tentarem alcançar aquelas metas. Além disso, o governo brasileiro escolheu como prioridade a inclusão de um só daqueles parceiros no Mercosul. Serão os outros irrelevantes?

Mas há outro detalhe ? o mais importante ? pouco explorado nos debates parlamentares e raramente valorizado pelos senadores da oposição, contrários à admissão da Venezuela de Chávez. O objetivo central de uma união aduaneira não é a intensificação das trocas entre os sócios. Para isso basta um acordo de livre comércio.

Um bom acordo de integração comercial produz muito mais que a mera expansão do intercâmbio. A multiplicação dos investimentos e a formulação de projetos de complementação produtiva são consequências normais e bem conhecidas. Uniões aduaneiras, no entanto, são criadas para fins muito mais ambiciosos. Seus sócios assumem o compromisso de agir em bloco em relação aos de fora: adotam uma tarifa externa comum ? a União Europeia foi descrita, durante algum tempo, como uma fortaleza ? e negociam conjuntamente acordos comerciais com outros blocos ou parceiros individuais.

A importância do mercado venezuelano poderia justificar um acordo de livre comércio, como aquele em vigor há quase cinco anos, mas não o ingresso da Venezuela no Mercosul. Só se amplia uma união aduaneira quando se tem suficiente segurança quanto à afinidade entre os valores e objetivos dos novos sócios e aqueles do bloco já constituído.

Mais de uma vez Hugo Chávez manifestou o desejo de reformar o Mercosul e ajustá-lo a seus padrões. Sua participação, ainda como convidado, na recente reunião de cúpula do bloco, em Montevidéu, mostrou mais uma vez sua disposição de usar o Mercosul como palanque para seus comícios e trincheira para seus conflitos.

A admissão de um sócio no Mercosul é especialmente arriscada, porque as decisões dependem de consenso e, portanto, cada sócio tem poder de veto. Assim, as negociações externas ficarão sujeitas ao humor, às antipatias e às ambições de um fanfarrão necessitado, cada vez mais, de inventar inimigos para preservar seu poder. Os senadores oposicionistas discutiram muito a política interna de Chávez. Deram pouca atenção a sua ação externa, a mais perigosa para o Mercosul.

TODA MÍDIA - NELSON DE SÁ

Dilma vs. Connie

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/09


De Copenhague, na coluna Mercado Aberto, Maria Cristina Frias informou ontem que "as críticas de Dilma Rousseff à dinamarquesa Connie Hedegaard, presidente da COP-15, deixaram-na acuada". Foi em reunião "tendo a ministra à frente" dos representantes de China, Índia e outros, cobrando "com firmeza e sempre com o mesmo tom de voz" a participação no documento final da conferência.
Ontem pela manhã, a presidente "renunciou" e deixou a tarefa ao próprio primeiro-ministro dinamarquês, Lars Rasmussen. Antes divulgou novo esboço, recebido como mais uma "manobra dinamarquesa", com um texto que "caiu do céu", na expressão do enviado chinês, segundo a Reuters.
No fim do dia, Rasmussen se reuniu com Lula.

MINC LÁ
Em longa entrevista, em alto de página abrindo o noticiário do "Le Monde", o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, diz que "Brasil pode representar o papel de ponte" na negociação de um acordo neste final de conferência e não está em Copenhague "para fazer discurso"

SÓ PARA FLORESTAS
Destaque nos sites de jornais americanos e depois em portais brasileiros, "EUA dá US$ 1 bilhão para florestas tropicais". A decisão foi precedida pelo elogio feito por Barack Obama ao Fundo Amazônia, montado pelo BNDES, dias antes na BBC Brasil:
"Estou muito impressionado com o modelo construído entre Noruega e Brasil, que permite o monitoramento efetivo e garante que façamos progressos no sentido de evitar o desmatamento da Amazônia."
Sobre dinheiro para o corte de emissões no acordo final, como cobram emergentes e outros, nada.

INTERESSES AMERICANOS
Em destaque no "Wall Street Journal", "Obama: liberal em Washington, conservador em Copenhague". Ele é o "menos agressivo", recusando "compromisso de controles de poluição que limitariam os lucros das indústrias americanas". Em suma, "qualquer acordo seria visto como priorização das necessidades do resto do mundo em prejuízo dos interesses americanos".
Também no "Guardian", "a realidade é que Obama tem que representar interesses contraditórios de um país ainda muito atrasado em mudança do clima".

GRANDES PLANOS, LÁ
Em alto de página de economia no "China Daily" de ontem, "Vale projeta grandes planos para a China". Ecoando reportagem do também chinês "National Business Daily", o jornal informa que a mineradora brasileira assinou "contratos independentes" com siderúrgicas chinesas "para expandir ainda mais sua presença no país" e baratear os custos de transporte.
Segundo um analista chinês, "a ação sublinha a interdependência entre a Vale e a China".

DENGUE ETC.
O "Financial Times" saudou as "boas notícias para as "doenças negligenciadas", no relatório do George Institute sobre o financiamento para pesquisa de males que tradicionalmente têm pouco apoio da indústria farmacêutica, como pneumonia, malária e dengue":
"Os governos de dois dos mais ricos países em desenvolvimento -Índia e Brasil- estão pela primeira vez no "top 5" dos financiadores, assumindo responsabilidade crescente por sua própria carga de doenças."
A crise afastou doadores tradicionais, mas eles foram substituídos pelos dois e pela África do Sul.

DIÁRIO DA ENCHENTE
Na manchete do "Jornal Nacional", "São Paulo enfrenta mais uma tempestade e moradores sofrem". No "Jornal da Record", mais um "diário da enchente", com destaques como "marginal Tietê, a agonia dos caminhoneiros".

KENNETH MAXWELL

Ainda Tiger


Folha de S. Paulo - 17/12/2009
A Accenture, uma grande empresa de consultoria, encerrou seu relacionamento de marketing com Tiger Woods, depois de seis anos.
Foi a primeira grande consequência comercial desde que o superastro do golfe destruiu seu carro e, com ele, a sua reputação em uma colisão com um hidrante e uma árvore, na casa vizinha àquela em que vive, e causou uma tempestade de publicidade negativa.
A Accenture conduzia desde 2003 uma campanha publicitária na qual Tiger era a personalidade central. Sua imagem aparecia em revistas e aeroportos de 27 países.
Isso é coisa do passado. Woods se tornou um grande problema. A assinatura da campanha, "Vá em frente, torne-se um tigre", ganhou significado totalmente distinto, já que os jornais sensacionalistas não param de publicar reportagens sobre mais e mais mulheres que dizem ter dormido com Woods. A Gillette também anunciou que encontraria outras celebridades para promover suas lâminas.
Tiger Woods não é o primeiro astro do esporte a se sair mal do confronto entre uma imagem de alta moralidade e uma realidade mais sórdida. Tornou-se cada vez mais difícil escapar à onipresença de blogs, celulares e formas digitais de gravação. Michael Phelps, o superastro da natação, ganhador de várias medalhas de ouro olímpicas, foi fotografado fumando maconha.
A fabricante de cereais Kellogg's cancelou seu contrato publicitário com ele, alegando que seu comportamento "não era compatível com a imagem da Kellogg's".
O problema é o contraste gritante entre "confiança" e "comportamento" que as peripécias de Woods colocaram em flagrante destaque. Nas palavras de David Zirin, no jornal londrino "Guardian", foi "uma transição supersônica de herói a calhorda".
Todas essas histórias têm dois lado, evidentemente. Tiger Woods se transformou em marca bilionária.
Tornou-se o campeão dos patrocínios. Os ganhos para as empresas envolvidas foram imensos. Mas essas vantagens financeiras podem desaparecer com grande rapidez, o que parece ser exatamente o que está acontecendo com Tiger Woods. Antes de seu acidente em plena madrugada e da avalanche de publicidade negativa que ele causou, Woods contava com um índice de aprovação sem precedentes, de 91%. Em uma semana, ele caiu a 43%, uma inversão histórica.
Enquanto isso, seus supostos pecadilhos se tornaram assunto favorito de piadas nos programas noturnos de entrevistas. Na sexta-feira, Woods anunciou em seu site que se afastaria do golfe profissional "por prazo indefinido". Afirmou que desejava se tornar "um marido, pai e pessoa melhor". Desde o incidente, Woods não apareceu em público.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Haverá comida?

O GLOBO - 17/12/09


Para complicar a questão do clima: o mundo está de novo com um problema de comida. Estimativas indicam que a população mundial vai saltar dos atuais 6,8 bilhões para pouco mais de 9 bilhões em 2050, um aumento de cerca de um terço.

Mas a demanda por alimentos crescerá mais depressa, porque as pessoas nos países emergentes, na medida em que ganham renda, elevam seu consumo.

Assim, acredita-se que a demanda por comida vai aumentar algo como 70%.

E vai dobrar para a carne. Estatísticas mostram que há uma correlação direta entre o ganho de renda e o consumo de proteínas animais. Ou seja, o pessoal ganha um pouco de dinheiro e vai para o bife (ou hambúrguer etc.). Mas há obstáculos à produção de alimentos: escassez de terras novas (não se pode mais desmatar, por exemplo), restrições no uso da água, mudanças climáticas que podem prejudicar vastas extensões de terras e... biocombustíveis. Estes são uma coisa boa? Certamente. Mas competem com a produção de alimentos.

Logo, não se trata apenas de aumentar a produção de alimentos, mas de fazêlo utilizando menos terras e menos água, em um clima talvez mais hostil e em ambiente de restrições à atividade econômica para evitar a degradação adicional do clima . Se isso for impossível, o mundo estará envolvido em conflitos por comida.

Por via das dúvidas, governos de países que não dispõem de terras suficientes, como China e Arábia Saudita, estão comprando fazendas nas regiões mais férteis da África. Mas a solução global de longo prazo depende de um fator crucial: a tecnologia. Só ela pode propiciar os necessários ganhos de produtividade, que equivalem a produzir mais com menos fatores.

Temos chances? A resposta é positiva.

Primeiro, há um antecedente histórico bem recente. Havia esse mesmo tipo de inquietação lá pelos anos 60, e a “Revolução Verde” deu conta do recado.

Nos últimos anos, os ganhos de produtividade agrícola têm sido menores, mas há muita coisa já em andamento.

Por exemplo: a Embrapa brasileira desenvolve plantas transgênicas (feijão, cana) resistentes à falta de água. Com mudanças genéticas, um boi pode ser criado em muito menos tempo.

Biotecnologia, eis onde os povos sábios devem investir. Combinando isso com engenharia de solos, irrigação e melhor uso de fertilizantes e pesticidas, pode-se multiplicar produção de alimentos e de combustíveis, sem destruir o que resta do planeta.

Vale também para a produção de energia mais limpa. A saída está na tecnologia — em que, aliás, os governos de países ricos, a começar pelos EUA de Obama, investem pesadamente. Na Europa, por exemplo, cientistas depositam enorme esperança na produção de energia pela fusão nuclear.

Portanto, é preciso colocar dinheiro e abrir espaço para a ciência e a inovação tecnológica. O que não pode é fazer como no Brasil, onde o pessoal pede uma economia limpa, mas quer barrar os transgênicos, por exemplo.
CARLOS ALBERTO SARDENBERG é jornalista.

EUGÊNIO BUCCI

Os juízes vão editar os jornais?

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/12/09



Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inadequado e arquivou o pedido deste jornal para que fosse extinta a censura prévia que sobre ele se vem abatendo há vários meses. Os fundamentos da decisão apontam para razões formais, processuais, mas seu efeito de mérito é inequívoco: O Estado de S. Paulo segue impedido de publicar notícias sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investiga atividades do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney.

Estamos diante de uma ironia trágica. O jornal foi castigado não por ter agido com irresponsabilidade, mas por ter cumprido o seu dever. O excelente trabalho dos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, que, no primeiro semestre, revelou os atos secretos do Senado, entre outras irregularidades, recebeu, no início de dezembro, o Prêmio Esso de 2009, mas antes, no dia 31 de julho, mereceu outro tipo de reconhecimento, este macabro: a censura prévia por via judicial. Na prática, a despeito de justificativas processuais, foi essa violência que o Supremo corroborou.

De repente, a sociedade viu-se atirada a um constrangimento quase indescritível. Durante o julgamento do pedido do Estado, o presidente do STF, Gilmar Mendes, comparou o caso ao episódio da Escola Base, de 1994, quando uma pequena escola, do Bairro da Aclimação, em São Paulo, foi vítima de um inquérito policial conduzido de forma espalhafatosa pelo delegado encarregado, gerando uma avalanche de notícias sensacionalistas que arruinaram a reputação dos donos da instituição.

Em sua edição de 11 de dezembro, este jornal reproduziu as palavras de Mendes: "Se tivesse havido naquele caso uma intervenção judicial, infelizmente não houve, que tivesse impedido aquele delegado, mancomunado com órgão de imprensa, de divulgar aquele fato, aquela estrutura toda escolar e familiar teria sido preservada. E não foi."

A analogia é perversa. Ela vem sugerir que o mal da imprensa no Brasil é a falta de tutela; estivessem os juízes mobilizados para impor censuras prévias a granel e os erros jornalísticos não mais aconteceriam. Poucas vezes uma inversão de valores foi tão longe na nossa Corte Suprema. Esqueceu-se o presidente do STF de que, durante a ditadura militar, as arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais não eram sequer noticiadas, e nem por isso famílias deixaram de ser destroçadas pela truculência. Não foi por excesso de reportagens, mas exatamente por escassez, que a tirania encontrou espaços para se impor sobre o País. A imprensa não agrava, mas previne o arbítrio, ainda que cometa erros - como efetivamente cometeu no caso da Escola Base.

Agora, estamos à mercê da mentalidade equivocada que foi expressa por Gilmar Mendes. Se generalizada, ela pode nos abrir um cenário sufocante, como bem alertou, em artigo publicado ontem nesta mesma página, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Estado: "Instituições de diversas naturezas demandarão o Judiciário para impedir a realização de reportagens que julguem, por mera presunção, incômodas - e a sociedade jamais poderá comprovar. Corruptores e corrompidos, governantes que não cumprem metas, organizações que desrespeitam a lei, o meio ambiente e os consumidores: todos terão a chance de encontrar no Judiciário o escudo para esconder da fiscalização do público o que poderia vir a ser de elevado interesse para todos. E quem poderá dizer em que casos a cautela antecipada não se transformará em impunidade pré-adquirida? Os juizados se verão abarrotados de demandas baseadas na imaginação do que pode vir a acontecer, e não em fatos concretos. A edição final passará pelos juízes, um desvio bárbaro no método e no tempo. Ruim para as duas atividades, péssimo para as mínimas chances de transparência e debate públicos."

Para complicar o cenário, alguns, em apoio à intromissão de juízes nos afazeres da imprensa, alegam que a investigação sobre as operações de Fernando Sarney tramitam em sigilo de Justiça e, por isso, não podem ser objeto do noticiário. Nada mais enganoso. A sociedade não pode ficar refém daquilo que os Poderes de Estado consideram ou não consideram sigiloso. Bem ao contrário, a democracia precisa da imprensa justamente porque ela é a única instituição capaz de tornar públicas as decisões que o poder gostaria de tomar às escondidas. Pense bem o leitor: para que uma sociedade precisa de jornais livres senão para revelar segredos? O que é uma notícia senão um segredo revelado? Eis aí o núcleo da missão da imprensa: investigar e fiscalizar o poder, informando o cidadão. Sem isso não há segurança democrática.

Guardar o sigilo de Justiça é função dos juízes. A função da imprensa é descobri-lo e, a partir daí, considerar a necessidade de publicá-lo. Em liberdade. A posteriori, e apenas a posteriori, ela poderá ser responsabilizada, aí sim, na Justiça, pelos excessos em que vier a incorrer.

Não custa lembrar que em momento algum as reportagens do Estado "premiadas" com a mordaça invadiram a intimidade familiar de quem quer que fosse. Elas apenas trataram de assuntos de clamoroso interesse público, apenas levaram ao cidadão aquilo que é seu direito conhecer. A prevalecer a decisão que se vem mantendo até aqui, o Judiciário não está protegendo privacidades. Talvez de forma inadvertida, está simplesmente amparando interesses privados que guardam vínculos mal explicados com o poder público.

Agora, resta torcer para que, nos lances do processo que ainda estão por vir, os princípios democráticos sejam repostos. Assim como jornalistas, juízes também erram. Assim como jornalistas, que saibam se corrigir.

Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP

ELIANE CANTANHÊDE

"Desverticalização radical"

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/09


BRASÍLIA - Você aí consegue entender por que Lula se esfalfou e se expôs ao máximo para salvar Sarney da guilhotina e agora dá uma estocada no PMDB, deixando claro que não gosta de Michel Temer para vice de Dilma?
A versão para a defesa incondicional de Sarney foi garantir o PMDB em 2010, junto com o tempo na TV e os palanques pemedebistas.
É justamente isso que Lula agora parece -ou finge- desprezar, ao roer o acordo e exigir lista tríplice de nomes, em vez de acatar Temer.
Os caciques esperneiam, claro.
É blefe contra blefe, porque Lula precisa do PMDB para carregar sua candidata, assim como o PMDB precisa de alternativas para se manter no poder. Mas blefes envolvem riscos. O de Lula é sacudir as bases pemedebistas insatisfeitas com uma aliança forjada precocemente nos palácios de Brasília -a um ano da eleição, sem a segurança de que Dilma seja capaz de vencer.
Sendo assim, Lula acaba de estimular o que pode ser chamado de "desverticalização radical": o PMDB do Congresso faz uma coisa, os PMDBs regionais fazem o que bem entenderem. Com a verticalização, criada em 2002 e jogada pela janela das conveniências políticas, os partidos eram obrigados a repetir em todos os níveis a aliança nacional. Agora, cada um por si.
Isso gera a expectativa de "palanques duplos" para Dilma nos Estados, mas é ficção. Na hora da campanha e do "vamos ver", os pemedebistas vão disputar a candidata a tapas com o PT. Ou se dividirem entre Dilma e o candidato do PSDB.
PSDB, DEM e PPS estão a reboque na disputa pelo PMDB. No melhor cenário para eles, o PMDB do Congresso perde a convenção, e o partido fica livre, leve e solto. No menos pior, fica com Dilma, mas liberando os principais Estados para apoiar Serra. É o "liberou geral".
No fim, o PMDB se rearticula e sobe a rampa com o vitorioso e mergulha em ministérios e estatais.
É o que melhor sabe fazer.

PAINEL DA FOLHA

Pró-gesto

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/09


Carlos Minc não é o único integrante do primeiro escalão do governo a achar que o Brasil deveria contribuir com US$ 1 bilhão para um fundo de combate às mudanças climáticas, em contraste com a opinião manifestada por Dilma Rousseff em Copenhague. Mas, diferentemente do titular do Meio Ambiente, essas vozes preferiram não divergir da ministra da Casa Civil na conferência, optando por tratar do assunto em privado com Lula.
Para Dilma, esse valor "não faz nem cosquinha" no problema. Prováveis adversários da petista em 2010, tanto José Serra (PSDB) quanto Marina Silva (PV) defenderam a participação do Brasil no fundo.


I'll be back 1. Em encontro com Serra, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, acertou visita a São Paulo em fevereiro.

I'll be back 2. Integrantes da comitiva brasileira em Copenhague se impressionaram com o empenho do ator-governador: com o auditório vazio, Schwarzenegger ensaiou do começo ao fim sua apresentação na conferência.

Troco. Há quem diga que as razões foram várias. Outros, porém, atribuem exclusivamente a uma ação coordenada do PMDB o fiasco da tentativa de concluir a votação na Câmara do sistema de partilha do pré-sal, empurrando a definição para 2010.

Ai, Jesus! Piada ouvida anteontem no jantar de fim de ano do PMDB: ao fim da exibição de "Lula, o Filho do Brasil", o presidente reclama que cortaram a melhor parte do filme; Dilma pergunta qual; "aquela em que eu caminho sobre as águas", diz ele.

Cautela. O governo evitará comprar briga com Fernando Collor (PTB-AL), que decidiu apresentar adendo ao relatório da CPI da Petrobras, adiando mais uma vez o enterro da comissão. O senador preside a Comissão de Infraestrutura, por onde passarão os projetos do pré-sal.

Painhos. De Delcídio Amaral (PT-MS), ao ver José Sarney, Wellington Salgado e Paulo Duque desfilando de terno branco pelo Senado: "Iemanjá está chamando!".

Em marcha. O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) encaminhou a Reginaldo Lopes, reeleito presidente do PT-MG, pedido de registro de seu nome em prévia para definir o candidato da sigla ao governo. O outro postulante é o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel.

Pão e circo. Com a praça em frente à sede do governo tomada por manifestantes, Yeda Crusius ofereceu almoço a jornalistas para celebrar três anos de mandato no Rio Grande do Sul. A tucana presenteou convidados com camisas do Grêmio e do Inter.

Comissário. Candidato do PT ao governo gaúcho, Tarso Genro (Justiça) ganhou, de advogados dos envolvidos no escândalo do Detran, o apelido de Beria, em alusão ao chefe da polícia política de Stálin.

Cimento 1. Relatório aprovado ontem pela Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara lista irregularidades em seis obras do PAC: transposição do São Francisco, ampliação do aeroporto de Guarulhos, Refinaria Abreu e Lima, duplicação da BR-040, obras em Sete Lagoas e complexo petroquímico do Rio.

Cimento 2. O parecer recomenda que a Comissão de Orçamento suspenda previsão de repasses para algumas dessas obras, embora o governo tenha maioria para aprovar sua proposta. O texto dispara contra o TCU, afirmando que alguns técnicos "não têm a devida especialização".

Consolação. O deputado tucano Duarte Nogueira (SP), que perdeu a disputa pela liderança da bancada para João Almeida (BA), será o próximo líder da minoria na Câmara.
com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Ciro é oportunista e gazeteiro. Aliás, não entendo como não foi cassado até hoje por excesso de faltas."
Do deputado EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), em resposta aos ataques recebidos na véspera do colega do PSB.

Contraponto

Fiel


Senadores debatiam ontem a punição ao Coritiba, que perdeu o mando de 30 jogos em razão da batalha campal promovida por torcedores do clube após rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Osmar Dias (PDT-PR) fazia questão de repetir que seu time era outro. Eduardo Azeredo (PSDB-MG) resolveu manifestar solidariedade:
-Temos algumas semelhanças... você torce para um time pequeno, eu sou América mineiro, o Jarbas é Sport, o Suplicy é Santos, que não foi grande coisa neste ano...
Osmar Dias retomou a palavra e esclareceu:
-Para encerrar, lembro que eu sou Corinthians!

MERVAL PEREIRA

A busca do vice

O GLOBO - 17/12/09


A escolha do vice-presidente está se transformando em um intrincado jogo político que, embora tenha como principal objetivo o tempo de televisão e rádio de propaganda eleitoral que pode ser agregado à campanha, manda também uma mensagem nada desprezível ao eleitorado. Por isso mesmo, tanto PSDB quanto PT estão em dificuldades para a escolha do vice depois do escândalo do mensalão do Distrito Federal, que abateu em pleno voo nacional o governador José Roberto Arruda.

De uma das figuras mais influentes do DEM e possível candidato a vice-presidente na chapa do PSDB, seu escândalo não apenas respingou na coligação PSDB-DEM, como uma bala perdida no tiroteio de acusações filmadas e gravadas atingiu em cheio o presidente da Câmara, Michel Temer, do PMDB, até então considerado pule de dez para companheiro de chapa da ministra Dilma Rousseff.

O escândalo do DEM reforçou a tese favorita dos tucanos de que a melhor solução seria mesmo uma chapa puro-sangue com o governador de Minas, Aécio Neves, de vice-presidente e o de São Paulo, José Serra, na cabeça, minimizando assim um contágio mais forte do escândalo. Embora sejam inevitáveis os respingos, até mesmo pela parceria notoriamente bem-sucedida em São Paulo entre Serra e o prefeito Gilberto Kassab.

Até março, as pressões sobre Aécio serão intensas, e atribuiu-se a essas pressões um suposto recuo, por ele negado, de antecipar para este mês a decisão de concorrer ao Senado por Minas, desistindo já de disputar a candidatura à Presidência da República internamente com o governador José Serra.

É difícil, no entanto, que essa chapa se concretize, pois o governador Aécio Neves está convencido de que ser vice não agrega valor nem à sua vida política nem à chapa propriamente dita.

Caso essa hipótese se inviabilize, a tendência hoje do PSDB é fechar um acordo com o PPS, coordenado pelo próprio Aécio, para indicar o ex-presidente Itamar Franco para vice.

Seria uma maneira de incluir Minas na chapa, sinalizando a importância de uma vitória no segundo maior colégio eleitoral do país.

Caso o DEM insista em indicar o vice para não parecer aos olhos do eleitorado como um partido rejeitado, provavelmente oferecerá ao PSDB um velho conhecido, à prova de qualquer problema, o senador Marco Maciel, que foi vice de Fernando Henrique Cardoso por oito anos.

O único defeito dessa solução é levar para a disputa uma marca plebiscitária, justamente o que o governo Lula quer. Fugir da contaminação de escândalos é talvez a maior preocupação na composição das chapas.

Em maio de 1994, o então senador de Alagoas Guilherme Palmeira foi indicado candidato a vice-presidente na chapa de Fernando Henrique Cardoso pela coligação União, Trabalho e Progresso, mas não resistiu três meses: em agosto, uma denúncia de favorecimento de uma empreiteira no Orçamento Geral da União provocou a substituição por Marco Maciel, também senador e nordestino.

Também Lula, em 2002, escolheu o vice José Alencar mais por ser empresário do que por ser político mineiro, para dar um recado a setores empresariais de que seu governo não seria uma ameaça à estabilidade econômica.

A região do candidato a vice é importante, embora possa ser também um impedimento.

Na chapa oficial, por exemplo, ser nordestino não é uma vantagem, já que Lula é amplamente popular hoje na região.

O deputado Ciro Gomes pode vir a ser o vice de Dilma se a negociação com o PMDB gorar, mas será pelo seu potencial desempenho eleitoral, e não por ser do Ceará.

Já na oposição, ser bem votado no Nordeste pode ser um reforço, caso a união preferencial com Minas não vingue.

O episódio da lista tríplice, sugestão de Lula que ainda causa estranhamento na relação do PT com o PMDB, tem precedente histórico já relatado aqui na coluna.

Quando, em 1933, Getulio Vargas nomeou o interventor em Minas Gerais, sugeriu sutilmente que fosse incluído na lista o nome de um deputado novato, Benedito Valadares, do Partido Progressista (PP) — e não do PSD, como escrevi anteriormente.

Benedito Valadares foi, de fato, um dos fundadores do PSD, mas em 1945.

Atribui-se à intenção de Lula de ter o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, como vice de Dilma a sugestão da lista tríplice. Seria uma maneira de sinalizar aos empresários e mercado financeiro que as linhas básicas da política econômica não mudariam.

E também uma provocação ao governador de São Paulo, que tem em Meirelles o principal alvo de suas críticas econômicas e é acusado de ser mais heterodoxo em matéria de política econômica do que o próprio Lula.

O interesse do presidente Lula pelo PMDB está concentrado no tempo de rádio e televisão, que dobraria o do PT com a adesão formal na convenção em junho.

A formidável máquina partidária do PMDB, no entanto, não estará nunca inteiramente à disposição da candidatura oficial, pois setores importantes do partido estão comprometidos ou com a candidatura do PSDB ou tentando viabilizar uma candidatura própria.

A cada mal-entendido que acontece, cresce mais a possibilidade de, ao fim, mais uma vez o PMDB não ter condições de aprovar uma coligação formal com o governo, o que faria com que seu tempo de rádio e televisão fosse dividido por todos os partidos que venham a ter candidatos a presidente.

A hipótese menos provável é a de que o PMDB, em represália ao governo, decida formalizar um acordo com o PSDB, repassandolhe seu tempo de propaganda eleitoral.

Essa possibilidade, que vem sendo aventada nos bastidores, parece mais uma chantagem política para dobrar as resistências de Lula e do PT do que uma ameaça real.

TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR

"Parrhesia": ainda sabemos o que é?

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/09


O sentido de democracia se sobrepõe à eventual difamação de políticos. Daí a proteção da liberdade de opinião e manifestação

É UMA antiga palavra grega que aproximadamente significava liberdade de falar tudo, portanto, de falar o que se pensa, uma espécie de qualidade moral exigida para saber a verdade e, assim, para comunicá-la aos outros. A autêntica "parrhesia" só existia onde houvesse democracia.
Desde cedo foi percebida a dificuldade de dizer livremente o que se sabe em forma compatível com a liberdade de viver cada qual como lhe pareça. No limite entre ambos, o fantasma da censura.
Censurar a liberdade de dizer em nome do interesse coletivo é tema que atravessou dois milênios e ainda nos preocupa.
Desde a era moderna, liberdade opõe-se à tutela estatal. Ninguém, a não ser o próprio homem, é senhor de sua consciência, do seu pensar, do seu agir. Aí o cerne da responsabilidade.
Cabe ao Estado propiciar-lhe as condições, mas jamais substituir-se ao ser humano na definição das escolhas e da correspondente ação. Daí a proibição da censura, que, como instituição estatal, própria dos regimes autoritários, sempre busca justificativas, utópicas e sempre frustrantes, para educar os adultos, agir como guardião e impedi-los de atividade política (Hannah Arendt).
O revés da medalha é a proteção da privacidade, que, para os antigos gregos, era a condenação da "parrhesia" perversa, a fofoca difamante e sem peias. E, hoje, da palavra que viola a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem. Daí a busca de critérios para delimitar direitos.
Nos EUA, mormente quando a liberdade de opinião era manifestada pela imprensa, a relação tensional entre o direito à honra e à imagem e os direitos reconhecidos na "First Amendment" (Primeira Emenda) foi bastante debatida. De um lado, o delito por danos à reputação (tradição no "common law"); de outro, o direito de opinião ("free speech") e o direito à liberdade de publicação.
Atualmente, o debate foi superado pela Suprema Corte, cujo "leading case" é o processo "New York Times" vs. Sullivan, de 1964, que estabeleceu a regra da "actual malice".
Por ela, funcionários públicos e políticos atingidos em sua reputação ou pessoas privadas cuja atividade repercutisse publicamente (caso Gertz) só teriam seu interesse protegido caso pudessem demonstrar que a informação ofensiva fora feita com dolo.
A corte entendeu que um ataque, ainda que difamatório, mas não intencional, deveria ser considerado como uma forma de discurso político, o principal objeto de proteção da "First Amendment".
Quanto a personalidades públicas, o seu direito de defesa da privacidade deveria ceder diante do direito de liberdade de manifestação, central para o exercício da democracia.
A "First Amendment", pela corte, assume que qualquer cidadão deve ser livre para contribuir para o debate político e que restrições impostas pelo governo e por políticos devem ser vistas com suspeita.
O sentido de democracia se sobrepõe soberanamente à eventual difamação de políticos, funcionários de governo ou pessoas com relevância pública. Daí a proteção da liberdade de opinião e manifestação.
Na Alemanha, o posicionamento da Corte Constitucional não é diferente. Conquanto a Lei Fundamental (artigo 5º) limite expressamente o direito à liberdade de opinião e sua manifestação quando em conflito com a inviolabilidade da honra pessoal, a corte recusa essa proteção quando o difamado participa do debate político, excepcionando os casos de calúnia.
Princípio semelhante à regra "New York Times".
Mesmo na Inglaterra, onde a proteção à reputação é maior, as cortes aceitam a proteção à liberdade quando o público tem interesse legítimo em receber a informação, e o editor, o dever de publicá-la.
Tais posicionamentos decorrem do regime democrático. O direito de liberdade de opinião é correlato ao de informação, constituinte da cidadania ao lado de outros direitos, como o de votar e ser votado e o de ampla participação política pelo livre debate de livres informações.
No Brasil, "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição". E o meio constitucional para lidar com abusos é claro: "assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação". Ou seja, o instrumento não é proibir, nem prévia nem posteriormente. A proibição destrói a liberdade. E, sem ela, destrói-se junto a democracia.
Para os antigos gregos, a "parrhesia" era aliada à crítica, que estabelecia a singularidade de cada um na igualdade de todos. Era respeitada, até porque exercida sem medo. E o medo era a arma do tirano. Mas, entre tirania e democracia, falar livremente era sempre preferível a ser calado.

TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR , 68, advogado, é professor titular da Faculdade de Direito da USP. É autor, entre outras obras, de "Introdução ao Estudo do Direito".

JOSÉ SIMÃO

Copenhague! Serra decreta lei antipum!

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/12/09



E sabe o que o Lula fez na Dinamarca? Levantou a placa DILMAMARCA 2010!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta!
Deputada carioca quer proibir as frentistas de usar shortinho curto. E como é o nome dela? Inês PANDELÓ! Ela não quer que o povo veja o pandeló das outras! Ô, dona Inês, libera o pandeló! Rarará! E o Ecotrem da Alegria? Continuam discutindo aquecimento global em Copenhague. Tempo em Copenhague: DOIS GRAUS NEGATIVOS. Isso que é incoerência. E sabe o que o Lula fez na Dinamarca? Levantou a placa DILMAMARCA 2010! Rarará!
E vocês viram a foto do Serra com o Schwarzenegger? E o que o Schwarzenegger tá fazendo lá? O Exterminador do Futuro quer salvar o planeta?! Rarará! E sabe o que Serra falou pro Schwarzenegger?
"Quando eu chegar em São Paulo, vou lançar a lei antigases!" O Serra vai decretar a lei antipum em São Paulo! Paulista não vai mais poder soltar pum! Rarará! E depois do papelão do Palmeiras no Brasileirão, tá difícil o Serra defender o verde na Dinamarca! Rarará! E o e-mail de um leitor: "Se lá em Copenhague fossem julgar quem emite gás poluente, o meu pai pegava perpétua".
E sabe o que um ecologista falou? Que a raça humana é a maior peste do planeta. O que ele quer? Suicídio em massa? Extingam os humanos.
"Salve o Planeta! Mate-se!"
E sabe como se chama a repórter da Globo falando sobre desmoronamentos? Michele BARROS! Predestinada! E adorei a Katia do "Manhã Maior" sobre as enchentes: "Os rios DESBOCAM em São Paulo". Rarará!
Quer dizer que São Paulo, além de alagada, é uma cidade desbocada?
É mole? É mole, mas sobe. Ou como disse aquele outro: é mole, mas chacoalha pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que na Freguesia de Vilar Seco, em Viseu, Portugal, tem um café chamado Pau as Costas! Ueba! Portugal é o berço do antitucanês. O Brasil só tropicalizou. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Ecologista": companheiro que solta pum com eco. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

ARI CUNHA

Venezuela no Mercosul

CORREIO BRAZILIENSE - 17/12/09


O Senado aprovou a indicação da Venezuela para integrar o Mercosul. Para o senador Eduardo Azeredo, o “país vizinho não vai promover a integração, mas a desintegração”. Arthur Virgílio, do Amazonas, cantou o número dos votantes antes da eleição. Trinta e cinco a favor e 17 contra. Ao anunciar o resultado, o presidente José Sarney dirigiu-se ao senador dizendo: “Vossa Excelência não viu a votação, mas acertou o número em cheio”. Muita gente do governo elogiou o ditador venezuelano. Disse que era democrata eleito. O Brasil aceitou. Dizia que Chávez é “morrível”. Todo ditador morre, mas deixa alguém. Assim vive Cuba. Várias moedas são usadas. O povo tem fila para tudo. É proibido manifestação contra o governo. O assunto se repete.


A frase que não foi pronunciada

“Há males que vêm para o pior.”
» Última frase da novela Chávez no Mercosul.


Correção
Leitor informa decepcionado erro do colunista. Bernardo Sayão morreu há 50 anos. Era destemido, enfrentava dificuldades e as vencia. Uma árvore tombou na Belém-Brasília. Morreu de pé, como as árvores, atingido por um galho forte que lhe ceifou a vida.

Filho sozinho
Escândalo na imprensa. A criança morreu. A mãe a havia deixado sozinha em casa. Anos atrás, quando a Rádio Tupi, dos Diários Associados, comemorava aniversário, a nota mais humana foi a de uma ex-empregada doméstica. Ela saía de casa. A Tupi ficava ligada no radinho do quarto. A criança, se chorasse, ouviria música ou voz humana. Aconteceu durante anos. A criança cresceu, se formou em direito e a mãe contou a história com emoção.

Aquecimento
Não chegou a uma solução a reunião de Copenhague. Os acordos ficam difíceis. Os participantes querem vantagens. Enquanto isso, o tempo muda e ameaça.

Metrô
Cancelada a terceirização na construção do metrô. O destino fica por conta de quem paga impostos.

Saco cheio
Em campanha maciça contra o exagero na cobrança de impostos, a Rádio Jovem Pan informa que o Papai Noel carrega nas costas um saco quase cheio de brinquedos. A outra metade é tributação.

Ilegais
CPF, Carteira de Trabalho, contas bancárias, acesso a educação e saúde. Assim será a vida dos imigrantes que chegaram ilegalmente ao Brasil. Muito fácil. Até o dia 30 deste mês eles podem regularizar a situação.

Nova lei
A partir de maio de 2010 será obrigatória a instalação de cadeiras para o transporte de crianças em carros escolares e particulares. O preço do produto varia entre R$ 74 e R$ 1.500. A multa para quem transportar criança fora das regras será de R$ 190.

Ernesto Silva
Internado há quatro meses, o doutor Ernesto Silva recebe a homenagem dos amigos. Ele está mais animado, o que levou a Associação dos Candangos Pioneiros a convidar a comunidade de Brasília a participar da celebração de uma missa em ação de graças pela saúde dele. Hoje, às 19h30, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na 906 Sul.

Recuperação
Senado Cultural, comandado por Ana Claudia Badra, fechou o ano com uma lista respeitável de atividades. A programação Pratas da Casa teve tanto sucesso que agora os parlamentares começam a perceber que o endomarketing estava em baixa.


História de Brasília

O gerador de Taguatinga, localizado em frente à Prefeitura, está oferecendo sério perigo. Há um defeito, e as descargas elétricas estão ameaçando uma enorme área em torno daquele aparelho. (Publicado em 19/2/1961)

ROLF KUNTZ

Dois presentes para Hugo Chávez

O ESTADO DE SÂO PAULO - 17/12/09


Hugo Chávez terá um Natal gordo à custa do Brasil. Dois belos presentes estão assegurados. O Senado brasileiro aprovou sua promoção a sócio com direito a voto e veto nas decisões do Mercosul. Isso foi na terça-feira. Amanhã a Petrobrás e a estatal boliviana YPFB assinarão um aditivo contratual para elevar o preço do gás vendido aos brasileiros. O aumento, de pelo menos US$ 100 milhões anuais, valerá até 2019 e será contado a partir de 2007. O favor a Evo Morales, presidente da Bolívia, é obviamente uma vitória para seu mentor, o guia genial de todos os bolivarianos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem carteirinha do clube, mas tem sido bem mais que um simpatizante.

O ingresso de Chávez no Mercosul, como sócio com plenos direitos e poderes, foi aprovado por 35 votos a 27. Oficialmente, o Senado aprovou a adesão do Estado venezuelano, como se o governo instalado em Caracas fosse um detalhe historicamente irrelevante. "O governo da Venezuela é transitório; a Venezuela continuará, ao longo da história, a ser vizinha do Brasil", escreveu o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), em seu hilariante relatório sobre o protocolo de adesão. O líder do PT, o senador paulista Aloizio Mercadante, disse algo parecido: "Os governos passam, mas a integração econômica, política e cultural vai ficar."

Se Chávez concordasse com essa ideia, não teria batalhado com tanto vigor para conseguir o direito de concorrer a reeleições ilimitadas. Mas quem se importa com esse e outros detalhes da transformação política da Venezuela? O líder do PT parece comprometido - de forma irrevogável, é claro - com a satisfação dos mínimos desejos de seu chefe, assim como Lula se compromete com a satisfação dos desejos dos amigos bolivarianos. Segundo o relatório de Jucá e a igualmente hilariante conversa dos estrategistas de Brasília, isso atende aos interesses externos do País.

O Mercosul foi criado para ser mais que uma área de integração comercial. Deveria ser também um instrumento de complementação produtiva e uma plataforma para inserção global dos quatro países fundadores. Só essa ambição maior poderia justificar sua conversão, na segunda etapa, em união aduaneira, com tarifa externa comum (TEC) e negociações externas em bloco.

A união aduaneira funcionou muito mal, até agora. Há uma porção de exceções à TEC e os quatro governos combinaram, há menos de um mês, mantê-las até o fim de 2011, esticando por um ano o prazo para sua extinção. Além disso, desentendimentos entre Brasil e Argentina dificultaram, até agora, a conclusão de um acordo comercial com a União Europeia. Atrapalharam até mesmo a apresentação de ofertas na Rodada Doha de negociações comerciais.

Enfim, há os permanentes conflitos por causa do protecionismo no interior do bloco. O governo brasileiro só há pouco tempo reagiu às barreiras ampliadas pelas autoridades argentinas desde o ano passado. Em geral, Lula e seus estrategistas preferem contemporizar, como se esse fosse o preço da liderança brasileira. Que liderança, se Brasília sempre cede e jamais consegue apoio a seus lances mais ambiciosos? Não conseguiu sequer eleger um presidente do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID).

Só por milagre Hugo Chávez contribuirá para tirar o bloco desse atoleiro. Mais provavelmente, continuará a usá-lo como sempre usou - como plataforma para suas ambições de poder regional -, mas com direito de voto e veto e não apenas de fala. Só não sujeitará o bloco a seus projetos se a adesão for rejeitada pelo Parlamento paraguaio. Os outros já aprovaram. Se os paraguaios tiverem mais juízo que os brasileiros, restará cuidar com mais empenho do acordo de livre comércio assinado há anos pelos governantes do Mercosul, da Venezuela, da Colômbia e do Equador. Seria o caminho mais sensato.

Do Brasil, pelo menos, Chávez não tem motivo de queixa. Lula chegou a ceder a embaixada brasileira em Honduras para uma jogada política de nenhum interesse para o Brasil, mas útil para o projeto de influência regional de Chávez. O lance não deu certo e o custo do fiasco, tudo indica, ficará para Brasília. Tanta generosidade não se encontra facilmente. O mesmo desprendimento foi demonstrado na concessão da vitória a Evo Morales. A diretoria da Petrobrás tentou resistir, mas acatou as ordens do Palácio. Os acionistas privados da empresa poderão discordar. Os cidadãos menos bobos, também. Mas Evo Morales terá uma conquista para celebrar, e seu inspirador, Hugo Chávez, será reverenciado mais uma vez.

DORA KRAMER

A hora e a vez

O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/12/09


Candidato a disputar o governo de Minas Gerais, o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, não arrisca incursões para fora de sua jurisdição.

Recusa-se a comentar a estratégia dos adversários e, quando é provocado a analisar a situação nacional do PT, fala do assunto feito quem come gilete, no maior cuidado.

Elogia muito o PMDB, mas não exibe a menor disposição de desistir da empreitada regional em nome da preservação da aliança nacional.

"O projeto nacional está acima de tudo, mas é preciso ver que ele não se dá no vazio, é construído pela força política nos Estados, que é o que dará sustentação ao governo federal mediante o apoio dos governadores e de uma base forte e ampla no Congresso. Não precisamos ter candidato próprio sempre, mas também não podemos abrir mão das candidaturas próprias sem uma justificativa de peso", analisa o ministro.

É o caso de Minas Gerais - sua preocupação primordial - onde, está convencido, "é a vez do PT".

Diz isso apesar de o Estado ser considerado um dos focos centrais da disputa da aliança entre PT e PMDB, que ameaça romper o acerto para apoiar a candidatura de Dilma Rousseff se não for atendido em seu desejo de concorrer ao governo com apoio do PT.

Patrus acha o anseio legítimo, admite até seja necessário "incorporar o PMDB à chapa", mas por ora não vê possibilidade de seu partido abrir mão de disputar. Com ele ou sem ele.

O ministro, em tese, ficou em desvantagem com a vitória recente do candidato apoiado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel para a presidência do PT regional.

Na visão dele trata-se de um obstáculo, não de uma impossibilidade. "Além de o resultado (48% a 52% dos votos) ter sido politicamente equilibrado, muita gente que apoiava a outra chapa internamente está comigo para a candidatura ao governo, são duas questões diferentes: o partido e o Estado."

Ainda este mês Patrus Ananias pretende oficializar um pedido para a realização de prévias para a escolha do candidato e já tem sua plataforma para conquistar a preferência dos filiados. Vai se apresentar como um petista "de raiz", militante histórico, candidato em seis eleições, eleito uma vez prefeito de Belo Horizonte e arauto da recuperação dos "ideais" do partido: ética da política, respeito à democracia interna e valorização dos filiados e abertura de espaço aos movimentos sociais.

"Sou de esquerda", preconiza, certo de que por aí marcará a diferença no discurso de afirmação partidária.

O mesmo que o PT fará em todos os Estados para enfrentar uma eleição nacional complicada em que precisa, no mínimo, recuperar a velha identidade, pois, seja de novo governo ou volte para a oposição, não terá mais a popularidade de Lula para o proteger.

Para o PT esse é o ponto crucial. Mais importante que atender às exigências do PMDB.

Máquina mortífera

O PT de Minas não subestima a capacidade de o governador Aécio Neves conseguir eleger como sucessor o atual vice, Antonio Anastasia, a despeito da ausência de histórico eleitoral e da provável presença de adversários fortes - Patrus Ananias ou Fernando Pimentel pelo PT e Hélio Costa pelo PMDB.

Se concorrer, Anastasia o fará no cargo. Em Minas há um partido cuja força não raro se sobrepõe a todas as outras, o PL. Palácio da Liberdade, sede do governo.

Algo há

Está tudo muito exagerado na relação entre o PMDB e o presidente Lula. Não há correspondência entre os atos e a lógica dos fatos.

Desde a interminável reação magoada ao pedido de lista tríplice para um PMDB que não se ofende com nada e muito menos costuma enfrentar fontes substantivas de poder, até a crescente ofensiva de Ciro Gomes contra o partido.

Não que o deputado não tenha razão em suas contundentes críticas às práticas fisiológicas do PMDB e à "hegemonia" que paralisa os trabalhos da Câmara e "prejudica o País".

O discurso seria completo não fosse pelo fato de omitir que tudo ocorre em função das conveniências do Palácio do Planalto, a quem Ciro serviu como ministro, e para atender às exigências do presidente da República, a quem o deputado concedeu a prerrogativa de influir até na mudança de seu domicílio eleitoral e de seu destino político.

Trata-se, portanto, de um aliado que confere ao presidente Lula um grau alto de fidelidade. Sendo o PMDB o principal parceiro do presidente - dito como provável vice da candidata oficial - lícito supor que Ciro não atue com o objetivo de contrariá-lo.

E quando o deputado chama o PMDB de imoral está dizendo que o presidente está avalizando uma aliança cuja metade é composta por gente sem moral.

Em tese, tal atitude deveria desagradar ao presidente, que, no entanto, não dá menor sinal de desagrado. Esquisito.

ANCELMO GÓIS

GRANDE FAMÍLIA

O GLOBO - 17/12/09


Foi selado, não se sabe até quando, novo acordo de paz na família Geyer. A herdeira Joanita Geyer desistiu ontem da ação na 14ª Câmara Cível do Rio, em que pedia a suspensão da operação de compra da Quattor, petroquímica da família, pela Braskem, do grupo Odebrecht.
Joanita processava três irmãs, além do sobrinho Frank Geyer, que toca os negócios da família.
APAGÃO DE DILMA
Para consumo público, o governo tem posto a culpa nos raios que os parta por aquele apagão que atingiu 12 Estados em novembro.
Mas, o relatório apresentado no Conselho Nacional de Política Energética cita problemas de manutenção nos isoladores.
COISA DE PELE 1
José Serra, nesta reunião de Copenhague, participou de debate com Carlos Minc e saiu elogiando o ministro pelas costas:
– Ele falou bem. Eu não o conhecia. Ele é do ramo.
COISA DE PELE 2
Dilma Rousseff parecia ontem sinceramente encantada com o ator Victor Fasano, representante em Copenhague do movimento Amazônia Para Sempre, que conseguiu 1,2 milhão de assinaturas em defesa da floresta.
EM CAMPANHA...
Por falar em Dilma, em certos momentos de sua exposição, a ministra agiu como se estivesse num palanque de 2010.
Citou duas vezes, um a um, os governadores da região Norte e os deputados presentes, e passou mais de meia hora no palco posando para fotos.
COFRINHO DO ANDRADE
Andrade, técnico do Flamengo hexacampeão, colhe louros e enche o cofrinho neste fim de ano (merece).
Além de renovar com o Fla (fala-se em R$ 160 mil mensais), foi contratado como garoto-propaganda da Nextel.
MAGALHÃES PINTO
O TRF do Rio reduziu ontem de 28 para dez anos a pena do ex-controlador do finado Banco Nacional Marcos Magalhães Pinto.
Marcos foi condenado por gestão temerária. A Justiça concluiu não ter provas de que ele sabia das supostas fraudes praticadas de 1986 a 1995. Cabe recurso.
KRAMER X KRAMER
O STJ deu ganho de causa à brasileira Fnac Livraria e Editora em ação movida pela gigante Fnac francesa, que exigia uso exclusivo da famosa marca.
Para a 4ª Turma, a Fnac brasileira, por usar a marca há mais tempo, tem direito de mantê-la.
BICHO PAPÃO
O senador Wellington Salgado, na falta de argumentos, acusou a oposição de pintar Hugo Chávez como bicho papão:
– Vou chegar em casa e dar comidinha a meu filho nº 5, falando: “Come ou chamo o Hugo Chávez para pegar você.”
CORPO DE BOMBEIROS
Mesmo após a tentativa de fraude que cancelou o Enem, as Forças Armadas se negaram a ajudar na segurança das provas no Rio, dias 5 e 6 de dezembro. Como a polícia estava naquele fim de semana movimentado, com final do Brasileiro no Maracanã, show de Xuxa no Maracanãzinho, ensaios na Sapucaí etc., quem fez a segurança das provas foi o Corpo dos Bombeiros.

LUIS FERNANDO VERISSIMO

A prole do Conde Dracula

O GLOBO - 17/12/09

Curiosa, a persistente popularidade de vampiros entre os jovens. Livros e filmes de vampiro estão entre os mais lidos e vistos pelo público adolescente. Nenhuma explicação sociológica para o fenômeno parece ser mais convincente do que a simples constatação de que vampiro é sexy. Talvez, numa era em que a sexualidade fica cada vez mais precoce e tudo já foi feito, a dentada no pescoço seja vista como a suprema experiência sexual. Ou então – lá vai sociologia – na falta de qualquer coisa em suas vidas que tenha mais de dois ou três anos de tradição, os jovens tenham adotado um dos mais tradicionais terrores da humanidade para ter algum tipo de passado, mesmo fictício. Os vampiros dos livros e filmes são moços na moda, mas pertencem a uma linhagem que vem das sombras da Idade Média. É uma grife milenar.
A origem histórica de Drácula, o protótipo de todos os vampiros, é o Conde Dracul, um senhor feudal da Transilvânia conhecido pela sua crueldade (seu apelido era “O empalador”, manja só). O primeiro vampiro literário foi criado pelo médico John Polidori, que passava o verão de 1816 à beira do lago de Genebra junto com os poetas Lord Byron e Percy Shelley e a namorada deste, Mary Shelley. No mesmo verão famoso Mary Shelley inventou outro monstro, a criatura do dr. Frankenstein. A invenção da Mary Shelley foi um sucesso, mas o vampiro de Polidori foi esquecido, até Bram Stoker criar o seu Drácula. Para o critico marxista italiano Franco Moretti, os dois monstros nascidos em Genebra simbolizam horrores opostos. Um, a criatura do dr. Frankenstein, feito de partes de camponeses mortos, dos dejetos do feudalismo, representa uma nova forma de vida. Uma classe sem precedentes, com um poder desconhecido, que chega para aterrorizar a burguesia. Drácula representa a classe senhorial, uma aristocracia feudal em decomposição na qual só restaram os vícios – e o gosto por sugar o sangue dos aldeões. Os dois resumem os temores que dominavam o século dezenove, e de um jeito ou de outro ainda dominam o mundo. Existem monstros do dr. Frankenstein mais ameaçadores do que os milhões de miseráveis sem perspectiva da Terra à espera de uma faísca que os levante? Existem sugadores de sangue mais renitentes do que os do capital financeiro internacional?
Claro que nada disto tem a ver com os vampiros na moda, hoje. Ouvi dizer que a próxima tendência entre os jovens será a de dentes caninos postiços. Em algum lugar o Conde Dracul deve estar sorrindo, satisfeito com a sua prole.

CLÁUDIO HUMBERTO

“O governo Chávez contamina o bloco”
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS), SOBRE A ENTRADA DA VENEZUELA NO MERCOSUL.

CGU INVESTIGA DEPUTADOS EM NOVO ESCÂNDALO
A Controladoria-Geral da União passa o “pente fino” em 1.500 eventos realizados, só este ano, com recursos do Ministério do Turismo. Nessa investigação, estão sob suspeita centenas de eventos custeados com verbas de emendas parlamentares. Deputados como João Magalhães (PMDB-MG) deverão ser solicitados a explicar custos elevados e até por que eventos patrocinados nem sequer foram de fato realizados.
NOME CITADO
O deputado João Magalhães teve seu nome citado em outro escândalo de desvio de recursos na Operação João de Barros, da Polícia Federal.
OPERADOR
João Magalhães foi apontado pela PF como o principal operador de um esquema fraudulento que desviou R$ 700 milhões de verbas do PAC.
COOPERAÇÃO
Os ministros Jorge Hage (CGU) e Luiz Barreto (Turismo) se reuniram para combinar mútua cooperação na investigação do escândalo.
SIGILOSO
A CGU encaminhou o caso à PF e ao Ministério Público, que pediram a quebra de sigilo dos envolvidos.
‘ELDORADO’, CARAJÁS NÃO SE DESCOLA DO PARÁ
O Senado aprovou, mas a Câmara impediu um plebiscito para criação do Estado de Carajás, sul do Pará, proposto pelo deputado Geovanni Queiroz (PDT-PA), para quem a região “se desenvolveu extraordinariamente”, mas seus 1,3 milhão de habitantes em 39 municípios “vivem inúmeras deficiências” em saneamento, transporte e energia elétrica. Seria “o fim da exploração” pelos governos do Pará.
‘NÃO’ DOS GRANDES
Carajás tem a maior reserva mineral do mundo e a represa de Turucuruí. Deputados de SP, Minas e Rio votaram contra o plebiscito.
ENROLAÇÃO
Após três meses de espera, pressão do presidente Lula e da ministra Dilma, projetos do pré-sal serão votados na Câmara... em fevereiro.
NOSSA GRANA
O Palácio do Planalto comprou de importadora, por mais de R$ 30 mil, dois scanners de produção.
CONCHAVO À MESA
O ministro José Jorge, do Tribunal de Contas da União, almoçou ontem com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Maldade na mesa ao lado: “Devem estar combinando as obras do PAC que vão parar”.
A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM
O ex-presidente nacional do DEM Jorge Bornhausen luta para retirar o nome do amigo e parceiro Jonas Barcelos, dono da Brasif, do escândalo de corrupção no governo de Brasília. Mas a tarefa é difícil.
XÔ, TUCANO
Discutia-se na Câmara um projeto doando aviões Tucano ao Paraguai e o deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) foi logo avisando: “Sou a favor de exportar não apenas três, mas todos os tucanos para o Paraguai”
FASCISTAS RAIVOSOS
Na Conferência de Comunicação (Confecom), que se realiza em Brasília, grande parte dos que defendem teses de inspiração fascista, como “controle social” da mídia, são figuras bizarras e cheias de rancor por não terem espaço na imprensa. Sobretudo por incompetência.
DUAS CANOAS
O diretório do PSB-SP vai pedir hoje uma definição do anunciado pré-candidato ao governo paulista Ciro Gomes. O partido se diz “imobilizado”, até porque está louco para apoiar o empresário Paulo Skaf.
ONDE ESTOU?
O diretor, autor e ator José Celso Martinez chegou a Brasília, terça à noite, com dois desejos: comer pequi e falar com Lula. Mas o presidente escafedeu novamente para o exterior. Foi a Copenhague.
APARÊNCIAS ENGANAM
Quem vê cara, não vê coração. O governador tucano José Serra, que negou uma “crise conjugal”, após demitir a assessoria do Fundo de Solidariedade, presidido pela mulher, Mônica, é um galanteador irremediável, segundo os amigos. Seu, digamos, charme, é irresistível.
CHORORÔ SUSPEITO
Senadores do DEM amigos da empresa espanhola Telefónica anunciam que vão investigar no Senado a compra da GVT pela concorrente francesa Vivendi, que ofereceu mais e levou a empresa.
PENSANDO BEM...
...o Zelaya merecia ganhar umas rabanadas na embaixada neste Natal.

PODER SEM PUDOR
POR DOIS VOTOS APENAS
Em viagem ao Japão com a mulher, em plena campanha eleitoral de 1990, o jurista Dalmo de Abreu Dallari acabou impedido de retornar a tempo de votar no filho, vereador Pedro Dallari (PT) candidato a deputado estadual, em São Paulo. Telefonou-lhe explicando o impedimento, e o filho brincou:
– Tudo bem, pai. Mas, se eu não for eleito por dois votos, é melhor o senhor arrumar uma boa universidade em Osaka para ser reitor.