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Ontem, por volta de meio-dia, batemos a marca de R$ 1 trilhão pagos em impostos este ano, de acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Tudo a ver com o que andei conversando semana passada com executivos de tecnologia. Como todos sabemos, pagamos impostos demais - e o pior é não haver retorno visível.
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terça-feira, dezembro 15, 2009
NELSON VASCONCELOS
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
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As empresas brasileiras Braskem e Cetrel anunciaram ontem em Copenhague, em evento paralelo à COP-15, parcerias com a dinamarquesa Novozymes para produção de energia limpa e o início de pesquisas para desenvolvimento de polipropileno, ambos a partir da cana-de-açúcar. |
DIRETO DA FONTE
Sonia Racy
Antônio Carlos Rodrigues, presidente da Câmara paulistana, fechou o Parque da Xuxa, sábado.
Decidiu alegrar os tristes tempos de "panetonegate" e comemorar o aniversário de seus dois netos. Com direito a livre acesso ao McDonald"s.
Pensar médio
Depois de bombardeamento de mais de três horas, domingo, com ONGs diversas, Serra fala hoje "treinado" durante palestra que dá em Copenhague ao lado de outros governadores, como Arnold Schwarzenegger.
Ouviu de Luiz Pinguelli Rosa, por exemplo, que Estados e municípios devem ter papel decisivo. Na ótica do físico, planos em ampla escala tendem a funcionar mal.
Chic, o clima
Deu no Daily Telegraph, de Londres. Em 11 dias de cúpula, chegarão a Copenhague nada menos que 140 jatos particulares mais boa parte das 1.200 limusines alugadas pelas delegações.
Plumas e paetês
A Lei Rouanet caiu no samba. A escola Acadêmicos da Rocinha foi autorizada a captar R$ 2 milhões para botar seu bloco na avenida.
Vale ouro
Cesar Cielo enquadrou o maiô que usou ao ganhar ouro no Mundial de Roma para dar a... Gustavo Borges. Uma retribuição a presente idêntico que ele recebeu do veterano.
Drug story
Marcos Prado vai se debruçar sobre novo longa.
De nome Paraísos Artificiais, no qual pretende explorar o drama da "geração ecstasy".
Réquiem
Na mira do "projeto tratorada" do governo, que quer encerrar o ano sem deixar bodes na sala, Heráclito Fortes já se prepara para ver sepultada a CPI das ONGs. O enterro será precedido de pequeno teatro do relator Inácio Arruda - que, antes de baixar o caixão, vai propor a criação de um... marco regulatório.
Seja lá o que isso for.
Réquiem 2
A base aliada deve fazer ouvidos de... "mercadante."
Pontapé
Conforme antecipado pela coluna em agosto, Ricardo Lacerda montou seu próprio banco de investimentos, o BR Partners. Começou capturando uma sócia, a ex-BMC Andrea Pinheiro, e uma operação gigante de R$ 1,5 bilhão, a da Hypermarcas e Neoquímica.
Outros sócios estão a caminho. "Nosso projeto é bem mais ambicioso do que apenas uma butique de investimentos", diz o ex-Citi.
Invasão chinesa
Ao lado de dois dirigentes chineses da JAC Motors, David Zhan e Michael Yang, Sérgio Habib, do Grupo SHC, fecha oficialmente hoje uma parceria com a montadora chinesa.
Começam com a importação de três novos modelos.
Livro no parque
Magda Maciel Montenegro, bibliotecária, foi escolhida por João Sayad para dirigir a mais nova biblioteca do Estado. A Poiesis cuidará da administração.
O espaço abre em janeiro no Parque da Juventude.
Tá na hora, tá na hora
O Procon afrouxou e bares da rua Augusta e dos Jardins estão fazendo festa na cobrança de consumação mínima, coisa proibida por lei. Tem gente cobrando até R$ 20, como o Z Carniceria, ou R$ 15, como o restaurante Tostex.
Pudera. A última fiscalização foi em agosto, quando vistoriaram 31 estabelecimentos e multaram seis.
Na Frente
Ao voltar para o segundo bis, na sexta, Maria Bethânia quis cantar uma canção cuja letra estava nas mãos de... Cássio. Bethânia gritou, chamou e o moço, nada. Acabou cantando Ronda. Ninguém ficou sabendo onde foi parar Cássio.
No ano em que completa cem anos, o Bar Vesúvio - o de Jorge Amado, em Gabriela - tenta emplacar projeto cultural no Ministério da Cultura e também na Secretaria da Bahia.
Araquém Alcântara lança Sertão sem Fim, hoje, na Livraria da Vila da Lorena.
Fernanda Marques comemora seus 20 anos de carreira com lançamento de livro. Hoje, na Casa do Saber.
Vistos sábado em sessão garimpo no Santa Luzia, Charlô Whately e Philippe Marc, do Plaza Athénée. Preparando o cardápio para o jantar a quatro mãos que farão hoje no bistrô?
Minutos depois da agressão contra Berlusconi, o Facebook recebeu 20 novas comunidades exaltando Maximo Tartaglia, autor da aclamada "façanha".
Roberto Justus e Marcos Quintela pilotam jantar, hoje, na Y&R. Com direito a brinde à promoção de Quintela.
O Pacotão, grupo carnavalesco de Brasília, definiu tema para 2010. Pedirá... a troca de José Roberto Arruda por Zelaya.
VINICIUS TORRES FREIRE
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A ENERGIA dos ventos deixou ontem de ser um exotismo marginal na produção de eletricidade no Brasil. O governo contratou em leilão projetos de usinas eólicas com capacidade de gerar 1.805 MW, pouco mais de um quarto da potência instalada de uma usina do rio Madeira, em Rondônia. A energia estará disponível a partir de 2012. Hoje, todas as usinas de eletricidade movidas a vento no país são capazes de produzir cerca de 600 MW. |
FERNANDO RODRIGUES
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Há hoje sete pessoas filiadas ao PMDB ocupando assentos na Esplanada dos Ministérios. No Congresso, a Câmara e o Senado também estão sob o comando de peemedebistas. |
ARI CUNHA
Fim do ano
Correio Braziliense - 15/12/2009 |
História que vem do Nordeste lembra que quando começam os meses dos be-rê-ó-bró é sinal de que o ano acaba. Primeiro de setembro indica que está na hora de mandar cartões de boas-festas, e os presentes que as pessoas “mais de perto” merecem receber. A expectativa vem dos tempos das vacas gordas, quando a cera de carnaúba virou ouro na Segunda Guerra. E das vacas magras, quando a seca destruía plantações. Andando de automóvel nos anos 1970, era desoladora a paisagem. A caçula Circe via a natureza. “Aquela casinha está de olhos fechados.” Era grande o número. Aparecia uma casinha distante com janela aberta. Aquela está vendo com um olho só. Eram casinhas abandonadas pelas famílias que procuravam vida melhor no Sul. A frase que não foi pronunciada
História de Brasília
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TODA MÍDIA
No alto de UOL e outros portais brasileiros no fim do dia, "Brasil lidera ranking" ou "encabeça combate ao aquecimento".
Na BBC Brasil, "pela primeira vez um emergente passou para trás desenvolvidos como a Suécia", em índice da Germanwatch e da CAN, Climate Action Network. Na alemã Deutsche Welle, "Brasil e Suécia, seguidos por Reino Unido e Alemanha, são os que mais fazem pela proteção ao meio ambiente". A China vem em 52º lugar, os EUA, em 53º. No final da lista, Canadá e Arábia Saudita.
Mas "os três primeiros lugares estão vagos", porque "nenhum está se esforçando o suficiente para evitar a perigosa mudança no clima".
EUA VS. CHINA
A conferência de Copenhague parou no meio do dia, "brevemente", segundo o relato do "New York Times". Ou "incendiou tensões", destacou o "Wall Street Journal", entre ricos e emergentes.
Mais precisamente, analisava o mesmo "WSJ" antes ainda dos problemas, entre EUA e China. No enunciado original, "U.S. Versus China". Em longo texto, o jornal diz que "o roteiro tinha Obama e outros líderes mundiais voando para abençoar uma nova era de cooperação global. Na realidade, o encontro vai tomando a forma de duelo essencial entre EUA e China".
BRASIL VS. CHINA?
Um colunista do "Washington Post", Sebastian Mallaby, diretor no Council on Foreign Relations, escreveu ontem que o Brasil segue "vulnerável" devido à valorização do real frente ao dólar, desvalorizado pelos juros baixos nos EUA, e ao chinês yuan, desvalorizado para seguir o dólar. Diz ele que não adianta "pedir aos EUA" que mudem e só "resta a opção de falar com a China", o que o Brasil não faz por "solidariedade Bric".
IMPRESSIONADO
Depois que a secretária de Estado ameaçou o Brasil pela visita do Irã, o subsecretário Arturo Valenzuela esteve em Brasília para ver o assessor Marco Aurélio Garcia e se dizer "impressionado" com a concordância em "aspectos fundamentais". Sobre o Irã, "o Brasil tem relações com quem quiser, é soberano".
ALGUMA COISA
Da parte do Brasil, pelas agências, Garcia buscou algo substantivo. "Concordamos em alguma coisa: para os governos do Brasil e dos EUA, a eleição é insuficiente para" a normalização da democracia em Honduras. E "realmente concordamos nos aspectos fundamentais de nossas relações".
AGORA, OS BRINKS
O "WSJ" destacou ontem a chamada "Petróleo no Brink", trocadilho com beira de abismo e o mais novo acrônimo do mercado financeiro global. Brink, expressão lançada pela consultoria PFC Energy, une Brasil, Rússia, Iraque, Nigéria e Cazaquistão, com K em inglês. São os cinco países dos quais se espera produção crescente para as próximas décadas.
O "WSJ" avisa que, apesar da concessão de campos às companhias ocidentais nas últimas semanas, "o Iraque é a incógnita na equação".
AO VIVO, DO RIO
O principal canal financeiro dos EUA transmitiu no fim de semana uma entrevista do Rio, destacando a nova classe média etc. E sugeriu investir em imóveis, argumentando com o programa Minha Casa, Minha Vida
MEGA
Nos portais financeiros daqui, o destaque ontem foi para o célebre "megainvestidor" americano Sam Zell, que anunciou sua associação com a Brazilian Finance & Real State, empresa "líder do mercado brasileiro de produtos financeiro-imobiliários". No Brasil, o americano já aplica na Gafisa e outras, do setor.
"ESTÁ CAINDO COISA DEMAIS"
Foi manchete da Folha Online ao portal G1, mas a Globo mal registrou. Locução da Band: "É impressionante o que cai de obra em São Paulo. Ou é azar ou está caindo viga demais. Alô, Serra, está caindo viga demais. Um operário morreu. Está caindo coisa demais aqui em São Paulo
ROBERTO LUIS TROSTER
Muvuca no câmbio
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09
Estamos fazendo a pergunta errada. A indagação correta é: Como tirar mais proveito do novo cenário e alavancar o desenvolvimento?
O REAL é a moeda que mais se valorizou em 2009 e foi uma das mais voláteis. Sua trajetória é motivo de preocupação para operadores no mercado financeiro, que podem abrir e fechar posições em segundos. Para alguns setores da indústria e da agricultura, uma taxa de câmbio desfavorável significa prejuízos que em algumas ocasiões inviabilizam a continuidade da produção.
Os números do PIB divulgados na última quinta-feira mostram um produto agropecuário no último trimestre 9% inferior ao de um ano atrás, e o da indústria, 6,9% menor. Parte expressiva dessa queda é efeito da valorização do câmbio. Enquanto o consumo já superou o nível de 2008, a recuperação de alguns desses setores só ocorrerá em 2011. Há sobras de motivos para desespero.
Há também efeitos positivos na apreciação da moeda nacional, como o barateamento das importações, o controle da inflação, juros mais baixos e maiores possibilidades de consumo. Em vésperas de uma eleição, uma desvalorização pode ter sequelas. Entretanto, o governo está sinalizando, com o aumento do IOF e as propostas de autorizar mais investimentos fora, o propósito de conter a valorização do real.
O diagnóstico das autoridades brasileiras está correto, mas as terapias usadas e as sugeridas não curam a doença que aflige os produtores locais, apenas alguns dos sintomas -e com efeitos secundários.
Sua capacidade de influenciar a taxa de câmbio é restrita, pois, numa economia aberta, o preço do dólar é determinado por fatores externos, como a evolução da economia nos EUA e os preços internacionais das commodities, e internos, como as expectativas de fluxos comercial e financeiro e a taxa de juros local.
O IOF sobre câmbio foi uma tentativa de conter a valorização do real, mas indicou para os investidores que o Brasil não quer investimentos externos. Para crescer, o país não pode prescindir desses recursos. Há um deficit de poupança, e aumentos de investimento interno só são viáveis com fluxos maiores do resto do mundo.
Uma proposta em pauta é permitir maiores aplicações fora do país. Com a compra de ativos estrangeiros, haveria uma demanda maior por dólares e isso contribuiria para desvalorizar o real. Também transferiria problemas dos setores afetados para o setor de fundos, pois atividades realizadas por instituições financeiras locais seriam feitas por empresas no exterior, ao deslocar seus ativos para lá.
A bem da verdade, o quadro conjuntural atual é uma oportunidade.
Poder-se-ia catalisar a vocação de São Paulo como centro financeiro internacional e porta de investimentos para a América do Sul, à semelhança do que Londres é na Europa e Hong Kong na Ásia. Em vez de trasladar empregos para fora, seriam criados mais postos de trabalho aqui dentro.
A concretização desse projeto depende apenas de mudar o tratamento dado a ativos financeiros estrangeiros. As restrições existentes são da época que o Brasil tinha escassez crônica de divisas. Hoje, o problema é o oposto. Atualmente, uma empresa não tem limites para estocar carros americanos, vinhos argentinos e perfumes franceses, mas tem restrições para guardar dólares, pesos e euros.
É um anacronismo com efeitos adversos na taxa de câmbio e, o que é pior, no produto e no emprego.
O que é um problema, o excesso de dólares, é uma oportunidade. O sistema financeiro nacional é sofisticado e seguro e tem capacidade de absorver mais do fluxo externo oferecendo ativos em divisas para clientes no país e no exterior. Essa medida, a liberação do câmbio, enalteceria seu papel de canalizador de investimentos para os setores produtivos da economia e diminuiria a volatilidade cambial. Fazer de São Paulo o centro bancário da América do Sul é viável e favorável.
Há mais a ser feito, pois, enquanto no mercado financeiro as idas e vindas da cotação do dólar resultam em lucros e prejuízos, nos setores mais afetados são um risco à sobrevivência.
Medidas para aumentar sua produtividade estão na ordem do dia: eliminação de gargalos da infraestrutura, elevação da segurança física e institucional, realização de reformas microeconômicas e racionalização maior de gastos e tributos do governo.
O ponto do artigo é que está se fazendo a pergunta errada: o que fazer para voltar ao passado? Ou seja, desvalorizar o câmbio e pressionar a inflação e, dessa forma, auxiliar a indústria e a agropecuária.
A indagação correta é: como tirar mais proveito do novo cenário e alavancar o desenvolvimento?
ROBERTO LUIS TROSTER , 59, doutor em economia pela USP, é sócio da Delta. Foi economista-chefe da Febraban, da ABBC e do Banco Itamarati.
MERVAL PEREIRA
A pesquisa do Latinobarômetro, uma ONG sediada no Chile que faz consultas regularmente, desde 1995, sobre valores e opiniões na América Latina, tem uma parte dedicada à análise da discriminação da mulher que pode ser muito útil para entender a relação do eleitorado com as mulheres, numa região em que Argentina e Chile elegeram mulheres para a Presidência da República e, no Brasil, surge como potencial favorita a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do PT à sucessão de Lula, e onde poderemos ainda ter a senadora Marina Silva candidata pelo PV.
O resultado da pesquisa mostra a sociedade latinoamericana ainda fortemente agarrada a preconceitos contra as mulheres. O Brasil não chega a ter o mesmo nível de preconceito de um país da América Central, os mais discriminatórios contra as mulheres, mas também não é nenhum Uruguai, considerado o país mais democrático da região.
O Brasil está na média regional, não estando em nenhum dos casos pesquisados entre aqueles países com menor índice de preconceito.
Na região como um todo, nada menos que 1\/3 dos pesquisados acham, por exemplo, que os homens são melhores do que as mulheres na política, e o Brasil está justamente na média regional.
Segundo o instituto, a discriminação de gênero é um dos indicadores mais potentes para prever o grau de tolerância e de democracia que existe nos países.
Três temas fundamentais para medir a discriminação que as mulheres sofrem nas sociedades latino-americanas foram abordados: o trabalho, o dinheiro e a política.
Repetindo as mesmas perguntas feitas anos atrás, a pesquisa constatou que não há evolução com relação ao trabalho e à política, mas em relação ao dinheiro se observa mudança para melhor no espaço de cinco anos.
Sobre o papel da mulher, a afirmação feita foi: "É melhor que a mulher se concentre no lar, e o homem, no trabalho".
Ou, em bom português, "lugar de mulher é em casa".
Desde 1997, cerca de 36% dos latino-americanos concordam com a afirmação, o que o instituto considera "desalentador", mostrando uma sociedade que não muda no aspecto central do papel da mulher na sociedade.
Há, no entanto, diferenças significativas em alguns países, e até mesmo regiões.
Nos países da América Central estão os maiores índices de discriminação contra as mulheres, com exceção da Costa Rica (31%). Honduras (60%), Guatemala (51%), República Dominicana (46%), Nicarágua (44%), El Salvador (42%) e Panamá (41%) são os países de mais altas taxas.
Há, no entanto, um grupo de países onde é menor a aprovação do papel preponderante da mulher no lar: Uruguai (23%), Chile (25%) e Peru e Venezuela (26%). O Brasil não está entre os países de maior índice, mas também não está entre os de menor: 33% dos pesquisados concordam que lugar de mulher é em casa.
A segunda questão, em relação ao dinheiro, foi pesquisada com a seguinte afirmação: "Se a mulher ganha mais dinheiro que o homem, é certo que terá problemas". Embora nada menos que 48% dos cidadãos na região estejam de acordo com essa afirmação, temos aí um avanço na percepção dos direitos da mulher, já que na pesquisa de 2004 eram 52%.
Argentina (40%) e Uruguai (41%) são os países onde há menor quantidade de pessoas de acordo com essa afirmação, enquanto no México (58%) e na República Dominicana (55%) estão os maiores índices de resposta positiva, que denota discriminação. No Brasil, o índice de concordância com a afirmação machista é de 46%, bem na média da região.
A participação das mulheres na política foi avaliada com uma afirmação: "Os homens são melhores líderes políticos que as mulheres". Segundo o Latinobarômetro, apesar de a América Latina ter dois países presididos por mulheres, esse fato não mudou favoravelmente a percepção dos cidadãos e, sobretudo, Chile e Argentina não são os países que mais aceitam mulheres na política.
Entre os anos de 2004 e 2009 aumentou de 31% a 32% a quantidade de pessoas que está de acordo com a afirmação de que homens são mais eficientes na política do que mulheres.
Na avaliação dos analistas do Latinobarômetro, em vez de ser positiva, a permanência nos mesmos níveis em cinco anos mostra uma resistência à ação das mulheres por parte de 1\/3 da região.
O país em que há o menor grau de aprovação a essa atitude é o Uruguai (19%), considerado o mais democrático da região. Em seguida vêm Peru e México (21%), Chile (22%), Costa Rica (23%), Argentina (26%).
No outro extremo, diz o relatório do Latinobarômetro, estão países da América Central como República Dominicana (51%) e Honduras (46%).
Mais uma vez o Brasil está no meio termo, na média da região com 31% que consideram que homens são melhores que mulheres na política.
Comparando-se as respostas no Chile e na Argentina dadas em pesquisas realizadas antes e depois das eleições de Michelle Bachelet e Cristina Kirchner, constata-se que as mudanças foram diferentes em cada um dos países.
Desde 2004, no Chile houve uma pequena evolução a partir da eleição de Bachelet, com uma queda de 26% para 22% nos que consideram que o homem é melhor do que a mulher na política. Já na Argentina esse índice aumentou de 25% para 26%.
É possível que essa mudança positiva no Chile tenha a ver com o sucesso de Bachelet na Presidência, cujo mandato se encerra com a maior aprovação de todos os presidentes em exercício (85%), o que poderá ajudar a reduzir o machismo na política do Chile.
A sugestão feita por Lula para que o PMDB indique o vice da chapa oficial através de uma lista tríplice está fazendo com que os políticos lembrem um caso de Getulio Vargas, que pediu ao PSD lista tríplice para indicar o interventor de Minas Gerais. Ao recebê-la, fez um comentário casual: "Não estou vendo o nome do dr. Benedito Valladares". Que acabou sendo nomeado. Há quem aposte que a ideia de Lula é colocar na lista tríplice do PMDB o nome do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
ELIANE CANTANHÊDE
O "ponto G" na era Obama
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/09
BRASÍLIA - Diplomacia se faz por sinais, imprensa, cartas. Depois, vem o sub; mais adiante, o ministro; por fim, o encontro dos presidentes, com tudo acertado para dizer, assinar, sorrir. Só foge desse script se Lula decide falar em "ponto G", como na entrevista com Bush, com os tradutores engasgados e o mundo boquiaberto.
Amorim marcou a inflexão brasileira na relação com Obama em agosto, elencando para a Folha os pontos de discórdia: tropas nas bases colombianas, fiasco da Rodada Doha de comércio, recuo na revisão de tarifas do etanol. Depois, voltou à carga, cobrando "franqueza" e falando de "frustração", e Marco Aurélio Garcia tascou uma "decepção". A lista engrossou: Honduras, Copenhague e Irã.
No caso Honduras, o Brasil correu para os EUA ("toma que o filho é teu"), mas querendo ensinar a embalar a criança. Agora, o acordo: interlocução com o eleito, Porfírio Lobo, só com salvo-conduto para Zelaya sair do país.
No de Copenhague, Lula se uniu a Sarkozy e foi buscar os desmobilizados países amazônicos para tomar a dianteira e confrontar os EUA. Mas Obama se mexeu e também jogou metas na mesa. E o Irã? Nem os EUA, a maior potência, nem a França, o maior aliado brasileiro, acreditam que o Brasil vá sensibilizar Ahmadinejad, e ambos rejeitam um "flerte". Mas o fato é que, na carta para Lula, Obama respalda o esforço brasileiro.
Em vez de condenação, há sugestões, até estímulo. Voltando à vaca fria, diplomacia se faz assim: o sub para a região, Arturo Valenzuela, estava ontem em Brasília; a chanceler Hillary Clinton está chegando; Obama vem aí no primeiro trimestre. No fundo, Lula, Amorim, Jobim, Garcia e Samuel latem, mas não mordem. E o "pitbull" sabe a força que tem.
Virtual e real: o PMDB do Congresso fecha com Dilma, mas o PMDB de Minas e São Paulo não.
お子さんを2人以上育てているママ・パパへ5回目の質問です!
みなさんから、たくさんの投稿をお待ちしています!
LUIZ GARCIA
Ler modernamente
O GLOBO - 15/12/09
Livros têm seu lado diabólico. Ele se manifesta quando a gente acaba de lêlos.
Em princípio, tudo é muito simples: leitura terminada, estante com ele. Nada mais bonito do que fileiras de lombadas avançando pelas paredes.
Até quem não lê pode tê-las: lembro-me de um sujeito, e já contei essa história uma vez, que enfeitou seu apartamento na Vieira Souto com fileiras de estantes repletas. Não eram livros, mas lombadas de madeira pintada. Parece que o moço queria apenas dar uma impressão de cultura, sem correr o menor risco de ser exposto a ela.
Mas esse não é o seu problema, nem o meu.
Como é que a gente faz, quando se esgota o espaço nas paredes, mas o vício da leitura não tem fim? Especialmente no caso de um alienado viciado em literatura de segunda classe, quase tudo em inglês? Já cheguei ao ponto de oferecer doações, com frete por minha conta, a uma quantidade de sebos. Ninguém se interessou. Mas parece que há luz no fim do túnel: é o tal do Kindle, uma maquininha inventada pelos países civilizados. Parece um caderno de capa dura, fininho mas com uma tela do tamanho da página de um livro de bolso. Funciona parecido com um computador: você compra o livro pela internet na Amazon Books, e as páginas vão se sucedendo na telinha. Tem uma desvantagem: não dá para fazer anotações na margem nem sublinhar trechos notáveis.
Para mim, nenhum problema: não tenho qualquer necessidade de conversar com o que leio, como diversos amigos mais sábios do que eu. Sei que essa confissão liquida qualquer pretensão minha de ser confundido com um intelectual desses que vão para a cama com dois ou três volumes e passam a noite discutindo com os autores.
Mesmo assim, imagino que parte do prazer da leitura pode sumir. A relação tradicional com o livro não tem também um lado táctil, um gostinho de sopesar e folhear? O Kindle certamente preserva o prazer intelectual e emocional da leitura em si — mas não sentiremos falta de virar as páginas, de sentir seu peso? Tenho medo que seja meio parecido com sexo sem carícias inesperadas.
Tolos medos, com certeza. O que importa mesmo é a gente aprender a ler modernamente.
E dar por terminada a guerra das estantes aqui em casa — por falta de combatentes.
PAINEL DA FOLHA
Lula deixou claro para mais de um auxiliar que não pretende dar satisfações a Michel Temer sobre sua sugestão de que o PMDB apresente uma "lista tríplice" de candidatos a vice de Dilma Rousseff. Pode vir a afagá-lo em público, mas não se enredará numa conversa privada que implique conceder ao presidente da Câmara algum favoritismo na disputa pela vaga.
Isso porque, na contramão da leitura contemporizadora de alguns petistas, houve pouco ou nenhum improviso na fala de Lula no Maranhão. Ele de fato não quer Temer como vice e parece disposto a peitar o comando do PMDB. A poeira do incidente da semana passada vai baixar, mas o recado já foi dado.
Gangorra. As cabeças mais frias do PMDB avaliam que a possibilidade de resistir à vontade de Lula será inversamente proporcional ao desempenho de Dilma nas pesquisas. Quanto mais rapidamente ela subir, menor a chance de o partido impor o nome do vice. Mas, se ela patinar, a coisa muda de figura.
Serial. Quem conhece Lula aposta que o episódio da "lista tríplice" será seguido de outras estocadas no PMDB mais adiante. O presidente poderia, por exemplo, não nomear o secretário-executivo João Reis Santana Filho para o Ministério da Integração Nacional quando Geddel Vieira Lima deixar a pasta para disputar o governo da Bahia.
A favorita. O "eleitorado" em Copenhage nem de longe reflete as pesquisas de intenção de voto no Brasil. Na conferência do clima, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) lutam para conseguir alguma visibilidade, enquanto Marina Silva (PV) é reconhecida e paparicada por todos.
Sem legendas. Do Twitter do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), direto de Copenhague, minutos antes do discurso de Dilma: "Está sendo exibido um vídeo (em português) sobre a realidade do Brasil segundo o governo". E na sequência: "Vídeo bem feito. Imagens maravilhosas. Mas quem não é brasileiro, naturalmente, não está entendendo nada...".
De olho. A Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), que anunciou em agosto a disposição de não participar da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), enviou vários de seus integrantes ao evento, iniciado ontem em Brasília. Eles foram credenciados como "observadores".
Indigesto. Ainda sob o impacto do Arrudagate, os presidentes dos três partidos de oposição, Rodrigo Maia (DEM), Sérgio Guerra (PSDB) e Roberto Freire (PPS), promovem confraternização hoje em Brasília.
Pano rápido. Durante os dois minutos em que fotógrafos tiveram acesso à reunião de Arruda com o secretariado, o governador suou para tentar demonstrar normalidade. O único assunto permitido foi o andamento de obras.
Pede pra sair. Uma ala do PR dá sinais de insatisfação com a permanência de Izalci Lucas Ferreira, presidente do partido no Distrito Federal, na Secretaria de Ciência e Tecnologia de Arruda. Atribuem ao mensaleiro Valdemar Costa Neto a decisão de não entregar a cadeira.
Tática. Recém-indicado para cargo na Secretaria do Futebol, a ser criada pelo Ministério do Esporte para cuidar de assuntos relativos à Copa de 2014, o delegado Protógenes Queiroz (PC do B) já foi consultor da CBF e teve viagens pagas pela entidade.
Cidade-sede. Ao participar em Veneza de um fórum de cortes europeias, o presidente do STF, Gilmar Mendes, acertou a realização no Rio, em janeiro de 2011, da 2ª Conferência Mundial de Cortes Constitucionais. Mais de cem delegações devem participar.
Tiroteio
No debate sobre a divisão dos royalties do pré-sal, é preciso cuidar para que a pressão dos Estado produtores não vire um "preção".
Contraponto
Lanterninha Na noite de domingo, um grupo de tucanos foi ao Cine Academia, em Brasília, assistir a "Abraços Partidos". Antes do novo filme de Pedro Almodóvar, surgiu na tela o trailer de "Lula, o Filho do Brasil", em imagem tão desfocada que a sessão teve de ser interrompida.
Feito o ajuste necessário, retomou-se a exibição dos trechos da cinebiografia do presidente, só que desta vez sem som. Quando a sessão foi novamente interrompida e as luzes se acenderam, um governista que estava no fundo da sala apontou e gritou, para riso geral:
-É tudo culpa da oposição ali na frente!
SANDRA CAVALCANTI
Caras de anjo enganam caras de pau
O Estado de S. Paulo - 15/12/2009 |
Tinha de acontecer! Estava escrito e só não viu quem não quis ver... Os três Poderes, instalados em Brasília, estão sendo afogados pelo tsunami das ilegalidades consentidas. São caras de anjo enganando caras de pau. E vice-versa! |
ARNALDO JABOR
Vou ter saudades de tudo
O GLOBO - 15/12/09
“Bem, dona Lucilia, é o seguinte: a senhora não me conhece, mas eu sou seu neto. Só que eu ainda não nasci, mas resolvi passar por aqui e pedir sua benção...” Minha avó me olhou com medo, a sineta disparou a tocar sozinha como um alarme, e eu acordei, sentindo uma infinita saudade dessa época em que eu não existia.
Acho que foi um típico sonho de fim de ano, que é festejado para esquecermos o tempo. A solidariedade natalina, as castanhas e panetones, os brindes felizes, tudo serve para banir a morte de nossas cabeças. “Como morrer num dia assim, com um sol assim?”, cantou Olavo Bilac.
Uma vez li um texto do Nabokov em que ele conta que vira umas fotografias de família, tiradas antes de seu nascimento. Sentiu-se numa pré-morte, abandonado antes de viver, traído por seus parentes, rindo, felizes sem ele. É impossível entender a não existência.
Li um texto incrível do Martis Amis sobre os últimos momentos do Muhamad Atta, o comandante do ataque as torres do WTC, no 11 de setembro. Ele afirma que Atta não era religioso, nem político, nem revolucionário. Não acreditava em Alá; apenas queria conhecer o inominável, o segundo em que a vida acaba contra a muralha.
O grande terror é sabermos que, mortos, ficaremos desatualizados logo, logo. As notícias vão rolar e eu de nada saberei. Haverá crises mundiais, filmes que estreiam, músicas lindas, e eu lá embaixo, sem saber das novidades? Quem ganhou a Copa? É insuportável a desinformação dos falecidos.
Meu avô disse uma vez: “Acho triste morrer, seu Arnaldinho, porque nunca mais vou ver a avenida Rio Branco...” Isso me emocionou.
Há um menu de mortes, vividas de mil maneiras, ou melhor, não se vive a morte, óbvio, pois estamos no furo da tragédia, no olho do fim. A morte não está nem aí para nós; ela tem “vida própria”.
A morte ignora nossos méritos, nossas obras. Ela é uma simples mutação da matéria que se cansa de resistir à vida. Às vezes, quando tenho vontade de morrer, imagino, por exemplo, o mar da Bahia: vou deixar esse céu azul colado no grande oceano que bate em pedras negras com o sol afogado no horizonte? Vou sair daqui para ir aonde? Ao encontro de Deus? Não é que Deus esteja em tudo; tudo é Deus, como o grande gênio Espinosa sacou. Viver é ver Deus, ali, na galáxia e no orgasmo, no buraco negro e no coração batendo – tudo a mesma coisa.
Desculpem o papo-cabeça, mas final de ano me faz “filosófico”...
Por isso, quando penso que não irei ao meu enterro, tremo de pena de mim mesmo. Vou ter saudades de tudo. Acho triste a lagoa azul e roxa no fim da tarde do Rio e eu sem ver nada.
Debaixo da terra, terei saudades apenas de irrelevâncias: algumas tardes nubladas de domingo, quando o ar fica parado, com urubus dormindo na perna do vento; terei saudades do cafezinho, de beiras de botequins, do uisquinho ao cair da tarde em Ipanema. Não terei saudades deste mundo febril; só de quietudes.
Terei saudades de alguns raros instantes sem medo ou culpa, de momentos de felicidade sem motivo ao ouvir, digamos, “Sophisticated Lady” no sax de Ben Webster e Billy Holliday, João Gilberto, Matisse, Rimbaud, João Cabral, “Cantando na Chuva”, terei saudades de Fred Astaire dançando “Begin the Beguine” com Eleanor Powell.
Nada de grandes prazeres globais, só calmarias: o silêncio entre amigos na paz de um bar, risos e camaradagem de subúrbio, Noel Rosa, pernas cruzadas de mulheres lindas e inatingíveis, Paris (claro), o tremor de medo e desejo da mulher na hora do amor, a timidez, a delicadeza, a súbita alegria de uma vitória, o prazer da arte, Fellini, Chaplin, Shakespeare, terei saudades do desejo e, claro, do meu Brasil.
Há mortes súbitas e lentas. Você, frágil leitor, qual prefere? Eu queria morrer como o velho Zorba, o grego, em pé, na janela, olhando a paisagem iluminada. E, como ele, dando um berro de despedida. Mas não tenho sua grandeza épica.