domingo, dezembro 13, 2009

DANUZA LEÃO

Um mundo mais especial

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09

Qualquer pessoa pode encontrar suas próprias preciosidades. Para isso é preciso ter curiosidade

MESMO QUE você já possua os tais bens materiais que mais ou menos todo mundo quer, existem sempre alguns desejos ainda não realizados. Supondo que você seja uma pessoa tipo normal, que não ambiciona valiosas obras de arte e joias inacreditáveis, quais são as coisas que ainda despertam em você aquela vontade louca de ter e aquele prazer imenso quando consegue? Bem, para começar, é preciso que elas sejam razoavelmente inacessíveis.
Houve um tempo em que quase tudo era uma festa. Lembra da felicidade que era ganhar uma barra de Toblerone? Ter uma camiseta importada era o supremo prazer, e fazer uma viagem, uma emoção indescritível. Tudo era raro, e por isso tão especial. Mas as coisas mudaram; os Toblerones agora são vendidos nos sinais de trânsito e as camisetas de grife, nos camelôs. Teoricamente é ótimo, já que não é mais preciso ir a Paris para poder ter na geladeira dois potes de mostarda; tudo está na prateleira do supermercado, da água Perrier ao salmão defumado.
Houve um tempo em que as aeromoças eram escolhidas pela beleza, todos os passageiros tratados como VIPs e os brindes das companhias aéreas -o estojinho com a máscara, um minividrinho de água de colônia e o barbeador (fora a caixinha com tabletes de chocolates suíços)- eram apenas o máximo. Lembra da caneta da Varig?
Hoje você pode comer os mesmos pratos em qualquer lugar do mundo e comprar exatamente as mesmas coisas no Rio, em São Paulo, Nova York, Tóquio ou Cingapura. E quando é tudo igual, acaba a graça.
Os especialistas sabem na ponta da língua o que foi lançado a semana passada nos centros de moda, e para ter acesso às coisas é só comprar uma revista e ter uma conta bancária razoável. É mais democrático? É. E tem graça? Nenhuma.
Mas ainda existem coisas que só alguns poucos conhecem, endereços guardados preciosamente e só divididos com pessoas nas quais se tem total confiança. São segredos de Estado, praticamente, mas você também pode fazer sua agenda, única e pessoal, personalíssima. Um pequeno restaurante que não faz parte de nenhum guia gastronômico pode ser inesquecível, tanto como descobrir numa pequena cidade do interior da Itália, ou do Nordeste, a bordadeira que faz os mais lindos lençóis, de fazer babar uma princesa belga. Ainda existem no mundo coisas e lugares que mexem com nossos corações. É aquele bistrô bem pequeno que nunca vai abrir uma franquia; é a bordadeira que nunca vai vender suas peças para uma cadeia de lojas porque cada jogo de lençóis leva seis meses para ficar pronto.
Sabe que existem pessoas que saem pelo mundo com as reservas dos restaurantes feitas e que já sabem até o que vão comer? Isso é a maior prova da falta de imaginação, que deveria ser crime previsto no Código Penal. E o acaso? E a aventura? E a maravilha do inesperado?
Qualquer pessoa pode encontrar suas próprias preciosidades. Para isso é preciso ter curiosidade, bom gosto -e um pouco de personalidade sempre ajuda. Dá trabalho, mas vale a pena, pois só assim se escapa do tédio do mundo atual.
Faça a sua parte: pesquise, procure e ache aquele tecido -seja ele o mais modesto algodão ou o mais caro brocado- que é único; ou aquele restaurante modesto, numa rua escondida, onde vai encontrar uma deliciosa empada de camarão que poucos conhecem, pois ainda não foi descoberta pelos que fazem os guias. Na sua memória ela será, sempre, a mais especial, por ter sido descoberta por você. E quando isso acontecer, não conte a ninguém, só a quem merece.
Faça isso sempre, todos os dias da vida; é esse o verdadeiro luxo.

PARA MINHAS LEITORAS

A REVANCHE DA MULHERADA!!!!
(Chegou a nossa vez!!!!!!...rsrs)

Depois de tantos e-mails machistas pela net... eis a revanche:

CORAÇÃO DE MULHER É IGUAL A CIRCO:
sempre tem lugar para mais um palhaço..."

O QUE SE DEVE DAR A UM HOMEM QUE PENSA QUE TEM TUDO?
Uma mulher para ensiná-lo como funciona !

POR QUE AS ARANHAS VIÚVAS-NEGRAS MATAM O MACHO DEPOIS DA CÓPULA?
Para acabar com o ronco antes que ele comece.

POR QUE OS HOMENS QUEREM CASAR COM VIRGENS ?
Pq eles não suportam críticas!(ótima!!!)

COMO SE CHAMA UM HOMEM INTERESSANTE NO BRASIL?
Turista .

POR QUE DEUS CRIOU O HOMEM ?
Porque vibradores não cortam grama. (ótima)

O QUE TÊM EM COMUM O CLITÓRIS, OS ANIVERSÁRIOS E O VASO SANITÁRIO?
Os homens sempre erram!

POR QUE APENAS 10% DOS HOMENS VÃO PARA O CÉU?
Porque se todos fossem, seria o inferno !

QUAL A DIFERENÇA ENTRE HOMENS E PORCOS ?
Porcos não viram homens quando bebem ..

QUAL A DIFERENÇA ENTRE UM HOMEM E UM PAPAGAIO?
Você pode ensinar o papagaio a falar cordialmente (ótima) :D

O QUE AS MULHERES MAIS ODEIAM OUVIR QUANDO ESTÃO TENDO SEXO DE BOA
QUALIDADE?
"Querida, cheguei."

POR QUE OS HOMENS NA CAMA SÃO COMO COMIDA DE MICROONDAS?
30 segundos e já está pronto !

QUAL O NOME DA DOENÇA QUE PARALISA AS MULHERES DA CINTURA PRA BAIXO?
Casamento

O QUE ACONTECEU À MULHER QUE CONSEGUIU ENTENDER OS HOMENS?
Ela morreu de tanto rir e não teve tempo de contar a ninguém. (ótima)

POR QUE É QUE OS HOMENS TÊM A CONSCIÊNCIA LIMPA ?
Porque nunca a usam...(perfeito) :cool:

O QUE ACONTECE COM UM HOMEM, QUANDO ENGOLE UMA MOSCA VIVA ?
Fica com mais neurônios ativos no estômago do que no cérebro!!! rs...

POR QUE DEUS CRIOU PRIMEIRO O HOMEM, E DEPOIS A MULHER?
Porque as experiências são feitas primeiro com animais e depois com
humanos!!!
(essa é a melhor revanche)

POR QUE OS HOMENS GOSTAM DE MULHERES INTELIGENTES?
Porque os opostos se atraem!(hahaha)

QUAL O LIVRO MAIS FINO DO MUNDO ?
"Tudo o que os homens sabem sobre as mulheres"

QUAL A DIFERENÇA ENTRE OS HOMENS E AS FRUTAS?
Um dia, as frutas amadurecem... :rolleyes:

POR QUE AS PILHAS SÃO MELHORES QUE OS HOMENS?
Porque elas têm pelo menos um lado positivo..

QUAL A SEMELHANÇA ENTRE O HOMEM E O CARACOL ?
Ambos se arrastam, têm chifres, e acreditam que a "casa" é deles!!!(hahaha) :D

POR QUE UM HOMEM NÃO PODE TER UM BOM CARÁTER E SER INTELIGENTE AO MESMO
TEMPO?
Porque assim seria mulher !!!

O QUE DEUS DISSE DEPOIS DE CRIAR O HOMEM ?
Creio que posso aperfeiçoá-lo...

POR QUE SÃO NECESSÁRIOS MILHÕES DE ESPERMATOZÓIDES PARA FERTILIZAR UM ÚNICO
ÓVULO ?
Porque osespermatozóides são masculinos e se negam a perguntar o caminho
!!!(hahaha)

QUANDO É QUE UM HOMEM PERDE 90% DE SUA INTELIGÊNCIA?
Quando fica viúvo !

E QUANDO É QUE ELE PERDE OS 10% RESTANTES ?
Quando morre o cachorro...

COLABORAÇÃO ENVIADA POR APOLO

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Herculano e o capenguinha – O retorno


O GLOBO - 13/12/09


Não posso considerar-me devoto dela, mas, antes de mais nada, desejo homenagear a santa de hoje, a piedosíssima Santa Luzia. É a protetora dos deficientes visuais e, pelo Brasil afora, muitas cidades e paróquias estão fazendo festa para ela. Todo ano, em Salvador, formam-se filas diante da fonte dela, porque lavar os olhos em sua água é perspectiva certa de cura. Em Itaparica, o Mercado Municipal, não por acaso, tem seu nome. Perde-se a conta dos milagres e graças atribuídos a ela na ilha, dentre os quais seleciono apenas um exemplo, somente para vocês terem uma ideia que talvez os convença a procurar sem demora seus santos padroeiros, até porque o que vou narrar abaixo envolveu a ação simultânea de dois santos.

Deu-se que Chiquinho de Enedina, depois de anos como sineiro, começou a não escutar mais quase nada, além de padecer de uma cruel zuzuia, onomatopeia que descreve com felicidade uma zumbideira no zuvido. Zuzuia essa que só passou quando ele se pegou com o santo padroeiro dos surdos, por acaso xará dele, o grande São Francisco de Sales. Quanto tempo o santo levou para tomar uma providência, não se sabe. O que se sabe é que foi mais ou menos na época em que Jacob Preto lavou os olhos com água da fonte de Santa Luzia todo dia durante três meses, ao final dos quais a santa apareceu a ele num sonho.

–– Seu Jacob, me compreenda uma coisa – disse a santa –, eu dei grande valor às suas rezas e suas lavagens de olhos na água da minha fonte, de maneira que, de hoje, em diante, o senhor vai ter a melhor vista do mundo, ou não me chamo Luzia.

Dito e feito, porque, alguns dias depois, os dois conterrâneos estavam à beira do cais, apreciando o nascer do sol, quando Jacob apertou os olhos e mirou na direção das torres da igreja do Bonfim, em Salvador, do outro lado da baía de Todos os Santos.

–– Iéguas! – exclamou ele, usando a interjeição mais comum na ilha. –– Iéguas! Quando Santa Luzia fala, pode escrever! Você acredita que daqui eu estou vendo os pombos na torre da igreja? Estou vendo como se fosse aqui, tem um pretinho ali do lado esquerdo, dois cinzentinhos...

–– Bom, ver eu não estou vendo, não, que meu santo é outro – disse Chiquinho. Mas estou ouvindo as pisadinhas deles.

Pois é. Concedo que, no caso, talvez a ação dos santos, já por si mesma poderosa, se robusteça ainda mais com a afamada radioatividade que envolve toda a ilha, nunca se sabe. Lamentavelmente, não posso pedir a ajuda deles, pois suas especialidades não se endereçam a minhas necessidades e não estou mais na ilha. Estou, na verdade, me preparando para, depois de intensa preparação psicológica, durante a qual muitas vezes temi o fracasso, voltar a caminhar no calçadão – é o que estou lhes dizendo, em absoluta primeira mão.

Cumprimento-me por ter persistido em calçar os tênis sozinho. Estive à beira de pedir ajuda e houve um momento em que achei que somente os bombeiros resolveriam o problema, mas terminei por vencer e eis-me agora pronto para o grande reingresso. Mas nem chego perto da rua. Antes de sair, já dá para perceber que o tempo não está colaborando e chove aos potes. O jeito é esperar, talvez ir para a beira do terraço, para pelo menos assistir ao oscilar satisfeito das plantas debaixo da chuva.

Quem vejo lá no canto, impassível e como sempre fazendo pose em cima da cerca? Isso mesmo, Herculano, o gavião que andava sumido havia meses e que já fora dado como finado pelos mais pessimistas. Parecendo que ficou ainda maior do que já era, talvez estivesse voltando de uma excursão recreativa ou tivesse viajado para constituir família. Também como sempre, ignora minha presença, a não ser que eu chegue excessivamente perto. Se eu faço isso, ele me olha como quem diz que só não me dá uma unhada no meio da testa porque está sem saco, abre as asas e decola com desdém.

O regresso dele deve ser um bom sinal. Entre os muitos livros loucos que já li nesta vida airada, estavam alguns que falavam nos augúrios da antiguidade. Mas só me lembro, não sei por quê, dos augúrios com corujas e mochos, nada com gaviões ou águias. Decido então que a presença de Herculano é um bom presságio, tudo de bom acontecerá na minha nova temporada no calçadão. Cumprimento-o à distância, ele parece reconhecer minha saudação, embora não a retribua. É tudo auspicioso, sim, até mesmo a chuva passou. Já em passo acelerado e decidido, tomo o rumo da orla.

Não posso reclamar, quando, ainda antes de chegar à primeira esquina, vem na direção oposta à minha uma senhora que conheço de vista aqui mesmo na rua e estaca, fazendo sinal para que eu também pare. Como ainda não estou oficialmente em caminhada, as normas permitem a interrupção. Ela me dava parabéns, era o primeiro dia da volta, não? E o capenguinha, eu estava pronto para o capenguinha?

O capenguinha, como pude esquecer dele? Meio sem graça, despedi-me dela, andei devagar e pensativo até o calçadão. Já do outro lado da rua, examinei os caminhantes, não havia sinal dele. Sem querer cair na armadilha da pressa e da precipitação, olhei de novo. Não, capenguinha nenhum – e, aliviado, comecei a andar. Mas que é isso que pressinto aqui atrás de mim, esses passinhos, que serão? Não tive tempo de pensar muito e – zupt! – eis que me passa ele, saído de não sei onde, a perninha curta em rápido movimento de compasso apoiado na perna mais comprida e aqui estou eu comendo poeira outra vez. Acho que vou deixar a caminhada para as resoluções de ano novo.

ANNA RAMALHO

Para depois

JORNAL DO BRASIL - 13/12/09


Impossibilitado de comparecer à festa do PT, semana passada, em Brasília, o presidente Lula deve receber sua homenagem como ex-presidente do partido só em fevereiro. A entrega pode ocorrer em um dos quatro dias do congresso pelos 30 anos do PT. Marco Aurélio Garcia, José Genoino, Tarso Genro e Rui Falcão também serão laureados.

No grid de largada O Datafolha está prestes a ir às ruas para pesquisa sobre os candidatos ao governo do estado em 2010. O instituto espera apenas a definição dos concorrentes ao estado de São Paulo. E o Rio?!

Dor de cabeça Uma preocupação ganha força no ninho tucano: o ano chegou ao fim e o partido não tem um nome forte para concorrer, no ano que vem, ao governo do estado.

Nos bicos No PSDB também ganha força a candidatura da vereadora Lucinha a uma vaga na Alerj no ano que vem. Procurada pela coluna, a assessoria da edil faz mistério: – Há voos mais altos nos planos dela.

Rio na cabeça A realização de eventos internacionais no Rio cresceu. Só este ano, segundo levantamento da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, a cidade recebeu mais de 300 seminários, fóruns e encontros sobre futebol, muitos deles em razão de o Brasil ser, depois da África do Sul, o próximo anfitrião da Copa.

Eu bebo sim! Não será surpresa para a coluna se a boa e velha batida do Osvaldo, na Barrinha, virar patrimônio cultural.
E não é papo de bêbado: o oficio está em análise na Subsecretaria de Patrimônio Cultural.

Prêmio A luta pela justiça, paz e pelos direitos humanos fundamentais será destaque, quarta-feira, na entrega do Prêmio Alceu Amoroso Lima – Direitos Humanos 2009, na Universidade Candido Mendes, Centro. Criado pelo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, em Petrópolis, na região Serrana, o prêmio é conferido anualmente a pessoas e grupos que se empenham no avanço dos direitos sociais no Brasil.

Premiados Este ano, a premiação será outorgada ao frei Henri Burin des Roziers, coordenador da Comissão Pastoral da Terra da região do Xinguara, no Pará. Na ocasião, também serão entregues as Menções Honrosas ao teólogo Leonardo Boff e à Maria Luiza Marcílio, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo.

Mamãe Noel Com viagem marcada para a Europa, onde ficará 20 dias, Lily Marinho não vai interromper o tratamento estético que faz em uma clínica no Leblon. Primeiro, sondou a própria funcionária, que lamentou não poder atender ao convite por ter uma agenda a cumprir.
Inconformada, Lily não desanimou: foi à dona do espaço e comprou os horários da sortuda profissional, que ainda levará o filho para o Velho Continente.

Fazendo barulho O tal onanista desinibido é, como publicado aqui semana passada, o assunto no TJ. Faltou só dizer que o tal desembargador é do Ministério Público. No mais, cala-te boca!

Palavra final Para falar da tetraplegia de Luciana (Alinne Moraes) em Viver a vida, Manoel Carlos tem um consultor e tanto: Luis Eduardo Carelli, chefe do Centro Raquemedular do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. Carelli torce inclusive pela plena recuperação da personagem: – No Into, alguns pacientes já voltaram a andar – garante.

Virou point O Andy’s – mais uma bolação de sucesso de André Cunha Lima – já faz moda, às vésperas do verão, no Baixo Leblon. Suas brown bags circulam em mãos descoladíssimas como as de Deborah Colker, Manoel Carlos, André Piva e Carlos Tufvesson, Roberta Sudbrack, José Maurício Machline e Isabela Capetto.
Todo mundo caindo de boca no cachorro-quente.

Nota de falecimento Dois famosos botecos do Centro do Rio vão fechar as portas: o Bico Doce, dia 18, e o Algarves, dia 23. Para tristeza de seus fieis frequentadores.

Dó de peito Aterrissam esta semana no Rio o tenor Georgiy Arivle e o mezzo soprano Oxana Korkievskaya, ambos solistas do Bolshoi. Apresentamse, sábado, no Concerto de Verão, no Morro da Urca. Com o Municipal fechado e a Cidade da Música entregue às moscas e mosquitos da Barra, o ponto turístico será o refúgio para os melômanos.

Pas-de-deux Não ficará restrito às páginas o conteúdo de Corpo estranho, terceira coletânea poética da ótima Rosane Carneiro, que será lançada, quarta, naPrefácio.A convite do Sesc, um recital unindo leitura dos poemas pela própria autora à coreografia criada por Fernando Azevedo foi apresentado na instituição. Diante da aclamação dos 200 espectadores, a dupla quer levar o casamento adiante.

Raspadinhas

O ARQUITETO Índio da Costa ganhou o prêmio Destaques Abece 2009 pelo projeto da Escola Sesc de Ensino Médio, na Barra.

O PÁTIO TROPICAL, restaurante do Rio Othon Palace, recebe, quarta-feira, integrantes do Projeto Uerê, de Yvonne Bezerra de Mello, para uma apresentação de dança e do coral das crianças. O evento é aberto ao público e tem início às 15h.

A PERNOD RICARD BRASIL e a Wines and Roses do Rio lançam a famosa champagne francesa Perrier Jouet nas versões Belle Epoque, Gran Brut e Blason Rose.

O ENGENHEIRO José Pougy lança, amanhã, na estação de trem do Corcovado, livro com histórias sobre o Cosme Velho.

A ORQUESTRA CRIOLA volta para mais uma domingueira, logo mais, no Rio Scenarium.

JANIO DE FREITAS

A ameaça

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09


Temor ligado a publicação ainda desconhecida é a censura prévia baseada no princípio da arbitrariedade

COM ATRASO , ligo a TV na sessão em que o Supremo Tribunal Federal se manifestará sobre um assunto que nos diz respeito a todos, leitores em geral e jornalistas em particular. É a censura, posta outra vez em questão pela reiterada proibição judicial, já vigente há quatro meses e meio, de que "O Estado de S. Paulo" dê sequências a reportagens, com dados de investigações policiais, sobre um cidadão como qualquer outro (Fernando Sarney).
Alívio. Chego no instante exato em que um ministro, dos mais convictos de suas verdades, proclama: "Não há censura". Aí está, viva e vigorosa, a nossa maltratada Constituição, por tudo o que diz já no art. 5º e explicita no 220: "A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição". Liberdade plena? Não. Infrações a outros dispositivos constitucionais sujeitam-se a penalidades diversas.
No caso da censura discutida, não cerceou opinião ou julgamento moral, mas informação: notícia de fatos relacionados pela Polícia Federal, integrante do Ministério da Justiça. Mas "não há censura", logo fica claro, no dizer do ministro do STF, significa que a proibição antecipada à publicação daquelas notícias não é censura. E, apesar de emitida por decisão judicial, "não é censura judicial". Expressão que o ministro repele, porque "o juiz está limitado pela lei, e o censor, não". Por isso, "é descabido falar em censura judicial. Não há censura. Há aplicação da lei".
Façamos ao censor oficial, que parece ser o mencionado pelo ministro, a mínima justiça de que, se o juiz e todos nós estamos limitados, ele está autorizado por "constituição" ditatorial, atos institucionais e, acima da força dessas farsas jurídicas, pela força das armas que a nação põe em mãos de alguns a pretexto de protegê-la, não para dela se apropriarem.
O vernáculo não perdoa, porém. Proibição de divulgar chama-se censura, sem distinção de sua autoria. E, se procedente do Judiciário, a adjetivação cabível é mesmo a de censura judicial. Não há filigranice jurídica que ludibrie a associação de vernáculo e senso comum.
O menos formal e mais substancioso ainda viria, no entanto. E sem surpreender que o fizesse pelas ideias do próprio presidente do STF, Gilmar Mendes. A proteção proporcionada pela lei contra publicações, pensa ele, não pode ser apenas quando já feita a publicação. A seu ver, são necessários dispositivos antecipatórios contra "a ameaça" de violação de direitos.
Ocorre que "a ameaça" relacionada a uma publicação ainda desconhecida é uma presunção -tanto no sentido de suposição como no de pretensão. É, como base de leis, a própria censura prévia baseada no princípio da arbitrariedade: a censura antidemocrática.
Sua defesa no Supremo Tribunal Federal tem muitos precedentes. Mas em outros tempos.

ALBERT FISHLOW

Um mundo menos quente

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09


Combater o aquecimento e o terrorismo tem custos; a melhora econômica dos EUA torna os esforços mais viáveis

O FINAL do ano está se aproximando. Mas o mundo mal percebe. Diversas atividades prosseguem em ritmo frenético. Copenhague aguarda os líderes de mais de cem países, na semana que vem, para que firmem um pré-acordo sobre os princípios de combate ao aquecimento global no período pós-Protocolo de Kyoto. Um documento definitivo terá de aguardar até a reunião de dezembro do ano que vem, no México. Pela primeira vez em uma década, os Estados Unidos voltaram a se envolver nesse processo de maneira profunda.
Quase todo mundo favorece medidas ousadas para evitar as potenciais consequências de uma negligência continuada. O problema, como sempre, está nos muitos detalhes a negociar. Os países apresentam ofertas de futuras reduções tomando como base anos que lhes são vantajosos. Declínios relativos quanto ao que teria sido a norma continuam a ser a prática padrão, desconsiderando os aumentos absolutos que continuarão a ocorrer, como na China e Índia. Os países desenvolvidos ricos estão sendo responsabilizados por sua passada negligência e terão de pagar o preço.
Mas quem vai pagar, e quanto, e quem vai receber? O Greenpeace está apelando por uma transferência da ordem de US$ 140 bilhões, enquanto o projeto de lei para a redução das emissões de carbono que foi aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados norte-americana fala em valor próximo a US$ 7 bilhões. A diferença não é trivial.
E tampouco existe uma maneira de garantir que esses acordos internacionais serão cumpridos: os compromissos iniciais assumidos em Kyoto não o foram. Fiscalizar o cumprimento de obrigações multilaterais não é nada fácil. E, além disso, os Estados Unidos jamais ratificaram o Protocolo de Kyoto. Aliás, a Lei do Mar continua a aguardar aprovação formal do Senado, a despeito de esforços anteriores, em 1994, para satisfazer a algumas das objeções.
Esse assunto atraía muita atenção em toda parte, e o mesmo pode ser dito sobre a entrega do Prêmio Nobel da Paz ao presidente Barack Obama. A cerimônia aconteceu pouco depois de ele anunciar a decisão de enviar mais 30 mil soldados norte-americanos ao Afeganistão, uma medida que contraria a opinião das maiorias, não só em seu país como no exterior.
O discurso de Obama em Oslo tratou de forma eloquente a questão central em disputa: "O terrorismo é tática usada há muito; no entanto, a tecnologia moderna permite que alguns poucos homens pequenos, dotados de raiva descomunal, assassinem inocentes em escala horripilante". A parte difícil é determinar quando intervenções militares constituem a resposta adequada. Isso é sempre mais fácil em retrospecto, como no caso do conflito entre hutus e tutsis em Ruanda, na África, em 1994, cujas raízes são ainda mais antigas.
Obama defendeu um papel especial para os Estados Unidos, ainda que enfatizasse a importância de um multilateralismo mais amplo. É dessa dualidade que nasce o problema. Um dos motivos para o envolvimento remonta ao ataque ao World Trade Center em setembro de 2001. O Taleban fornecia refúgio e apoio à Al Qaeda, no Afeganistão. A história faz diferença.
As duas soluções têm custos, e não apenas financeiros. A melhora da situação econômica dos Estados Unidos torna esses esforços muito mais viáveis agora do que teriam sido alguns meses atrás.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Albert Fishlow , 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

SUELY CALDAS

Previdência e incompreensões

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/12/09


A proposta de dar força de lei à autonomia operacional do Banco Central (BC) avançou poucos passos, na quarta-feira, com a aprovação de relatório favorável pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Tramitando há mais de dois anos, agora o projeto segue para a Comissão de Assuntos Econômicos. Se aprovado, volta para reexame na CCJ para, finalmente, ser votado em plenário. Quando isso ocorrerá? Ninguém sabe, provavelmente em futuro pra lá de remoto - se vier a ocorrer um dia.

A autonomia do BC é desses assuntos que afetam a vida de todos os brasileiros, mas, como não é visível nem sentido no nosso cotidiano, não ganha a prioridade e a importância merecidas, é de complexa compreensão e presa fácil na verborragia demagógica de políticos oportunistas.

A autonomia legal é necessária porque "separa o poder de gastar dinheiro (Executivo e Congresso) do de emitir dinheiro (BC), especialmente em véspera de eleições", define o economista Edmar Bacha. Essa mistura promíscua de poderes ocorreu ao longo da história do País e mais tragicamente no final da década de 80, no governo Sarney, quando a inflação anual ultrapassou 1.000%, arruinou a economia, fez sumir investimentos e suprimiu empregos e salários.

Se a principal missão do BC é controlar a inflação e garantir a estabilidade da moeda, tomar decisões com autonomia e longe dos políticos é o que protege a saúde da economia e o poder de compra do cidadão comum, sobretudo em épocas de gastança de campanha eleitoral.

Não há ideologia nessa questão. John Maynard Keynes, papa do intervencionismo estatal, a defendia, e o neoliberal Milton Friedman a criticava. Na Inglaterra ela chegou com o trabalhista Tony Blair, depois de 18 anos de negativas de governos liberais. No Chile, foi decidida na ditadura de Pinochet e preservada nos governos democráticos. FHC e Lula respeitaram e não interferiram em decisões relevantes do BC. Mas se negaram a formalizar sua autonomia em lei. No Congresso é a oposição que defende a ideia e a base aliada, sobretudo o PT, a bombardeia. Não interessa aos políticos uma lei que impeça sua interferência em decisões sobre taxa de juros, aumento da dívida e emissão de dinheiro. Eles sempre querem gastar mais do que têm e podem. À população interessa o oposto.

Previdência - Sempre que escrevo sobre Previdência, como domingo passado, preparo-me para receber e-mails indignados. É natural. Afinal, cheia de remendos e vícios, nossa Previdência é hoje um monstrengo injusto. Mas, surpreendentemente, desta vez os e-mails estavam mais brandos, reconhecem que a bola de neve do déficit previdenciário pode prejudicar as futuras gerações e alguns apontam soluções para o problema. Abaixo transcrevo um resumo das principais reclamações e propostas de solução contidas nos e-mails:

Há uma revolta geral contra a diferença de regras válidas para funcionários públicos e políticos, que se aposentam mais cedo e com salário integral, enquanto trabalhadores privados têm teto limitado a 10 salários mínimos, que se reduz com a aplicação do fator previdenciário. O leitor Roberto Nolasco diz que a contribuição do militar cobre só 8% do que ele custa e defende um teto único do valor do benefício para funcionários públicos e privados.

Gustavo Veiga diz que a Previdência "é injusta, trata iguais de forma diferente; alguns são mais iguais do que outros" e propõe uma "nova Previdência igual para todos, homens, mulheres, funcionários públicos e da iniciativa privada rural e urbana". Essa foi a primeira proposta de reforma de Lula, mas o governo petista recuou rapidinho diante de pressões políticas de funcionários, deputados e senadores.

Dílson Melo conta que se aposentou com 37,5 anos de contribuição, dos quais 20 anos sobre 20 salários e 17,5 anos sobre 10. Começou ganhando 7 mínimos (R$ 3.255) e agora recebe só 4,7 (R$ 2.185,50). Desde o cruzado, sucessivos planos econômicos encolheram os benefícios pagos pelo INSS.

A revolta se estende contra a aposentadoria rural, que custa quase metade da folha do INSS e nenhum centavo de contribuição. E contra a isenção que privilegia entidades erroneamente chamadas de filantrópicas, mas que na verdade buscam obter lucros financeiros, como clubes de futebol.

Quando se fala de Previdência, todos e ninguém têm razão. Mas há um aspecto positivo: mais de uma década de debate e até os aposentados reconhecem que o problema existe e é preciso encontrar solução.

Suely Caldas, jornalista, é professora de Comunicação da PUC-Rio (sucaldas@terra.com.br)

CARLOS EDUARDO NOVAES

Nação rubro-negra


JORNAL DO BRASIL - 13/12/09


No dia 13 de dezembro de 1981 o Flamengo ganhou o Mundial de clubes no Japão e eu escrevi um folhetim “Mengo, Uma Odisséia no Oriente”, para homenagear sua conquista. Quem leu não deve estar lembrado da cena em que os quatro geraldinos a caminho de Tóquio chegam à Nicarágua, governada pelos sandinistas, e dão de cara com dezenas de bandeiras vermelha e preta espalhadas por Manágua. Os quatro exultaram, tal como Orellana diante do Eldorado: “Enfim descobrimos a nação rubro-negra!” De lá para cá a população flamenguista quase que dobrou – um dos maiores índices de crescimento do mundo – e já faz por merecer um território independente e uma cadeira no ONU. São 35 milhões, a quarta população da América do Sul somente abaixo do Brasil e da Colômbia e quase empatada com a Argentina. Não dá para deixar essa gente vagando pelo mundo como os palestinos (que são 4,4 milhões).

Sabe quantos habitantes tinha Israel quando da criação de seu Estado em 1948? Pouco mais que a torcida do América! Fosse independente a nação rubronegra teria um PIB maior do que o da Bolívia e do Paraguai juntos. Pelo que se viu domingo no Maracanã, nas comemorações à noite e no espaço que lhe concedeu a mídia dia seguinte, o Flamengo é um fenômeno que transborda as fronteiras do país. Teve flamenguista festejando nas ilhas Papua Nova Guiné! Significa dizer que ao se tornar uma nação independente o Flamengo não terá dificuldades para montar suas embaixadas. Projeções modestas informam que em 2060 a nação rubro-negra terá 100 milhões de habitantes (se o mundo não acabar até lá). Enquanto escrevo penso como seria importante a presença da torcida do Flamengo na Conferencia do Clima em Copenhague. Já imaginou aquela galera gritando por menos CO2 na atmosfera? A grande duvida é quanto à posição do Brasil diante das futuras reivindicações rubro-negras. O Governo brasileiro sabe que a independência do Flamengo vai desequilibrar toda a economia nacional.

Será que o Governo estará disposto a repetir o que fez a Grã-Bretanha com suas colônias? Mais: será que o Brasil cederá um pedaço de terra onde os rubro-negros possam viver em paz e criar seus filhos longe da influencia de vascaínos, tricolores e alvinegros? “Viver em paz” – entenda – é pura força de expressão porque, pelo que se vê, as torcidas flamenguistas brigam tanto entre si quanto as facções palestinas. Meu medo é que os fundamentalistas rubro-negros resolvam criar um movimento separatista , conquistem o Rio e expatriem os outros clubes cariocas para Niterói.

Há rumores de que o Governo estaria procurando um local onde a nação rubro-negra possa instalar a Republica Democrática do Urubu.

Flamenguistas já advertiram que não aceitarão terras no Oriente Médio nem naquelas ilhotas que estão afundando no Pacifico. Sua preferência recaí – é obvio – sobre o bairro do Flamengo onde surgiu há mais de um século a civilização rubro-negra. É dali que o Flamengo pretende expandir seus domínios, inspirado nas conquistas do antigo Império Romano. O clube já tem hino, bandeira e para virar um país basta criar uma moeda nacional.

Sob muitos aspectos a nação rubronegra está mais adiantada do que a nação brasileira. Pelo menos já garantiu uma mulher na presidência!

TOSTÃO

Troca de panetones

JORNAL DO BRASIL - 13/12/09


Mário Sérgio, ex-técnico do Inter, falou, no programa Arena SporTV, que se sentiu ofendido por eu lhe ter chamado de Professor Pardal. Não quis ofendê-lo. Apenas repeti, com ironia, o que tantos dizem, que ele inventa demais.

Já chamei Adílson Batista de Professor Pardal, e ele não se ofendeu. Aliás, foi o próprio técnico quem primeiro falou que agiu como um Professor Pardal, ao fazer uma estranha substituição em um jogo do Cruzeiro. Adílson Batista é hoje um dos principais treinadores brasileiros. De vez em quando, tem uma recaída.

Mário Sérgio, no mesmo programa, disse que me deu apoio quando comecei a trabalhar de comentarista, na TV Bandeirantes. É verdade. Não só ele, como Gérson e Rivellino, companheiros na seleção de 1970, que também me apoiaram.Uma coisa é o técnico que inventa demais, que faz alterações inexplicáveis, que acha que só ele entende de futebol, e que começa e termina a carreira como Professor Pardal. Outra é o treinador inquieto, criativo, que sabe muito, que tenta soluções diferentes, algumas no momento errado. Este, com o tempo, vai se tornar um grande treinador. No início de carreira, é difícil separá-los.

Por termos trabalhado juntos, Mário Sérgio reclamou de minhas críticas e ainda, mesmo sem dizer textualmente, me cobrou uma dívida por ter me tratado bem. Alguns (poucos) treinadores, dirigentes e atletas também já reclamaram. Por eu ter sido um atleta, acham que eu deveria ser menos crítico, mais condescendente, como fazem alguns ex-atletas comentaristas.

Por ter sido um jogador importante da história do Cruzeiro, alguns dirigentes já reclamaram de minhas críticas e de minha ausência em eventos do clube. Não vou a esses e a outros encontros, no Cruzeiro e em outros lugares, porque não quero perder a liberdade e a independência de criticar e elogiar.

Esses jogadores, dirigentes e técnicos que reclamam confundem passado com presente, relações profissionais com corporativismo, o que não faz mais sentido, pois parei de jogar há 37 anos. Tenho outra atividade e a obrigação de ser imparcial. De minha carreira de jogador, muitos atletas atuais só sabem que atuei ao lado de Pelé.

As mesmas duras críticas, feitas por comentaristas que não foram atletas, são geralmente mais aceitas e toleradas que as minhas.

O mundo do futebol é parecido com o da política e de parte da sociedade. O Brasil é o país da troca de favores, do “é dando que se recebe”, das patotas, do corporativismo e do nepotismo.

Cada vez mais, as pessoas não se preocupam em ter amigos, ser amadas e ter bons relacionamentos pessoais. Querem ser admiradas, bajuladas e ter ótimas relações profissionais. Só pensam na carreira e no sucesso.

A troca interesseira de favores é caminho para a corrupção, outra praga nacional. O corrupto se relaciona muito bem com outro corrupto. Adoram trocar panetones. O corrupto costuma ser tão social, tão gentil, que até parece ser sério. Para diminuir bastante a corrupção, não bastam duras leis. É necessário também diminuir a promiscuidade social.

CELSO MING

A China turbina o consumo

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/12/09


Aqui tem um "pibinho", lá tem um "pibão". A China não está apenas informando que vai crescer mais de 8% neste ano de crise. Está revelando uma importante mudança na direção de sua economia, agora também voltada para o mercado interno.

Os números apresentados sexta-feira pelo National Bureau of Statistics of China (agência oficial) mostram que o produto industrializado cresceu 19,2% em novembro (em relação ao mesmo mês do ano passado) e que as vendas no varejo tiveram um salto de 15,8% também em novembro, mais do que o dobro do que ocorre hoje na economia global.

Há mais um punhado de surpreendentes novidades. Pela primeira vez na história, ao longo deste ano os chineses comprarão mais automóveis (cerca de 12,8 milhões) do que os americanos (que ficarão com 10,3 milhões), como registra o New York Times. Nos computadores de mesa (desktops), eles também estão à frente: no terceiro trimestre do ano, compraram 7,2 milhões de unidades, enquanto os americanos não passaram dos 6,6 milhões. E praticamente não há item de consumo com desempenho divergente desses, de aparelhos domésticos a roupas e sapatos; de móveis a instrumentos musicais; de joias a obras de arte.

A eclosão da crise global parece ter sido o pretexto para que o governo chinês mudasse a orientação de sua política econômica. Até recentemente, seu sistema produtivo estava essencialmente voltado ao atendimento das exportações. Diante da perspectiva de encolhimento do mercado mundial em consequência da recessão, o governo estimulou o consumo interno por meio do aumento das despesas públicas (políticas anticíclicas) e da expansão do crédito bancário.

Nada menos que 25% dos veículos vendidos neste ano (cerca de 40% a mais do que no ano passado), a uma média de US$ 17 mil cada um, foram financiados pelo sistema bancário chinês. Neste ano (dados até setembro), o movimento dos cartões de crédito havia se expandido perto dos 50%.

É cedo para concluir que a guinada em direção ao mercado interno seja definitiva. O que se pode dizer é que não tem sustentação a longo prazo o arranjo prevalecente até aqui, em que os Estados Unidos entraram como país consumidor e importador de mercadorias e de poupança; e a China como supridora de manufaturados baratos e financiadora do consumo americano (por meio da compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos). Entre as explicações para isso está a de que nem a China terá condições de empilhar reservas indefinidamente nem os Estados Unidos de se endividarem como estão se endividando.

O impressionante aumento da produção e do consumo na China (deverá voltar a crescer ao redor de 12% ao ano em 2010 e 2011) é boa notícia para o Brasil, grande fornecedor global de commodities. Mas traz de volta à mesa de discussões uma questão inquietante. O consumo chinês segue de perto o modelo americano. A indústria que está vendendo ao mercado interno é basicamente a mesma que foi montada para atender ao mercado dos Estados Unidos e do mundo rico. E, já no início desta década, o biólogo americano Edward Osborne Wilson advertia: "Precisaríamos de mais quatro planetas Terra para sustentar toda a população do mundo nos padrões de consumo dos Estados Unidos."

JOSÉ SIMÃO

Enchentes! Tá proibido chapinha!

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09


E um amigo me disse que não ficaria com a Suzana Vieira nem por cinquentinha. Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Últimas notícias: congestionamento na 25 de Março vai até a 23 de Maio. DOIS MESES de engarrafamento. Rarará! Pior quando for até a 9 de Julho! Isso é São Paulo.
E continua a série Os Predestinados. É que em Ourinhos tem um médico legista que se chama Ronaldo MATACHANA! E em Floripa tem um cirurgião plástico chamado TIRAPELLE. Rarará!
E já saiu o corno Papai Noel: aquele que vai embora, mas volta por causa das crianças. E tem o corno OPA.
Aquele que chega em casa, abre a porta do quarto, pega a mulher com outro, grita "OOOOPA!" e fecha a porta. Rarará!
E o panetone do Arruda é aquele que eu vi sábado no supermercado: TOMMY. Tommy 200 mil pra aprovar o projeto. Tommy 100 mil pra botar na cueca. E Tommy 50 mil pra enfiar na meia. E dinheiro escondido na cueca se chama CUrrupção. E o Arruda é do DEM. Ele é reinciDEMte. É uma epiDEMia! Rarará!
E as coroas do "Cinquentinha"?
Hilárias. Adorei. É a "Malhação" da terceira idade. E um amigo me disse que não ficaria com a Suzana Vieira nem por cinquentinha. Rarará!
E essa saiu no Twitter: devido a temporada de chuvas, as chapinhas estão suspensas. Imagine a Fátima Bernardes numa enchente. Rarará!
E Copenhague? Cópula Climática.
Emissão de Gases! Tem de soltar pum pra dentro. PUMluição! O homem é um PUMluidor. E quando o Lula falou que ia pra Copenhague, a dona Marisa gritou: "Então me traz duas Nhás Bentas e uma caixa de Língua de Gato". Rarará!
E toda vez que tem essas cúpulas climáticas eu acordo com medo e com culpa. A minha simples existência prejudica o planeta. E sabe o que o planeta gritou em Copenhague?
"Deixem-me morrer em paz. Eu me viro sozinho!" Rarará!
DIA DO AFOGÃO! Cuspiram em São Paulo. E acho que foi um argentino! E o povo de São Paulo ficou humilhado: úmido e ilhado! E avisa pro Serra e Kassab que era pra ALARGAR a Marginal e não para ALAGAR! E quem disse que São Paulo não tem mar? Tem dois: MARginal Tiete e MARginal Pinheiros.
E Cumbica opera por instrumentos. Pandeiro, cuíca, reco-reco e tamborim! E toda vez que o céu fica preto eu corro pra ver o Datena. O Galvão Bueno das enchentes.
E os impostos? IPVA, Imposto Para Vias Alagadas. IPTU, Imposto Para Teto Úmido. E bilhete único vira bilhete úmido. E eu ganhei um pé de pato verde fosforescente pra usar na Bahia, mas vou estrear aqui em Sampa mesmo. Pé de Pato Para o Povo!

EMÍLIO ODEBRECHT

O desafio da expatriação

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09


NO BRASIL , hoje, trabalhar no exterior é uma perspectiva atraente para muita gente. Comparando com os Estados Unidos e com países da Europa, que exportam profissionais há mais de um século, aqui essa é uma possibilidade muito recente.
Não me refiro a pessoas que emigram para tentar uma vida melhor fora do país. Trato aqui de quem, integrado a uma empresa que opera internacionalmente, tem a oportunidade de se transferir para o exterior.
Esse movimento é um dos frutos do processo de globalização, que incrementou a expatriação de trabalhadores dos mais diversos níveis.
Grandes obras de engenharia são espaços privilegiados para observá-lo. Conheço algumas em que convivem pessoas de dezenas de nacionalidades, falando mais de 20 línguas diferentes. É uma experiência singular e enriquecedora para quem a vive.
Mas é desafiadora também. E o principal desafio do indivíduo deve ser sair sem ter o projeto de voltar. Trabalhar no exterior pode significar um grande salto de desenvolvimento para si e para toda a sua família. Por isso, não deve ir com a mala, mas ir de mudança.
Entretanto, a decisão pela permanência onde quer que se vá depende da sensação de segurança que a empresa que expatria consegue transmitir e da percepção das oportunidades que a mudança proporciona.
Entre as oportunidades está a do crescimento profissional acelerado pelo enfrentamento de ambientes mais complexos, nos aspectos culturais e no campo dos negócios. Paradoxalmente, essa circunstância pode apressar o retorno dos que se capacitaram, para que compartilhem no país de origem as novas competências adquiridas lá fora.
A mobilidade e o domínio de línguas estrangeiras são, cada vez mais, pré-requisitos indispensáveis em empresas de vários setores econômicos, e essa condição deve se estender a toda a família do expatriado. Nesse sentido, é fundamental que o momento da decisão de mudar seja marcado pela predisposição dos familiares de se adaptarem à nova realidade, visando minimizar os efeitos dos inevitáveis ajustes e gasto desnecessário de energia -porque, se haverá perdas, os ganhos podem ser compensadores também para os acompanhantes.
Esposa, marido e/ou filhos têm a chance de estudar e de conviver em ambientes de rica diversidade cultural, aprendem a falar outros idiomas, a valorizar o novo e a conviver com hábitos que desconheciam e adquirem capacidade de se integrar e modo de pensar que ultrapassa fronteiras -qualidades hoje altamente valorizadas em todos os campos da atividade humana.

GUILLERMO HOLZMANN

A continuidade vencerá no Chile

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/12/09



Hoje o Chile experimenta sua quinta eleição presidencial desde o retorno da democracia, em 1990. A atual presidente, Michelle Bachelet, chefia o quarto governo da Concertação, que tem sido a coalizão no poder nos últimos 20 anos. O notável é que a popularidade de Bachelet se encontra em 80%, contrastando com os 40% que ela tinha quando começou seu mandato.

A razão disso, além de seu carisma e do fato de ser a primeira mulher presidente do Chile, é que ela concentrou sua gestão na adoção de uma política de proteção social orientada para os setores mais vulneráveis - a terceira idade, as crianças e os pobres - a partir de uma poupança sistemática, que não só permitiu financiar programas de acesso a saúde, educação e moradia, como também tornou mais suportável os efeitos da crise econômica no país.

Nesse sentido, o aumento das receitas das exportações de recursos naturais, junto com o financiamento das políticas sociais, acabaram por definir a plena inserção do Chile na globalização, consolidando um modelo de desenvolvimento que está vigente há 25 anos.

No entanto, o que explica a alta popularidade da presidente é o fato de ela ter se mantido afastada dos partidos políticos, o que significou, por sua vez, não se envolver em nenhum conflito partidário nem em disputas com o Congresso.

Essa estratégia foi bem recebida num país em que 3 milhões de habitantes em idade para votar - cerca de 35% dos eleitores - não se inscrevem para participar do processo eleitoral.

Neste cenário, a Concertação teve de suportar uma crescente fragmentação nos partidos que a compõem e uma crítica frequente relacionada ao comportamento excludente de sua cúpula.

Esse fenômeno, expresso na candidatura de Marco Enríquez-Ominami, ex-militante do Partido Socialista, que sem o respaldo de partidos conseguiu que o primeiro turno se concentrasse na disputa com Eduardo Frei, da Concertação, para ver quem brigará no segundo turno com Sebastián Piñera, candidato de centro-direita.

O cenário político dessa eleição já não tem Pinochet como referência e nem uma direita comprometida com seu legado ditatorial. Na realidade, a fina linha que separou esquerda e direita se transformou numa área onde liberais, hoje em dia, compartilham objetivos similares, ainda que tenham estilos de governo diferentes.

Piñera, que tem boa chance de vencer, representa uma direita que evoluiu do ponto de vista ideológico, integrando, inclusive, dissidentes da Concertação, mas que também se adaptou aos novos eixos da política, na mesma linha de Merkel e Sarkozy, encantando setores que valorizam a alternância como um mecanismo que consolida o processo democrático chileno.

Dessa perspectiva, independentemente de quem vença, o novo presidente herdará um país cuja sociedade modificou sua percepção da política e, com isso, deixou em evidência a crise do sistema partidário e a necessidade de avançar em reformas orientadas para recompor o vínculo com a cidadania.

Os três principais candidatos (Piñera, Frei e Enríquez-Ominami) não questionam o atual modelo de desenvolvimento. Eles manterão a proteção social herdada de Bachelet, enfatizando papéis distintos para o Estado e mantendo uma economia de mercado que assegure o equilíbrio macroeconômico.

Em política externa, a integração com a região é um fator comum nas propostas, apesar de a incorporação do Chile à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e as exigências decorrentes de mais de 22 tratados de livre comércio ou acordos bilaterais, que envolvem mais de 56 países, colocarem uma assimetria na relação com alguns países da região.

Isso que obrigará o futuro presidente a buscar fórmulas inovadoras para fortalecer os vínculos e projetar o desenvolvimento extracontinental do Chile.

Se Piñera vencer, constituindo o primeiro governo eleito de direita depois de 50 anos, isso implicaria mudanças importantes na alta burocracia do Estado. No entanto, dado o nível de dependência de outros setores políticos para conseguir a governabilidade, é improvável que seu governo seja caótico.

Por fim, hoje saberemos se a Concertação assistirá ao funeral de sua coalizão ou se ainda teremos de esperar o segundo turno para começar o processo de renovação que seus militantes exigem.

Guillermo Holzmann é analista e diretor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade do Chile

MÍRIAM LEITÃO

Clube da esquina

O GLOBO - 13/12/09


Amagerbro. Esse é o nome da primeira estação de metrô no meu caminho para o Bella Center, local da COP-15. É inevitável lembrar de Armageddon. Em Copenhague, o que se discute tem como pano de fundo cenários de catástrofes. Manifestantes gritam urgências e encenam desastres. Ilhas desesperadas param o plenário, países africanos avisam que estão condenados.

onde você é? — perguntei ao manifestante verde.

A cada momento pode começar uma manifestação no Bella Center. Eles se vestem com roupas estranhas, se pintam de cores fortes, se fantasiam. São performáticos.

Esse grupo pintou o rosto, as mãos de verde e enfiou-se em enormes macacões brancos.

— Do espaço — me respondeu com uma expressão robótica.

Na verdade, descobri, eram japoneses. A gente pode encontrar japoneses verdes que alegam que vêm do espaço, ou tropeçar com poderosos como Todd Stern, o negociador americano, no mesmo pátio que fica entre o Media Center e as salas de reunião.

Jornalistas não dão muita atenção às reuniões plenárias da Conferência. Normalmente, é lugar de discursos em que se misturam o formalismo e o jargão diplomático.

Mesmo assim, quis ver uma.

E foi assim que vi o inusitado caso de Tuvalu. Houve um momento do impasse, em que a presidente da Conferência, Connie Hedegaard, pediu um tempo para discutir “na esquina”. Todos foram para um canto do enorme salão e fizeram uma roda em torno de Connie. Debate intenso sobre Tuvalu, o mundo inteiro rodeando o caso da ilha. Mas nada se resolveu. E Tuvalu deu esse nó no plenário porque fez uma boa estratégia regimental.

As pequenas ilhas compensam a fragilidade extrema com a formação de uma burocracia bem preparada para brigar nas COPs. Organizaramse numa associação que tem um nome quase perfeito para descrever o paraíso que algumas delas ainda são: Aosis (Alliance of Small Island States). Esses países-ilhas membros da Aosis apresentaram aqui a mais coerente, bem estruturada e racional proposta de texto final. Não será aceito, mas pode ser parâmetro. Quando se quer saber se um projeto é ruim, basta comparar com o banho de lucidez que está na proposta das pequenas ilhas.

Elas querem que o mundo lute por um objetivo mais ousado. Em vez de limitar em dois graus centígrados a temperatura da Terra, limitar em um e meio. Para isso, será preciso recuar dos atuais níveis de carbono já estocado na atmosfera. Querem que todos contribuam com cortes de emissões e com recursos, aperfeiçoem todos os mecanismos já propostos. Se o mundo tivesse um ataque de lucidez, ouviria a Aosis.

Na rotina do debate sobre mudança climática, todos se acostumaram com um mundo de siglas. Ninguém fala Protocolo de Kioto, é KP. Ninguém fala em ações nacionais de redução da emissão. São Namas. O grupo de trabalho que está preparando o documento final é AWG-LCA. Um jornalista pergunta para o embaixador brasileiro: — O CCS pode ficar dentro do CDM? CCS é a tecnologia de retirada de carbono do carvão para estocar esse veneno no subsolo para sempre.

O lobby do carvão adora o CCS e defende como possível o que ainda está em escala pequena, não devidamente testada, mas já suficientemente temida.

Paul Ekins, professor inglês de energia, me disse quando estive em Londres: — Essa estocagem é para sempre.

Achei “para sempre” um tempo longo demais para estocar na terra exatamente o que está arriscando nosso futuro. Pôr o CCS no CDM é aceitar financiar isso através do sistema de crédito de carbono.

Atrás das siglas moram perigos, dramas, possibilidade, arquiteturas de negociação, motivo de brigas entre delegações. O que se discute é dramático, mas tudo fica descarnado quando se empilham as siglas, os números, os percentuais.

Nessa primeira semana da COP ficaram claros os pontos de discórdia. Os países do Anexo I — assim são definidos os que têm metas obrigatórias — não querem a continuação do Protocolo de Kioto. De fato, Kioto tem o enorme defeito de não incluir os Estados Unidos, que não ratificou o acordo. Não tem metas também para países que, desde que ele foi escrito, aumentaram muito suas emissões, como China, Índia e Brasil. Mas, principalmente, o tratado não conseguiu deter o aumento das emissões. É ruim. A delegação brasileira argumenta: sem Kioto, o mundo enfrentará insegurança jurídica. Essa é a única moldura legal que se construiu. Ele é imperfeito, mas é o que existe.

Inevitável mexer nele, mas não se pode desmontá-lo.

Exatamente agora, porém, é a hora de discutir a prorrogação das metas para além de 2012. Isso acontece no AWG-KP, um outro plenário em que todos os países se reúnem para discutir a nova lista de compromissos. Esta semana, enquanto a COP, em transe, discutia o documento final desta reunião e o plenário parava por causa de Tuvalu, no AWG-KP, a briga corria solta. É uma luta de vida ou morte. Os países em desenvolvimento querem mantê-lo vivo, os países desenvolvidos querem acabar com ele. Os países-ilhas também preferem um novo acordo, maior, mais ousado, mas aceitam qualquer coisa que evite o desastre previsto.

As ONGs jogam um papel central nas COPs. Com técnicos competentes, informações rápidas, influência, elas ajudam a mexer as pedras no tabuleiro da negociação.

No Media Center, eles não podem entrar, mas, de repente, vi um inglês de uma grande ONG parado na minha frente. Ele me entregou o documento que eu estava procurando. Perguntei como ele tinha entrado.

“Pelo banheiro dos homens”, que tem uma entrada pelo lobby. Tudo acontece numa COP. E foi só a primeira semana.

MARCO AURÉLIO MELLO

Licença inconstitucional

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/12/09


Cumpre ser fiel aos ditames constitucionais. A sociedade não aceita a impunidade justamente daqueles que, a rigor, devem dar o exemplo


VEM-NOS DO império regra a beneficiar o presidente da República: na vigência do mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Vale dizer, fica suspensa a persecução criminal e, consequentemente, a prescrição. A diferença notada corre à conta da imunidade absoluta que beneficiava o imperador.
Pois bem, em geral, as Constituições estaduais condicionam a ação penal contra governadores à licença prévia da Casa Legislativa. Cumpre, assim, definir a harmonia, ou não, dessa previsão com a Lei Maior da República, com a Carta Federal, que a todos, indistintamente, ante a rigidez, submete.
Pronunciei-me sobre a matéria ao votar no agravo regimental na petição nº 3.838, a envolver senador da República e o governador Ivo Cassol, vencido quanto à denominada via da atração, seguindo-se pedido de vista do ministro Eros Grau.
A perda do mandato, antes da sequência do julgamento, pelo detentor da prerrogativa -para alguns, privilégio- de ser julgado pelo Supremo, implicou o deslocamento da competência para o Superior Tribunal de Justiça, ao qual cabe processar e julgar governador considerados os crimes ditos comuns. Com isso, o guarda maior da Constituição -o Supremo- não chegou a manifestar-se em definitivo a respeito do tema.
As razões do convencimento sobre a insubsistência da licença são várias. Consubstancia garantia constitucional o acesso ao Judiciário para afastar lesão a direito ou ameaça de lesão, sendo atribuição exclusiva do Ministério Público propor, mediante denúncia, a ação penal pública que se tem como incondicionada. Soma-se a essa premissa a atividade independente dos Poderes -cláusula sensível à Federação.
Não fosse o fato de o chefe do Executivo local contar com bancada na Assembleia -que, assim, dificilmente concede a licença, manietando o Ministério Público e o Judiciário-, a condição de procedibilidade ora examinada resulta em interferência indevida de um Poder em outro e, o que é pior, com entrelaçamento extravagante. A Assembleia do Estado passa a limitar a atuação judicante de órgãos federais -o Ministério Público e o Superior Tribunal de Justiça.
Há mais a tornar estreme de dúvidas a inconstitucionalidade da exigência de licença.
Com a emenda constitucional nº 35/01, foi abolido do sistema pátrio constitucional esse requisito para ter-se formalizada a ação penal. Antes, o processo-crime contra deputado federal ou senador dependia da "permissão" da Casa a que integrado -Câmara dos Deputados ou Senado Federal- e, quase sempre, se não sempre -lembro-me apenas de uma exceção-, a resposta ao pedido era negativa, como ocorrido no caso do citado governador.
Ao acolher a diligência requerida pelo procurador-geral da República, visando à licença, presente até mesmo o princípio da eventualidade -vir o colegiado a entender de forma diversa-, assentei o não comprometimento com a tese.
Em quadra de abandono a princípios, de perda de parâmetros, de inversão de valores, de escândalos de toda ordem, cumpre ser fiel, a mais não poder, aos ditames constitucionais, buscando a realização dos anseios da sociedade. Esta não aceita a impunidade justamente daqueles que, a rigor, devem dar o exemplo.
Com a obrigatoriedade de licença, posterga-se para as calendas gregas a tomada de providências inibidoras de desvios de conduta, passando os governadores, quem sabe também os prefeitos, a gozar de verdadeira blindagem, embora temporária, de privilégio -não bastasse a extravagante prerrogativa de foro-, odioso como todo e qualquer privilégio, perdendo-se, no tempo e na memória, os elementos fáticos envolvidos no episódio merecedor da imediata glosa penal.
É o momento de tomar o período vivenciado -no que vêm funcionando a contento a imprensa, investigativa e esclarecedora, a polícia, o Ministério Público e o Judiciário- como alvissareiro, sinalizando o almejado avanço cultural dias melhores neste imenso e sofrido Brasil, e de adotar atitude que mantenha rígidos os freios inibitórios dos agentes públicos e políticos, fazendo-os compreender que o exercício do cargo visa a servir à coletividade, e não a si próprio.
Com a palavra, o tribunal da cidadania, o Superior Tribunal de Justiça, e a última trincheira do povo brasileiro, o Supremo. Que oxalá prevaleça o direito posto, abandonada toda e qualquer acomodação.

MARCO AURÉLIO MELLO, 63, é ministro do Supremo Tribunal Federal e membro do Imae (Instituto Metropolitano de Altos Estudos). Foi presidente do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

BRASÍLIA -DF

Faltam engenheiros

CORREIO BRAZILIENSE - 13/12/09



Nos 589 cursos autorizados pelo Ministério da Educação entre julho de 2008 e agosto de 2009, só 13% eram de engenharia. Entre os 283 cursos ofertados pelas 12 novas federais, só 52 são da área. “Faltam profissionais, o alto custo para a criação de laboratórios inibe instituições privadas, que preferem se dedicar a áreas mais simples ou a cursos que têm alto custo, mas rendem mensalidades mais caras”, adverte o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), que é engenheiro formado pela Escola Politécnica de São Paulo. Engenharia é uma das poucas áreas do ensino superior em que a distribuição de vagas é quase meio a meio entre públicas e particulares. Na soma geral, 75% das graduações estão na mão de faculdades privadas.

Hoje, os cursos de engenharia no país oferecem pouco menos de 120 mil vagas, 4% de todas as cadeiras no ensino superior do Brasil. Na China, eles somam 40%. Na Coreia do Sul, 26% dos formandos são engenheiros. No Japão, 19,7%. O México, país com indicadores semelhantes aos brasileiros, hoje tem 14,3% de formandos na área. O parlamentar lembra que, no Brasil, um em cada quatro engenheiros se forma em cursos inadequados, pois 6,3 mil dos 24,9 mil formandos frequentam cursos com notas 1 e 2 na avaliação federal, as mais baixas na escala de qualidade.

Vilão
Para a turma do Ministério da Fazenda, o modesto PIB de 1,3% no terceiro trimestre do ano (julho a setembro) é consequência da política monetária. Como todo mundo entrou no oba-oba da recuperação econômica, principalmente o presidente Lula, fica difícil transformar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (foto), em bode expiatório. O ministro Guido Mantega, por exemplo, apostava em 2% de crescimento no semestre.

Gato
O governo ensaia uma manobra para garantir a aprovação dos créditos suplementares pelo Congresso antes do retorno dos trabalhos, em fevereiro. Deputados da base buscam uma brecha na legislação para liberar os recursos pela comissão provisória, um grupo reduzido de parlamentares que fica de “plantão” durante o recesso. A oposição farejou a artimanha e promete estrilar. Os créditos adicionais pendentes de votação somam R$ 31,7 bilhões.

Crescimento
O Brasil já foi palco de grandes obras de infraestrutura, como a Ponte Rio-Niterói e o metrô; a prospecção de petróleo em águas profundas; a construção de hidrelétricas, como Itaipu; inovações na indústria mecânica pesada, metalúrgica, na engenharia aeronáutica e de informática, que nos garantiram um salto de competitividade; assim como na produção de commodities agrícolas. Com o longo ciclo de estagnação da economia nas décadas de 80 e 90, segundo Jardim, a formação de engenheiros virou mais um gargalo para o desenvolvimento. “É uma tragédia anunciada. A engenharia sempre esteve ligada à produção e ao Estado indutor de grandes projetos”, lamenta Jardim.

Remédios
Relatório setorial da Saúde do senador João Vicente Claudino (PTB-PI), referente ao Orçamento de 2010, aponta redução de 11,9% nas despesas com o programa Assistência Farmacêutica. O corte atinge a distribuição de medicamentos contra Aids, hepatite B e C, além do Farmácia Popular, que disponibiliza remédios a baixo custo para a população. Está prevista uma verba de R$ 4,9 bilhões para o Assistência Farmacêutica em 2010. A dotação deste ano é de R$ 5,2 bilhões

Aceno
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a considerar a possibilidade de o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (foto) vir a ser o vice da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Vem daí o deselegante chega pra lá na indicação para vice do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), que gerou forte reação da cúpula da legenda. Lula está de olho nos votos de Ciro, que misteriosamente migram para o governador paulista José Serra (PSDB) quando o político cearense fica fora da cartela de candidatos.


Barro/Candidato do PR fluminense ao Senado, o deputado Pastor Manoel Ferreira iniciou périplo pelo interior do Rio de Janeiro ao lado do ex-governador Anthony Garotinho (PR) que deve se encerrar em março. Chefe da Assembleia de Deus no estado, Ferreira tirou 130 dias de licença da Câmara dos Deputados, no fim de novembro, para pisar no barro e cuidar da pré-campanha.

Disputa/O PT cearense está dividido sobre quem indicar para ser vice na chapa do governador Cid Gomes (PSB), candidato à reeleição. A prefeita de Fortaleza e presidente estadual do PT, Luizianne Lins, quer emplacar seu chefe de gabinete, Valdemir Catanho. O deputado José Guimarães (PT) apoia o vice-governador Francisco Pinheiro (PT), replicando a chapa de 2006.

Balanço/O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, vai apresentar na terça-feira as projeções da instituição para 2010. São expectativas do setor industrial em relação ao PIB industrial, consumo das famílias, taxa de desemprego, do comércio exterior, juros e inflação, entre outras.

Cobrança/O DEM da Paraíba define, amanhã, a aliança prioritária do partido em 2010. Insatisfeitos com a indecisão dos tucanos entre lançar o senador Cícero Lucena ou apoiar o prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), os democratas vão cobrar uma posição do PSDB paraibano. “A indefinição do PSDB não é boa para nós”, queixa-se o deputado Efraim Filho (DEM).

Urna

O PSDB marcou a eleição do novo líder na Câmara dos Deputados para terça-feira. Os tucanos não conseguiram chegar a um nome de consenso e decidiram ir às urnas. Disputam o comando da bancada Duarte Nogueira (SP), apoiado pelo líder José Aníbal (SP), e João Almeida (BA)