sábado, novembro 21, 2009

RUY CASTRO

Duas mariolas

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09

RIO DE JANEIRO - Nos anos 50, tempos de Oscarito, Eliana e José Lewgoy, os filmes brasileiros tinham cláusulas quase obrigatórias: números musicais com Emilinha Borba e Ivon Curi, bandido internacional hospedado no Copa, passeio de carro pela orla, sequência de briga na boate e, em meio aos créditos -que, então, vinham no começo-, a lista de agradecimentos ao comércio, que cedera acessórios para os cenários.
A lista volta e meia incluía a Galeria Silvestre, que comparecera com lustres e abajures; a Casa Neno, com um fogão e um ventilador; o Dragão da rua Larga, com panelas e caçarolas; Sayonara Cabeleireiros, que penteara e fizera as unhas da vilã; a Spaghettilândia, que fornecera pizzas-brotinho para a equipe; o português José Moita, taxista da praça Mauá, que transportara o galã entre o estúdio em São Cristóvão e a locação em Jacarepaguá; e outros.
Eram parcerias inocentes. O comerciante ficava feliz com o nome de sua firma na tela, embora durasse dois segundos, mal dava tempo de ler. Talvez vendesse uma ou duas mariolas a mais, e só. Não era um big negócio.
Meio século depois, o cinema nacional continua precisando dessas colaborações. Para fazer um filme, o produtor leva anos passando o chapéu, só que, agora, em busca de dinheiro vivo. É uma luta dramática e desgastante, e o nome disso é "captação". Em troca, há as "leis de incentivo": o patrocinador ganha isenções, deixa de pagar impostos e ainda tem o nome na tela como benfeitor da cultura.
O filme "Lula, o Filho do Brasil" nem precisou lutar. Estatais, ministérios, bancos públicos, mineradoras, empreiteiras, montadoras, frigoríficos, fabricantes de cerveja, de cigarros etc. se atiraram à passagem do chapéu e até dispensaram as leis de incentivo. E cada "doador" lucrará mais do que duas mariolas.

JOSÉ SIMÃO

Terror! Dilma em "Lula Nova"!

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Fernanda Young diz que se arrependeu de ter posado nua. Kibeloco: "Imagine quem comprou a revista". E diz que o Palmeiras tá como guaraná de dois litros, chega na metade, acaba o gás! E posso fazer uma pergunta pra Geisy da Uniban? Quando ela vai lavar aquele vestido rosa?! Acho que se lavar, encolhe. Ou seja, desaparece.
E o megassucesso filme de vampiro "Lua Nova"? Diz que vão fazer uma versão 2010: "LULA NOVA"!
Com a Dilma no papel de vampira! Filme de terror. "Lula Nova"! Depois de "Lula, o Filho do BARRIL"! E mais um: "2 Filhos do FHC". E aquele filho do FHC com a jornalista da Globo podia voltar pro Brasil e pegar uma ponta em "Malhação".
E o Lula extradita ou não extradita o terrorista italiano?! O único italiano que o Lula odeia é o Paolo Rossi. Que tirou o Brasil da Copa de 82. E o único italiano que a gente ama é o Baggio. Que errou o pênalti e viramos tetra. E o único italiano que eu amo é o Armani! E uma amiga disse que o único italiano que ela ama é qualquer italiano. Extradita pra cá que eu boto em prisão domiciliar.
E tão dizendo que o Lula devia extraditar o Sarney! Quero ver o Berlusconi aguentar. E eu já disse por que o PT não quer extraditar o Battisti. Ele é da facção Proletários Armados pelo Comunismo, PAC! É pai do PAC! E Lula é o Filho do Barril! E tá bombando no YouTube o vídeo da Valeria Mattos, "KOMBI BRANCA"! "Fuscão Preto", "No Meu Crossfox" e, agora, "Kombi Branca". Terrorismo da Volks! Comentário de um cara: "Sabe de quem é a culpa? Das Lojas Americanas, que insistem em vender câmera digital em dez vezes. Maldita inclusão tecnológica". E outro: "Quero saber se ela tem mais músicas como fusca preto, brasília amarela e mais latas velhas". Boa ideia. Vou gravar o clipe "Minha Lata Velha". E jogar no YouTube. É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece! Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Contendas do Sincorá, na Bahia, tem um inferninho chamado Matéria Paga! Ueba! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil E atenção! Cartilha do Lula.
O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Hecatombe": um monte de companheiro numa kombi! Branca. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. (Folha de São Paulo)

ALEXANDRE BARROS

E os pobres, ministro, como ficam?

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/11/09


Quando legisladores começam a legislar sobre compras e vendas, a primeira coisa que se compra e vende são legisladores, diz o economista-humorista libertário norte-americano P. J. O"Rourke.

Moedas são mercadoria como qualquer outra. Compram-se e vendem-se dependendo da confiança dos compradores, como confiam na qualidade e durabilidade de uma geladeira ou de um televisor. É a confiança ou desconfiança que define se pessoas, empresas e governos devem ter suas economias em dólares, libras, euros ou yuans.

Na ascensão de Hitler (e em seu apogeu), pessoas que acreditavam no "Reich de mil anos" trocaram os seus caraminguás por marcos alemães. A derrota da alemã deixou-as sem nada, nas mãos e nos cofres.

Em países instáveis as pessoas livram-se das moedas nacionais em favor de outras, pela confiança. Creem que numa crise a moeda que escolheram (e o país que a emite ou o regime político que a sustenta) triunfará. Não há outra razão para o governo da China e milhões de pessoas não-norte-americanas amealharem e guardarem um monte de papel pintado de verde, comumente chamado dólar. Guardar moedas, para quem não negocia com elas, tem a vantagem da divisibilidade infinita. Pode-se comprar ou vender de um dólar a muitos milhões.

Os ricos de verdade defendem suas fortunas no atacado, e não no varejo. Eles não dão muita importância a moedas. Operam com o ouro, que é muito mais palpável, mas muito mais complicado de negociar. Se você quer saber a temperatura de uma crise política, comece a acompanhar o preço do ouro.

Considerando o preço do ouro na época da primeira eleição do presidente Lula, ele ficou quase inalterado. Quando os primeiros sintomas da crise mundial de 2008 apareceram, o ouro deu um pulo. Quase dobrou. Começou a baixar devagar. Tradução: os ricos de verdade já não tinham medo de Lula em 2002, mas ficaram muito amedrontados com a crise que avançava rapidamente em 2008.

A declaração do ministro da Fazenda na Fiesp - que tem um presidente do Partido Socialista, caso único, que eu saiba, em países capitalistas - de que o preço ideal do dólar é R$ 2,60 é uma quase-legislação de um funcionário graduado do governo num mercado que já provou que funciona bem sem interferências. Suas consequências são muito graves e pouco claras à primeira vista. E o pior, sobre compra e venda de uma mercadoria que afeta todos os outros preços. As exportações brasileiras ficarão mais baratas para os consumidores estrangeiros: com a mesma quantidade de dólares comprarão R$ 2,60 de produtos brasileiros, e não mais apenas R$ 1,70. Bom para exportadores.

Já que perguntar não ofende: o ministro é do Brasil ou dos exportadores?

Na teoria econômica do ministro não vigora que quando se muda artificialmente o valor de uma moeda estrangeira, ainda que os exportadores possam vir a ganhar mais, todos os outros cidadãos, os não-exportadores, passarão a pagar mais caro pelos produtos importados (ou que têm partes ou insumos importados)? No mundo globalizado isso é corriqueiro. Você não precisa comprar nenhum produto estrangeiro para que ele tenha componentes importados. Sua calça pode ter o pano, a tintura, as linhas, os botões ou o zíper estrangeiros ou com componentes estrangeiros.

Quando o governo interveio artificialmente no câmbio, na gestão de Gustavo Franco no Banco Central, todo mundo passou a consumir frango à vista e Orlando a prazo. O objetivo era baixar a inflação. Mas essa política teve um custo: queimamos reservas para defendê-la.

Tanto em contabilidades nacionais como em contabilidades privadas, as contas têm de fechar: o que se gasta tem de ser igual ao que se ganha, ensinou-nos Frei Luca Pacioli, o inventor da contabilidade. A diferença do setor privado é que o país não vai à falência, mas seus cidadãos ficam mais pobres ou mais ricos em sua capacidade de consumo.

A interferência do ministro no mercado do dólar contraria os interesses dos consumidores brasileiros, beneficiando só um grupo muito específico.

Os problemas sérios dos exportadores não estão no câmbio. Estão nos impostos, no emaranhado burocrático da exportação e no difuso custo Brasil, que vai da corrupção burocrática à infraestrutura falida, que quebra os eixos dos caminhões e encarece o produto brasileiro.

Impostos até servem para sustentar coisas boas, mas também pagam o Estado aparelhado com correligionários, as despesas do Senado e outras coisas que você, leitor, encontra diariamente nos jornais. Finalmente, estão na simples incapacidade empresarial de alguns exportadores de produzir seus produtos a preço menor.

Resumindo, não é fácil ser exportador e ganhar dinheiro, no Brasil. Mas daí a mudar artificialmente o valor do dólar apenas para beneficiar os exportadores, em prejuízo de todos os demais brasileiros, vai uma grande distância.

A política proposta pelo ministro "protege" o cidadão brasileiro contra produtos estrangeiros mais baratos. E esse não parece ser o objetivo do governo do presidente Lula, que diz todos os dias que a prioridade do governo é a erradicação da pobreza.

Há uma cacofonia entre a fala do presidente e a do ministro da Fazenda. Enquanto o ministro se contentava em dizer platitudes, era perfeito, porque não afetava nem interferia na parte séria do governo. O Ministério era uma espécie de mimo dado a um amigo de lutas passadas.

No momento, entretanto, em que o ministro acha que faz parte de suas tarefas imiscuir-se na política cambial do País para beneficiar um grupo específico, em detrimento de todos os brasileiros, sobretudo os pobres, as coisas ficam muito mais sérias.

A desvalorização beneficia a ineficiência dos exportadores.

Alexandre Barros, cientista político (Ph.D.- University of Chicago) é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Risco Político (Brasília)Email: alex@eaw.com.br

MERVAL PEREIRA

Os caminhos do voto

O GLOBO - 21/11/09

Trabalho coordenado pelo cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, publicado na edição de novembro da revista Alceu, que analisa os resultados da eleição presidencial de 2006 no Brasil à luz das mudanças na geografia eleitoral dos partidos, tem conclusões que servem para uma análise prospectiva com relação à sucessão de Lula, e uma certeza: nenhum candidato ganha ou governa sem algum grau de compromisso com um Brasil que tem voto e representação política, e é composto por “estruturas de poder” definidas: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais, os políticos populistas na periferia e a classe média urbana escolarizada.

O estudo mostra que o pragmatismo tomou conta da política brasileira, e que todos os políticos competitivos foram seguindo a mesma lógica, a de levar em consideração as estruturas de poder existentes no território onde se dá o embate eleitoral.

Quem ganhou as eleições dos últimos 20 anos — Collor, Fernando Henrique, e Lula — fez os mesmos acordos políticos.

O professor Cesar Romero Jacob registra que Collor entendeu isso antes de todo mundo, num movimento individual, provavelmente convencido por Marcos Coimbra, do instituto de pesquisa de opinião Vox Populi que, tendo estudado nos Estados Unidos, aprendeu a entender a importância do território.

Há 20 anos, a queda do Muro de Berlim aconteceu em 9 de novembro, o primeiro turno da primeira eleição presidencial direta depois do período militar foi a 15 de novembro e o segundo turno a 17 de dezembro.

“Exatamente no momento em que o mundo estava mudando, ele apresentava o Lula como um jurássico, defensor de um mundo que está caindo, e ele como o arauto da modernidade”.

Mas fazia acordos com as oligarquias de onde provinha.

Na eleição de 1994, o Plano Real foi um elemento fundamental, mas, ressalta Romero Jacob, quando são analisados os mapas eleitorais de Fernando Henrique, vê-se que são uma repetição dos mapas de Collor.

Quando Fernando Henrique se aliou ao PFL, recebeu muitas críticas, mas ele vai ter o apoio das oligarquias — andou de jegue no sertão, comeu buchada de bode — e ao mesmo tempo tinha um discurso sedutor para a classe média, e o Plano Real, modernizante, que era mais do que um discurso.

Ao contrário da maioria das análises, Romero Jacob acha que Fernando Henrique precisava do PFL não apenas para governar, mas sobretudo para ganhar a eleição também.

Para ele, Lula, Brizola e Covas em 1989 faziam política ao estilo pré-64, que é o de convencer o eleitor de que as suas posições são as mais corretas.

Collor introduz a pesquisa qualitativa na política eleitoral, que vai dizer aquilo que o eleitorado médio quer ouvir. “Convencer o eleitor daquilo que ele já está convencido”.

O trabalho dos pesquisadores da PUC mostra que todos os candidatos, se quiserem vencer a eleição, precisam do apoio das máquinas eleitorais no interior do país.

“Lá há outro tipo de formador de opinião. Há lugares em que Collor e Fernando Henrique tiveram 90% dos votos, não há opinião dividida”, analisa Jacob.

A partir de 2002, todos, inclusive Lula, aderem a esse modelo. O mapa eleitoral da Heloísa Helena mostra que ela não existe no interior do país, é um voto de capital, o mesmo acontecendo com o Cristovam Buarque.

A diferença do Lula de 2002 para antes é que o PT se torna pragmático, diz Romero Jacob.

Ao atingir 1/3 do eleitorado, vai para o centro.

“Quando você pega a série histórica toda, repete-se a mesma situação: cerca de 46% do eleitorado está nos municípios pobres do interior, e aí o que vale é a máquina eleitoral oligárquica, que trabalha uma população carente, com baixa escolaridade”, diz.

Na periferia metropolitana pobre, o peso maior é do político populista e do pastor pentecostal. A classe média urbana escolarizada é a minoria, onde há mais diversidade de opinião.

Lula perdia nesses dois primeiros segmentos da sociedade, e passou a ganhar em 2002. Das eleições de 1989, 1994 e 1998, fica claro que houve uma troca de eleitorado em relação a 2002.

Na análise de Cesar Romero Jacob, “a diferença entre a votação de Lula entre 2002 e 2006 mostra que as oligarquias do Nordeste foram superadas pelos programas sociais do Lula”.

Isso porque em 2002 Lula cresceu em relação às suas votações anteriores com o auxílio de oligarcas que haviam rompido com o governo tucano, como Antônio Carlos Magalhães e José Sarney. Mas em 2006, ele já assumiu o controle desse eleitorado dos grotões, com o Bolsa Família.

Não seria mais correto dizer que as oligarquias se reciclaram, e que o governo passou a fazer com o Bolsa Família o que os coronéis faziam antes? O governo não seria, como acusam alguns, um coronel eletrônico, pósmoderno? Ele acha que mudou a lógica, com o governo aportando recursos diretamente às pessoas, e não mais aos políticos.

Ele diz que essa postura vem desde o governo do Fernando Henrique, quando dona Ruth Cardoso, com o Comunidade Solidária, cria o Bolsa Escola, e havia outros programas como o vale-gás, o vale-alimentação, “o que de algum modo começava a quebrar o poder das oligarquias”.

No caso do Bolsa Família do governo Lula, essa lógica foi alterada em parte, pois o cadastramento é feito através dos prefeitos. Segundo Romero Jacob, as oligarquias locais se reciclam, e as regionais se enfraquecem.

No estudo do resultado de 2006, ele faz a ligação entre a vitória dos partidos de esquerda em 9 estados do Nordeste, — PT ganha 3, PSB ganha 3 e o PDT, 1 — e a decadência das oligarquias, com Antônio Carlos Magalhães, que fica contra Lula, e Sarney, que fica a favor, os dois perdendo as eleições. Hoje, seriam as oligarquias tradicionais que precisam do apoio de Lula.
(Continua amanhã)

MÍRIAM LEITÃO

Ele vai, por que não?

O GLOBO - 21/11/09


Caetano é assim mesmo. Crítico dos críticos, opiniões ferinas, ideias densas e franqueza extrema.

Que país não precisa de alguém assim? Ele avisou a que vinha logo no começo da sua rica e produtiva vida artística: “Eu vou, por que não?” Mesmo quando discordo dele, Caetano me faz pensar. E pensar é sublime. Caetano tem um jeito.

Ele foi desta vez num nervo exposto

Ninguém pode falar que Lula estudou pouco. Só Lula pode proclamar isso o tempo todo. Ele transforma seu sucesso em vitórias de quem não estudou sobre quem estudou. Uma estranha luta de classes. De aula.

De um lado os bons, os que não estudaram. De outro os insensíveis e incompetentes, os que estudaram. É isso que está implícito nos discursos. Confira as palavras dele, ditas na sextafeira, dia 6, no dia seguinte ao da entrevista de Caetano a Sonia Racy, numa crítica ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: — Um intelectual ficar assistindo a um operário que tem o quarto ano primário ganhar tudo o que ele queria ter ganhado e não ganhou por incompetência é muito difícil mesmo.

Se tivesse sido só essa vez, era a briga política apenas.

Mas ele em vários contextos, inúmeras vezes disse algo semelhante, como: “Tem gente que pensa que inteligência está ligado à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Nada mais burro que isso.” Em outro: “Vão morrer sem entender por que um metalúrgico que não tem diploma universitário é capaz de fazer mais do que eles.” Enfim, a lista é interminável; a mensagem, a mesma: estudar não faz diferença.

Imagina o impacto disso na cabeça de milhões de crianças e adolescentes no Brasil! Estudar para quê? Se Lula é tudo isso, respeitado aqui e lá fora, e tem apenas o quarto ano primário? Saber inglês para quê? Se Lula vive dizendo que não precisou de inglês para chegar aonde chegou? Isso é perigoso.

É mandar os jovens andarem na contramão da era do conhecimento.

A formatura como torneiro mecânico, que emocionou a dona Lindu, era uma estupenda vitória para a família, num país que sempre desprezou a educação dos pobres. Lula foi, de início, vítima dos mesmos erros educacionais do Brasil que ferem outros jovens. As estatísticas permanecem sendo vergonhosas. Entre os 20% mais pobres, a escolaridade dos homens é hoje de menos de cinco anos. Lula é filho inicialmente desse Brasil que não incluiu os pobres na escola. Depois, a militância sindical foi abrindo portas para ele. Muitos outros brasileiros, quando tiveram chance, ainda que mais tarde, voltaram a estudar.

O que o levou a fazer as opções que fez é assunto privado. O que é assunto de todos é a mensagem que passa.

Lula deveria usar sua liderança para dar o incentivo oposto ao que tem dado nas inúmeras ocasiões em que elogiou-se por ter estudado pouco e conseguido tanto.

Não há essa relação causal: ele conseguiu tanto porque estudou pouco. A causa do seu sucesso é outra: ele foi tão longe, apesar de ter estudado tão pouco, porque é inteligente e persistiu.

O presidente outro dia falou uma palavra mais difícil e depois brincou que Caetano não ia mais chamálo de burro. Louve-se seu bom humor, mas Caetano não disse isso. Na mesma entrevista ele disse que: “Ter tido Fernando Henrique depois Lula é um luxo.

Ambos saíram melhor do que a encomenda.” Na mesma entrevista, ele elogia as decisões de Lula na área econômica, como melhores do que as que José Serra tomaria se tivesse sido eleito em 2002.

Caetano contrapôs ao exemplo dele o da senadora Marina Silva. E de novo acertou.

Como Lula, Marina veio da extrema pobreza. Teve ainda mais obstáculos no caminho da escola. Alfabetizouse com 17 anos ao ir para Rio Branco tratar-se das enfermidades múltiplas que teve na infância. E nunca mais parou de estudar.

Numa entrevista que fiz com Marina Silva, perguntei como tinha conseguido se alfabetizar no Mobral tão tarde e, mesmo assim, ter chegado à universidade. “Quando vejo uma fresta eu passo por ela”, me respondeu. A história de Marina com a escola é inspiradora, seu exemplo é soberbo e deve ser exibido aos jovens do Brasil. E, como disse Caetano, ela tem fala elegante, bonita. “A vitória ou a derrota se mede na história”, disse ela, quando saiu do ministério. Agora, que incluiu a questão ambiental e climática no programa de todos os candidatos, e nas decisões do governo, quem discordaria que a frase, além de bonita, foi profética? O que me incomoda nas críticas veladas ou explícitas ao Caetano é, primeiro, que pouca gente se deu ao trabalho de ler toda a entrevista e entender a complexidade da mensagem que ele passou. Segundo, esse clima de endeusamento do presidente. Na carta que ele escreveu ao “Estadão”, Caetano fala desse veto a tudo que não seja “adulação a Lula”. Não existe tema tabu, e é bom ter um Caetano no país para, com sua irreverência, avisar que é proibido proibir. E o aviso dele veio em boa hora. O filme que projeta Lula como o herói sem defeitos vai para as telas exatamente quando ele precisa do mito para transferir votos para a sua candidata.

Outro dia sonhei com dona Canô. Do nada, sonhei com ela. Não a conheço, não tive esse imenso prazer, mas quem não ama dona Canô? Também amo. No sonho, conversava com ela sobre as sapatilhas de princesa que ela ganhou no aniversário de 100 anos. Em entrevista ao GLOBO, ela discordou do Caetano, mas avisou que não puxaria a orelha dele, sendo a única que teria esse direito. “É o jeito dele”, disse.

O jeito dele faz bem. Sacode, faz pensar, provoca, incomoda, fica na memória, divide opiniões. Isso é bom, esteja você de que lado estiver.

Caetano vai ser sempre assim. Por que não?

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Espólio do PT

FOLHA DE S. PAULO - 21/11/09

SÃO PAULO - A se confirmarem as previsões, José Eduardo Dutra deve ser eleito amanhã o novo presidente do PT. Sindicalista, senador por Sergipe entre 1995 e 2002, ex-presidente da Petrobras e da BR Distribuidora, ele representa o establishment petista. É o candidato de Lula, de Dilma Rousseff, do atual presidente, Ricardo Berzoini, e do ex (quase tudo) José Dirceu. A chance de um segundo turno contra esse bloco de poder é reduzida.

Seja qual for o resultado, o roteiro do PT para 2010 está traçado. A candidata à Presidência já foi definida à revelia do partido, por quem de fato manda e apita: Lula.
Dilma é quase cristã-nova no PT -ingressou ali em 2001, vinda do PDT-, além de principiante no "grand monde" da política nacional. Até a crise do mensalão, era uma desconhecida do público.

A eleição no PT se tornou irrelevante? No mínimo, bem menos importante do que já foi, como o próprio partido, que, a despeito do seu tamanho e presença institucional, é hoje uma espécie de agregado do lulismo, disputando com os aliados migalhas e favores do grande pai.

O PT nasceu, em 1980, como catalisador de demandas sociais, enraizado no sindicalismo, nos movimentos populares, na igreja e na intelectualidade progressista. Foi instrumento e caixa de ressonância de muitos avanços democráticos.

A conquista progressiva do poder, porém, se confunde com o processo de burocratização do partido, do qual Zé Dirceu foi o artífice e condutor. O PT que patrocina a realpolitik, distante das ruas e incrustado no Estado, esgotou seu papel transformador. Com o mensalão, esgotaram-se também suas reservas éticas. A popularidade de Lula serviu de pretexto para que o partido tentasse reescrever o passado à moda stalinista: "Que mensalão?!".

Por isso tudo, o ritual de renovação da diretoria petista, além de ser pouco importante, tem um forte ingrediente farsesco. Unido, o PT afia os dentes para brigar nos pós-Lula pelo único patrimônio que lhe terá restado: o espólio do lulismo.

MORRE UM FILHO DA PUTA

Ex-prefeito Celso Pitta morre aos 63 anos em São Paulo

O ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (PTB) morreu neste sábado (21) aos 63 anos. Ele estava internado no hospital Sírio-Libanês, onde fazia tratamento contra um câncer no intestino.

Em janeiro deste ano, o ex-prefeito foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino e, desde então, fazia tratamento com quimioterapia no hospital.

Afilhado político do deputado Paulo Maluf (PP), Pitta administrou a Prefeitura de São Paulo no período de 1997 a 2000. Sua gestão foi marcada por uma série de denúncias. A principal delas foi o esquema de corrupção batizado de "escândalo dos precatórios".

Ele acabou afastado do cargo por 18 dias --sendo substituído por seu vice-prefeito, Regis de Oliveira--, mas retomou o cargo em seguida. Concorreu a deputado federal e perdeu em duas ocasiões, mas manteve sua filiação ao PTB.

Em julho do ano passado, Pitta foi preso pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Satiagraha, que investiga crimes financeiros atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. O ex-prefeito e os demais investigados presos foram soltos depois.

A investigação da PF resultou em uma denúncia do Ministério Público Federal, que acusou Pitta por corrupção passiva, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa. Todos os pedidos foram integralmente aceitos pela Justiça Federal.

CLÓVIS ROSSI

Parole, parole, parole

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09


Casos de Honduras e de bases mostram que o Brasil precisa aprender que a diplomacia não pode ser apenas retórica

TÍTULO DA CAPA desta Folha ontem: "Abbas quer que Lula peça ao Irã fim de apoio ao Hamas".
É indiferente ou inócuo Lula atender ou não o pedido do presidente da Autoridade Nacional Palestina. Peça ou não peça algo ao Irã, é óbvio que não haverá mudança de posição. A diplomacia presidencial tem-se caracterizado, recentemente, por uma quantidade de pedidos que não levam a nada.
Não se trata de negar o avanço considerável que o Brasil está tendo na cena internacional. Sou, aliás, testemunha ocular desse avanço, talvez a mais presente, pelo tempo de estrada no acompanhamento de atividades internacionais de autoridades brasileiras.
O problema é que está na hora de criar condições para que as palavras sejam acompanhadas de ações e soluções.
Não basta o presidente ameaçar telefonar "ao Obama" (ou "ao Sarkozy" ou "ao Hu Jintao" ou a quem seja), cada vez que surge um problema, nas negociações do clima, na Rodada Doha, onde for.
Não basta tampouco soltar caudalosos documentos oficiais que nem quem os assina lê na íntegra.
Exemplo: o comunicado conjunto Brasil/Argentina, a propósito da visita desta semana de Cristina Kirchner, tinha 5.713 palavras, sem contar uma declaração conjunta e uma lista de atos.
Boa parte dos parágrafos começa com "reiterar" ou "reafirmar", sinal óbvio de que as partes nada tinham de novo a dizer.
Caso de Honduras, por exemplo: Brasil e Argentina "reiteram sua enérgica condenação do golpe de Estado" e "reiteram", também, que "não reconhecerão o resultado de eleições conduzidas pelo governo de fato".
Bonito, mas e daí? Os dois governos, além de todos os outros das Américas, passaram os cinco meses mais recentes a "reiterar" essas posições inutilmente. Foi preciso que os Estados Unidos entrassem em ação para quebrar o impasse, que, no entanto, se reinstalou porque o Congresso hondurenho fez corpo mole e não aprovou a volta de Manuel Zelaya ao poder.
Não seria o caso, então, de Brasil e Argentina apresentarem alguma proposta, tipo adiamento das eleições, para que possam se dar com Zelaya restituído?

Bases na Colômbia
Vale idêntica cobrança para o caso das bases que os EUA poderão usar na Colômbia, que serviu de pretexto para uma ofensiva da Venezuela (igualmente retórica, aliás). Lula e Cristina Kirchner "reiteraram" que querem garantias de que as bases não serão usadas para operações além das fronteiras colombianas.
Pura retórica: nenhum acordo no mundo dirá algo como "sim, pretendemos doravante atacar nossos vizinhos".
É sintomático que o ministro equatoriano da Defesa, Javier Ponce, tenha admitido, na quinta-feira, que "a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) não conta com os instrumentos necessários" para atuar em situações de crise como a que se criou entre Colômbia e Venezuela.
Por enquanto, acrescentou, é apenas "uma grande vontade política de avançar na integração e na paz". Palavras, palavras, palavras.
por lindas que sejam. É óbvio que diplomacia é também retórica. Mas não pode ser só retórica.

FERNANDO RODRIGUES

Crime e perdão

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09

BRASÍLIA - Um bando de celerados sequestrou o empresário Abílio Diniz em 1989. Pediram US$ 32 milhões para libertar o dono do Pão de Açúcar. Presos, alegaram estar praticando uma ação política. Alguns haviam recebido treinamento de guerrilha em países da América Central. O dinheiro seria para fazer revolução mundo afora.
Mas o Brasil estava em festa com a sua primeira eleição presidencial direta pós-ditadura militar. Era um despautério praticar sequestros de cunho político num país em plena democracia. O delito foi considerado crime comum.
Chamou a atenção entre os dez sequestradores um casal de canadenses. Caucasianos e ingênuos, encarnavam a teoria do bom burguês -riquinhos fazendo revolução num país pobre. Foram parar no Carandiru, condenados a 28 anos.
As famílias do casal contrataram lobistas. Torraram US$ 500 mil. Induziram o Brasil a assinar um tratado internacional com o Canadá: condenados dessas duas nacionalidades poderiam cumprir pena em seus países de origem.
Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, patrocinador do acordo, concedeu o benefício ao casal de canadenses. Os dois foram expulsos do Brasil para obrigatoriamente (sic) cumprir o restante da pena no Canadá. Meses depois, já estavam soltos.
A memória desse episódio é útil agora por causa da agitação sobre o caso do italiano Cesare Battisti, condenado em seu país pela participação em quatro assassinatos. Ele quer ficar no Brasil, dizendo ser perseguido político. O Supremo Tribunal Federal rebarbou a tese e determinou a sua extradição.
Mas o STF deu a Lula o poder final de extraditar o italiano. Se mantiver Battisti no Brasil, não será o primeiro presidente a perdoar um criminoso comum que alega ser preso de consciência. Afinal, o tucano FHC já concedeu liberdade a sequestradores canadenses.

DIRETO DA FONTE

Yes, they can

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/11/09

Cresce, de modo surpreendente, a importância do Brasil para os estrangeiros.
Jamie Dimon, CEO do JP Morgan Chase - único banco americano a surfar na crise - esteve discretamente no País esta semana, para visitar clientes e apresentar seu braço direito, Jes Staley, cuja mulher é brasileira.
E aproveitou para comentário bem-humorado. Disse que, ao pagar este ano os US$ 25 bilhões integrais que lhe emprestou o Tesouro americano, lembrou a Tim Geithner - o dono do cofre - que de um ano para cá o banco emprestou US$ 200 bi ao mesmo Tesouro. "Perguntei a ele: agora sou eu que quero saber onde vocês estão gastando..."

Voando visual

Marcel Telles, da Inbev, não se deixa contagiar pelo extremo otimismo mundial em relação ao Brasil, mas tem poucas dúvidas de como será a economia nos próximos 18 meses: só céu de brigadeiro.
"A não ser que aquela profecia dos maias, de que o mundo vai acabar em 2012, se concretize", brinca.

fácil, a moça

Conhecida socialite-empresária tanto fez no Four Seasons de Nova York que o gerente do hotel avisou à agência de turismo responsável pela reserva: não aceitaria mais a moça.
E se surpreendeu com a resposta rápida: "Nossa, o hotel Mandarin pediu o mesmo."

Sessão da tarde

E sai a primeira cirurgia de câncer de reto feita com robô no Brasil. Com direito a "telespectadores": participantes do Fórum Internacional de Câncer do Reto vão assistir em telão no WTC.
Acontece hoje à tarde, no Hospital Oswaldo Cruz.

Índio quer apito

Raoni aparece amanhã à noite no show de Sting, no projeto Natura About US, na Chácara do Jockey.
Não leva gravador mas vai pedir ao amigo de longa data uma ajuda sustentável: que entre na campanha para barrar a construção da Usina de Belo Monte.

sonho de bola

Washington Olivetto democratizou geral. No seu livro Corinthians x Outros abriu espaço para 15 torcedores fanáticos de outros clubes escalarem o seu "time dos sonhos". Um tira-gosto? Ao lado há dois, que ele recebeu do palmeirense José Serra e do vascaíno Sérgio Cabral (pai).

1. Marcos

2. Djalma Santos

3. Luis Pereira

4. Djalma Dias

5. W. Fiume

6. Rodrigues

7. Julinho

8. Mazinho

9. Aquiles

10. A. da Guia

11. Rivaldo

Lisboa-Salvador

Ricardo Espirito Santo, do grupo Espirito Santo, desembarca hoje em Salvador para batizar obras da igreja da Santa Casa da Misericórdia, tocadas pela fundação filantrópica da família. Jacques Wagner confirmou presença.

onde está wally?

O encontro era da indústria, em Brasília, mas a foto principal que aparece no site do Ministério da Fazenda mostra Guido Mantega todo sorridente... ao lado do tucano Tasso Jereissati.
Escanteado, com ar sério, o representante da indústria, Armando Monteiro Neto.

Papel e parede

O Instituto Moreira Salles abre dia 25 a exposição Norte, com fotografias do francês Marcel Gautherot. E lança na mesma noite livro homônimo, com 72 fotos dele entre 1940 e 1970.
Apresentação de Milton Hatoum e Samuel Titan Jr. - curadores da mostra.

segunda pele

Geisy Arruda não larga do seu vestido da discórdia, grife Revanche, depois do escândalo na Uniban. Tão grudada está que sequer pensa em lavá-lo, segundo confessou à coluna. "Usei 12 vezes."

segunda pele 2

A insistência de Geisy, aliás, tem rendido frutos. No Terminal Rodoviário Barra Funda, em SP, brilha na vitrine vestido muito parecido, da grife Atrevida, R$ 36. Que, segundo se apurou, está vendendo como água.
Dúvida cruel: será que a moça vai querer registrar o modelito no INPI?

Cara Nova
Analu Andrigueti


Ela escreveu o primeiro poema aos nove anos "já com problemas existenciais", diz. Na época, nem imaginava colher os frutos de hoje. Foi só em uma oficina literária, há dois anos, ministrada por Marcelino Freire, que a poeta redescobriu suas habilidades. Por que poesia? "Nasci assim, acho que veio do meu gosto por música." Com o primeiro livro A Matadora de Orquídeas, prestes a sair do forno, Analu junta-se a outros caras-novas poetas em mesa da Balada Literária, hoje, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima.

Na frente

Bruna Lombardi, Dan Stulbach e Eduardo Coutinho embarcaram para a Rússia. Vão abrir, a convite de Ederaldo Kosa, a 2ª Mostra de Cinema Brasileiro. Em Moscou e depois em São Petersburgo.

Nilton Bonder comanda o curso Niggun - A Melodia do Intelecto. Com primeira aula terça, no Centro da Cultura Judaica.

Conversa entre FHC e Francisco de Oliveira fazem parte do lançamento do livro e do DVD Retrato de Grupo, que marcam os 40 anos do Cebrap. Terça, no Sesc Vila Mariana.

Tunga foi um dos artistas que colaboraram com o novo projeto da coleção Bom Livro, que reúne clássicos da língua portuguesa para jovens. Escolheu sua obra True Rouge para ilustrar os Sonetos de Camões.

Benjamin Moser bate papo com Humberto Werneck sobre o livro Clarice. Segunda, na Cultura do Conjunto Nacional.

Ao elogiar vestido vermelho de Marina Silva no Senado, Aloizio Mercadante ouviu: "Vesti em sua homenagem". Bem-humorado, retrucou: "Então amanhã venho de gravata verde".

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA
J. R. Guzzo

É nisso que dá

"O Brasil oficial de hoje faz um esforço concentrado
para mentir. 'Falar com alguma sinceridade é perigoso',
dizia Oscar Wilde. 'Falar com muita sinceridade é fatal'"

Ditaduras, pelo mundo afora e em qualquer época, têm os seus próprios usos, costumes e manias. Há ditaduras, por exemplo, que não gostam de portos, principalmente se são grandes. Cidades com quilômetros de cais de frente para o mar, navios de outros países e muito entra e sai tendem a ser mais abertas, com uma circulação maior de gente, de ideias e de novidades; é mais difícil mantê-las isoladas do resto do mundo, e ditaduras ficam inquietas com isso. Outras gostam de avenidas bem largas, onde possam fazer desfiles e levar a passeio seus tanques de guerra - além de tornarem mais fácil a movimentação da tropa de choque da polícia, em caso de protesto público. Há ditaduras que proíbem a reza do terço, as que determinam quais roupas ou cortes de cabelo os cidadãos podem usar e as que só permitem o acesso da população a livros, filmes, músicas e espetáculos oficialmente aprovados pelo governo. Já houve ditaduras que não deixavam as pessoas ter listas telefônicas, no tempo em que elas existiam; eram consideradas segredo de estado. Os estilos podem variar, mas todos os regimes totalitários, naturalmente, têm coisas essenciais em comum, e essas não mudam nunca. Uma das que mais prezam é o culto sistemático à mentira.

O Brasil oficial de hoje, cada vez mais, faz um esforço concentrado para mentir. Um governo não se transforma em ditadura só porque mente; é preciso fazer bem mais, e bem pior que isso, para chegar lá. Mas quando copia com tanto empenho um dos métodos de ação mais utilizados pelos regimes de força acaba ficando, sem dúvida, mais parecido com eles. Nessa salada entra tudo. Há a mentira pura e simples, em que se negam fatos que comprovadamente aconteceram - ou se garante a existência de fatos jamais acontecidos. Há a ocultação da verdade. Há a propagação de realizações inexistentes. Há as explicações, justificativas e desculpas falsas para erros que não foi possível esconder. Há mentiras bem contadas e mentiras mal contadas, as que vêm disfarçadas como equívocos e as que são ditas com as piores intenções - no fundo, apenas mentiras, todas elas, como a população teve mais uma oportunidade de constatar no recente episódio do apagão geral, que deixou dezoito estados brasileiros sem luz nem energia durante quase seis horas. Diversas modalidades de mentira que fazem parte do repertório habitual do governo foram utilizadas na ocasião, mas ninguém ofereceu um resumo melhor dessa maneira de governar do que a ministra Dilma Rousseff. "Não vai ter apagão", havia garantido a ministra quinze dias antes; disse que isso era "uma certeza". Quando o problema surgiu, ela sumiu. "Ciao", foi tudo o que disse aos jornalistas até reaparecer, dois dias depois, sustentando que não tinha falado em apagão na sua entrevista, e sim que não haveria "racionamento". Mas falou - está gravado na entrevista que deu ao programa Bom Dia, Ministro, da Radiobras, em 29 de outubro. Em seguida, sempre no procedimento-padrão do governo, Dilma deu o caso "por encerrado". E a realidade dos fatos? Foi apagada da memória oficial.

Consta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou muito bravo, na hora do apagão, com assessores que lhe davam informações falsas, jogavam a culpa uns sobre os outros e falavam de coisas que não sabiam. Não se sabe se ficou mesmo, mas se ficou ele terá sentido o gosto do seu próprio remédio. Como exigir, diante do exemplo que vive dando, que os subordinados lhe digam a verdade? Dias antes do apagão, Lula afirmou que o mensalão, um dos episódios materialmente mais comprovados da história política brasileira, não existiu; foi tudo uma tentativa de "golpe" contra ele. Na mesma linha, tem dito que as críticas do ex-presidente Fernando Henrique a ele e a seu governo são "nazistas" - e aproveitou para dizer que o apagão "do Fernando Henrique" foi pior que o seu. (Um levantamento do jornal O Estado de S.Paulo mostra que ao longo do seu governo Lula já mencionou esse fato 55 vezes. Aí já é ideia fixa.) O presidente, além disso, teve mais um belo exemplo do que costuma acontecer quando se vive cercado de bajuladores em tempo integral. Sua prioridade não é dizer a verdade ao chefe; é dizer o que acham que ele quer ouvir. Compreende-se - ninguém faz carreira, nesse ramo de atividade, dizendo as coisas como elas são. "Falar com alguma sinceridade é perigoso", dizia Oscar Wilde. "Falar com muita sinceridade é fatal."

O presidente vai continuar ouvindo mais do mesmo. Não há vocações para o suicídio no Palácio do Planalto.

BRASIL S/A

Calotes políticos

CORREIO BRAZILIENSE - 21/11/09

Lula acumulou dívidas de omissões, agora levadas a protesto, como a da Previdência e a do caso Battisti

A saia-justa vestida pelo Supremo Tribunal Federal no presidente Lula, ao decidir pela autonomia presidencial no caso do militante Cesare Battisti, condenado na Itália e sujeito a extradição, não é diferente da que o senador petista Paulo Paim, com a contribuição de votos da oposição e da base aliada no Senado e agora na Câmara, o faz passar na questão da reforma ao avesso da Previdência.

Ambos os casos são díspares apenas no conteúdo. Na forma, os dois são iguais. Eles revelam que o que pode constranger — contrariar a multidão de aposentados em véspera de eleições, num caso; bater de frente com aliados de esquerda que apoiam a concessão de refúgio a Battisti, ex-terrorista acusado de assassinatos, no outro —, muito pior pode ficar se decisões cruciais são empurradas com a barriga.

Ou omitidas as explicações, que é o mais frequente, especialmente quando envolvem questões de racionalidade econômica e de finanças públicas. O governo se omite não só com a Previdência, deficitária e ameaçada de ter seu rombo ampliado, caso sejam aprovadas medidas como o fim do “fator previdenciário”, um redutor criado no governo FHC para desestimular as aposentadorias precoces.

Tudo que exigiu do presidente decisão sobre assuntos sem consenso e capazes de mexer com sua popularidade, como as reformas da CLT, da Previdência e a Tributária, prometidas em campanha e iniciadas algumas em seu primeiro mandato, foi largando pelo caminho.

Até aqui deu para agradar a todo mundo e driblar as cobranças por definições, graças ao esgarçamento das contas públicas — tratadas ora como elásticas, ora como se os aumentos excessivos dos gastos fossem inofensivos, ora como se preocupações ficais fizessem parte do receituário “neoliberal”, neologismo preferido para condenar os desafetos à execração política e ao mármore do inferno.

Assim já foram chamados os que propunham a Reforma da Previdência para eliminar no espaço de uma geração os déficits crescentes, em especial os atuariais, que vão ampliar-se com a tendência em curso de envelhecimento da população. Lula optou pelo calor da aclamação popular, e hoje, sem a flexibilidade de quando tais problemas eram ainda incipientes, tenta escorar-se atrás de aliados fiéis.

Liderança mal usada

De algum modo tudo isso pôde ser relevado. Para frente talvez não mais. Nenhum dos candidatos à sucessão tem o carisma de Lula, nem terá o espaço fiscal — ocupado pelas decisões de gastos já tomadas por seu governo — para continuar bancando a conciliação política e distribuir indulgências ao eleitor. O distributivismo social pela partilha da carga tributária e a irreprimível expansão dos gastos de custeio da máquina pública em todos os níveis terão de correr a um ritmo menor para abrir terreno ao aumento dos investimentos.

Não são decisões fáceis. Com canetadas não dá, só com negociações exaustivas sob forte liderança política, que Lula conquistou e não pôs a serviço da desobstrução dos impasses econômicos e políticos.

As ações aposentadas

A questão das aposentadorias, por exemplo, há muito tempo requer, se não uma mudança profunda, ao menos ações que dispensem todos os anos o governo e o Congresso decidirem o reajuste. Isso deveria ser automático, como nos planos de fundos de pensão. O segurado também deveria ter conta própria, conforme o modelo dos fundos, de modo a que saiba a qualquer tempo quanto contribui e quanto terá direito a receber ao se aposentar. Se quiser mais, a contribuição terá de aumentar. Os casos sociais, da aposentaria sem contribuição, como para trabalhadores rurais e idosos com mais de 60 anos sem renda, o financiamento teria de vir do orçamento fiscal — não do INSS, e com dotação transparente na contabilidade do Tesouro.

Banana aos políticos

Tais medidas são administrativas, mas nem isso evolui. Por quê? A suspeita é que, dispensada da mediação para acessar seus direitos, boa parte do eleitorado daria banana aos políticos. É claro também que, conhecendo as limitações orçamentárias, não é que cessariam as pressões por mais benefícios, mas o governante seria forçado a explicar as razões de beneficiar uns, não outros, e como o fará.

O sistema só diz o que lhe convém. É o que explica a longevidade de tramóias contábeis criadas para lograr o povo do FMI, que vinha aqui xeretar nossas contas. Coisas como superávit primário para o que é déficit, dívida líquida maquiando a feiúra do endividamento público, em todo mundo medido pelo conceito de dívida bruta, o tal PPI, de projeto piloto de investimento. Hoje, logra-se o eleitor.

Campanha de ilusões

Governar é decidir, não importa a quem desagrade, se foi anunciado assim na campanha eleitoral. Não dá é para prometer fartura, como os candidatos presidenciais começam a fazer, e, depois de eleito, praticar o oposto. Hoje, o presidente toma posse sem saber bem o que o aguarda. Mesmo o continuísmo, pois não só há equívocos de política econômica tornados verdades apenas por antiguidade, como se perdeu no tempo até o motivo dos cambalachos da contabilidade pública que distorcem a compreensão da economia. Mas quem liga? É mais fácil prometer o céu quando para muitos o inferno já é aqui.

PAINEL DA FOLHA

Foco regional

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/11/09


Detalhamento de portaria publicada anteontem pelo governo liberando R$ 1 bilhão para municípios com até 50 mil habitantes, dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, mostra que 70% dos recursos serão destinados às regiões Norte (R$ 162 milhões) e Nordeste (R$ 540 milhões). Os nomes das cidades selecionadas serão anunciados pouco antes do Natal.
O dinheiro é repassado em quatro etapas, conforme o andamento das obras, mas até 90% será liberado antes de as casas serem erguidas. Bandeira da candidatura de Dilma Rousseff (PT), o programa deve movimentar R$ 10 bi em 2010. Em média, os beneficiários têm renda inferior a três salários mínimos.



Plataforma. Do candidato favorito à presidência do PT, José Eduardo Dutra, sobre o aliado preferencial de 2010: "Não tenho ilusão de que o PMDB estará unido em torno da candidatura de Dilma, mas, se eleito, trabalharei para reforçar a relação institucional entre os dois partidos".

Senha 1. A se confirmar a esperada vitória de Reginaldo Lopes na eleição amanhã para a presidência do PT de Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel colocará várias voltas de vantagem sobre Patrus Ananias na disputa pela vaga do partido na sucessão estadual.

Senha 2. Aos mais próximos o ministro do Desenvolvimento Social dá a impressão de já estar em outra, preparando a campanha ao Senado. E Lula até hoje não pediu a Pimentel que desista em favor de Hélio Costa (Comunicações), do aliado PMDB.

Termômetro. A chapa apoiada pela governadora Ana Júlia Carepa deverá perder a eleição do PT no Pará para o grupo do deputado Paulo Rocha. Ela é candidata à reeleição. Ele quer o Senado. Em jogo está uma aliança com o PMDB de Jader Barbalho.

Vai indo... Convidados pelo governador do Paraná, Roberto Requião, a discutir a tese da candidatura própria à Presidência numa reunião hoje em Curitiba, lideranças nacionais do partido já com um pé na canoa de Dilma preferiram sair pela tangente.

...que eu não vou. Íris de Araújo, Michel Temer, Sérgio Cabral, André Puccinelli e Renan Calheiros estão entre os que, ontem, manifestavam a intenção de declinar do convite. No máximo, alguns devem enviar representantes ao convescote de Requião.

Bloco na rua. Lula ganhou uma viola elétrica, ontem em Salvador, e foi homenageado com uma interpretação de "Brasileirinho" na celebração do Dia da Consciência Negra. Em agradecimento, disse que passará o Carnaval de 2010 na capital baiana.

Breu. De Sérgio Guerra (PSDB-PE), sobre a tática do governo para diluir o depoimento de Dilma, despachando uma série de técnicos para falar do blecaute aos senadores : "Quando chegar a vez dela, já apagou a luz de novo".

No cravo. Relator do projeto que altera a Lei de Licitações, Eduardo Suplicy (PT-SP) deverá impor prazo à fiscalização do TCU. A pedido do governo, o senador estipulou limite de 90 dias para as medidas cautelares do tribunal.

Na ferradura. Mas, por solicitação do TCU, Suplicy dirá que os 90 dias só começam a ser contados após o tribunal receber esclarecimentos dos envolvidos na obra.

À iraniana. Mahmoud Ahmadinejad será recebido na tarde de segunda pelos presidentes das Casas do Congresso. Diferentemente do que ocorreu com Shimon Peres, ele não irá ao plenário.

Outro lado. Michel Temer diz que a inclusão na pauta da Câmara da extinção do foro privilegiado foi decidida em reunião com líderes partidários em 13 de outubro.


com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"O verdadeiro apagão parece ter ocorrido no PSDB, que se recusa a entender a realidade dos 70% de aprovação ao governo Lula."

Do deputado PAULO TEIXEIRA (PT-SP), sobre os novos comerciais tucanos, que tratam do recente blecaute e, no final, perguntam ao telespectador: "até quando você vai ficar no escuro?".

Contraponto

Ressaca brava Escalado para reunião às 8h de anteontem sobre a Copa de 2014, Paulo Bernardo (Planejamento) se atrasou e, ao chegar, encontrou o colega Orlando Silva (Esporte) conversando com Gilberto Kassab. À guisa de desculpas, o ministro retardatário disse ao prefeito paulistano:
-Puxa, o Orlando disse que eu podia ficar tranquilo, porque você costuma atrasar...
Mais que depressa, Orlando devolveu a bola:
-Não é bem isso. Na verdade, o Paulo Bernardo amanheceu com dor de cabeça por causa do Palmeiras...
Atlético-PR em sua base eleitoral, o ministro também torce desde pequeno pelo Palmeiras, que na véspera havia perdido para o Grêmio por um desolador 2 x 0.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Quem é o "Filho do Brasil"

"O chefe da propaganda de Benito Mussolini
era seu genro, Galeazzo Ciano. Lula, por sua vez,
tem de se arranjar com Franklin Martins"

Luiz Carlos Barreto, o Filho do Brasil." Ele, Luiz Carlos Barreto, é um personagem um tantinho menos oco do que aquele outro, canonizado em sua última obra, Lula, o Filho do Brasil. Quem é Lula? Eu o resumiria numa única linha: um retirante maroto que sonha em se transformar em José Sarney. Ele é Vidas Secas sem Graciliano Ramos. Ele é Antônio Conselheiro sem Euclides da Cunha. Ele é, citando outra patetice sertaneja produzida por Luiz Carlos Barreto, quarenta anos atrás – os filhos do Brasil repetem-se tediosamente de quarenta em quarenta anos –, o cangaceiro Coirana, sem Antônio das Mortes.

Quem já assistiu a um cinejornal do "Istituto Luce" sabe perfeitamente o que esperar de Lula, o Filho do Brasil. Benito Mussolini, em Roma, conclamando as massas, é igual a Lula, no ABC, imitando Bussunda. O chefe da propaganda de Benito Mussolini era seu genro, Galeazzo Ciano. Lula, por sua vez, tem de se arranjar com Franklin Martins, coordenador do MinCulPop lulista. Mas o fato é que, a cada dia mais, o "filho de Dona Lindu" macaqueia o "filho do ferreiro de Predappio" – só que num cenário mais indigente e embolorado.

Se o crack de 1929 consolidou aquilo que Benito Mussolini chamou de "estado empreendedor", o crack de 2008 fez o mesmo com Lula. A economia fascista tinha IMI e IRI, bancos públicos que forneciam crédito à indústria italiana, privilegiando os aliados do regime. A economia lulista tem Banco do Brasil e BNDES, que desempenham um papel semelhante. Benito Mussolini era celebrado na propaganda oficial por ter "restringido as desigualdades sociais". Lula? Também. Os triunfos italianos nas Copas do Mundo de 1934 e 1938 foram creditados ao Duce, que compareceu aos jogos finais, assim como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 foram creditadas a Lula. Recentemente, Lula arrumou até seu próprio ditador antissemita, que promete repetir o holocausto: o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, recebido com pompa na capital do lulismo. Os "anos do consenso" de Benito Mussolini duraram de 1929 a 1936. Quanto podem durar os de Lula?

Luiz Carlos Barreto, em 1966, produziu um curta-metragem de propaganda para José Sarney. O curta-metragem foi dirigido por um conhecido marqueteiro: Glauber Rocha. Desde aquele tempo, Luiz Carlos Barreto, "o Filho do Brasil", é quem melhor sintetiza o caráter nacional. Durante a ditadura militar, ele tomou conta da Embrafilme. No período de Fernando Henrique Cardoso, ele fez propaganda para a Embratur e para o BNDES. Quando o lulismo foi desmascarado, em 2006, ele disse: "O mensalão não era mensalão. Era uma anuidade. Faz parte da ética política. E a ética política é elástica". A ética cinematográfica é igualmente elástica. E, no caso de Luiz Carlos Barreto, é uma anuidade.

Luiz Carlos Barreto, homenageado no Senado por Roseana Sarney, que o chamou de "grandalhão dócil e amável do cinema brasileiro", agora planeja filmar o romance Saraminda, de José Sarney. É dessa maneira que Lula passará para a história: como uma mera anuidade no intervalo entre o José Sarney de 1966 e o José Sarney de 2010.

BRASÍLIA - DF

Novela das 40 horas

CORREIO BRAZILIENSE - 21/11/09


O governo se mobiliza para barrar a votação das 40 horas semanais, que divide a base aliada naquilo que o projeto tem de mais importante: o seu caráter policlassista. PT, PDT, PSB e PCdoB são a favor da proposta da Central Única dos Trabalhadores e da Força Sindical, de olho nos votos da massa de sindicalizados. O PMDB, o PTB, PP, o PR e o PRB são contra, tendo como alvo as pequenas e as médias empresas do país.

Se a proposta for votada na próxima semana, a possibilidade de aprovação é grande, por causa dos votos de parte da oposição, principalmente do PSDB e do PPS. O DEM fechou questão contra as 40 horas. A consequência imediata da aprovação seria o fim do trabalho aos sábados para quem tem jornada de oito horas cheias, de segunda a sexta-feira. As empresas que quisessem manter o funcionamento na manhã de sábado teriam que pagar horas extras aos funcionários. O pequeno comércio, escritórios de prestação de serviços, oficinas e empresas de construção civil seriam os mais atingidos, pois, na maioria desses casos, a produtividade depende do número de horas trabalhadas.


Transição

O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), tentou costurar um acordo com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), para implantar o regime de quarenta horas até 2016, gradualmente, com reduções anuais a partir de 2010. A proposta foi rechaçada pela CUT e pela Força Sindical. A alternativa do Palácio do Planalto é empurrar a decisão “pras calendas”, para evitar um racha na base.


Catacumba

Bombou na estreia no Festival de Brasília o filme Perdão, mister Fiel, do jornalista Jorge Oliveira, ganhador de dois prêmios Esso de reportagem na década de 1970, um deles por denunciar a existência do então secretíssimo acordo nuclear do governo Geisel com a Alemanha. Em consequência do filme, o Ministério da Justiça está atrás do ex-agente do Doi-Codi Marival Chaves para que esclareça as circunstâncias do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva. Segundo o sargento reformado do Exército, o parlamentar teria sido esquartejado na prisão. É fácil achar Marival: mora em Vila Velha(ES).


Ferida

Ao subir o tom nas declarações contra o governo italiano, o ministro da Justiça, Tarso Genro (foto), pressiona o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a favor do asilo político ao ex-terrorista Cesare Battisti, cuja extradição foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por 5 x 4, com o voto de minerva de seu presidente, Gilmar Mendes. Mexe numa ferida mal-cicatrizada da política italiana ao dizer que Battisti é vítima de setores fascistas da sociedade e do governo da Itália.


Boas-festas/Vem aí mais uma crise na aviação do país. Com o reaquecimento da economia, os salões de embarque e saguões andam lotados e as companhias aéreas começam a tropeçar nas próprias asas. A Infraero tira o corpo fora com a desculpa de que o respeito aos horários é de responsabilidade das companhias, que muitas vezes fecham o check-in na hora marcada, mas os aviões partem com longos atrasos.

Direitos/Advogados cubanos saem do isolamento. O presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Henrique Maués, está em Cuba para a celebração de um acordo de cooperação entre o instituto e a União dos Juristas de Cuba. A ideia é promover o intercâmbio visando tanto à publicação de artigos em revistas digitais e impressas quanto à realização de eventos institucionais.

Voto/ O marqueteiro Álvaro Lins, especialista em monitoramento de campanhas eleitorais e votações, lançou um
site interativo de acompanhamento das eleições de 2010. Qualquer cidadão pode participar: www.votocerto.com.br



Algodão

Escaldado pela confusão que criou ao colocar na pauta a emenda Paim, que equipara o aumento do salário mínimo aos reajustes dos benefícios de aposentados e pensionistas, o presidente da Câmara, Michel Temer (foto), do PMDB-SP, avisou aos líderes que só colocará em votação o regime de 40 horas semanais com um acordo entre líderes. As centrais sindicais não gostaram, pois tudo o que as confederações patronais queriam era engavetar o projeto.


Copa

O Ministério do Turismo planeja investir pesadamente na infraestrutura do país, principalmente em aeroportos, metrôs e rede hoteleira. Pretende oferecer financiamentos às 12 cidades-sedes da ordem de US$ 2 bilhões


Casca-grossa

Jader Barbalho (PMDB-PA), cacique do PMDB na Câmara, não quer saber de conversa sobre candidatura ao Senado. É como falar em corda na casa de enforcado. Cada vez mais está disposto a disputar o governo do Pará contra a governadora petista Ana Júlia Carepa, candidata à reeleição.