terça-feira, setembro 29, 2009

MARY ANASTACIA O' GRADY

Honduras só quer uma eleição


Valor Econômico - 29/09/2009

A melhor forma de sair do problema hondurenho é permitir que o povo tenha uma eleição livre e participativa

Num almoço de recepção oferecido ao presidente brasileiro Lula no começo do ano, uma autoridade brasileira me explicou que o motivo para o Brasil não subir o tom pelos direitos humanos na ditadura de Cuba é que o país não quer intervir nos assuntos internos da ilha. Aparentemente, a política de não-intervenção não se aplica à Honduras democrática.

Na segunda-feira passada, o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya, que foi preso, deportado e legalmente deposto do cargo em 28 de junho, retornou furtivamente a Tegucigalpa e buscou abrigo na embaixada brasileira. Zelaya disse a uma emissora de rádio hondurenha que seu plano de voltar foi elaborado em consultas a Lula e seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O Brasil diz que não teve nada a ver com a infiltração clandestina de Zelaya no país, o que equivale dizer que o ex-presidente hondurenho é um mentiroso. Nesse ponto, muitos hondurenhos concordariam.

Zelaya enfrenta acusações de corrupção pendentes em Honduras, mas o Brasil "não-intervencionista" se recusa a entregá-lo às autoridades. Em vez disso, está permitindo que use a embaixada como um centro de comando, de onde tem convocado seus violentos apoiadores para irem às ruas.

As simpatias de Lula com a extrema esquerda e sua amizade com Fidel Castro são famosas. Na sua terra natal, ele não se envolve na militância esquerdista da década de 70 porque os brasileiros não querem saber disso. Ele é limitado pelas instituições, pela realidade econômica e pela pressão pública. Sua admiração pelo comunismo até arrefeceu um pouco quando a Venezuela e a Bolívia tentaram nacionalizar investimentos brasileiros. No entanto, ele foi obrigado a jogar algumas migalhas na direção do seu manifestadamente esquerdista Ministério das Relações Exteriores, e é aí que Honduras é providencial.

Essa prática de moderação em casa e extremismo no exterior não é exclusiva do Brasil. Muitos presidentes latino-americanos fazem a mesma coisa. O que assusta é que os EUA parecem estar adotando uma política semelhante.

Na semana passada, Tegucigalpa esteve sob o ataque dos partidários de Zelaya. Eles queimaram pneus, destruíram propriedades, saquearam estabelecimentos comerciais e bloquearam estradas. Os EUA, porém, reiteraram seu apoio a Zelaya. Sem apresentar nenhuma análise jurídica, Washington estipulou mais uma vez que um presidente que tentou destroçar a constituição deve ser reconduzido ao cargo, caso contrário o país não reconhecerá a eleição presidencial de novembro.

Porque os EUA ameaçam minar uma eleição livre que muito provavelmente poderia restaurar a paz e a segurança? Hugo Chávez, da Venezuela, pode ter respondido a essa pergunta no seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas na quinta-feira.

Da tribuna, Chávez disse à sua plateia que não sentia o cheiro de "enxofre" como sentiu no ano passado. Isso foi uma referência à sua tirada anterior na ONU, quando chamou George W. Bush de diabo, que deixou no seu rastro um odor sulfúrico. Nesse ano, disse Chávez, havia um cheiro de "esperança".

Obama obviamente conquistou a aprovação do tirano latino-americano e a política dos EUA para Honduras tem sido proveitosa. Mas será que essa grande honra durará mais que um átimo e trará algum benefício? Provavelmente não. Além de poupar Obama das farpas que dirigia a Bush, Chávez não mostra nenhuma inclinação para se tornar um bom vizinho. Ele está envolvido numa maciça escalada militar e até tem falado sobre suas próprias ambições nucleares.

A posição da administração a respeito das eleições hondurenhas é embaraçosa. Alguém pode imaginar que, caso Fidel Castro declarasse amanhã que realizaria eleições livres e convidasse o mundo todo a vir como observadores, os EUA rejeitariam a ideia porque Cuba é uma ditadura militar? Seria um absurdo.

O presidente panamenho Ricardo Martinelli me disse na semana passada em Nova York que acredita que "a única e melhor forma de sair do problema hondurenho é permitir que o povo hondurenho tenha uma eleição livre e participativa, onde eles selecionarão quem quer que acreditem ser o melhor candidato para administrar o seu governo". Martinelli observa que os candidatos nessa disputa foram escolhidos enquanto Zelaya ainda era presidente.

O presidente hondurenho Micheletti concorreu numa eleição preliminar para a escolha de candidatos, mas perdeu para Elvin Santos, que é agora o candidato do partido de Zelaya e que também quer que as eleições sigam adiante. O Panamá já sofreu o problema de ter sua democracia interrompida, diz Martinelli, e foram as eleições que a restauraram.

Martinelli diz - como muitos no governo hondurenho - que foi errado deportar Zelaya. Ele também diz que esperava que as negociações de San José, Costa Rica, produzissem um acordo para solucionar a disputa. Mas ele acrescenta que o que Zelaya está exigindo "não está no âmbito das leis e normas de Honduras". Assim sendo, agora, a eleição é a resposta.

Uma eleição transparente é o caminho para a estabilidade política endossada pelo mundo livre. Que os EUA ameacem esse processo é indecoroso e grosseiro. Será que Obama aprecia as palavras amáveis a esse ponto? Se assim for, estamos todos em apuros.

Mary Anastasia O´Grady é editora do Wall Street Journal.

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BRASÍLIA - DF

Bilhões e bilhões


Correio Braziliense - 29/09/2009



A única coisa certa em relação ao projeto de capitalização da Petrobras que o governo encaminhou ao Congresso Nacional é que o Tesouro injetará mais de R$ 50 bilhões na empresa, da qual hoje detém cerca de um terço das ações. Se esses recursos forem contabilizados como dívida pública, o superávit fiscal será zerado. O projeto de capitalização do governo prevê a cessão onerosa de 5 bilhões de barris de reservas do pré-sal que caberiam à União no novo regime de partilha, em troca da emissão de ações novas da Petrobras no mesmo valor.

Trocando em miúdos: a Petrobras emitirá ações para que a parte que a União comprar dessas ações corresponda ao valor que a empresa precisa lhe pagar pelas reservas que recebeu. Como as reservas novas devem custar o equivalente a 32,2% do bolo de ações emitidas, que é exatamente a participação da União no capital na empresa, também serão emitidas ações em volume proporcional aos minoritários, que têm os outros 67,8%. O dinheiro obtido com a venda irá para o caixa da Petrobras para investimentos. Porém, sempre há um porém, pode ser que os sócios minoritários não se interessem. Nesse caso, o governo ampliaria a participação nas ações e poderia recuperar o total controle acionário da Petrobras, com mais de 50% do seu capital. Será uma espécie de reestatização da empresa, uma sociedade anônima de capital misto controlada pelo governo

FGTS// Uma das 67 emendas do PMDB apresentadas ao projeto do pré-sal prevê a utilização dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a compra das novas ações da Petrobras. Trabalhadores que compraram ações da empresa com o FGTS, no passado, correm o risco de perdê-las se não aumentarem a participação na Petrobras.

Nunca antes



Economista com intimidade no assunto reestruturação de empresas — é um dos sócios do Grupo Fator —, além de larga experiência no setor público, o deputado federal João Maia (foto), do PR-RN, nunca viu tanto zero num projeto de capitalização de empresa como no encaminhado pelo governo à Câmara dos Deputados em razão do novo marco regulatório do pré-sal. Segundo o relator do projeto de capitalização da Petrobras, é impossível prever o que vai acontecer com a composição acionária da Petrobras. “Nunca antes, na história do capitalismo, houve uma capitalização desse porte”, garante.

Barril

Em tese, com o barril de petróleo cotado a US$ 5, se a Petrobras comprar os 5 bilhões de barris do governo, a operação poderia chegar a US$ 78 bilhões. Ou seja,R$ 155 bilhões

Cariri atômico

O governo não pretende limitar os investimentos em energia nuclear à construção da usina 3 de Angra dos Reis. Rico em urânio, o Brasil domina o ciclo nuclear completo e já tem condições de construir uma nova usina com tecnologia nacional. A quarta usina deve ser instalada no Nordeste, aproveitando a exploração de uma nova mina de urânio no município de Santa Quitéria, no Ceará.

Agência

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, quer transformar o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) numa nova agência reguladora para controlar e fiscalizar o setor mineral. Com 1,2 mil funcionários efetivos, o DNPM é uma autarquia reestruturada e fortalecida sob a proteção da ministra, que agora defende a elaboração de um novo marco regulatório para o setor mineral. Dilma foi ministra de Minas e Energia no primeiro mandato do presidente Lula.

Fim de papo



Cotado para concorrer ao governo paulista, o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (foto), do PDT, abortou as conversas para retornar ao PMDB. Apesar do assédio de antigos companheiros, o pedetista esbarraria no acordo do presidente estadual do PMDB, Orestes Quércia, de apoiar a candidatura de um tucano ao Palácio dos Bandeirantes.

Imagem

Sob o escrutínio desde sua indicação a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado-geral da União, José Antônio Toffoli, contratou uma consultoria de comunicação para orientá-lo durante o período de exposição. Ele está sob os cuidados da Companhia de Notícias (CDN), que passou a cuidar também da Petrobras durante o bombardeio pré-CPI do Senado.

Conselhos/ A comitiva de deputados da Comissão de Relações Exteriores, que está de viagem marcada para acompanhar o cerco à embaixada brasileira em Tegucigalpa, foi aconselhada pela embaixada de Honduras em Brasília a não desembarcar no país. O grupo aguarda a concessão de um visto especial do legislativo hondurenho.
Afônico/ Rouco devido a uma operação nas cordas vocais, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), foi alvo de brincadeiras dos companheiros, que atribuíam a perda da voz à campanha precoce pelo governo do Rio de Janeiro. A propósito, Lindberg reafirmou ontem, em Brasília, que será adversário do governador Sérgio Cabral (PMDB) na corrida pelo Palácio Guanabara. Precisa combinar com o presidente Lula.
Goela/ Realizado o desejo de ocupar o Ministério de Relações Institucionais com alguém afinadíssimo com o projeto do PT para 2010 — no caso, Alexandre Padilha —, petistas já falavam ontem em colocar um quadro com as mesmas credenciais no lugar do subsecretário de Assuntos Parlamentares, Marcos Lima. Conhecido como o “homem das emendas”, ele disputou o cargo de ministro com Padilha e perdeu a batalha.

Social/ Líderes do governo no Congresso patrocinam hoje um encontro do novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com deputados e senadores da Comissão Mista de Orçamento (CMO). O objetivo é azeitar a relação com o colegiado, espécie de caixa de ressonância das insatisfações da base aliada.

RODRIGO CONSTANTINO

A hipocrisia da esquerda


O Globo - 29/09/2009

O presidente Hugo Chávez afirmou que “sabia de tudo” sobre a volta do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ao país, e ainda disse ter ajudado a “despistar” as autoridades sobre o seu paradeiro. O governo brasileiro nega ter participado da operação de retorno de Zelaya, mas parece extrema ingenuidade crer que ele simplesmente se “materializou” na embaixada brasileira, junto com dezenas de pessoas. Sem falar que Zelaya esteve no Brasil conversando com o presidente Lula pouco antes. Além disso, a embaixada não ofereceu asilo, e sim abrigo, tornandose um palco para os discursos políticos de Zelaya. Fica claro que o governo brasileiro adotou uma postura ativa em relação aos acontecimentos internos de Honduras.

Tudo isso já seria bastante absurdo do ponto de vista da diplomacia entre nações. Mas aqui eu gostaria de focar no aspecto da incoerência dos discursos e atos dos líderes de esquerda da América Latina. Afinal, são esses mesmos presidentes — Chávez e Lula — que costumam acusar o governo americano, não sem razão, de atos imperialistas quando este se mete indevidamente em assuntos locais dos países latino-americanos. Por que quando o governo americano interfere nos assuntos de outros países é “imperialismo”, mas quando o governo venezuelano faz o mesmo trata-se de uma “luta pela democracia”? O uso de dois pesos e duas medidas também costuma ser chamado de hipocrisia. É quando alguém utiliza critérios diferenciados para julgar, na tentativa de sempre condenar o que não gosta e proteger seus aliados ou interesses. Por exemplo, quando aquele que abraça uma cruzada pela democracia é o mesmo que defende o regime cubano, a mais duradoura ditadura do continente. Ou quando aquele que culpa o embargo americano a Cuba por sua miséria é o mesmo que condena a globalização e chama o comércio com os americanos de “exploração”. Ou ainda aquele que fala em “solução pacífica” enquanto incentiva atos de vandalismo como mecanismo de pressão.

Tanta incoerência, tanta contradição, possui apenas uma explicação possível. Esses governantes esquerdistas não estão preocupados com princípios ou com a coerência, mas sim com a única coisa que eles almejam de verdade: o poder.

Para este fim, eles estão dispostos a aceitar quaisquer meios. A hipocrisia é apenas mais um desses métodos utilizados para a conquista plena do poder.

Ao menos as verdadeiras virtudes ainda são reconhecidas, pois, como disse La Rochefoucauld, “a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”. Isto é, quando Chávez apela para uma retórica em defesa da “democracia”, é porque ele sabe que o povo a valoriza. Não o que ele chama de democracia, a sua “revolução bolivariana”, que não passa de uma ditadura velada que ele tenta exportar para toda a região com seus petrodólares. Mas sim aquela democracia republicana que respeita os direitos das minorias, a propriedade privada, as liberdades individuais e de imprensa.

Ou seja, justamente a democracia que anda faltando na região, cada vez mais vítima de caudilhos autoritários que pretendem governar para sempre um povo de súditos.

Chegou a hora de dar um basta a esta hipocrisia. Um povo que pretende ser livre precisa defender princípios, não seus “camaradas” como se fossem membros de uma máfia. A fidelidade deve ser aos valores comuns, não aos aliados, por interesses escusos. Todo tipo de imperialismo deve ser condenado, independentemente de quem é o imperialista. Caso contrário, tratase de pura hipocrisia.

GOSTOSA


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PARA....HIHIHIHI

ARTISTA

Duas freiras são atacadas por dois tarados, e arrastadas para um beco escuro.

No chão forrado de jornal, eles começam a estuprá-las.

- Perdoai-os Senhor, esses homens não sabem o que estão fazendo- reza uma delas, resignada.

- Só se for o seu, comenta a outra, porque o meu é um verdadeiro artista...

PARA....HIHIHIHI

REZA FORTE

Una solteirona descobre que uma amiga ficou grávida com apenas uma oração que fez na Igreja de uma cidade próxima a Caicó.

Dias depois, a solteirona foi na Igreja dessa cidade e foi ao Padre:
- Bom dia Padre.
- Bom dia, minha filha.Em que posso ajudá-la?
- Eu soube que uma amiga minha veio aqui há algumas semanas e ficou grávida só com uma Ave-maria. É verdade?
- Não minha filha, não foi com uma Ave-maria... foi com um Padre Nosso, mas ele já foi transferido...

colaboração enviada por Roberto

PARA....HIHIHIHI

CARECA

O careca foi ao médico fazer uma consulta.
- Doutor, estou necessitando de um remédio para criar cabelo, essa careca me incomoda muito. É muita gozação. Por favor, me ajude!
- É simples: passe a cabeça na xoxota da mulher quando terminar de trepar que logo, logo, o cabelo vai nascer.

O careca retrucou na hora:
- Desculpe, doutor, isso não vai dar certo: se funcionasse o meu bigode hoje estaria com mais de dois metros...

BENJAMIN STEINBRUCH

Bye-bye, tia Fifi


Folha de S. Paulo - 29/09/2009


Placas em lojas e anúncios em jornais e revistas abusam de termos em inglês, usados também em entrevistas


SOFIA , amiga de tia Tuna, é um barato. Tem 80 anos, completados no mês passado, foi professora de português, é fluente em francês e em inglês desde os tempos do colégio, mas não tolera o que chama de "intromissões exageradas" da língua de Shakespeare no palavreado do nosso dia a dia.
Há tempos tia Fifi, como é conhecida, insiste em pedir que eu escreva um artigo para sugerir "mais discernimento" no uso de termos em inglês. Sempre resisti, até porque, confesso, também me pego às vezes construindo frases com neologismos pouco recomendáveis, oriundos de palavras em inglês. Dias atrás, Sofia estava possessa.
Havia feito compras em um shopping center de São Paulo e irritara-se com o excesso de placas de "sale" nas lojas. Discutiu longamente com Tuna, que tentou, sem sucesso, argumentar que "sale" é uma palavra muito mais curta do que "liquidação" e perfeitamente compreensível para todo mundo que costuma frequentar shoppings.
Para me convencer a escrever sobre o tema, tia Fifi juntou vários recortes de anúncios e artigos de jornais e revistas. Uma fábrica de câmeras de vídeo alardeava a possibilidade de gravar sem fazer "backup".
Uma montadora proclamava seu carro com câmbio "tiptronic system" e "bluetooth", além do design agressivo. Um anúncio de "notebook" vendia a vantagem de rodar filmes "blu-ray". Um fabricante oferecia sua TV ultra "slim" e "eco-friendly". E até uma churrascaria se intitulava "brazilian steakhouse".
O que mais irritou a amiga de tia Tuna, porém, foi uma empresa anunciar que faz "outsourcing" de folha de pagamento, porque tia Fifi teve de ir ao dicionário para descobrir que o anunciante poderia ter escrito "terceirização".
Enquanto manuseava os recortes, Sofia se lembrou de que uma sobrinha, de 55 anos, estava toda animada com o "personal trainer" que contratara havia dois meses. Ela não consegue entender por que essa figura não pode ser chamada simplesmente de "treinador pessoal". Tia Tuna morre de rir com a irritação da amiga e, para provocá-la, diz ter lido em uma revista que agora existem também o "personal stylist", o "personal sommelier" e até o "personal art advisor".
Tia Fifi se incomoda muito também com os neologismos criados a partir de palavras em inglês. Entre os recortes, ela carrega um artigo de um economista que, a certa altura, diz que uma empresa não "performou", palavra que não existe em português e decorre certamente do verbo "to perform" (desempenhar).
Da boca de um ministro, Sofia jura ter ouvido na TV a frase "a empresa bidou". Ela custou a entender o que o ministro pretendia dizer, mas depois descobriu que a palavra derivava de "bid", que significa oferta ou lance em licitação.
Apesar da irritação com que trata desse tema, Sofia se considera flexível. Aceita o uso de uma série de palavras estrangeiras já incorporadas ao linguajar comum. Acha, por exemplo, esnobe quando algumas pessoas usam a palavra "sítio" no lugar de "site" ou "rede mundial" em vez de "internet". Argumenta que "site" é mais apropriado, porque "sítio", no Brasil, tem um significado muito particular, de pequena propriedade rural, embora em Portugal se use a palavra comumente com o sentido de "lugar". "Sítio que conheço é o do pica-pau amarelo", diz, voltando ao bom humor.
Tia Fifi, fiz o possível. Tá aí o artigo. Bye-bye!

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Bancos: secos e molhados


Folha de S. Paulo - 29/09/2009


BC faz ajuste no compulsório mas não "aperta" oferta de dinheiro; bancos ainda não emprestam como em 2008


O BANCO CENTRAL soltou, no início da noite de ontem, pequenas modificações no "compulsório". "Compulsório" é o termo corrente para o dinheiro que os bancos têm de deixar "estacionado" no BC -uma parte dos depósitos à vista, a prazo (como um CDB) etc. tem de ficar sem uso, de modo a limitar a capacidade que os bancos têm de emprestar e de criar moeda.
Em setembro de 2008, o BC relaxou parte do compulsório. Isto é, permitiu que os bancos recolhessem menos dinheiro para suas contas no BC, preenchidas certas condições.
Naquele momento que se seguiu à quebradeira no mercado americano, bancos pequenos brasileiros, diz-se, estavam com dificuldades de fechar as contas no final do dia (honravam seus compromissos, viam seu "caixa" se esvaziar, mas não conseguiam captar dinheiro).
Havia boatos de corridas (saques e resgates em massa) até a respeito de bancos médios e grandes. O BC, então, irrigou o mercado. Em três meses, o total de recolhimentos compulsórios caiu de uns R$ 260 bilhões, em agosto de 2008, para R$ 200 bilhões, no início de janeiro.
Os bancos, enfim, não voltaram a emprestar, mas ninguém quebrou, o que é muitíssimo importante. A quebra de um microbanquinho, mesmo de um tamborete, teria provocado tornados arrasadores num sistema financeiro basicamente arrumado.
O que o BC fez ontem foi, aparentemente, ajustar o comprimento da barra da calça do compulsório. No ano passado, o BC permitiu que os bancos maiores recolhessem menos dinheiro desde que comprassem carteiras de bancos pequenos (isto é, dessem dinheiro aos bancos menores em troca dos empréstimos que esses haviam feito. Ou seja, que comprassem um fluxo de renda).
"Banco menor" era aquele com patrimônio de referência de até R$ 7,5 bilhões. Agora, o abatimento do compulsório vale para compra de carteiras de bancos com patrimônio de até R$ 2,5 bilhões.
O resto foi ajuste menor. Na verdade, o Banco Central disse que a situação está praticamente normalizada, apesar de deixar a calça um tanto folgada -prorrogou, por exemplo, para março de 2010 o relaxamento do compulsório que vencia no final do mês.
A dúvida que fica é o que o BC vai fazer do compulsório quando tanto o crédito e a economia voltarem a crescer de modo relevante. Vai usar o compulsório como linha auxiliar da política monetária (a fim de reduzir o crédito)? Por ora, não deu sinal nenhum disso. Na prática, os bancos estão com mais bala na agulha do que antes da crise. Emprestam menos (pelo menos até julho) e o compulsório ainda está relaxado.
Um estudo do economista Márcio Nakane, da Tendências Consultoria, divulgado ontem para clientes, mostra que a exposição dos grandes bancos ao crédito diminuiu de dezembro de 2008 (de crise braba) para junho de 2009 (Nakane usa como medida a proporção entre operações de crédito e ativos operacionais nessas duas datas, comparadas a setembro de 2008, antes da crise).
Os bancos também estão mais "líquidos" do que em setembro de 2008 (usam uma proporção menor do "dinheiro à disposição" para fazer negócios, como empréstimos).

PARA....HIHIHIHI

LULA E JESUS CRISTO


Lula discursava para dezenas de milhares de pessoas no Anhangabaú em São Paulo , quando, de repente, aparece Jesus Cristo baixando lentamente do céu.


Ele chega ao lado de Lula, e lhe sussurra algo ao ouvido.

Lula, dirigindo-se à multidão, diz:

- Atenção companheiros...! O companheiro Jesus Cristo aqui, quer dizer algumas palavras para vocês.

Jesus pega o microfone e diz:
- Povo brasileiro, este homem que tem barba como eu, não lhes deu pão, da mesma forma que eu fiz?

O povo responde:
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim !
- É verdade que, assim como eu multipliquei os pães e peixes para dar de comer a todos, este homem inventou o Fome Zero para que todos pudessem se alimentar?
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
- É verdade que ele assegurou tratamento médico e remédios para os pobres, assim como eu curei os enfermos?
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
- Ele foi traido por companheiros de partido, assim como eu fui traído por Judas?

O povo gritou ainda mais forte:
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
- Então, o que é que vocês estão esperando para crucificar esse filho da puta???

LUIZ GARCIA

A crise na ONU

O GLOBO - 29/09/09


A posição oficial do Brasil sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas é de que ele “perdeu relevância” — palavras textuais do presidente Lula em discurso na Venezuela sábado passado.

Não é bem assim: se o conselho fosse hoje menos importante, não faria sentido o Brasil e outros países brigarem como brigam por um lugar entre seus membros permanentes.

E importante ele continua sendo: é o único órgão internacional que pode autorizar a invasão de qualquer país por tropas sob a bandeira da ONU.

O problema com o conselho é outro. Ele reflete a realidade política do momento em que foi criado e tem como membros permanentes os principais (mas não todos) aliados na Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, França, Inglaterra, China e Rússia. Os outros dez assentos são partilhados, em rodízio, por todos os outros países membros da ONU. E só os cinco sócios permanentes têm o direito de vetar qualquer proposta de representantes do resto do planeta.

Relevante, sem dúvida alguma, ele continua sendo. O que, na verdade, agrava a injustiça associada aos privilégios do assento permanente e do veto. O absurdo dessa situação tem até expressão financeira, já que Japão e Alemanha continuam pagando seus pecados da guerra de mais de 50 anos atrás — embora juntos contribuam financeiramente mais do que quase todos os outros membros da organização somados. O absurdo também tem expressão geográfica: três regiões não estão representadas no grupo privilegiado: África, América do Sul e Austrália.

A discussão sobre o problema começou em 1979. Mas só em 1993 foi criado um grupo de trabalho para discutir a estrutura do Conselho de Segurança. Há diversas propostas na mesa. Todas sugerem uma representação mais equitativa e o aumento do número de membros: o número mais citado é de 25. Mas o problema mais importante não está nisso, e sim na questão do veto.

O poder de vetar qualquer proposta de outros países, reservado aos cinco sócios fundadores, reflete uma realidade — a do após-guerra na década de 40 — que simplesmente não existe mais. E mesmo naquele tempo não se poderia dizer que os membros permanentes representavam governos com sólida tradição democrática, já que entre eles estava o regime totalitário soviético. O Conselho de Segurança foi formado simplesmente pelos mais fortes aliados na luta contra o nazismo.

De qualquer maneira, o problema que existe hoje não é, ainda, falta de relevância, mas de perda de representatividade. E uma organização que se propõe a zelar por paz e prosperidade no planeta não tem escolha: ou representa todos os seus habitantes de forma impecavelmente democrática ou caminha para um processo de desmoralização que a ninguém interessa.

CONFIDENCIAL

Brasil em alta

AZIZ AHMED

JORNAL DO COMMÉRCIO - 29/09/09



A perspectiva de aumento da oferta brasileira de gás natural para 187 milhões de metros cúbicos, em uma década, atraiu um número recorde de fabricantes de equipamentos para a Rio Pipeline, feira do setor dutoviário que reuniu mais de 300 empresas de 30 países, entre os quais EUA, Inglaterra, Rússia, Canadá e Alemanha. Os investidores estrangeiros presentes ao evento tiveram acesso a dados que reforçam o otimismo com o País. Presidente da Transpetro, Sergio Machado lembrou que os investimentos do sistema Petrobras, de US$ 174 bilhões até 2013, asseguram demanda em alta para a indústria naval e de bens de capital. Ele citou a experiência do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) da Transpetro para detalhar a política do Governo federal: comprar no Brasil a maior quantidade possível, mas pagando preços internacionais e incentivando a criação de uma indústria local competitiva. A visão foi muito elogiada pelo palestrante de abertura do evento, o presidente do Conselho de Energia da Firjan, Armando Guedes Coelho. Ex-presidente da Petrobras, Guedes Coelho ressaltou que a escala de investimentos do pré-sal pode capacitar os fabricantes brasileiros para competir internacionalmente. "Dizem por aí que Deus é brasileiro. Deve ser mesmo, pois de 70% a 80% do petróleo do pré-sal estão na costa brasileira, ficando 20% a 30% para o litoral africano. E quem se credenciar para fornecer os equipamentos por aqui estará apto a competir em todo o mundo. O Sergio Machado está certo. A política da Petrobras ao longo do tempo tem sido esta", concluiu.

Sem graça

A propósito, a ausência sentida da diretora de gás e energia da Petrobras, Graça Foster, na Rio Pipeline, tem uma explicação que intriga os bastidores do setor, no qual ela goza de respeito e admiração. Uma das idealizadoras, Graça não foi colocada como chairwoman do evento - espécie de madrinha - simplesmente porque, em tais clubes dos Bolinhas, o cargo e a honraria contemplam somente os homens: chairman. O presidente da Transpetro, que de bobo não tem nada, ao assumir a paternidade do convescote, criou um clima literalmente sem graça.

A regente do Senado

Crises institucionais à parte, o Senado possui, desde 1996, um coral composto por 45 servidores. A regente do grupo é a maestrina Glicínia Mendes. Segundo o site Contas Abertas, Glicínia vai receber R$ 8,7 mil do Senado para reger o coral da Casa entre 8 de novembro e 31 de dezembro.

O exterminador da Casa

Tem mais. O Senado contratou o apicultor Eduardo Honorio de Campos Ávila para eliminar as abelhas que andam frequentando os gabinetes da Casa. Pela tarefa, Honorio receberá R$ 1,2 mil e ainda contará com a ajuda dos bombeiros.

Honduras alerta a Defesa

O Ministério da Defesa recebeu "ordens superiores" para elaborar um "Estudo de Situação" para o emprego de forças brasileiras em Honduras, se o Conselho de Segurança da ONU avaliar que tal medida de "imposição da paz" é necessária. Segundo Jorge Serrão, os escalados para tal missão de planejamento estratégico foram os profissionais que tiveram o know how de atuar no Haiti.

Faz sentido

O procurador da República José Robalinho Cavalcanti pediu que o Congresso reveja o artigo que extingue a prisão preventiva para pessoas acima de 70 anos, prevista no PLS 156/2009, que reformula o Código de Processo Penal. E argumentou: "Já vejo o recrutamento em massa de velhinhos e velhinhas para servirem de mulas do tráfico de drogas."

Ladrão sujismundo

Ontem, às 10h, um rapaz pegou uma dessas caçambas de lixo laranja, da Comlurb, no calçadão da Avenida Sernambetiba, na Barra. Despejou o lixo na praia e levou a caçamba para casa, em plena luz do dia.


PULE DE DEZ. O mercado dá como certa a venda do grupo Doux para o grupo Marfrig.

CORRETOR. Encabeçando chapa única, Egydio Andreza será eleito, hoje, presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Rio.

DE NOVO. A Approach reassumiu a assessoria de imprensa da CSU, maior processadora e administradora de meios eletrônicos de pagamentos independente da América Latina.

ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR

Riscos da intolerância religiosa


O Estado de S. Paulo - 29/09/2009
Há alguns anos elegeu-se presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo um deputado estadual evangélico. Seu primeiro ato foi de intolerância religiosa: sem um mínimo respeito pelo sentimento de fé das demais pessoas, retirou do plenário a imagem de Cristo, que ali estava desde a inauguração do prédio.

A reação de inconformismo dos demais deputados, como também de alguns milhões de brasileiros feridos no seu sentimento religioso, desaguou numa demanda judicial, que só terminou quando o referido deputado deixou a presidência da Assembleia e a imagem de Cristo voltou ao plenário.

Pouco tempo depois, um pastor do mesmo credo, durante programa de televisão, começou a dar chutes na imagem de Nossa Senhora Aparecida, com o propósito de demonstrar a sua inexistência e que nada lhe aconteceria se assim agisse.

Agora, quem sabe movido pela mesma e lamentável intolerância religiosa, um promotor de Justiça ingressou com ação judicial por meio da qual pretende retirar de todas as repartições públicas de São Paulo as imagens de Cristo ali presentes, algumas já há mais de um século.

O sentimento religioso é de ordem subjetiva e varia de indivíduo para indivíduo. Seja qual for a preferência externada, quer majoritária, quer minoritária, deve sempre ser respeitada. O desrespeito leva ao radicalismo e este, todos nós temos visto, conduz a ações violentas, que servem apenas para tirar a vida de pessoas e tornar sangrentas as diferenças religiosas.

Um dos argumentos utilizados para justificar a ação é o de que as pessoas não-católicas podem sentir-se constrangidas com a imagem de Cristo em repartições e que o Estado não deve sofrer influência da religião. É o velho princípio do Estado laico.

Nunca se teve notícia de que um imposto tenha sido ou deixado de ser cobrado em função da presença de Cristo na repartição ou de que um réu tenha sido ou não condenado nos tribunais por sua influência. A imagem de Cristo exprime sentimento religioso dominante há mais de 2 mil anos e faz parte de tradição merecedora de respeito.

Sua retirada, na forma pretendida, poderia ter como consequência o início de indesejável radicalismo religioso, nunca registrado anteriormente. Acentuar diferenças entre católicos e não-católicos pode levar a algo imprevisível e perigoso, enfim, reflete ação impensada, juvenil e, sobretudo, tola.

A primeira Constituição brasileira, datada de 25 de março de 1824, considerava a pessoa do imperador inviolável e sagrada, além de não estar sujeito a responsabilidade alguma. Ao assumir o cargo, o imperador deveria fazer um juramento que começava assim: "Juro manter a Religião Catholica Apostólica Romana..." Assim deveria ser porque a Constituição dizia, no seu artigo 5º: "A Religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império..."

Vê-se o predomínio, naquela época, de uma única religião junto ao Estado. Mas, com a Constituição de 24 de fevereiro de 1891, que já tinha o dedo de Ruy Barbosa, a liberdade religiosa foi reconhecida e desvinculada do Estado, reconhecendo-se a todas as igrejas personalidade jurídica, permitindo aquisição de bens e sua administração.

O artigo 7º foi bem claro: "Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção official, nem terá relações de dependência com o Governo da União ou dos Estados." E ainda: "A representação diplomática do Brasil junto à Santa Sé não implica violação deste princípio."

Esse princípio foi reproduzido na Constituição de 1934 e nas que se seguiram, ficando, de lá para cá, livre e desvinculado do Estado qualquer culto ou religião.

Isso equivale a dizer que todas as preferências religiosas podem ser externadas e que não se confundem religião e Estado. O direito de credo está expresso na Carta Magna, mas, insisto, a liberdade religiosa não pode ser confundida com o desrespeito de uma religião em relação a outra. A intolerância leva ao fanatismo e por isso mesmo não se pode admiti-la.

Fundado numa tradição milenar, que está nas raízes de nosso país, o cristianismo se fez sentir em inúmeras repartições públicas, com a fixação da imagem de Cristo nas paredes de salões nobres, tribunais e até mesmo simples repartições públicas. Tentar tirá-las seria o mesmo que fazer católicos passarem a dar chutes nas igrejas evangélicas por não adotarem esse símbolo de fé. É algo claramente incendiário, além de pouco inteligente.

Tal intolerância é surpreendente e ocorre no momento em que surge em São Paulo um movimento antagônico, de plena integração de todas as religiões. Realmente, sob a inspiração de um ensinamento de Mahatma Gandhi, o de que política e religião podem caminhar juntas, foi criado no Auditório Franco Montoro da Assembleia Legislativa de São Paulo o Instituto Mahatma Gandhi, que reuniu, de forma inédita, os representantes de 15 diferentes doutrinas religiosas, entre eles judeus, maometanos, budistas, umbandistas e outros, e até mesmo da Ordem dos Advogados.

Seu objetivo é atuar para maior compreensão entre as diferentes doutrinas e programar ação política conjunta em favor de todas. Um exemplo citado de benefício coletivo foi a lei, de autoria do deputado Campos Machado, que permite aos religiosos que guardam o sábado fazer provas de concursos públicos após as 18 horas ou no dia seguinte.

Busca, enfim, que as diferentes religiões, com suas particularidades e dificuldades próprias, se compreendam e atuem conjuntamente perante o Estado. É o contrário do que se pretende fazer com a imagem de Cristo nas repartições.

GOSTOSA


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MÍRIAM LEITÃO

Aliados estranhos

O GLOBO - 29/09/09


O presidente Lula joga suas fichas numa proposta jamais testada, a da transferência de votos na área federal. Desde a redemocratização brasileira, os presidentes nem tentaram transferir votos. Mas essa não é a única coisa estranha dessa campanha. O governador José Serra que está há meses à frente nas pesquisas é do único partido que tem mais de um pré-candidato.

Quem transferiu votos numa campanha presidencial? Em 1989, o então presidente José Sarney nem tentou ter candidato. Era tão impopular que todos eram oposição. Em 1994, o então presidente Itamar Franco mal entrou na campanha.

O Plano Real foi o eleitor principal. Em 2002, o ex-presidente Fernando Henrique e o candidato José Serra mantiveram distância, até porque Serra achava que muita proximidade o prejudicaria. De qualquer maneira, com apoio ou sem, ele perdeu. Nem Juscelino fez o sucessor.

Pode-se dizer que ninguém chegou a doze meses das eleições com um índice de aprovação tão alto quanto o presidente Lula. Mesmo assim, a transferência de votos numa eleição é um dos fenômenos mais difíceis de entender, e no âmbito federal não houve desde a redemocratização.

Nossa democracia teve, na atual fase, apenas cinco eleições presidenciais. A que ocorrerá daqui a um ano será a sexta.

Nos governos estaduais e municipais tem havido casos de um governante eleger um sucessor com pouca ou nenhuma experiência nas urnas. Orestes Quércia elegeu Luiz Antônio Fleury, Cesar Maia elegeu Luiz Paulo Conde. Em geral, o escolhido frustra a expectativa do padrinho. Portanto, se Lula pensa em eleger o sucessor numa espécie de mandato tampão para voltar em 2014 entra em outra empreitada arriscada. O presidente Hugo Chávez interpreta que, com Dilma, Lula vai sair sem sair do governo, como fez o presidente Néstor Kirchner.

Dos presidentes desde a democratização, Lula é o único que decidiu se empenhar para fazer o sucessor, a tal ponto que escolheu a candidata Dilma Rousseff sozinho, armou palanque muito antes da hora e tem transformado qualquer evento governamental, do PAC ao pré-sal, numa oportunidade para promovê-la. Lula tem feito campanha extemporânea e usado de forma explícita a máquina pública para fins eleitorais, mas a
Justiça Eleitoral não parece se incomodar com nada disso.

Ontem, na posse do novo ministro das Relações Institucionais, Lula defendeu a distribuição de cargos para “unir a base”.

A base do palanque, claro.

O novo ministro começou mal: esqueceu de citar Dilma.

Levou bronca.

A conhecida obsessão do presidente de transformar a eleição num plebiscito entre seu governo e o governo anterior é uma ideia também estranha. Primeiro porque o eleitor médio não tem essa memória e nem está preocupado com esse Fla-Flu; segundo porque ele manteve a política econômica do governo anterior e também várias ideias e projetos da área social; terceiro porque o Brasil tem mais o que fazer do que discutir o passado.

O PSDB criou outra esquisitice da campanha. É o primeiro em todas as pesquisas de opinião — quando o candidato é José Serra —, mas é o único partido que mantém a indefinição sobre quem será o candidato.

Até Marina Silva que foi a última a entrar na précorrida já se define como a “pré-candidata prioritária do Partido Verde”, onde ninguém apareceu para rivalizar com ela. Também não há segundo no PSB para brigar com o deputado Ciro Gomes e nem mesmo no PT, que aceitou a imposição do nome da candidata pelo presidente Lula.

Ideias fora de propósito circulam insufladas pelos assessores presidenciais, ou por livre associação de ideias sem base. Uma que ocupou bastante espaço foi a de que o deputado Ciro Gomes iria, com a ajuda de um GPS, disputar o governo de São Paulo. Por que o deputado faria isso se essa é sua melhor chance numa disputa presidencial? Com recall de outras campanhas, com mais experiência, diante de uma candidata governista inexperiente, com a informação dada pelo eleitor de que não quer fazer um plebiscito, por que ele não atenderia à sua conhecida e legítima ambição de tentar ser presidente? Outra ideia que circula é de que ele é o Plano B do presidente Lula.

Será que o PT aceitaria apoiar um candidato que não fosse do próprio PT? Quando foi que o partido fez isso? Ciro Gomes com declarações fortes contra a aliança entre PT e PMDB neste fim de semana já mostrou que está buscando espaço no meio. Longe de José Serra, que ele acusa de “feio por dentro e por fora”, e da aliança PT-PMDB que ele condena por ser “moral e intelectualmente frouxa”.

Marina Silva tem mais chances do que vários analistas consideraram num primeiro momento. Mas ainda não está claro como o PV pretende superar suas fragilidades: pouco tempo de TV, pouca capilaridade partidária, falta de estrutura para uma campanha presidencial. É bem verdade que o Brasil é tão estranho que o partido com mais tempo de TV e mais capilaridade em todo o território nacional é o PMDB, que não tem candidato à presidência e se divide sobre quem apoiar.

Dividido, o PMDB sempre esteve sobre qualquer assunto, em qualquer votação, em qualquer campanha.

O presidente Lula trabalha para tornar viável a aliança com o PT. Os dois partidos são adversários em vários estados e para ilustrar o clima de entendimento entre eles basta lembrar a natureza exótica da ameaça feita pelo governador do Mato Grosso do Sul, do PMDB, ao ministro Carlos Minc, do PT. Falta muito tempo para eleição, é a temporada das esquisitices.

TODA MÍDIA

Estado de sítio no "El País"

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09


Na manchete do UOL à tarde e até o início da noite, "Governo golpista fecha rádio e TV". Também no francês "Le Monde" e outros, "Golpistas suspendem as liberdades públicas".
Já no G1, da Globo, "Zelaya foi irresponsável, diz americano na OEA". Foi também a manchete, depois, no "Jornal Nacional". E no hondurenho "El Heraldo", "EUA acusam Zelaya de agravar crise".

Mais um pouco e o UOL deu que o Congresso reage e "pede o fim do estado de sítio".

BARRICADA
Na home do "New York Times" e hoje em papel, "Honduras fecha dois órgãos de notícias", em reportagem da enviada Elisabeth Malkin. Abrindo o texto, "agentes policiais mascarados se empoleiraram nas janelas de uma estação de TV e soldados formaram uma barricada em torno do escritório de uma estação de rádio depois que o governo fechou ambas por tempo indefinido". O jornal americano voltou a descrever a derrubada de Zelaya como "o golpe de 28 de junho".

SERRA & SARNEY
Na manchete do Globo Online, à tarde, o governador de São Paulo, José Serra, diz que o governo "se meteu em trapalhada", aliás, "tremenda trapalhada", e "até o aliado José Sarney criticou".

TESTE PARA TODOS
Sob o título acima, a coluna de política externa do "Valor" descreveu como "diplomatas estrangeiros assustaram-se que, entre os críticos, algumas vozes chegam ao ponto de defender o golpe".

O FAVORITO
Abrindo o noticiário internacional do "NYT" de ontem (àcima), "Para o Brasil, candidatura olímpica é sobre seu papel global". O correspondente no Rio diz que, para os líderes do país, "vencer a disputa pelos Jogos seria momento de transformação para o Brasil, uma afirmação de sua importância global ascendente e uma injeção na autoestima dos cariocas, 85% dos quais apoiam a candidatura, segundo uma pesquisa recente do Comitê Olímpico Internacional".
O site da "Economist" anota que "para muitos o Brasil é o favorito" e, "se o Rio vencer as três cidades do mundo rico, Lula verá como um reconhecimento".

ANTICAMPANHA
De domingo até o fim da tarde de ontem, a home page de Matt Drudge destacou suposta censura à Fox de Chicago, que ouviu moradores que rejeitam os Jogos na cidade e, como na foto do site, preferem a escolha do Rio

POR OUTRO LADO
Jon Lee Anderson, sob o título "Gangland", terra de gangues, descreve na "New Yorker" o domínio do Rio pelo tráfico, que emprega "cem mil em estrutura que mimetiza o mundo corporativo" ou coisa pior. "O Estado é ausente, as gangues impõem o sistema de justiça." O site Globo Esporte postou que "a revista americana faz campanha negativa na semana" decisiva. Até o blog Radar falou em "guerrilha americana".

A MÍDIA DE OPINIÃO VENCEU
Após deixar passar um escândalo na organização liberal Acorn, noticiado pelo conservador Andrew Breibart e ecoado por Drudge, Rush Limbaugh e a Fox News, o "NYT" anuncia a nomeação de um "editor para monitorar a mídia de opinião". Em suma, "ficar ligado nas questões que dominam Fox News, radialistas" etc.

JANIO DE FREITAS

Os erros, ou nem tanto

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/09/09


OS GOLPISTAS DE Honduras cometeram seus dois primeiros erros táticos. Um, ao empurrar os diplomatas acomodados na Organização dos Estados Americanos, como representantes dos nossos países, para a possível admissão de alguma atitude em defesa da entidade.
Considerados os seus fins, os golpistas vinham agindo com bastante habilidade tática, e por isso mantendo os países adversários do golpe entre acuados e omissos. Mas barrar a entrada de funcionários da OEA, que preparariam a visita de uma comissão de diplomatas assim impedida também, soa como um despertador na organização caída em letargia desde o fim da Guerra Fria.
Um erro seguido de outro é, em geral, tomado como indício de perda de controle. Mas tanto pode ser isso quanto o oposto: a atitude mal pensada por excesso de confiança.
As duas interpretações cabem, a gosto do freguês, no segundo erro dos golpistas hondurenhos, simultâneo ao outro. É o ultimato dado ao governo Lula para definir em dez dias (agora oito), nos termos das convenções internacionais, a situação em que o derrubado Manuel Zelaya se abriga na embaixada brasileira. Ultimato acompanhado da ameaça de cassação das imunidades e outros direitos da embaixada, o que implica ameaças piores.
Em termos políticos, Lula está posto sob pressão ainda maior do que a OEA. É o seu prestígio internacional, joia maior das suas atuais vaidades, que está posto em xeque pelos hondurenhos do golpe.
O risco de uma situação ainda mais complicada é real, caso a OEA se mantenha em reuniões, consultas, sondagens, emissários inúteis e outras habituais protelações. E o Conselho de Segurança da ONU, já enrolado com o Irã e a Coreia do Norte, ainda ache que o impasse entre Brasil e Honduras vale apenas uma nota. Posição do conselho (e, nele, em especial dos Estados Unidos) que sugere uma subjacente represália à insistência do Brasil em integrá-lo, e em ver esse poder mundial reformado e compartilhado por mais países.
A situação de Zelaya na embaixada depende muito dos pressupostos políticos de quem a considere. Os opositores ao governo Lula, os de visão mais convencional e conservadora, são incessantes na opinião de que Zelaya fazer política de dentro da embaixada "é um absurdo", "transformou a embaixada na casa da mãe joana", e por aí. Mas se Zelaya é o presidente legítimo de Honduras e está na embaixada apenas na condição de hóspede, como considera o governo Lula, então o absurdo estaria em tolher-lhe a palavra e o direito de usá-la em defesa da causa democrática.
Censura que, de sua parte, o governo golpista aprofundou agora, cassando por oposição ao golpe a Rádio Globo, claro que a de lá, e um canal de TV. Seria o suficiente para avolumar-se uma campanha contra os novos inimigos declarados da liberdade de informação e opinião. Mas o antigolpismo é seletivo, como ensinou a imorredoura doutrina da Guerra Fria. Então, o que podia ser o terceiro erro tático é, na prática, só mais uma atitude lógica, do ponto de vista do poder golpista.

DIRETO DA FONTE

A economia está quase lá

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/09/09

Reflexo de uma melhora consistente no quadro da crise econômica, a agenda de Luciano Coutinho, do BNDES, está um pouco mais leve. Durante quase um ano ele trabalhou mais de 16 horas por dia, saindo do banco depois da meia-noite. "Agora as coisas se tranquilizaram", contou à coluna.
A demanda de recursos do banco voltou ao nível pré-crise? "Ainda faltam uns 15%", contabiliza. Os setores de máquinas e equipamentos vão bem, os de material de construção melhor ainda, mas falta recuperação maior na indústria manufatureira.
"Ela certamente virá."


Chute à distância

O futuro do estádio do Pacaembu começa a ser decidido hoje. Walter Feldman, do Esporte, recebe dos vereadores o projeto para que o estádio passe para a iniciativa privada. O Corinthians desistiu? "Não, mas podem entrar no projeto um banco ou até uma marca de tênis", desconversa.
Já para se tornar uma arena digna de receber a Copa de 2014, ele precisaria de pelo menos R$ 200 milhões.

Sem curvas

Pressões à parte, o Itamaraty avisa: não pensa em mudar sua estratégia em Honduras. Vai continuar defendendo volta de Zelaya ao poder.

Cartão amarelo

A confusão em Honduras bateu na Copa do Mundo. Os EUA, que suspenderam a ajuda de US$ 30 milhões ao país, não querem ir dia 10 de outubro jogar em Tegucigalpa, pelas eliminatórias.
Pedem que a FIFA transfira o jogo para El Salvador.

Estrelas verdes

PV anuncia no fim da semana, em Brasília, a lista de novos filiados - gente disposta a ajudar a candidatura de Marina Silva.
Garante que tem pesos pesados dos meios empresariais e artísticos.

Cruzeiro da fé

Myrian Rios segue os passos de Roberto Carlos. Ao lado do padre Fábio de Melo, será a estrela do 1º Cruzeiro Católico do Mundo.
O Navegando com Nossa Senhora zarpa em fevereiro.

Gringocóptero

Nem bem começou a construção da casa, a Petrobrás está comprando copos de cristais. Adquiriu 50 helicópteros para usar nos projetos do pré-sal.
Nenhum deles nacional.

Multiplicação de pães

Irving Picard, o advogado das vítimas de Bernard Madoff, tem um probleminha a resolver. Nas suas contas, 2.336 investidores perderam, na tal pirâmide, cerca de US$ 13 bilhões.
Quantos apareceram para cobrar as perdas? Exatos 15.870 cidadãos.

Madeira !!!

O Ibama do Maranhão decidiu aderir ao controle eletrônico na fiscalização.
Fiscais identificaram fraude em 57% dos relatórios sobre a ação das madeireiras.

Mundo da Lua

Buzz Aldrin, segundo homem a pisar na Lua, desembarca em novembro no Rio.
Para festa de 40 anos da Apolo 11. No Clube de Astronomia Louis Cruls.

Ossos Do ofício

Cauã Raymond ouriçou a boate The Week no sábado.
Não, o moço não mudou de turma. Só está fazendo pesquisa para encarnar personagem homossexual no novo filme de Toni Venturi. Ainda sem nome.

Roliúde carioca

Nem só de filmes vive o Festival Internacional de Cinema do Rio. Nas conversas entre produtores durante o fim de semana, começou a tomar forma uma espécie de Hollywood tupiniquim - a Rio Film Commission. Objetivo? Atrair para a cidade mais produções importantes e profissionalizar filmagens ali realizadas.
Reunidos em paralelo à programação, eles até já escolheram um diretor - o americano Steve Solot, ex-Motion Picture Association. Impulsionado pelo fundo Rio Global, o grupo delineia algumas metas. Uma delas, planejar um pólo audiovisual na zona portuária. Outra, adotar o cash rebate, sistema que permite devolver aos estrangeiros 5% do que for investido no Rio.
Querem Sergio Cabral e Eduardo Paes comandando o grupo que, no começo de 2010, vai oferecer a Cidade Maravilhosa em Los Angeles.
Três produções internacionais estão no balaio. Chasing Bohemia, de Stephen Hopkins; Rio Eu te Amo, com vários diretores; e o filme de Woody Allen em 2011.


Na frente

Acontece hoje o Leilão Pratos para Arte, em prol do Museu Lasar Segall, comandado por Sonia Matarazzo, com 48 trabalhos. Entre eles os de Arnaldo Antunes, Maria Bonomi (foto) e Tomie Ohtake. No Trio.
Henrique Meirelles fala hoje sobre "O Brasil Saindo da Crise", em seminário organizado por João Doria, no Caesar Park. À noite, é centro de uma homenagem na casa de Marcos Arbaitman.
Hoje a DDBDM9 comemora seus 20 anos com um festão no Jockey Club.

O Na Mata Café recebe hoje a dupla Brothers of Brazil. Lançamento do CD Punknova.

A revista do The New York Times dedicou no fim de semana 11 páginas ao Instituto Inhotim, de Bernardo Paz.

Causaram constrangimento os adesivos distribuídos no fim de semana, em Natal, durante seminário com Serra e Aécio: "PSDB a favor do BraZil".