domingo, agosto 30, 2009

DANUZA LEÃO

Vivendo de Brasília

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/09


A simpatia é seu capital, e seu objetivo, um só: fazer negócios. Alguns mais ingênuos entram na dança

É MUITO BOM conhecer pessoas simpáticas; mas se elas forem simpáticas demais, prestativas demais, desconfie, sobretudo no mundo dos negócios. Quem não gosta de ser bem tratado, de ter em volta pessoas que sempre concordam com nossos pontos de vista, que acham graça em tudo que dizemos? Pois fique sabendo que isso é uma profissão e que são exatamente estas as pessoas mais perigosas.
Esse é o caminho mais curto para chegar à nossa intimidade e conquistar nossa confiança, e se você ocupa algum cargo poderoso, todo cuidado é pouco. Essas pessoas têm talento para serem agradabilíssimas, estão sempre prontas a fazer pequenos favores, apresentar alguém a outro alguém, e um dia vão pedir alguma coisa que você vai ter dificuldade em negar. Às vezes, uma pequena (aparentemente) informação para eles é mais importante do que um cheque em branco.
Os homens corretos -em seu trabalho e diante da vida- podem ser discretamente simpáticos, mas nunca passam da conta, porque não vivem disso; já esses outros têm, como profissão, um grande charme pessoal e total disponibilidade para estarem nos lugares certos, nas horas certas, para encontrarem as pessoas certas. Eles sabem exatamente que lugares são esses, e as pessoas que interessam.
São adoráveis; com eles não há um só minuto de tédio, e estão sempre prontos a conseguir qualquer coisa de que você precise. De um twister que ainda não existe no mercado a qualquer aproximação que você queira, seja com um homem de negócios ou com uma gatinha; tudo isso rindo muito e prontos a dizer, se pegar mal, que estavam apenas brincando. A simpatia é seu capital, e seu objetivo, um só: fazer negócios. Bons negócios.
Alguns mais ingênuos entram na dança, e às vezes, inocentemente, facilitam que esses negócios aconteçam. Negócios que, claro, não têm nada a ver com trabalho honesto, é um toma lá dá cá. Eles são perigosos, e quanto mais simpáticos, mais perigosos.
Nunca, em nenhum momento, pensam no país, nem de onde está vindo o dinheiro que conseguiram numa "tacada". São nefastos à sociedade de um modo geral, e não porque sejam imorais. São piores, porque são totalmente amorais, e também muito espertos: não deixam rastros por onde passam e têm sempre uma corte em volta, que eles alimentam com pequenos favores. E são capazes de qualquer coisa, por exemplo, namorar uma mulher que não tem nada a ver com eles mas que tem uma posição que poderá ser de grande utilidade em algum momento. Mulher carente, como se sabe, faz qualquer coisa pelo homem que a saiba levar, e é até covardia chegar perto de uma delas.
Os chamados homens de bem que se cuidem; esses são extremamente destrutivos, mas conseguem fazer amigos com facilidade. Amigos geralmente com pouca experiência de vida e que conhecem pouco o ser humano. Se tomassem informações, saberiam, mas quem tem tempo para isso nos dias de hoje? Essas pessoas geralmente não bebem, nem fumam, o que causa sempre uma boa impressão. Mas é só ficar atento para perceber o mal que são capazes de fazer.
Esse tipo de gente costuma ir muito a Brasília.

CELSO MING

O que o País quer?

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/08/09


Tudo no pré-sal vai depender do que o País de fato quer e do ritmo em que se programar o resultado.

Amanhã, o governo deve afinal divulgar os anteprojetos do marco regulatório da exploração de hidrocarbonetos das camadas do pré-sal. Até aqui, vem transmitindo sinais nem sempre coerentes, passando às vezes a indicação de que são grandes as divergências internas.

De um lado, tem pressa. Quer que o Congresso aprove tudo em regime de urgência (45 dias de prazo para a Câmara e outros 45 para o Senado) e prevê grandes e rápidas alocações de recursos provenientes do lucro do petróleo em educação, saúde e resgate da pobreza. São recados de quem não quer perder tempo.

De outro, avisa que a Petrobrás será a única operadora nessas novas áreas que serão exploradas sob o novo regime de partilha. É uma exigência que só poderia ser cumprida com enormes investimentos da Petrobrás e uma capitalização que só poderia ser integralizada em prazos longos.

Um dos mais respeitados analistas sobre a Petrobrás, Gustavo Gattass, do banco UBS Pactual, adverte que não é possível avaliar previamente o impacto dessa capitalização sem antes se saber em que ritmo serão exploradas as jazidas do pré-sal: "Se for para o Brasil ser exportador de 3 milhões de barris diários de petróleo em 2020, não haverá aumento de capital da Petrobrás que vai dar conta." Mas ele entende que, nos próximos três anos, a empresa não vai precisar de muito capital novo, já que acaba de ser suprida com R$ 25 bilhões pelo BNDES.

A pressa do presidente Lula não combina com a necessidade de aprofundar as discussões sobre matéria de tal complexidade. A comissão interministerial levou 13 meses para examinar o assunto e, segundo se sabe, ainda não fechou a questão sobre inúmeros pontos delicados, como o da distribuição de royalties. Parece improvável que, em clima eleitoral, o Congresso esteja em condições de examinar com um mínimo de maturidade as propostas do governo. Afora isso, a oposição vai entrar atrasada nas discussões sem ter tido tempo para formar opinião sobre um assunto que pretende ser uma das principais bandeiras de campanha da candidata do governo, ministra Dilma Rousseff.

A sociedade precisa decidir ser o País vai ser ou não grande exportador de petróleo e derivados. Tem de decidir, também, o que fazer para evitar que a entrada de um enorme volume de dólares não provoque forte valorização do real que, em seguida, inviabilize todo o sistema produtivo e não só a indústria.

Parece que o governo não se deteve sobre essas questões. Limita-se a prometer a emissão de uma profusão de cheques em branco para governadores, prefeitos e todos os programas sociais que o pré-sal vai sustentar. Os palpites sobre o potencial da área variam de acordo com o nível de euforia de quem faz a conta. São 60, 80, 100 bilhões de barris. E, no entanto, o País ainda não sabe nem sequer com quanto em reservas aproveitáveis pode contar nas áreas onde já foi encontrado petróleo.

O que se pode dizer é que já há três poços que deram em seco. O pré-sal certamente não é o royal straight flush na mão que alguns vêm alardeando.

Curtas

Deu o que tinha de dar - Dia 1º a Anfavea, que controla o mercado de veículos, deve anunciar queda de pelo menos 13% nas vendas em relação a julho.

Ficará assim demonstrado que a redução de IPI funcionou mais como esquema que propiciou antecipação das vendas do que como instrumento de criação de mercado.

E, do ponto de vista do consumidor, nem mesmo a queda de impostos consegue compensar a perda de preço do carro usado dado como entrada na operação. A redução dos preços no veículo novo é de 5% a 7% e a dos preços no usado oscila entre 30% e 40%.,

ANA DUBEUX

O Brasil dos francenildos


CORREIO BRAZILIENSE - 30/08/09


A cabeça baixa, o semblante triste e o silêncio. Era o reflexo da decepção a expressão do rosto de Francenildo Costa na saída do Supremo Tribunal Federal, que absolveu quinta-feira o ex-ministro Antonio Palocci e seu assessor no processo que investiga a violação do sigilo bancário do caseiro por uma turma de poderosos. Quatro ministros consideraram ter elementos suficientes para concluir que a ordem partiu de instância superior, mas prevaleceu a tese de outros cinco, que preferiram imputar a responsabilidade a um funcionário público, o que literalmente melou as mãos e as limpará provavelmente comprando algumas cestas básicas.

Não cabe questionamentos à decisão judicial de última instância, até porque são as autoridades que se debruçam sobre os processos para estudá-los e garantir que uma pessoa não seja injustamente condenada, além de observar o rigor das leis — que, em tese, são a expressão máxima do que é justo e necessário para o conjunto da sociedade. Logo, o que fica é a ideia de que nessa história um cidadão honesto foi usado em esquemas de lobby e fraude, teve sua vida devassada, sua idoneidade colocada sob suspeita de forma leviana e, no final, saiu com a cara no chão, assim como tantos outros francenildos, brasileiros acostumados a semear honestidade e colher injustiças.

Pode-se alegar o triunfo da falta de provas materiais e do processo pouco embasado e insuficiente para uma condenação, que costuma frequentemente justificar a impunidade de políticos. Mas, com ou sem indícios consistentes, existe um fato incontestável, que merece reflexão: o caseiro Francenildo foi punido injustamente, condenado a uma pena comum a todos os brasileiros pobres, sem poder e prestígio, que é a de ter seu direito violado sem que alguém pague o prejuízo causado.

A quem recorrer? Francenildo provavelmente recorrerá à própria sorte. Palocci recorrerá às urnas, aos votos e, é possível, ao governo do maior estado brasileiro. Para obter seu mandato, terá apoio de banqueiros, empresários, do presidente Lula. Francenildo devolverá seu terno emprestado, voltará a limpar a piscina e a cortar a grama dos poderosos. Talvez um dia consiga um emprego de carteira assinada ou, quem sabe, reaver a sensação de que o Brasil é o país das oportunidades. Por enquanto, nosso país só fermenta o sentimento de impunidade. E isso não tem a ver só com a Justiça como poder institucionalizado, e sim com a falta de compromisso com a cidadania em todas as instâncias.

MÍRIAM LEITÃO

Novos caminhos

O GLOBO - 30/08/09

O prazo de retorno do investimento em rodovia na Amazônia é de 14 anos; em ferrovia, de nove anos; e em hidrovia, de três anos. A emissão de carbono em rodovia é oito vezes maior do que em hidrovia. É preciso 200 carretas para transportar a carga de seis barcaças. Por um estudo do Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), do ponto de vista econômico e ambiental, o rodoviarismo do PAC não faz sentido.

É preciso pensar em outros modais, e incluir a conta ambiental antes das decisões, explica o professor Paulo Fernando Fleury, da equipe que preparou o estudo para um seminário do instituto, em setembro. Na Amazônia, em vez de pensar sempre em rodovias, o governo deveria comparar outros meios de transporte.

O estudo compara as possibilidades de se chegar ao Porto de Santarém, que de acordo com a projeção sobre o escoamento futuro da soja é bastante competitivo.

Uma possibilidade seria uma ferrovia de 1.650 quilômetros, ligando Sinop, em Mato Grosso, a Santarém, no Pará. Outra possibilidade seria viabilizar a movimentação da soja pela hidrovia Teles Pires-Tapajós. A hipótese rodoviária seria a BR163, cuja pavimentação é prevista no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O Porto de Santarém tem um terminal com capacidade de armazenamento de 60 mil toneladas e sua ampliação está temporariamente suspensa por razões ambientais.

O mais interessante do estudo é que quando ele simula os outros modais é possível ter uma noção do que o governo deveria fazer, e não faz, nas obras que impõe ao país: não compara alternativas numa avaliação mais ampla de custo e retorno.

Normalmente, se vê apenas o investimento inicial.

Ele, de fato, é menor na hipótese rodoviária. Seria de R$ 1,55 bilhão o investimento necessário para acabar de pavimentar a BR-163; na ferrovia projetada, o custo seria de R$ 4,15 bilhões; na hidrovia, R$ 2,9 bilhões.

Num primeiro olhar, parece que o custo da rodovia é mais baixo, mas o estudo do Ilos foi adiante. Viu a manutenção, por exemplo. Numa rodovia, ela teria que ser feita a cada nove anos; numa ferrovia, após 20 anos; e numa hidrovia, a cada 30 anos.

O prazo para retorno do investimento seria de 14 anos na rodovia, nove anos na ferrovia e três anos na hidrovia.

O custo do transporte seria de R$ 94,7 por tonelada a cada 1.000 quilômetros na rodovia; R$ 56,9, na ferrovia; R$ 42, na hidrovia.

O que, na rodovia, exigiria 200 carretas para transportar pode ser levado em um trem de 77 vagões ou um comboio de seis barcaças.

O estudo mostra que, apesar de uma rodovia na Amazônia exigir um investimento menor inicial, ela tem um custo maior de manutenção, um frete mais caro, transporta menos e polui muito mais. Isso, sem considerar outros custos ambientais, como o incentivo ao desmatamento que uma rodovia na Amazônia produz. O estudo calcula que só no combustível queimado no transporte, a emissão de carbono numa rodovia é oito vezes maior do que numa hidrovia, e numa ferrovia é 1,7 vezes maior do que na hidrovia.

— O consumo de diesel da ferrovia seria quase duas vezes o da hidrovia, o consumo de diesel da rodovia seria cerca de 17 vezes o da hidrovia — diz Fleury.

O objetivo do estudo é imaginar o futuro do escoamento da soja, levando-se em conta que haverá maior adensamento da produção da soja no interior do país, que precisará chegar aos portos. Em 2007, foram produzidas 29 milhões de toneladas de soja para exportação; em 2020, a projeção indica que o país estará produzindo 59 milhões de toneladas: duas vezes mais. Em todos os cenários, os portos de Santarém e Paranaguá “apresentam elevado potencial de crescimento na movimentação da soja”. Pelo estudo, “com infraestrutura adequada e otimização logística de exportação de soja é possível reduzir em até 9,5% os custos atuais”.

Fleury diz que como o aumento da produção será grande — 30 milhões de toneladas — todos os portos podem ter aumento de volume, mas alguns são bem mais competitivos do que outros. As obras têm que ser previstas dentro dessa visão integrada que busca o mais eficiente do ponto de vista logístico. Do contrário, o governo acaba dispersando recursos.

A falta de avaliação mais ampla do que seja custo faz o governo optar preferencialmente por rodovias na Amazônia, que são mais caras quando se avalia outros itens de custo; incentivam o desmatamento; e aumentam as emissões de gases de efeito estufa que serão cada vez mais uma restrição para as empresas e para os países.

Dias atrás, grandes empresas e entidades do país assinaram uma carta se comprometendo a medir anualmente tudo o que emitem de gases de efeito estufa, na sua atividade produtiva; o inventário de emissões. E se comprometem a reduzir essas emissões. Isso seria mais fácil se, num programa como o PAC, fosse considerada a variável ambiental. Com ela, aumentaria a competitividade de obras que viabilizassem modais menos poluentes.

As empresas não assumem esse compromisso apenas para ficar bem na foto do ambientalmente correto, mas porque no futuro o carbono será taxado, e as exportadoras serão cobradas pelos seus clientes no mundo desenvolvido sobre o grau de emissão das suas atividades produtivas.

O governo reage às cobranças dos órgãos ambientais às obras do PAC na Amazônia como se fossem barreiras ao crescimento. Se tivesse uma visão mais abrangente poderia concluir que o meio ambiente é o indispensável aliado do novo desenvolvimento, e a variável que falta nas suas equações.

Saio de férias por 20 dias.
Fica neste espaço Regina Alvarez, grande jornalista de economia que vocês conhecem bem das análises e reportagens de Brasília
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JOSÉ SIMÃO

Ueba! Tá tendo Festival de Bigode

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/09

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
E o "pornoclassificado" direto de Portugal: "Senhora Distinta. Ardente, meiga, simpática, O MELHOR ORAL DE LISBOA!". Rarará! Adorei o melhor oral de Lisboa!
E aviso urgente! Se você receber um e-mail intitulado "Fotos de Dilma Rousseff nua, NÃO ABRA!". Pode realmente conter fotos da Dilma Rousseff nua. Não é vírus!
Padre bêbado atropela Jesus e foge. Isso mesmo. Um padre em São José do Rio Preto tomou uns goró e atropelou o motoqueiro. Como se chama o motoqueiro? Jesus! Atropelou Jesus. E nem prestou socorro!
Diz que ele desrespeitou o sinal de "Pare". Eu acho que ele desrespeitou o sinal da cruz!
E o Belchior, hein? Diz que sumiu: não se encontra em casa, a família não acha e o carro dele foi encontrado no aeroporto. Perdeu o medo de avião? O Belchior perdeu o medo de avião! E sumido ele está desde 1976!
Rarará! Mais um bigode em apuros! E adorei a firmeza do Mercadante: renunciou a renúncia, desistiu de desistir e revogou o irrevogável. Ou seja, mijou pra trás. Como diz o ditado: bicho que mija pra trás leva o dono pra frente! E o Sarney não é um ícone do Senado. É o MÍCONE do Senado! Rarará!
E o Suplicy mostra o cartão vermelho pro Sarney! Mas o jogo já acabou. O Sarney ganhou de 10 x 0! E já imaginou o Suplicy como juiz de futebol? Ia marcar pênalti pro jogo passado. "Priii! Como você se chama mesmo? Ah, Ronaldo? Você marcou um pênalti no jogo passado. Cartão vermelho." Como diz o site Éramos Seis: só faltou ele pedir o impeachment do Collor. Rarará!
E sabe o que o Sarney falou quando viu o cartão vermelho? Débito ou crédito? Rarará! E um leitor me pediu pra avisar pro Suplicy que Woodstock já acabou, o Vietnã ganhou a guerra e a Janis Joplin, o Jim Morrison e o Freddie Mercury já morreram. Tudo bem, eu aviso. Mas uma coisa por vez. Pra ele não ficar estarrecido. Rarará!
E o Serra? Sabe qual o novo apelido do Serra? Sei, porteiro de necrotério? Não, o novo apelido do Serra é O Maníaco do Pedágio. Diz que ele vai colocar 19 pedágios no Rodoanel Sul. Então vai virar um túnel!
E não é mais Rodoanel, é Rouboanel. Roubágio no Roubanel. Ou melhor, RODOANAL! Só falta ele botar pedágio na farmácia: pedágio genérico. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! Nóis sofre, mas nóis goza!
ACORDA, BRASIL!
QUE EU VOU DORMIR!

JANIO DE FREITAS

Além da inocência

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/09

Antonio Palocci não emitiu nem uma só palavra em favor da verdade, no caso da quebra de sigilo do caseiro

A RECUSA de processo contra Antonio Palocci, decidida por um só voto de diferença no Supremo Tribunal Federal, fez mais do que livrar o ex-ministro de indícios óbvios de responsabilidade na quebra de sigilo e em acusação caluniosa e pública contra o caseiro Francenildo dos Santos Costa. Em plano mais amplo do que o pessoal, ficam relegadas apurações antes evitadas pelo inquérito policial, mas muito significativas para a moralidade administrativa.
Embora os esforços contrários, inclusive dos meios de comunicação encantados com o conservadorismo financeiro do então ministro da Fazenda, no escândalo centrado em Palocci ficou claro que a chamada "república de Ribeirão Preto" alugara uma casa discreta em Brasília para atividades além de encontros sensuais. Vários depoimentos deixaram registrada a frequência, ali, de reuniões sigilosas desse grupo envolvido em numerosos inquéritos de licitações fraudulentas, superfaturamento e desvios de verbas públicas, denunciados nas duas ocasiões em que Palocci foi prefeito de Ribeirão.
Um dos integrantes do grupo, quando viu exposta sua vida pessoal e a carga dirigida contra ele, chegou à franqueza indignada de apontar o desvio do escândalo jornalístico e das investigações, mais ou menos assim: "O importante para investigar não são os encontros com mulheres, são as reuniões feitas naquela casa". (A frase e seu alcance ficaram registrados na Folha, aqui mesmo). Nem assim houve questionamento algum às reuniões sigilosas do grupo liderado pelo ministro e integrado, além de componentes do seu gabinete, por vários lobistas e intermediários de negócios. A omissão teve o propósito de salvar o ministro da Fazenda simbólico da adesão do governo Lula à política neoliberal do governo Fernando Henrique.
Já que não foi possível apagar tudo, da decisão do Supremo resulta jogar toda a responsabilidade, nos atos contra Francenildo Costa, em Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal que fez lá a verificação da conta do caseiro.
Quanto a Palocci, no dizer do relator Gilmar Mendes seguido por quatro ministros, no pedido de processo "há apenas ilações que não estão suficientemente concatenadas para se constituir em elementos de prova", só há "meras suposições que não legitimam por si sós a abertura de ação penal".
Houve a quebra de sigilo e, em seguida, a divulgação de que Francenildo Costa tinha em sua conta dois depósitos incompatíveis com o salário, tidos como evidência de que fora subornado para acusar a presença de Palocci na tal casa? Houve, reconhecidamente. Há certeza sobre a autoria da violação do sigilo e da divulgação? Não, há indícios e suspeitos. O que é próprio do Judiciário, até por constituir a razão de sua existência, em tais casos? Instaurar processo para apurar, até onde for possível, a autoria e as demais responsabilidades.
No 16 de março de 2006, em que Francenildo depõe na CPI dos Bingos e compromete Palocci, o então ministro chama Jorge Mattoso ao seu gabinete. De volta à Caixa, Mattoso pede um extrato da conta de Francenildo. Informado do encontro de dois depósitos anormais, cujos extratos recebe pouco depois, Palocci troca 42 ligações telefônicas com seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, o qual, por sua vez, tem seis telefonemas com o filho que trabalha na revista "Época". Logo o site da revista e depois a própria divulgam a acusação de suborno do caseiro para acusar o inocente Antonio Palocci.
São esses fatos, como diz Gilmar Mendes, "apenas ilações não suficientemente concatenadas" para justificar um processo judicial que procure apurá-los plenamente e estabelecer as responsabilidades, para possíveis efeitos penais? Votaram contra a inocentação a priori de Palocci, e pela ação judicial, os vencidos ministros Cármen Lúcia Rocha, Carlos Ayres Britto, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.
Há uma particularidade especialmente abjeta na difamação difundida contra Francenildo Costa. É que Antonio Palocci tinha plena consciência de ser verdadeira a afirmação do caseiro de que o vira na caverna brasiliense da "república de Ribeirão Preto". E depressa saberia, ainda, que os dois depósitos na conta de Francenildo Costa provinham de remessas feitas por seu pai. No primeiro caso, mentiu deslavadamente. No segundo, não emitiu nem uma só palavra em favor da verdade.
A "república" e seu chefe ainda têm processos no Judiciário paulista, mas os remanescentes do grupo já podem juntar-se a Lula e ao PT para dar a Antonio Palocci outro cargo no governo ou tentar elegê-lo para o governo de São Paulo, onde há muitas casas discretas.

ARI CUNHA

Inércia e letargia

CORREIO BRAZILIENSE - 30/08/09


Fortaleza — O Secretário de Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, fez diagnóstico sobre a Polícia Civil do estado. Duas expressões usadas assinaram como um atestado de óbito da instituição: inércia e letargia. O exemplo dado foi singular. Até 6 de agosto, os ladrões realizaram 32 arrastões, assaltando o povo e calcinando o sonho dos paulistanos. Pelas informações, até edifícios perto de delegacias foram assaltados e roubados. Três morreram em tiroteio com a polícia. Outros estão sendo procurados e não encontrados. Não está boa a vida na capital mais populosa do país, que abriga a força de trabalho mais produtiva de São Paulo.


A frase que não foi pronunciada

“Deus não é surdo!”
Faixa em andamento para ser colocada perto de igreja no Paranoá



Acadêmico
O dr. Immanuel Wallerstein, sociólogo norte-americano, pesquisador do pensamento político e econômico internacional, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, em solenidade promovida pelo Instituto de Ciência Política da UnB. Terceiro Mundo, não. O Brasil é classificado como semiperiferia. O professor explica que Terceiro Mundo é um conceito que apontava os países que não aceitavam a polarização entre EUA e União Soviética, durante a guerra fria.

Sigilo
Parte do deputado Sandro Mabel o projeto que torna crime o vazamento de informações de investigação sigilosa oficializada. Dois a quatro anos de reclusão, além de multa, seriam as penas. Durante a discussão na Comissão de Segurança e Combate ao Crime Organizado, na Câmara, a conclusão dada pela relatora, Marina Maggessi, é a de que os dados sigilosos são usados para macular os investigados. Votaram contra o deputado Biscaia, Morrone e Paes de Lira.

Primo pobre
Nenhum centavo foi recebido pela Fundação Nacional do Índio para medidas compensatórias dos impactos causados pela construção da Pequena Central Hidrelétrica Cascata Chupinguaia, em Rondônia. É o que diz o Termo de Convênio entre a Funai e o
Ministério da Justiça, que tem vigência até 2012. O número do documento é 1/2008.

Ensinar e aprender
Por falar em comunidade indígena, escolas chegam às aldeias. A principal recomendação é o respeito à diversidade cultural. A Universidade do Estado do Amazonas é a responsável pela ordenação. Animado, o senador João Pedro terminou o discurso dizendo que só vamos dominar a Amazônia se conhecermos a Amazônia. Não tem outro caminho, senão estudá-la.

YouTube
Por falar em estudar e conhecer, bom avaliar a queda da gripe suína com as chuvas. Neste período, no ano passado, o registro de pacientes com dengue chegou a 91.503 só na Bahia. Julián Alterini é o autor de um documentário de curta duração sobre o que pode estar por trás do alarme da gripe suína. É só procurar no YouTube.

Correspondência
Obedecendo às leis divinas sem cruzar os braços, o vice-presidente José Alencar tem o cuidado de agradecer uma a uma as manifestações de carinho que recebe.

Barbato
Foi um choque para Ana Lucia Andrade quando recebeu a notícia sobre a morte do maestro Silvio Barbato. Antes de viajar, Silvio concedeu entrevista a Ana, que, agora, vai compartilhar a conversa com os ouvintes da Rádio Câmara FM (96,9). Silvio fala da família, vida acadêmica e projetos. Hoje, às 8h da noite. Vale conferir.

Mudanças
Terminados os trabalhos da CPI das Escutas, as interceptações devem ser regulamentadas depois de analisadas pelas comissões da Câmara. O problema é que não houve acordo para elaborar uma só proposta. A relatora da CPI, Iriny Lopes, do PT, explicou que não houve consenso sobre competências, controle e fiscalização — se caberiam à polícia ou ao Ministério Público. A matéria promete.

Monitorar
Formada rede de informações de comissões de Fiscalização Financeira. O tucano Silvio Torres não esconde o orgulho de criar a primeira parceria entre Câmara, Senado e TCU para a fiscalização sobre o uso de verbas públicas. Nesse caso, para a Copa do Mundo. Torres acredita que os problemas de prestação de contas ocorridos nos jogos Pan-Americanos não vão se repetir.


História de Brasília

Mandaram fazer um aterro na superquadra 208, do Ipase, para possibilitar a entrada de carros pela pista de frente ao Eixo. Está errado, e a exceção é criminosa. (Publicado em 7/2/1961)

BRASÍLIA - DF

Guerra e paz no pré-sal

LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 30/08/09

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já fechou os três polêmicos projetos do pré-sal que pretende anunciar amanhã. Nenhum deles trata dos royalties do petróleo: um cria a nova empresa de petróleo, a chamada Petrosal, nome que o presidente da República rejeita; outro, cria o fundo de desenvolvimento destinado à educação, à ciência e à tecnologia e ao combate à pobreza, que será gerido pela União; o terceiro trata do novo marco regulatório do pré-sal (monopólio estatal), que será gerenciado pela nova empresa de petróleo e garantirá privilégios de exploração à Petrobras.

Nesses três projetos, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo - principais províncias petrolíferas do país - ficarão a ver navios, literalmente, porque as plataformas de exploração do pré-sal ficarão muito longe da costa. Um quarto projeto, que trata dos royalties de petróleo, porém, foi elaborado pelo governo e está trancado a sete chaves. Somente será anunciado amanhã se houver acordo entre o presidente Lula e os governadores do Rio deJaneiro, Sérgio Cabral (PMDB); de São Paulo, José Serra (PSDB), e do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). Os três estados vão perder, mas será preferível um acordo ruim do que uma guerra sem chances de vitória.

Exegético

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi um dos que mais comemorou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que rejeitou a denúncia contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, acusado de violar o sigilo bancário de Francenildo Costa, seu ex-caseiro. O líder petista interpreta a decisão como um indicador de que será excluído do processo do mensalão porque não há "prova irrefutável" de sua participação no caso. Essa foi a tese básica do relator do processo, o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, para livrar o ex-ministro e seu então assessor de imprensa, Marcelo Netto.

Escrivães

As provas do concurso para agentes e escrivães da Polícia Federal serão em 13 de setembro. São 600 vagas exclusivamente para a Amazônia, com um salário mensal de R$ 7 mil. Segundo o diretor de Gestão de Pessoal da PF, Joaquim Mesquita, há mais de 100 mil candidatos.

Seletivo

O Ministério do Planejamento zerou os recursos destinados à Prefeitura de Salvador, administrada pelo prefeito João Henrique (PMDB), aliado do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, no corte de R$ 170 milhões nas emendas coletivas da bancada baiana. As verbas remanescentes serão gerenciadas pelo governador Jaques Wagner (PT), candidato à reeleição.

NO CAFEZINHO

Comando/ A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), resolveu se preparar melhor para a campanha eleitoral. Enquanto o presidente Lula cuida das articulações políticas nos estados com o PMDB e demais aliados, a ministra começa a definir seus interlocutores no PT, cujas tendências se digladiam para ocupar as posições de comando na máquina partidária. Dilma tem o apoio de todas as correntes da legenda, mas ainda não tem um grande articulador de sua campanha no comando do PT.

Goela/ As prefeituras do país deixaram de receber R$ 1,026 bilhão nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em julho e agosto deste ano. Segundo cálculos da Confederação Nacional de Municípios (CNM), a União reteve 15,25% dos valores do FPM enviados às prefeituras em relação ao ano passado, quando receberam R$ 4,23 bilhões. O repasse de agosto deste ano caiu para R$ 3,58 bilhões.

Bicho/ A Agência Senado resolveu fazer uma pesquisa sobre a criminalização dos jogos de azar, objeto do Projeto de Lei nº 255/09, iniciado no Senado. Do dia 1º ao dia 27 de agosto, pela manhã, a enquete registrava pouco mais de 3 mil votos, com uma ligeira maioria a favor da criminalização (55%). A turma da jogatina descobriu e entrou em campo e, em apenas 7 horas, o número saltou para 24 mil votos, alterando o posicionamento da maioria: 95% dos internautas ficaram contra a proposta. A enquete fecha amanhã.

MERVAL PEREIRA

Cenários para o futuro presidente

O GLOBO - 30/08/09

Tomando por base a opinião generalizada entre os especialistas de que o cenário mais provável para o Brasil até o ano que vem é o de uma gradual aceleração do crescimento econômico, uma análise prospectiva dos economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, da consultoria Macroplan, indica a possibilidade de dois caminhos para o país no período de 2011-2014, primeiro mandato presidencial do sucessor (ou sucessora) do presidente Lula. Um onde prevalecem ajustes estruturais, e outro de meras adaptações incrementais, que pressupõe a continuidade da estratégia atualmente em curso.

No primeiro cenário, o setor privado seria o principal “motor” do crescimento econômico, enquanto no segundo esse papel seria atribuído ao Estado, incluindo suas empresas.

No cenário de ajustes estruturais, a combinação das ameaças e oportunidades decorrentes da crise econômica mundial e dos resultados das eleições de 2010 impulsionaria um novo ciclo de mudanças econômicas que envolveriam a combinação de medidas anticíclicas orientadas à redução de riscos de cur to prazo e à sustentabilidade do crescimento a médio prazo.

Para atingir esses objetivos, o novo governo usaria investimentos públicos de grande porte e elevado poder multiplicador, com bom potencial de impacto na competitividade, como investimentos para superação de gargalos de infraestrutura e mobilidade urbana, por exemplo.

Seria dado forte incentivo aos investimentos privados por meio de financiamentos e garantias de crédito; desonerações fiscais horizontais, como redução de encargos nas folhas de pagamento e bônus fiscais, tipo abonos salariais temporários; e redução agressiva dos juros e forte contenção das despesas públicas de custeio.

O pano de fundo dessa gestão seria a retomada da agenda de reformas econômicas (tributária, previdenciária e trabalhista), de melhoria da gestão pública (desburocratização e fortalecimento dos marcos regulatórios e das agências reguladoras), e de renovação da agenda ambiental (maior proatividade e ênfase na exploração econômica das oportunidades associadas à sustentabilidade ambiental).

Os investimentos em infraestrutura seriam acelerados com a atração de empreendedores privados nacionais e estrangeiros para participação em grandes projetos, como os de expansão da infraestrutura logística (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias e hidrovias), energética (hidrelétricas, petróleo, gás e renováveis) e urbana (transporte de massa, habitação, urbanização e despoluição).

Já o cenário de adaptações incrementais pressupõe a continuidade, com ajustes eventuais, da estratégia de travessia atualmente em curso, com a adoção de medidas anticíclicas capazes de produzir efeitos mais imediatos, mitigando riscos econômicos (e políticos) de curto prazo. Essas medidas viriam, predominantemente, por meio da expansão das despesas públicas correntes em caráter temporário ou permanente (especialmente transferências de renda, custeio, despesas de pessoal e aposentadorias), de mais fácil execução que os investimentos públicos, e têm impactos imediatos na renda e no consumo.

O estímulo à expansão do consumo doméstico seria baseado também em desonerações fiscais setoriais. Seriam feitos novos avanços incrementais na agenda de reformas econômicas (tributária, previdenciária e trabalhista), do Estado e da gestão ambiental, como aconteceu nos primeiros anos do governo Lula, com melhorias localizadas no desempenho da gestão pública, especialmente nas áreas de educação e saúde.

Mantida a baixa capacidade de execução dos investimentos públicos diretos, o governo atrairia empreendedores privados, nacionais e estrangeiros, para investimentos em grandes projetos, predominantemente em parceria com empresas estatais, ampliando a presença do Estado na economia.

Os economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, da Macroplan, não deixam de apostar em qual seria o melhor cenário.

Para eles, a combinação do cenário doméstico de ajustes estruturais com uma superação eficaz da crise mundial representaria “o primeiro passo da construção de uma estratégia consistente de crescimento econômico sustentado”.

A manutenção desse ambiente interno numa perspectiva de longo prazo poderia levar o Brasil a uma mudança de patamar ou, no caso de o ambiente internacional evoluir favoravelmente, até mesmo ao ingresso do país no seleto grupo das economias avançadas, num horizonte de 20 anos.

Essa possibilidade, afirmam, ilustra o primeiro passo de uma trajetória semelhante à percorrida pela Coreia do Sul nos últimos 40 anos. Em 1969, o PIB per capita brasileiro era o dobro do coreano. Hoje, o PIB per capita coreano é quase o dobro do brasileiro, fruto de quatro décadas de fortes reformas e investimentos orientados a educação, desenvolvimento tecnológico e industrial.

ELIANE CANTANHÊDE

Não colou

FOLHA DE SÃO PAUL0 - 30/08/09

BARILOCHE - Desta vez, inverteu-se a coisa. Lula, que sempre é o simpaticão e lidera a turma do deixa-disso nas reuniões internacionais, estava com cara de poucos amigos e fez um discurso reclamão na segunda reunião da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) neste mês, aqui em Bariloche.
Ele não gostou da transparência, ops!, da transmissão ao vivo das sete horas de debates e acusações.
Não gostou dos discursos que não acabavam nunca, sem levar a lugar nenhum. E, principalmente, não gostou de ficar em segundo plano.
O papel de "pacificador", como vinham alardeando seus assessores, não se confirmou. Chávez, Uribe, Evo Morales, Rafael Correa, nenhum deles deu muita bola para o empenho de Lula de tentar alguma paz, muito menos acordo. Aliás, nem para as propostas brasileiras.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tinha conversado com seus colegas do Equador e Colômbia e anunciara que Uribe iria dar garantias em Bariloche de que as bases militares continuarão sendo colombianas e que as tropas norte-americanas terão desenvoltura limitada ao território do país e ao combate ao narcotráfico. Não houve garantia nenhuma. Os EUA, aliás, também não deram.
O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que conhece bem a região e viajou com Jobim, apostava que Bariloche seria um "marco da distensão". Ao contrário, Uribe mostrou suas armas, Chávez jogou um trunfo: o "Livro Branco" das Forças Armadas dos EUA mostrando que o verdadeiro objetivo de uma das bases na Colômbia, a de Palanquero, não é tão simples e tão apenas policial assim. A tensão continua.
Até mesmo a convocação do Conselho Sul-Americano de Defesa para uma espécie de catalogação de quem tem o quê na área bélica também ficou meio no ar. Pode ser, pode não ser. E ninguém pode garantir exatamente para que finalidade.
Lula não teve peso, não aconteceu. E voltou de cara amarrada.

PAINEL DA FOLHA

Conteúdo inflamável

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/09


Com a insatisfação de alguns governadores ainda por contornar, o Planalto tem pela frente uma batalha na Câmara, porta de entrada do marco regulatório do pré-sal. Uma vez definidos os relatores dos dois projetos de lei e da medida provisória sobre o tema, duas questões vão nortear o debate: a primeira, mais ideológica, será a disputa entre governo e oposição sobre o papel da Petrobras na exploração dos campos.
A segunda, mais explosiva, se dará entre Estados produtores e os demais em torno do pagamento de royalties. Líderes aconselham o governo a se concentrar no embate com a oposição e fazer acordo no outro front, que ameaça fraturar a base. Para complicar, dado o regime de urgência, há 45 dias para a tramitação.
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Lugar marcado. A relatoria de uma das três propostas que integram o pacotão do pré-sal está prometida ao ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Pega geral. Já em torno das duas outras proposituras vai rolar cotovelada. O PMDB baterá o pé para fazer os dois relatores. E um deles deve sair da bancada do Rio, que tem especial interesse na matéria.

Timing. Independentemente das confusões na base, o governo espera que a tramitação do pré-sal, precedida por festança de lançamento amanhã, sirva para esvaziar o assunto CPI da Petrobras.

Passarinho. Um conhecedor da alma de Ciro Gomes (PSB) afirma jamais ter visto o deputado, desde a saída do ministério, tão decidido a disputar a Presidência.

À espreita. Se ilude quem espera, pós-sinal verde do Supremo para Antonio Palocci, rápida definição no campo lulista quanto ao candidato ao governo paulista. Não apenas o presidente ainda insistirá com Ciro, paralisando o jogo dentro do PT, como a ordem é aguardar até saber quem será o candidato do PSDB.

Repórter. O PPS pretende lançar ao Senado por São Paulo o premiado jornalista José Hamilton Ribeiro.

Rádio-patroa. A Câmara está em pânico com a decisão do STF de liberar o acesso às notas fiscais da verba indenizatória. Em papo no fumódromo, na quinta, deputados tentavam justificar previamente o aparecimento de estabelecimentos como motéis em sua contabilidade. Um dizia que seu motorista costuma pegar esse tipo de nota. Outro, que às vezes não há outro lugar para se hospedar no interior.

Pós-Lula. Às voltas com a guerra civil na Receita, o ministro Guido Mantega (Fazenda) tem plano para o futuro: quer ser presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O mandato do colombiano Luis Alberto Moreno acaba em abril.

Torneira aberta 1. Sem alarde, o governo federal lançou portaria que permite aos ministérios ampliarem prazos para a prestação de contas de seus conveniados. Eles também poderão receber aditivos dos contratos antes de solucionarem as pendências.

Torneira aberta 2. A nova regra beneficiará especialmente prefeituras contempladas com verbas do Ministério das Cidades, estratégico no PAC. Os municípios ganharam mais 120 dias para sanarem problemas sem que os contratos sejam suspensos.

Os ministros... Nem só de feições sisudas vive o STF. Um dia antes de a Corte recusar a denúncia contra Antonio Palocci, Gilmar Mendes tirou os sapatos discretamente embaixo da mesa enquanto presidia uma cansativa sessão.

...se divertem. Eros Grau passou atrás da cadeira do presidente e, com a bengala, puxou um dos pés do calçado. Enquanto pedia ajuda aos auxiliares para achar o sapato, Gilmar se viu obrigado a esticar a discussão, pois não podia deixar o plenário descalço.

com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO
Tiroteio

"Se o governo não quer pagar royalties no pré-sal, basta permitir que os Estados produtores de petróleo cobrem ICMS na origem, como ocorre com todos os produtos."
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Do deputado EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), sobre a polêmica que opõe o governo federal ao Rio de Janeiro, ao Espírito Santo e a São Paulo.

Contraponto

Me engana que eu gosto
No lançamento de sua candidatura ao comando do PT, na quarta-feira passada, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra criticava a imprensa e a oposição por, em seu entender, sempre apostarem no fim do partido.
-E agora os apocalípticos decidiram dar um ar científico a suas teorias. Tem até presidente de instituto de pesquisas prevendo que Lula não fará o sucessor- disparou.
Era referência a entrevista de Carlos Montenegro. Botafoguense como o presidente do Ibope, Dutra concluiu:
-Se eu encontrar o Montenegro caminhando pela praia vou lembrar que, há alguns anos, ele também jurou que o nosso Fogão seria campeão. E o pior é que eu acreditei!

GOSTOSA


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JOÃO UBALDO RIBEIRO

Devolvam os trópicos


O GLOBO - 30/08/09

É madrugada, ainda está escuro, mas, entre os muitos erros de fábrica com que nasci, está o do despertador interno, que, mesmo que eu tenha ido para a cama duas horas antes, começa a disparar por volta das cinco e enche a paciência até que eu me levante. Desde pequeno, sempre achei bonito o sujeito se levantar lá pelas onze ou meio-dia, coisa de artista de cinema, que acorda lindo, barbeado, penteado, de roupão monogramado e tomando um drinque longo de vodca com suco de laranja, no jardim de inverno envidraçado, esperando a chegada esvoaçante da artista. Mas suponho que para isso devo aguardar mais algumas encarnações, porque, se insisto em ficar na cama, o despertador recorre a meu departamento de culpa, que é o mais fornido que conheço e já foi objeto de estudos psicanalíticos e psiquiátricos. No mínimo, ouço a voz tonitroante do padre Brito, flamívomo (dicionário – hoje é domingo, dia de exercício e, além do mais, estamos celebrando cem anos da morte de Euclides da Cunha, façam sua parte) pregador de minha infância, explicando como seriam atiçados às barricas de óleo fervente do inferno os pervertidos que acordam depois das oito da manhã. Portanto, saio da cama.

Ou não saio. Assim que jogo o cobertor para o lado e tento erguer-me, sou paralisado por uma onda de frio. Ainda estremunhado, tenho um sobressalto. Sem me lembrar como ou quando cheguei, estarei em Berlim, de janela aberta? Não, estou em casa mesmo e faz um frio do cão. Percebo que sair sem proteção adicional é uma temeridade e me enrolo num cobertor, para empreender a perigosa travessia até o armário, onde pego um esquecido moletom, que envergo às pressas. Pronto, eis-me de moletom, diante do computador. Devo estar parecendo o roupeiro uniformizado da delegação brasileira aos Jogos Olímpicos da Terceira Idade. Penso em conferir minha aparência no espelho, mas a prudência prevalece e não abandono o teclado. Esfrego uma mão enregelada na outra, agito as pernas para aquecer-me. Não, não estou em Berlim, mas a diferença é que lá as casas são aquecidas e aqui não. Lá eu andava dentro de casa de bermuda e sem camisa, aqui tenho de andar de moletom. Será, Deus meu, que as embananações climáticas vão piorar mesmo e daqui a pouco vamos ter de encomendar uma lareira? Fico pessimista, ao rememorar, sem muita saudade, embates havidos com o frio, na vida airada que tenho levado. Sempre fiz de mim mesmo a imagem de um sujeito pacato e caseiro, mas, pensando bem, já vivi muitas aventuras. Recordo-me especialmente da valente Freamunde, cidade do norte de Portugal, perto do Porto. Lá estive, faz muitos anos, hospedado na casa de um grande amigo meu. Freamunde, esclareço aos que injustamente a ignoram, é celebrada como a terra dos capões, pois lá, por artes seculares, se produzem os melhores galos capões de todo Portugal, quiçá de toda a Europa. É de comover o orgulho com que eles se apresentam e declaram orgulhosamente: “Sou da terra dos capões!” – é bonito ver esse amor à própria terra.

Mas não fui lá por causa de capões, embora tenha desfrutado de um belo arroz de capão à moda da terra. Hoje sei que minha estada por lá foi em nome do progresso da ciência, porque enfrentei um dos piores invernos da história da região, com direito a nevascas e ventos uivantes, e descobri diversas partes do corpo que antes não sabia que tinha. Como o aquecimento não era essas coisas, a hora da verdade era a hora do banheiro e também compreendi a razão por que meus anfitriões se benziam ao entrar nele, pois requeria considerável fortaleza física e emocional. Ao deixar a cidade, despedi-me sugerindo que adotassem para a cidade, em trocadilho com seu nome, a alcunha jocosa de Fria Bunda. Eles acharam graça, mas não sei se a adotaram.

E frio parece bonitinho no cinema, mas quem já morou em país frio sabe a mão-de-obra que dá. A começar por neve, que geralmente emporcalha tudo e vira lama imunda ou gelo imundo, em que a gente escorrega o tempo todo. Em Berlim, primeiro mundo, vários amigos meus, todos de classe média, subiam quatro ou cinco andares (elevador por lá não é tão universal assim), carregando o carvão para o aquecimento e desciam os mesmos quatro andares levando as cinzas para o lixo. No meio-oeste americano, onde também já morei, ajudei vários outros amigos a “invernizar” (winterize) suas casas e seus carros, ou seja, preparar tanto habitações como automóveis para enfrentar o inverno. Quanto aos carros, lembro bem, o camarada tinha de botar anticongelante na água do radiador, correntes nos pneus e mais inúmeras trampinzongas, para, assim mesmo, ficar meio ilhado em casa, às vezes semanas a fio. E, se conseguisse sair, tinha que vestir uns vinte quilos de roupa, de ceroulas térmicas e meias de meia polegada de espessura a capotões, cachecóis, chapéus ou toucas, protetores de ouvido e luvas. É tese comumente debatida que a baixa taxa de natalidade dos países frios se deve à trabalheira que dá tirar a roupalhada toda. Sei de brasileiros e brasileiras que, em diversas oportunidades, desistiram de chegar aos finalmentes porque, removido o saião, ficaram exaustos logo depois de extraída laboriosamente a primeira bota.

Mas não, nada disso vai acontecer aqui, é só um friozinho bobo, que passa daqui a alguns dias. Ou não? Antigamente não havia nada disso por aqui, mas hoje a toda hora se fala em temperaturas abaixo de zero, tornados, granizo e até furacões. Por que não frio polar? Considerando que alguns asseveram que, sob frio excessivo e desprotegida, empedra-se e cai a documentação masculina, corremos o risco de vir a ser também a Terra dos Capões, e não na área galinácea? Este frio estará querendo nos dizer alguma coisa e o que hoje é metáfora amanhã, por castigo, será literal? Cala-te, boca.

ELIO GASPARI

"1808", um sucesso de simplicidade e trabalho

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/08/09


A história de D. João VI chegou a 100 semanas na lista de mais vendidos porque o autor botou o pé na estrada

O "1808", do jornalista Laurentino Gomes, bateu a marca mágica dos sucessos editoriais e entrou na 100ª semana de presença nas listas dos livros mais vendidos. Para quem acha que brasileiro não lê, foram 500 mil exemplares. Na categoria de trabalhos de não-ficção de autores nacionais, a melhor marca está com "Estação Carandiru", do médico Drauzio Varela, lançado em 1999, que chegou a 160 semanas.
Há poucas semanas a professora canadense Margaret MacMillan publicou um livro sobre as atuais dificuldades da historiografia, contando que uma estudante decidiu estudar um período porque ele estava "subteorizado". Laurentino foi na direção oposta. No "1808" não se encontram expressões como "burguesia mercantil" ou "pacto colonial". É uma obra simples, dividida em 29 pequenos capítulos, contando a chegada de d. João 6º ao Brasil. Mostra que ele não foi o paspalho retratado pela burrice convencional.
Por trás do sucesso de "1808" há uma lição. Em 2007, quando Laurentino percebeu o próprio êxito, resolveu cavalgá-lo. Contratou uma assessoria que rastreou as vendas do livro, reinventou a obra lançando uma edição juvenil, um audiolivro, uma caixa com DVD, criou um sítio na internet e entrou no Twitter. Gastou R$ 300 mil do seu bolso (mas ganhou R$ 2 milhões). Deixou o emprego que tinha na Editora Abril e, nas suas palavras, "botei o pé na estrada". Visitou 60 cidades, fez 250 palestras, autografou 5.000 exemplares e respondeu a 10.000 e-mails.
É dura a vida de um autor. Há seis meses ele descobriu (graças aos leitores) que a Editora Planeta rodara 8.000 exemplares embaralhando capítulos de uma biografia de Indira Gandhi. Pior: esse reparte fora mandado para livrarias da internet para ser vendido a R$ 9,90 e acabara em livrarias a R$ 40.
Laurentino publicará em setembro de 2010 seu novo livro, "1822", pela Ediouro. Para recontar a história da Independência, ele foi ao sertão piauiense e visitou o campo da batalha de Jenipapo, em Campo Maior.
Nela morreram 400 brasileiros ignorados pela história. Deles há a lembrança dos túmulos e um monumento de concreto, perdido numa mata de carnaúba.

O MAPA DO TESOURO DA ILHA DE FURNAS

Prossegue a caça ao tesouro da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos trabalhadores de Furnas, onde há um ervanário de R$ 8 bilhões. Começou a eleição dos três representantes dos funcionários no conselho da instituição. É um um processo que mobiliza 14 mil pessoas e dura cerca de um mês, culminando com a posse dos escolhidos, em outubro, quando termina o mandato da atual diretoria do fundo. O novo conselho escolherá a próxima diretoria.
Numa das últimas reuniões da diretoria de Furnas, que não tem poder sobre o conselho, ouviu-se um curioso comentário: se os conselheiros não atenderem aos desejos de Brasília, a Fundação Real Grandeza sofrerá intervenção da Secretaria de Previdência Complementar.
Caso clássico de ameaça de golpe antes de se saber o resultado de uma votação. Se o Real Grandeza deve sofrer intervenção, ela deveria ter sido feita ontem. Usar essa ameaça para influenciar os conselheiros é coisa de quem quer criar mais uma encrenca, como se não bastassem as existentes.
A principal pressão sobre o Real Grandeza vem da Câmara, mais precisamente, da banda ágil do PMDB, que já perseguiu a diligência em três outras ocasiões. O período de esplendor desse poderio sobre Furnas deu-se entre 2007 e 2008 quando a estatal foi presidida pelo ex-prefeito do Rio Luis Paulo Conde, um arquiteto que se doutorou em artes elétricas sob a orientação do deputado Eduardo Cunha. O PMDB do Rio tenta dominar as arcas de Furnas com tanto afinco que há poucos meses um diretor da estatal recebeu um pedido para fazer do departamento de produção de Campos um pudim de amigos.

FISCAIS DA VIÚVA
O ministro Guido Mantega pôs o dedo na ferida ao revelar que, durante sua gestão (mais precisamente, em 2008), fortaleceu-se o setor de fiscalização da Receita Federal sobre instituições financeiras, que "estava carente". Põe carente nisso, até então a Viúva tinha 29 funcionários na fiscalização externa da banca paulista. Apesar dos muxoxos, esse número está em 44 e os novos auditores começaram a trabalhar há poucos meses. Numa atividade que nada tem a ver com o trabalho da Receita, a Prefeitura de São Paulo tem 602 fiscais para vigiar os ônibus fretados.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e procura abandonar essa condição acompanhando o programa juvenil "Viva Pitágoras", da TV Cultura de São Paulo, mantida pela Viúva. Na quarta-feira o idiota surpreendeu-se com três interrupções para que se divulgasse a inauguração da "Universidade Virtual" criada pelo governo do Estado. Uma das interrupções durou quatro minutos e propagou um discurso do governador José Serra. Eremildo é um frequentador da TV Brasil, do governo federal e garante que nunca teve o prazer de ouvir Nosso Guia durante quatro minutos ininterruptos. O idiota concorda com Serra: "Não me venham escrever de novo que isso aqui é um lance para a campanha presidencial".

FÉRIAS
Nos próximos quatro domingos o signatário prestará sua solidariedade às centrais sindicais que lutam pela redução da jornada de trabalho, radicalizando a proposta: cumprirá jornadas sem trabalho.

TED KENNEDY
Para quem acredita na eternidade do poder e na memória curta das gentes. No dia 12 de julho de 1973, sendo presidente da República o general Emílio Garrastazu Médici e ministro da Justiça o professor Alfredo Buzaid, a censura emitiu a seguinte nota para a imprensa: "É proibido divulgar as denúncias do senador Edward Kennedy sobre torturas no Brasil".

VAMOS ALMOÇAR?
Está nas livrarias "Kissinger e o Brasil", do professor Matias Spektor. É um estudo exemplar da articulação (fracassada) do secretário de Estado Henry Kissinger para criar uma relação preferencial com o Brasil, entre 1974 e 1977. Poucas vezes uma fase da diplomacia nacional foi pesquisada com tamanha riqueza documental. O livro de Spektor conta dois episódios ilustrativos da displicência com que os americanos tratavam as relações com o Brasil. Em 1974, o vice-presidente Gerald Ford acabara de assumir o lugar de Richard Nixon e tinha uma reunião com o chanceler brasileiro Azeredo da Silveira. Recebera documentos preparatórios para a conversa e Kissinger procurou atualizá-lo. Deu-se o seguinte diálogo:
Ford: "Deixei meu papel na residência."
Kissinger fez o possível: "Geisel é o presidente, Silveira é o ministro das Relações Exteriores".
Noutro lance, Kissinger reuniu-se com o chanceler soviético Andrei Gromiko. O russo estava preocupado com o acordo nuclear assinado pelo Brasil e Alemanha e temia que disso resultassem bombas em Bonn e Brasília. O secretário de Estado americano deu uma resposta tranquilizadora, porém breve, e concluiu: "Vamos almoçar?"

PANORAMA POLÍTICO

Nacionalismo

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 30/08/09

O presidente Lula decidiu ceder na questão dos royalties. Quer evitar que ela seja usada para retardar a votação do novo modelo de exploração do petróleo, o de partilha da produção. Seus auxiliares diretos dizem que o Brasil perderá tanto dinheiro mantendo o modelo de concessão que os que assim desejam não poderão defender isso abertamente. A tática então seria retardar a decisão na expectativa de que o presidente Lula não consiga eleger seu sucessor no ano que vem.

Governo se prepara para jogo pesado

Um ministro adiantou que a questão nacional vai permear o discurso do presidente Lula amanhã. O governo acusa as empresas petrolíferas estrangeiras e institutos privados de serem os mentores do discurso de que não é preciso ter pressa para decidir, e de que o debate deve ser ampliado.

Por isso, o presidente Lula vai bater duro na tecla, diz um assessor, de que “não dá mais para o Brasil ficar com uma merrequinha enquanto as empresas privadas levam a parte do Leão”. O mote será: “O Brasil tem que se apropriar da maior parte da renda do petróleo para sair da pobreza e ingressar na era da economia do conhecimento”.

“Se fosse uma determinação (do presidente Lula), não haveria outra saída a não ser entregar o cargo” — Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, pressionado pela bancada ruralista a não assinar portaria revendo os índices de produtividade das propriedades rurais

MANEJO DE MILITANTES. Em reunião da Executiva Nacional do PV, terça-feira, a senadora Marina Silva (AC) contou que em seu estado o partido surgiu com militantes “emprestados” do PT, em acordo costurado por Chico Mendes. “Eu acho que o PV encontrou o caminho das pedras. Essa história de manejo sustentável de militantes continua até hoje”, disse Marina, para risada geral.Ela acaba de trocar o PT pelo PV.

Mais feriado não

A coordenação das entidades negras esteve com o presidente Lula. Pediu que 20 de novembro, Dia de Zumbi, vire feriado nacional.

A resposta de Lula: “Vocês me sugerem trocar esse feriado por outro? Já tem feriado demais no Brasil”.

Azucrinando

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) quer mesmo concorrer ao Planalto. Mas deve mudar seu domicílio para São Paulo. Os socialistas acham que isso obrigaria o PSDB a lançar para o governo Geraldo Alckmin, que é o nome de maior densidade.

Ciro: disputa mesmo sem o Bloquinho

PDT e PCdoB não estão dispostos a embarcar na candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência.

Mesmo assim, ele pretende concorrer. Os governadores de seu partido já estariam fazendo os entendimentos com o PT para a existência de dois palanques: o de Ciro e o da ministra Dilma Rousseff. Na avaliação dos socialistas, o PSB só precisa de uma aliança com um partido médio para ampliar seu tempo de propaganda no rádio e na TV.

Quanto custa o Vale Cultura

A estimativa do governo é que, caso todos os empregadores tributados com base no lucro real se inscrevam no Vale Cultura, que prevê renúncia fiscal, o impacto sobre a receita tributária será de R$ 2,5 milhões em 2010, de R$ 2,7 milhões em 2011 e de R$ 2,9 milhões em 2012. O projeto finalmente chegou ao Congresso na semana passada, 25 dias depois de ser anunciado pelo presidente Lula. O benefício será de R$ 50 por mês e funcionará nos moldes do Vale Refeição.

O FUTURO presidente do PT, José Eduardo Dutra, diz por que é importante uma coligação com o PMDB: “Quem está no governo precisa de muito tempo de propaganda na televisão para mostrar o que fez”.

NO RIO, terça-feira, Lula participa de formatura de dois mil beneficiários do Bolsa Família. Há 26 mil fazendo cursos de construção civil e turismo.

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

PAULO ROBERTO FALCÃO

Outra história

ZERO HORA - 30/08/09

O pedido de Tite à torcida do Inter resume bem o significado do jogo deste domingo entre Internacional e Goiás, com toda a conotação emocional que a partida envolve. O treinador sugeriu aos torcedores que idolatrem Fernandão e Iarley, que estão na história do clube, mas apoiem o time atual. É bem isso: cada jogo é uma história diferente e o de hoje, mesmo com o Inter desfalcado de jogadores importantes, tende a mostrar a exata ambição do clube no Brasileirão.

Além disso, como compreensivelmente Fernandão está no foco de todas as preocupações, o risco é de o Inter se descuidar do time do Goiás, que é muito bom. É provável, inclusive, que Hélio dos Anjos comece o jogo sem Fernandão, pois conta com jogadores como Vítor, Léo Lima, Iarley e Felipe que são muito qualificados. Não é por acaso que o Goiás, ainda sem o reforço do antigo ídolo, fez uma campanha surpreendente no primeiro turno do Brasileirão.

Tite tem razão ao lembrar que a passagem de Fernandão e Iarley pelo Inter é passado. Mas o presente, esta outra história reservada para o jogo deste domingo, vai depender muito do time que ele organizou para tentar se aproximar do Goiás na tabela de classificação. Se vencer hoje, o Inter fica em condições de voltar a pensar na liderança com os pontos do jogo que ainda precisa recuperar.

Novidades

As estreias de Fabiano Eller e Edu, forçadas pela necessidade, tornam imprevisível o desempenho do Internacional. O esperado é que esses jogadores utilizem a experiência para compensar a falta de entrosamento.

Mágoa

Não acredito que Iarley e Fernandão possam jogar mais ou menos por conta de eventuais mágoas que tenham com o clube que ajudaram a levar ao título mundial. São profissionais. Jogarão contra o Inter como se estivessem enfrentando qualquer outro clube do Brasileirão.

Prazer

Leitor César Augusto Homerich Valduga faz um acréscimo à pequena lista que fiz outro dia de jogadores que proporcionam prazer a quem os vê jogar: “Concordo plenamente com os jogadores relacionados por você (Hernanes, Guiñazu, Victor e Kléberson), que dão prazer em ver jogar. Porém você esqueceu do que me dá mais prazer de todos, o Marcelinho Paraíba.”

Cruzamento

Esta rodada do Brasileirão reservou dois confrontos entre os integrantes do G-4: o primeiro (Palmeiras) enfrenta o terceiro (São Paulo); e o segundo (Goiás) visita o quarto (Inter). Parece semifinal.

TOSTÃO

Dia de bons jogos

JORNAL DO BRASIL - 30/08/09

Espero ver hoje boas partidas, como fizeram Santos e Inter, na quarta-feira. Isso, se os árbitros deixarem. A interferência de árbitros e auxiliares na qualidade e nos resultados das partidas, com tantos erros graves na marcação de pênaltis, impedimentos, e na punição com excesso de cartões, atingiu níveis insuportáveis.

O Palmeiras é o único time brasileiro que tem, do meio de campo para frente, dois jogadores especiais, Diego Souza e Cleiton Xavier. Com Vágner Love, serão três. O São Paulo tem Hernanes. Como o São Paulo joga em casa, os dois times hoje se igualam. Se Cleiton Xavier não atuar, o São Paulo passa a ter vantagem.

Diego Souza, que era volante, descobriu seu lugar mais perto do gol. Além de forte, alto e de finalizar bem, ele é criativo e surpreendente. Cleiton Xavier e Hernanes marcam, passam, cruzam e ainda fazem gols. Cleiton Xavier não faz jogadas espetaculares, vistosas, mas faz bem o que deve ser feito. Já Hernanes se destaca mais por alguns excepcionais lances, que lembram grandes craques, que ele ainda não é. Hernanes precisa ser mais regular e aprender a esperar o momento certo para tentar uma jogada individual.

Qual dos dois goleiros, Marcos ou Rogério Ceni, os que torcem por outros times gostariam de ter em suas equipes?

Fernandão deve atuar hoje, contra o Inter. Gosto mais de Fer nandão perto do gol, formando du pla com outro atacante. Além de ser alto e cabecear muito bem, ele é preciso nos toques em pequenos espaços. Mais recuado, por ser lento, Fernandão tem dificuldades para chegar à frente.

O Grêmio precisa ganhar também fora de casa para sonhar com a Libertadores e com o título, e o Bo tafogo precisa vencer, pelo me nos em casa, para fugir do re baix amento. Penso que o Grêmio deveria tentar jogar, fora de casa, como faz em Porto Alegre, onde marca por pressão. Fora, não faz isso nem joga em contra-ataques. Tcheco, por ser lento, é o que tem mais dificuldades para recuar, marcar e chegar ao ataque.

O Cruzeiro, fora de casa, contra o Vitória, deve ter muito mais dificuldades para vencer que o Atlé tico, no Mineirão, contra o Sport. O Cruzeiro tem cinco pontos a menos e um jogo a mais que o Atlé tico. Os torcedores do Cruzeiro já dizem que o time vai ultrapassar o rival. Será? Faça sua aposta.

O Santos, na Vila Belmiro, não tem vencido tanto, como Luxem burgo imaginava. Já o Fluminense, desesperado, precisa ganhar em ca sa e fora. Luxemburgo tem orien tado Madson para usar sua velocidade com mais objetividade.

O técnico deveria fazer o mesmo com Neymar. Apesar de o time melhorar quando ele entra, Ney mar corre demais, cai, acerta e erra muito. Todo jogador precisa achar seu lugar, sua referência em campo, para daí se movimentar e improvisar. Mesmo assim, com 17 anos, franzino e confuso, Neymar já é melhor que os outros.

Luxemburgo sempre disse que vai se tornar gerente de futebol. Ancelmo Gois escreveu em sua co luna, em O Globo, que o técnico pensa em fazer isso logo. Outros fa lam que Luxemburgo vai ser candidato a senador. Tudo a ver.