sábado, agosto 22, 2009

MERVAL PEREIRA

Suplantando o Congresso

O GLOBO - 22/08/09

Uma das razões para a permanente crise em que vive o Congresso Nacional, afora as questões de decoro parlamentar e nepotismo, é a maneira como o governo encaminha os principais temas políticos, retirando os parlamentares da discussão da maioria deles. Ou o assunto é encaminhado através de medida provisória, ou discutido diretamente com as centrais sindicais e organizações da sociedade civil.

Lula já disse que é impossível governar sem medidas provisórias, e recentemente a pauta do Senado ficou travada por sete meses devido a medidas provisórias em excesso. A contabilização oficial mostra que o governo Lula tem editado uma média de mais de 4,5 medidas provisórias por mês, ultrapassando seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, que editou em oito anos 365, enquanto Lula já editara 345 até janeiro deste ano.

Mas é a negociação direta, ultrapassando a prerrogativa do Congresso, que traz mais prejuízos às relações institucionais, subvertendoas e enfraquecendo a representação parlamentar. As negociações fisiológicas tomam o lugar, então, dos debates programáticos.

A primeira tentativa foi usar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para dar ao Congresso um “prato feito”, com as reformas estruturais como a previdenciária e até mesmo a política.

A reação foi imediata, e o CDES acabou se transformando no que nunca deveria ter deixado de ser, um conselho consultivo do governo, formado por representantes do empresariado, das centrais sindicais e da sociedade civil.

Outros assuntos, no entanto, são tratados de maneira terminativa diretamente entre o governo, as centrais sindicais e as ONGs, cabendo ao Congresso apenas ratificar as decisões.

Lula gaba-se de que “nunca desde que o Brasil foi descoberto as centrais sindicais foram tratadas como eu trato”.

E é verdade, só que esse tratamento excepcional é dado em detrimento do Congresso, que fica sem agenda para negociar com a sociedade que representa, e um bom exemplo é o aumento do salário mínimo.

O acordo que fixou que o aumento será dado com base em um índice que engloba a inflação do último ano, mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior, foi feito diretamente com as centrais sindicais.

Da mesma forma, o aumento dos aposentados que ganham mais de um salário mínimo, que ficou para o ano que vem, foi negociado com representantes dos aposentados e das centrais sindicais.

O pior é que essas negociações, na maioria das vezes, são uma farsa, com o governo combinando com os sindicatos o quanto pode dar, e os sindicatos fixando essas metas como reivindicações suas.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, exacerbou essa maneira de governar ao assinar recentemente portaria conjunta de sua pasta e do Ibama que dá às entidades sindicais de trabalhadores parcela de decisão no processo de licenciamento ambiental de um empreendimento empresarial.

A portaria — assinada durante o 10 oCongresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo —, obriga os empreendedores a incluir no Estudo de Impacto Ambiental e no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) capítulo específico sobre “alternativa de tecnologias limpas para reduzir os impactos na saúde do trabalhador e no meio ambiente, incluindo poluição térmica, sonora e emissões nocivas ao sistema respiratório”.

O mais recente embate entre o governo e as empresas privadas tem em sua raiz justamente a participação de ONGs e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na rediscussão de toda a política nacional de comunicações.

A Conferência Nacional das Comunicações (Confecon) está sendo convocada pelo governo com a participação de organizações da sociedade civil, como Intervozes, FNDC, Pró-comunicação, a CUT e as representações de entidades empresariais.

Na impossibilidade de se chegar a um acordo sobre o escopo da conferência e, sobretudo, sobre o peso do voto de cada representação, seis das oito entidades empresariais saíram da Confecom: a Abert (de radiodifusores), Abranet (dos provedores), ABTA (das TVs por assinatura), Aner, Adjori e ANJ (da mídia impressa).

Curiosamente, um dos organizadores da Conferência é o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que, na sua encarnação anterior como jornalista, teve um debate com o sociólogo Betinho, em junho de 1996, sobre o papel das ONGs.

Naquela ocasião, Franklin considerava “qualquer tentativa de contornar o Parlamento, ou de achar que se definem políticas públicas sem passar por ele, não é uma atitude democrática. Isso investiria contra a essência do Estado democrático, que é o voto”.

Para ele, havia o perigo de, “a pretexto de dar voz a esses interesses fragmentados, se criarem condições para que a vontade de pequenos grupos seja imposta, e o voto, base da democracia, acabe relativizado e deixado de lado.” A participação das ONGs nos conselhos, quando ultrapassa os limites de um simples grupo de pressão ou de assessoramento, é delicada, afirmava na ocasião Franklin Martins.

Ele dizia acreditar que “ao se apresentar como representante da sociedade civil e participar de reuniões com direito a voto, as ONGs negam o sistema representativo”.

E concluía seu pensamento: “Não vejo a menor autoridade para que falem em nome da sociedade. Quem fala em nome da sociedade é quem tem voto para isso”.

Hoje, essas afirmações soam como uma crítica à atuação do governo como um todo, e à sua especificamente.

FERNANDO RODRIGUES

O discurso helicoidal do PT

FOLHA DE S. PAULO - 22/08/09

BRASÍLIA - Lula foi explícito na quinta-feira: "Se a pessoa quer sair do partido, não está confortável, é direito da pessoa".

Um dia depois, metamorfoseou o pensamento numa carta de 235 palavras a Aloizio Mercadante. No texto, conclamou o petista a permanecer como líder no Senado: "Fique na liderança. Esse é um pedido sincero de um velho amigo".

O episódio mostra um presidente insincero ou numa crise de transtorno bipolar. Num dia, vale o ditado "a porta da rua é a serventia da casa". Depois, aparece o Lula bonzinho e contemporizador.

Com sua indignação seletiva, Mercadante acreditou no Lula epistolar. A carta presidencial fez o senador sepultar sua aflição pela absolvição de José Sarney.

Ontem, da tribuna do Senado, Mercadante usou um raciocínio helicoidal para revogar sua renúncia irrevogável anunciada por ele mesmo 24 horas antes.

Cinismo à parte, essa história é a superfície de um grande conchavo de bastidor. Cada um cumpre sua função. Lula simula desejar a manutenção de Mercadante como líder. É conveniente ter um vassalo nesse cargo, sempre pronto a ser humilhado quando necessário.

Mercadante surge como um Hamlet de província e suas dúvidas existenciais. Protagoniza cenas de teatrão stanislavskiano. Exala autocomiseração com seu andar macambúzio. O semblante triste faz o serviço para engambelar parte do eleitorado ingênuo ainda crente na ética defendida pelo senador no início de sua carreira.

Justiça seja feita, Mercadante não está só no papel de "petista ético traído" (sic). O senador Flávio Arns ganha o prêmio de melhor ator coadjuvante. Não há registro de repulsa de Arns quando o PT se lambuzava com o mensalão, dólares na cueca ou salvava Renan Calheiros.

Tudo somado, só com muita boa vontade para enxergar algo aproveitável na atual bancada petista.

CLÓVIS ROSSI

Todos "se lixam"

FOLHA DE S. PAULO - 22/08/09

SÃO PAULO - Quer entender por que não acontece nada com congressistas envolvidos em escândalos, por mais que haja contundentes evidências de que violam o decoro dia sim e o outro também?

É só prestar atenção aos números da pesquisa Datafolha, em que 74% dizem querer o afastamento de Sarney. É ilusório.

Detalhemos o resultado: apenas 78% tomaram conhecimento das denúncias. Apenas?, perguntará você. Sim, apenas. Neste caso, não se trata de campanha da mídia impressa, ao contrário do que pretende o clã Sarney, que até buscou -e conseguiu- obter a censura de um jornal, o "Estadão", o que necessariamente se estendeu aos demais meios de comunicação.

As denúncias estão em toda a parte, inclusive nos meios realmente de massa (TV e rádios).
Que quase um quarto do eleitorado não tenha tomado conhecimento delas diz tudo a respeito da cidadania no Brasil. Mas há detalhes ainda mais deprimentes: dos 78% que, sim, tomaram conhecimento das denúncias, só 24% se dizem bem informados.

Tem-se, pois, que pouco menos de 19% do eleitorado (24% de 78%) está em condições de indignar-se, porque, para isso, é preciso estar antenado, certo?

Inverte-se aqui a frase daquele deputado que dizia "lixar-se para a opinião pública". A tal de opinião pública é que se lixa para as denúncias, possivelmente porque prevalece a ideia de que todo político é ladrão. Uma acusação a mais ou a menos contra um político a mais ou a menos não faz, portanto, a mais remota diferença.

Ah, os que se dizem petistas desmentem o argumento calhorda de que há uma perseguição a Sarney para atingir Lula. São eles, com 73%, os vice-campeões em cravar "sim, Sarney está envolvido", acima da média (66%) e atrás apenas dos tucanos. Aceitam, pois, que a "perseguição" é dos fatos.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

O poder do pijama

"Getúlio poderia ter vestido um terno. Poderia,
se optasse por um aparato teatral, ter recorrido
a um smoking. Não. Nos trajes mesmos em que
se deitara, deu-se o tiro"

O pijama de seda e de listras que o presidente Getúlio Vargas usava quando se suicidou voltará a ser exibido, a partir desta segunda-feira, 24 de agosto, no Museu da República, instalado no mesmo Palácio do Catete em que se deu o fato. Fazia oito meses que o pijama estava ausente da vista do público, recolhido para trabalhos de restauro. Eis um prato cheio, para quem tem o gosto fetichista (e poucos não têm) de contemplar um objeto que fez história. Pode-se ver até, à esquerda, junto ao bolsinho, a marca da bala com que seu usuário alvejou o próprio coração. O pijama de Getúlio é uma das peças capitais da história do Brasil. Não tem o esplendor da coroa de dom Pedro II, mas sua humildade só lhe aumenta a carga simbólica. A data de sua volta aos olhos do público coincide com o 55º aniversário da morte do dono.

Pijamas, com toda a singeleza de peça doméstica, de uso na hora desprevenida em que se vai para a cama, podem fazer história. O de Getúlio protagoniza um caso extremo, mas há outros. Ainda recentemente, tivemos, no episódio da deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, o detalhe capital de que ele foi retirado do palácio ainda de pijama, assim arrastado até o aeroporto e assim depositado na vizinha Costa Rica. Não foi a primeira vez que isso ocorreu, na crônica dos golpes na América Latina. No Peru, em 1968, o presidente Belaúnde Terry também foi arrancado do palácio de pijama pelos golpistas do general Velasco Alvarado e assim conduzido ao exílio.

De pijama! O detalhe potencializa a feição selvagem de que se reveste o golpe, traiçoeira como emboscada. As vítimas são surpreendidas durante a noite, na hora sagrada do repouso e do silêncio. Se fosse só isso já seria grave, mas a particularidade de não lhes darem tempo de trocar de roupa acrescenta à traição a vontade de humilhar. A intenção é exibi-las na fragilidade da roupa íntima, só a um grau de distância da cueca, e a dois graus da nudez. Se as circunstâncias foram semelhantes, nos casos de Belaúnde e de Zelaya, a sequência os diferenciou. Belaúnde, um homem pacato, assimilou a deposição humilhante e conformou-se ao exílio. Zelaya, mais combativo, e sobretudo favorecido por uma era em que os golpes não são mais aceitos como um fato da vida, como nos tempos de Belaúnde, acrescentou o pijama às suas armas de luta. Tanto o mencionou, para dramatizar o seu caso, que os inimigos passaram a contra-atacar com a versão de que o pijama teria sido encomendado na Costa Rica.

O pijama de Getúlio, tão convencional, como é próprio dos pijamas, e tão inerte, como eles costumam ser quando não têm o dono dentro, é ainda assim, para o Museu da República, uma atração central como é a Mona Lisa no Museu do Louvre. Recordem-se os acontecimentos daquele agosto de 55 anos atrás. O presidente estava acuado por uma oposição que lhe exigia a renúncia. Uma reunião ministerial para avaliar a situação começa na noite do dia 23 e vara a madrugada, até quase raiar o dia 24. Getúlio decide que tirará uma licença do cargo. Sobe então aos aposentos íntimos do palácio, veste o pijama, deita-se na cama. Dorme um pouco, se é que conseguiu dormir, e recebe a notícia de que os militares não aceitarão a licença – querem a renúncia. Sai então do quarto, vai ao gabinete de trabalho e ao voltar um funcionário nota que carrega algo volumoso por baixo do paletó do pijama. Às 8h30, o tiro ressoa no palácio.

Foi sua obra-prima. No plano das ações de governo, Getúlio é questão eternamente em aberto. Seu período foi de industrialização e de desenvolvimento, mas foi também, na fase ditatorial, da censura, da tortura e dos assassinatos. Realização realmente incontroversa, porque acuou os inimigos, deu sobrevivência a seu grupo e inflou a biografia que legou à história, foi o suicídio. E o suicídio resultou ainda mais bem-acabado porque cometido de pijama. Ele poderia ter vestido de volta o terno que usara até pouco antes. Poderia, se optasse por um aparato teatral, ter se metido num smoking, ou ter se enlaçado na faixa presidencial. Ficou no pijama mesmo. Com isso, ressaltou sua situação indefesa, diante da ferocidade do inimigo, e, de quebra, aplicou a pincelada final à cultivada imagem de homem simples, político despojado e presidente amigo dos pobres.

COISAS DA POLÍTICA

O CONGRESSO VIROU CEMITÉRIO DE MULTIUSO

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 22/08/09

Não apenas o Senado mas o Congresso, com o governo em parceira suicida, estão tentando escapar da crise da roubalheira parlamentar pela porta dos fundos. Não basta sair de cena sem enterrar o defunto. E é o que desde esta semana passou a ser adotado, pelo governo e a oposição, com espaço para o presidente Lula sepultar o maior escândalo dos últimos tempos no cemitério de multiuso, escavado na Praça dos Três Poderes.
O cansaço derruba a teimosia em prolongar um bate-boca que já passou da conta, com a repugnância da distinta plateia, dos que pagam o ingresso e sustentam a bandalheira e o elenco de tão contraditórios desempenhos. Com o rosto suado na foto da visita a Natal, na viagem do dia para inaugurar uma escola técnica, empunhando um imenso quadro que é redondo, presente da gentileza potiguar, o presidente Lula em mangas de camisa para aliviar o calor nordestino falou aos repórteres para virar pelo avesso a avaliação dos diversos aborrecimentos de uma semana azarenta. E aos tropeços com a evidência, tingiu as afirmações mal equilibrado nas pernas de pau: “Não vejo crise no PT. O PT continua forte, com muitas possibilidades” – o que é uma conclusão óbvia que briga com a premissa. Elogiou a senadora Marina Silva (AC), que acaba de se desligar do PT pelas mesmas razões que pedira demissão do Ministério do Meio Ambiente: segundo Lula porque quis; segundo a ex-petista e ex-ministra, porque “este é um governo insensível às causas sociais” E não havia mais sentido em ficar no partido para convencer o PT da importância da causa ambiental.
Ora, em todos os capítulos da novela que começa com o erro inicial de nomear uma militante da defesa ambiental para ministra de um governo que pende como árvore na tempestade para a derrubada para o desenvolvimento da pecuária, o plantio da soja, a construção de hidroelétricas. Lula desprezou a saída dos dois senadores petistas e os resmungos repetentes do líder da bancada, senador Aloizio Mercadante (SP), que já engatou a marcha a ré para aceitar o convite para um encontro com Lula.
O senador paranaense Flávio Arns deixou o partido, anunciando o desligamento na reunião do Conselho de Ética do Senado que livrou do processo todos os acusados. Transformar derrota em vitórias é um desafio para qualquer liderança. No caso de Lula e da sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, os índices recordistas de aprovação popular do presidente Lula, acima dos 80%, é alavanca para a convicção da vitória. Pela primeira, com a sombra de ameaça com a entrada da ex-ministra Marina Silva, como candidata para sustentar a prioridade da preocupação ambiental, traz um novo tema para arejar a campanha, que prometia mais uma repetição das duas últimas, com a eleição e a reeleição de Lula. Ainda muito distante de uma solução é a crise ética que lambuzou o Legislativo, com a praga da desmoralização. Um caso com a sua singularidade: a saída está à vista, é a única, mas ainda inviável. Só quem não quer ver não enxerga: o Congresso só se reconciliará com a opinião pública se a folgada maioria dos eleitos nas urnas de 3 de outubro de 2010 assumir o compromisso durante a campanha, mostrando o rosto no horário de propaganda eleitoral – em rede de televisão e de emissoras de rádio, em declarações aos jornais, revistas, na internet – de, como primeira medida da reforma política, acabarem com todas as mordomias, sem exceção, incluindo as passagens mensais para o fim de semana nas bases eleitorais, com verba a imoral indenizatória, celulares pagos pela Viúva, verba para pagamento de hotéis, para a compra de jornais e revistas, enfim para a farra que acabou no desmoralizante escândalo da roubalheira que envergonha o país.
O velho Congresso de antes da mudança da capital para Brasília não pode ser comparado com o atual, sem os descontos de quase meio século em que o mundo mudou. Mas cada caso tem as suas peculiaridades. E a evocação no embalo da saudade do velho repórter com 60 anos e quebrados de militância ininterrupta na cobertura política são pode nem quer fugir do exame dos contrastes. O Senado no majestoso Palácio do Monroe, derrubado para a construção de uma garagem subterrânea, e a Câmara dos Deputados no Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa, com seus 200 deputados, era de uma sobriedade de convento diante do que está aí. Os parlamentares ganhavam os seus subsídios mensais, os extras das sessões extraordinárias, e só. Muitos moravam em hotéis modestos no Catete, Flamengo, Botafogo, e nem todos tinham carro. Nas férias parlamentares, o pagamento em dobro garantia a compra de passagens aéreas ou em ônibus para o descanso com a família.
O tempo não anda para trás. Mas, ou este Congresso cria juízo e acaba com as mordomias, ou esta farra acaba mal.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

Diogo Rimbaud

"Rimbaud conduzia caravanas de mercadorias
na Etiópia do rei Menelik II? A minha Etiópia
é a TV Bloomberg do prefeito Bloomberg"

Arthur Rimbaud largou a poesia? Eu larguei a poesia. Ele se tornou um negociante de escravos e de armas? Eu me tornei um negociante de Gerdau ON e de Lupatech PN. Ele conduzia caravanas de mercadorias na Etiópia do rei Menelik II? A minha Etiópia é a TV Bloomberg do prefeito Bloomberg. Ele remunerava seus empregados com pares de sapatos, telescópios e laxantes? Eu remunero meus empregados com pares de sapatos, telescópios e laxantes. Ele era pago em táleres? Eu sou pago em reais. Ele amputou a perna? Eu lesionei o menisco.

Quando largou a poesia para se dedicar aos negócios, Rimbaud tinha 20 anos de idade. Eu demorei bem mais do que ele – só me aventurei pelo território selvagem da bolsa de valores no finzinho do ano passado. Assim como Rimbaud era acompanhado por seus camelos, eu sou acompanhado por meus leitores. Na mesma semana em que investi todas as minhas economias no mercado acionário, recomendei que os leitores me seguissem, trotando confiantemente atrás de mim. De lá para cá, eu e meus camelos conseguimos dobrar nossas economias.

Para poder apreciar plenamente a superioridade da vida mercantil sobre a vida contemplativa, é necessário analisar os índices financeiros de maneira obstinada, minuto a minuto. O resultado trimestral de uma siderúrgica ou de uma seguradora tem o poder de despertar nos investidores todo o repertório de distúrbios diagnosticados por Sigmund Freud em Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana: esquecimentos, atos falhos, lapsos, erros reiterados, determinismo, sonhos proféticos, crendices. Arch Crawford usa a astrologia para fazer suas análises financeiras. Ninguém se saiu melhor do que ele nos últimos tempos. Ele previu a queda vertiginosa das bolsas de valores em setembro do ano passado. Ele previu a subida igualmente vertiginosa das bolsas de valores em fevereiro deste ano. O que os astros lhe indicam agora? Uma nova queda vertiginosa a partir de 3 de setembro, sinalizada por um eclipse lunar. Os investidores do mercado global guiam-se exatamente pelos mesmos princípios rudimentares dos barongos ou dos wakambas, duas tribos africanas citadas em outra obra de Sigmund Freud, Totem e Tabu.

Aplicar na bolsa de valores é como participar de um linchamento: a individualidade se dissolve na massa. Em 1841, Charles Mackay revelou o funcionamento das bolhas financeiras, associando-as a imposturas coletivas como a alquimia, o curandeirismo e – sim – a astrologia. Ele tratou também de imposturas relacionadas a políticos barbudos, como William FitzOsbert, ou Barbalonga, "o grande demagogo de seu tempo". Isso só pode ser um sinal: está na hora de largar a bolsa de valores e de esconder todos os táleres debaixo da cama.

MÍRIAM LEITÃO

As dissonâncias

O GLOBO - 22/08/09

As economias mundial e brasileira sofrem de dissonâncias. É o que acha o economista José Roberto Mendonça de Barros sobre os indicadores diferentes e até divergentes dos últimos dias. O economista Gustavo Loyola acha que no Brasil atual estão sendo cometidos “pequenos assassinatos institucionais”, como o estatismo, a volta da CPMF e o enfraquecimento das agências regulatórias

Dissonâncias. Alemanha e Japão, duas máquinas exportadoras, estão saindo da recessão graças à exportação de máquinas para a China, mas as bolsas do Japão e da China despencaram no dia seguinte à notícia japonesa.

Ontem, as bolsas subiram fortemente no mundo inteiro por notícias boas do mercado imobiliário americano e o discurso do presidente do Fed, Ben Bernanke. Mas há uma semana estava todo mundo preocupado com o consumo americano. Há países saindo da crise mais cedo, há países ainda afundados em quedas fortes como Rússia, Chile e México.

— Há dois movimentos paralelos. Alguns países continuam mantendo PIB positivo, e outros ainda com indicadores negativos. As bolsas estão refletindo essa dissonância — diz José Roberto Mendonça de Barros.

Gustavo Loyola acha que a dissonância de agora é que o mundo está saindo da crise mais rápido do que se imaginava, mas deixando contas altas a serem pagas pelos efeitos colaterais dos remédios utilizados: — Eu acredito que é inevitável um crescimento baixo nos grandes países que se endividaram demais agora.

A sociedade terá que pagar esses excessos. Isso vai virar dívida ou aumento de imposto.

Há dissonâncias criadas pelos erros de avaliação do mercado financeiro, na opinião dos dois veteranos consultores.

— Outras bolhas podem se formar porque os erros cometidos pelos analistas do mercado financeiro são os mesmos. Eles repetem os erros porque há sempre analistas novinhos em folha, terminando seus MBAs, e acreditando em algum Prêmio Nobel reincidente — disse Mendonça de Barros.

Loyola se divertiu com a avaliação e concordou: — Dizem que o mercado é como um computador com muita capacidade de processamento e pouca memória.

Esta semana foi dissonante.

Aqui, na quinta-feira, saíram os números do desemprego e da arrecadação. No desemprego, alívio: o índice caiu, enquanto aumentaram a População Economicamente Ativa, a massa salarial e a renda. Na arrecadação, mais um alerta vermelho. Caiu pelo nono mês. Caiu pela crise, que reduz a arrecadação, e caiu pelos incentivos do governo para tirar o país da crise.

Além disso, os gastos estão aumentando em custeio, e em rubricas que não poderão ser reduzidas.

— O próximo governo terá um trabalho enorme para reequilibrar as despesas.

Elas poderiam até ter alta real, desde que ficassem abaixo do crescimento do PIB — disse Loyola.

— Até agora, o governo gastou o que tinha e por isso a dívida/PIB não subiu. Mas perigosamente começa a gastar o que não tem, anunciando aumento real a aposentados mesmo com o déficit da Previdência e com essas ideias que elevam o gasto previdenciário que estão no Congresso — disse José Roberto na entrevista que ambos me concederam na Globonews.

Para ele, o Brasil está pagando um preço à vista menor do que outros países, mas pode vir a pagar um preço maior a prazo. Em larga medida pelo gasto público errado e pela queda dos investimentos.

A tese de Loyola é que o governo está praticando “pequenos assassinatos institucionais”, quando desestrutura as agências reguladoras, quando aumenta os gastos correntes, quando cria estatais e refaz o estatismo, quando recria a CPMF , tudo isso revogando avanços conseguidos anteriormente.

— Imagino o investidor da área de petróleo, que está há dez anos investindo, diante das ideias do Pré-Sal.

José Roberto acha que há uma diferença boa entre a economia brasileira e mundial que pode nos favorecer na retomada.

— Aqui, o mercado imobiliário não entra como problema e sim como solução.

O crescimento do mercado é resultado da evolução do aparato institucional na área nos últimos 15 anos. O mercado imobiliário joga a favor e não contra.

Mendonça de Barros disse que o Brasil fez avanços importantes nos últimos anos, como a estabilização da moeda, no governo anterior, e o aumento da inclusão social, no atual governo. Para o futuro, ele acha que há dois desafios inescapáveis: — Precisamos nesta etapa de crescimento econômico sustentável. Não pode ser motosserra de um lado e meio ambiente do outro. Outra questão é o aumento da competitividade da economia brasileira e isso se faz com investimento. Fala-se de investimento, mas é tudo fumaça.

Não aguento mais ouvir falar em dragagem de portos nos últimos cinco anos, e até agora não tiraram uma colher de areia dos portos.

Eles acham que o real entrou definitivamente no radar dos investidores internacionais, depois de 15 anos de estabilidade monetária. Por isso, acreditam que o real vai continuar se valorizando.

Apostam ainda que a inflação vai ficar na meta ou abaixo dela e os dois acham que é possível reduzir a taxa de juros ainda mais, apesar do conservadorismo exposto na ata do Copom.

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
O médico, o monstro e a vergonha feminina
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

“Existem os médicos e os monstros. Ele é um médico monstro.” Assim uma ex-paciente se referiu ao doutor Roger Abdelmassih, na TV Globo. Calvo, de cabelos e bigodes brancos, 65 anos, esse especialista em reprodução humana foi preso ao chegar a sua clínica de luxo em São Paulo. A acusação é de abuso sexual contra 39 mulheres desde os anos 70. Os depoimentos são de embrulhar o estômago. Constrangedoras também são as piadinhas masculinas.

Homens que se consideram inteligentes e sensíveis perguntam, rindo: “Que droga será essa que deixa as mulheres mais amorosas e submissas?”. Também há os que não entendem por que as mulheres não denunciaram o médico antes: “Elas deveriam sair da clínica e ir direto à delegacia. Por que ficaram caladas?”.

Talvez eles não possam mesmo compreender o alcance do sentimento feminino de vergonha, humilhação, revolta, nojo e culpa. Um sentimento pleno de ambiguidades invade a mulher em episódios que misturam abuso sexual a poder. Médicos podem ter mais poder que chefes ou maridos. Como desmascará-los? Especialmente o médico que promete dar a ela a capacidade de gerar um filho. É visto quase como um deus. Elas se tornam reféns dele e de um sonho.

Não sei se Abdelmassih é culpado ou inocente. Nem o advogado de defesa nem o filho dele compreendem o “motivo” das denúncias. O médico escreveu um artigo em que pergunta: “Qual a verdadeira motivação para esse movimento que mais se caracteriza como sanha de vendeta, que se expressa em denúncias esvaziadas de sentido, em acusações perversas, subjetivas, sem materialidade?”.

Pois é, doutor. Não parece haver nenhum motivo nos depoimentos das mulheres além de restabelecer uma verdade, restaurar a dignidade, devolver a humilhação e cassar o médico que, segundo elas, um dia as beijou na boca na cama ginecológica, encostou-as com seu corpanzil na parede, passou a mão em seus seios e corpo. E, segundo algumas, as penetrou levantando o lençol que as cobria quando saíam da sedação.

Talvez os homens não entendam o alcance do sentimento
feminino de humilhação, nojo e culpa

Entre as 39 mulheres que já relataram crimes sexuais na clínica de Abdelmassih, umas conseguiram ter filhos, outras não. O tratamento de fertilização na clínica pode custar R$ 200 mil, dependendo do tempo e da sofisticação. A primeira acusação de abuso, em abril de 2008, não foi de uma ex-paciente, mas de uma ex-funcionária. Natural.

As pacientes só ganharam coragem para se confessar vítimas quando houve uma denúncia séria do Ministério Público. Elas não estavam mais sozinhas. A cena sem testemunhas – “subjetiva e sem materialidade”, nas palavras do médico – poderia vir a público com menos danos morais. Já não seria a palavra de uma mulher anônima contra a palavra de um médico rico, poderoso e influente.

O advogado de defesa alega que o número é irrisório diante das 20 mil pacientes que o médico tratou na vida. Eu me pergunto se o número importa para a acusação de crime. Talvez importe para uma conclusão de distúrbio de personalidade. Um homicida é tratado de modo diferente de um serial killer. Mas um médico que trai a confiança e aproveita a vulnerabilidade de uma paciente, uma só que seja, para atacá-la sexualmente deveria rasgar seu diploma.

Uma ex-paciente de Abdelmassih me contou o que sentiu: “No dia da inoculação, eu estava deitada na cama ginecológica, o doutor Roger entrou. Pegou na minha mão e disse: ‘Não se preocupe, vou fazer meu máximo, vou te dar este presente’. Era o momento de maior ansiedade no tratamento. Ele se debruçou e pensei que fosse falar ao meu ouvido, mas me beijou na boca. Não foi um selinho. Ele colocou a língua. Não correspondi, mas fui pega de surpresa, e depois pensei: ‘Por que não falei: seu louco, para com isso!’. Ao sair, meu companheiro perguntou: ‘Tudo bem?’. Fiquei muda, com medo de ele fazer um escândalo na clínica. Se denunciasse, temia ser acusada de ter dado brecha para ele. Tive vergonha. E me culpei de não ter reagido. Mas entendi por que me sentia intimidada”.

No consultório, disse ela, Abdelmassih tem porta-retratos com a mulher, o filho e parece muito sério. Volta e meia anda com um padre pelos corredores, o que reforça sua aura de respeito.

LÚCIA HIPPOLÍTO

A metamorfose do PT

O PT nasceu de cesariana. O pai foi o movimento sindical e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base. Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira. Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT. Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.
Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento de um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.
O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo revolucionário. Não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.
O PT lançava e elegia candidatos, mas não “dançava conforme a música”. Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.
O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto. Mas nos estados, começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. Assim, petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros. Tudo muito chique, conforme o figurino.
Em 2002 o PT ingressou na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Dispensou convicções e amigos de fé, irmãos camaradas.
A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de Plínio de Arruda Sampaio Júnior. Depois foi a vez da esquerda. Expulsa, Heloísa Helena levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, para fundar o PSOL.
Os militantes ligados à Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados a Chico Alencar. Em seguida, Frei Betto. E agora, bem mais recentemente, o senador Flavio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica. Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.
Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas. Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64. Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República. Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus.
Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente.
É o triunfo da pelegada.

PAINEL DA FOLHA

Marina e o PSOL

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/08/09

Nada será assumido publicamente por ora, mas, nos bastidores do congresso partidário que termina amanhã em São Paulo, as principais lideranças do PSOL dão como provável a candidatura de Heloísa Helena ao Senado e como bastante possível o apoio da sigla a Marina Silva, que deverá disputar o Planalto pelo PV.
Tudo depende, dizem os ‘psois’, de para onde caminhar a candidatura de Marina na pré-campanha: se a senadora construir um leque de alianças que lhe permita ser uma ‘terceira via’, a entrada do PSOL no barco é quase certa; se, no entanto, ela se caracterizar como linha auxiliar do campo demo-tucano, a sigla ficaria sem discurso para se encaixar no projeto.

Foco - O discurso de Heloísa Helena está totalmente voltado para o projeto de retornar ao Senado. Ela tem repetido que sua prioridade no momento é ‘combater as oligarquias’ de Alagoas, personificadas em ‘Collor e Renan’.

Forcinha - Apesar de ter se desentendido com Aloizio Mercadante (PT-SP) no dia em que o Conselho de Ética salvou José Sarney (PMDB-AP), Ideli Salvatti (PT-SC) ajudou a costurar com o ministro José Múcio (Relações Institucionais) o pedido de Lula para que ele se mantivesse na liderança da bancada.

A fórceps - Depois de evitar ao longo de toda a quinta-feira atender os telefonemas de Mercadante, Lula foi convencido de que sua saída manteria acesa a crise. Só então aceitou pedir para que ele ficasse.

Luz, câmera... - Senadores da oposição que telefonaram para Mercadante na noite de anteontem relataram que o petista já havia desistido de sua ‘renúncia irrevogável’. Apenas esperava uma carta redigida pelo ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e assinada por Lula para ler em plenário.

Fui - Presidente do PSDB, Sérgio Guerra preparou carta à Mesa Diretora renunciando à cadeira no Conselho de Ética, que na quarta enterrou, além dos pedidos de investigação contra Sarney, o caso do tucano Arthur Virgílio.

Irrevogáveis - No balaio dos atos secretos que vão sendo validados a conta gotas por Sarney, há mais de 4 mil cargos criados de forma irregular. Mesmo se os atos fossem públicos, cargos podem ser criados apenas por resolução.

Tempo! - A bancada do DEM na Câmara instalou um calendário para contar os 27 dias que restam à Casa Civil para responder ao requerimento do líder Ronaldo Caiado (GO), que pede acesso aos vídeos do sistema de câmeras internas do Palácio do Planalto no período em que a ex-secretária da Receita Lina Vieira afirma ter se reunido com a ministra Dilma Rousseff.

Rei morto... - Nem bem deu adeus ao PMDB de Geddel Vieira Lima, Jaques Wagner (PT) começa a tratar o PP do líder na Câmara, Mário Negromonte, como aliado vip.

... rei posto - Com espaço maior no primeiro escalão do governo baiano, o PP já pleiteia uma das vagas ao Senado na chapa reeleitoral de Wagner. O PT, que tem postulantes ao cargo, está pacífico agora que não disputa mais com o PMDB espaços no governo.

Que dia! - Não bastasse a avalanche de mensagens de protesto enviadas por anônimos via Twitter, Mercadante ainda foi alvo de Ricardo Berzoini. Também no microblog, o presidente do PT criticou os que ‘adoram’ ir à tribuna falar dos projetos do governo, mas ‘amarelam’ na hora de enfrentar a oposição.

Costura - Pré-candidato ao governo de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) participou de reunião do PTB-GO pilotada pelo líder do partido na Câmara, Jovair Arantes. Com o aval de Roberto Jefferson, a sigla deve apoiar o senador.

Tiroteio

O Mercadante disse que ouviu a Dilma, o Palocci, o Zé Dirceu e toda a turma do mensalão.
Então só faltaram os aloprados do dossiê.
De RICARDO MONTORO (PSDB-SP), secretário paulistano
de Participação e Parceria, sobre a lista de pessoas que
teriam procurado o senador petista para convencê-lo a
revogar a ‘decisão irrevogável’ de renunciar à liderança do partido.

Contraponto

Ponto de vista

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), convidou os deputados dias atrás para uma reunião no plenário sobre a gripe suína. Logo de saída, Ricardo Zonta (PP-SC) foi ao microfone pedir aos colegas que a gripe A (H1N1) não fosse ali denominada ‘suína’, sob o conhecido argumento de que isso poderia causar injustificada prevenção contra o consumo da carne de porco.
- Quero pedir desculpas a todos os produtores, pois isso realmente é uma discriminação_ disse Temer.
Flávio Dino (PC do B-MA) brincou de protestar:
- Presidente, e como fica a discriminação contra os suínos? Isso caracteriza crime ambiental...

GOSTOSA


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MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega

Lula e o mistério do desenvolvimento

"O Brasil também viveu avanços institucionais e mentais que
nos trouxeram a democracia e a estabilidade. Lula não pode
reivindicar o mérito exclusivo pelos respectivos frutos"

O presidente Lula parece considerar-se uma espécie de marco zero. Nada de bom teria acontecido antes dele neste país. O atual ciclo de desenvolvimento decorreria exclusivamente de sua ação e do zelo inédito devotado aos pobres. Não é bem assim.

O desenvolvimento é um processo complexo, que deriva de vasta gama de fatores – entre os quais se realça a educação – e precisa de tempo para enraizar-se. É obra construída pela contribuição sistemática de vários governos. Depende da produtividade, que se nutre da ciência, das inovações e, assim, dos avanços na tecnologia.

Na verdade, a humanidade somente começou a viver o desenvolvimento depois da Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Inglaterra. A estagnação da renda per capita havia sido a característica da história. A Revolução desarmou a Armadilha Malthusiana e deu início à Grande Divergência.

A Armadilha deve seu nome ao demógrafo inglês Thomas Malthus (1766-1834), para quem o potencial de crescimento era limitado pela oferta de alimentos. A evolução da renda per capita dependia das taxas de natalidade e mortalidade. Exemplo: a peste negra aumentou o bem-estar dos sobreviventes. Malthus pregava a redução da natalidade como saída para a prosperidade.

A Grande Divergência começou em 1820. A renda per capita da Inglaterra passou a crescer descolada da demografia, graças ao aumento da produtividade da agricultura e da exploração do potencial agrícola da América. Antes, do nascimento de Cristo à Revolução Industrial, a produtividade evoluíra 24%. A economia crescia apenas 5% a cada século.

Uma instigante análise dessa realidade está no livro A Farewell to Alms (Um Adeus às Esmolas), de Gregory Clark, da Universidade da Califórnia, que se juntou aos muitos que investigaram as razões pelas quais uns países ficam ricos e outros não. Além disso, ele buscou entender por que a Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra e não no Japão, na Índia ou na China.

Polêmico, Clark descartou teorias explicativas desse mistério, inclusive a mais aceita hoje: a do papel exercido pela Revolução Gloriosa inglesa (1688). Em clássico artigo, Douglass North e Barry Weingast sustentam que as mudanças institucionais de 1688 puseram fim ao absolutismo, criando as condições para a Revolução Industrial. Clark diz que tais condições já existiam. Ele também valoriza as instituições, mas interpreta que elas contribuíram, ao longo do tempo, para as mudanças culturais que permitiram à Inglaterra livrar-se da Armadilha Malthusiana.

Para ele, tais mudanças culturais estão na origem do sucesso dos atuais países ricos. Elas os fizeram abandonar instintos primitivos de violência, impaciência e preguiça. De fato, as lutas mortais dos gladiadores, entre si e com as feras, divertiam os romanos. Execuções públicas eram populares na Inglaterra até o século XVIII. Esses instintos foram substituídos por hábitos fundamentais para o desenvolvimento: trabalho duro, racionalidade e valorização da educação. Alfabetização disseminada e habilidades aritméticas, antes irrelevantes, adquiriram importância para a Revolução Industrial.

O homem moderno teria emergido da ruptura da era malthusiana, em decorrência basicamente de quatro mudanças: a queda nas taxas de juros (ao lado do fim das leis de usura), a expansão da educação, o aumento das horas de trabalho e o declínio na violência interpessoal. A classe média cresceu. Valores como poupança, prudência, negociação e disposição para o trabalho se firmaram nas sociedades bem-sucedidas.

Clark mostra que o desenvolvimento depende também de sorte, de acidentes e de contingências, tais como o crescimento populacional na Inglaterra depois de 1760, suas vitórias nas guerras napoleônicas e a expansão econômica dos EUA no século XIX, que foram fundamentais para a ruptura.

O Brasil também viveu avanços institucionais e mentais que nos trouxeram a democracia e a estabilidade. Lula não pode reivindicar o mérito exclusivo pelos respectivos frutos. Sua contribuição, decisiva, foi preservar a política econômica. Ele também deixará más heranças. Entre outras, um regime fiscal pior, os equívocos da política externa e, queira Deus que não, a lei do pré-sal.

ANCELMO GÓIS

O PETRÓLEO É NOSSO

O GLOBO - 22/08/09

Lula está convidando gente do setor de petróleo para a cerimônia de apresentação da proposta de modelo regulatório do pré-sal, dia 31, em Brasília.
O pessoal de Shell, Esso etc. foi todo convidado. Mas, talvez para mostrar quem é a dona do pedaço, o telefone que vem no convite é da... Petrobras.
NA MINHA TERRA
Ontem, Aécio chegou a Aracaju e foi recepcionado pelos tucanos locais com faixas que diziam: “De Minas para o Brasil.”
Hoje quem vai lá é Serra – e ganha uma pata de caranguejo quem adivinhar os dizeres das faixas que o recepcionarão.
ADEUS, PARIS
Lembra o empresário mineiro Marcos Valério, aquele carequinha do escândalo do mensalão? O STF negou pedido dele para ter o passaporte devolvido.
EDITAL SAI TERÇA
Eduardo Paes publica terça agora o edital de licitação do carnaval de 2010 na Sapucaí – o que rompe uma tradição que vem de 1993, quando Cesar Maia repassou a organização para a Liga das Escolas de Samba.
Pelo novo modelo, a Liesa ainda organiza o desfile, mas a prefeitura licita toda a infraestrutura do Sambódromo (venda de ingressos, camarotes etc). A Liga pode participar da licitação.
TEMPLO É DINHEIRO
De um guia mirim de Natal, no Rio Grande do Norte, ao apresentar a imensa Igreja Universal em sua cidade:
– Esta é a Casa da Moeda daqui...
Faz sentido.
PAPO SECRETO
Aécio Neves e Tasso Jereissati tiveram longo papo em jantar que entrou pela madrugada de ontem, em Fortaleza. Também estava presente o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.
ANTES...
Na quinta, Aécio e Tasso tiveram um encontro reservado de uma hora no Palácio de Iracema, sede do governo cearense, com o governador Cid Gomes e seu irmão, Ciro.
Aécio e Ciro parecem cada vez mais afinados, segundo gente próxima.
A AVALIAÇÃO...
O que se diz no grupo de Cid é que a entrada de Marina Silva na corrida presidencial pôs Ciro de novo no primeiro plano, pois Lula o guardava para disputar o governo de São Paulo.
É. Pode ser.
HELOÍSA, CAMISA 11
Heloísa Helena ficou feliz de se ver no comando do ataque da seleção de ex-petistas em fotomontagem:
– Melhor que eu neste ataque só minha conterrânea que, essa sim, joga muito: a alagoana Marta, a melhor do mundo.
LIGAÇÃO CARA
A prefeitura do Rio venceu a Oi num processo que corria na 15ª Câmara Cível. A operadora pedia para não pagar taxa de publicidade por expor sua marca nos orelhões.
A prefeitura, que alegava ser publicidade ilegal, vai mandar agora para Oi a conta retroativa, coisa de R$ 205 milhões.
CANETA NERVOSA
Lula promoveu ontem a embaixadores, numa canetada só, 11 diplomatas.
São eles: João Lima Neto, Mitzi Valente da Costa, Maria Figueiredo, Luiz Alberto Machado, Hélio Ramos Filho, Sérgio Risios Bath, Hadil Rocha Vianna, Edgar Casciano, Susan Kleebank e Raul de Taunay.

LYA LUFT

REVISTA VEJA
Lya Luft

O Alzheimer e a luz da alma

"É dramático assistir ao abandono dos bons modos,
ao isolamento social, ao desconhecimento dos familiares
e amigos e, por fim, à reclusão total num aparente nada"


Ilustração Atômica Studio


Atenção aos que criticam quando retomo assuntos: é intencional, eu faço isso, seja aqui, seja na ficção ou na poesia. Todos temos dentro de nós temas que retornam, ressurgem, transfigurados, com diversas máscaras e roupagens, e insistem em aparecer: são os fantasmas de cada um. Em geral, manifestam-se na forma de sonhos, inexplicados medos, breves euforias. O assunto que hoje retomo é a doença de Alzheimer, abordado frequentemente em reportagens, artigos médicos, palestras de psiquiatras, e experiências dramáticas da vida real. Terrível doença que acompanhei intimamente por mais de uma década, quando foi ocupando, em minha velha mãe, tudo aquilo que antes tinha sido ela – que passou a não ser ninguém, ou a ser um enigma.

Aos poucos, de filha, fui me tornando a cuidadora, a visita e, por fim, a estranha. Seu universo fora reduzido ao próprio mundo interior: ali comemorava 15 anos, ali era noiva ou tinha um bebê, ali me tratava de "senhora", ou me entregava algum pequeno objeto invisível que para ela devia ser muito precioso. "Cuidado!", me recomendava, "cuidado com isso!", e eu o recebia com as duas mãos em concha, para que ela não se afligisse. Foi ficando mais bem-humorada na alienação do que nos últimos anos de lucidez ameaçada, nos quais eventualmente perguntava: "Será que estou ficando louca?". E a gente respondia, tentando parecer natural: "Que bobagem, eu estou muito mais esquecida do que você!".

Um dos dramas de quem convive com isso é aprender a entrar nesse mundo, e não tentar algemar a pessoa doente ao que para nós é a "realidade", pois isso provoca angústia inútil. De alguma forma, aprendemos a acompanhar a pessoa amada para dentro dos limites de seu novo registro, procurando amenizar, não atormentar mais, até que isso se torna impossível. Quem amamos não sabe mais de nós. É dramático assistir ao abandono dos bons modos, ao isolamento social, ao desconhecimento dos familiares e amigos e, por fim, à reclusão total num aparente nada.

Eventualmente minha mãe parecia a mulher elegante de outros tempos: "Você quer uma bebida?", perguntava dez vezes, porque ao indagar já o tinha esquecido, naquele território onde eu não era ninguém. O que se passaria naquela paisagem para mim vazia? Certamente havia cons-ciência: pois minha mãe falava, ria, cantava baixinho para alguém que ninguém mais via, cada vez mais fechada ao meu desejo de algum contato. De mulher grande e saudável passou a uma velhinha minúscula, mas resistia à morte: essa tem lá a sua medida de tempo, que nunca entendemos. Quando é a sua hora, chega como uma faminta ave de rapina, ou aguarda como um lento animal que hiberna. Chega muito cedo, ou espera demais, às vezes.

Aconchegada na sua cápsula de fantasias, da última vez que vi minha mãe doente, ela, que havia muito não falava, entreabriu os olhos e disse nitidamente para si mesma, para alguém – para ninguém: "Que bom estar assim, tão leve e tão jovem". Nem mais uma palavra, nem um brilho de reconhecimento no olhar quando me inclinei para ela. Logo se enrolou de novo nos lençóis e na ausência. Poucos dias depois, simplesmente não acordou mais. Fechava-se a última porta desse tão longo corredor pelo qual minha mãe tinha se perdido. A Senhora Morte chegou, com grande atraso, e num gesto casual recolheu a lamparina em que já não havia luz. Levou consigo a velha dama que na verdade fazia muitos anos deixara o palco da sua vida, cortinas ainda abertas e, nos bastidores, algumas vezes, o que parecia ser a sua voz, seu passo enérgico, e seu riso alegre – tudo que mais recordo dela agora.

Por que de repente resolvi voltar ao triste assunto? Talvez porque essa grande peste do século, sobre a qual pouco se sabe, seja um tão duro aprendizado para quem observa do lado de cá desse mistério. Não é preciso, aliás, haver motivo para uma crônica, pois muitas vezes elas se manifestam sozinhas: querem ser escritas, e eu assisto enquanto, neste computador, elas mesmas se escrevem.


CLÁUDIO HUMBERTO

“O projeto do PSDB não é ‘antiLula’, é ‘após Lula”
GOVERNADOR MINEIRO, AÉCIO NEVES (PSDB), QUE NÃO CRITICA O PRESIDENTE NEM DE LONGE

SENADO ‘BLOQUEIA’ ACESSO DO ESTADÃO
Está bloqueado no Senado o acesso da sucursal de Brasília do jornal O Estado de S. Paulo, desde a última semana. O acesso via internet foram vetados não apenas ao portal do Senado como também ao site da Secretaria de Comunicação da Casa. O Estadão tem publicado reportagens de denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, e até foi proibido pela Justiça de mencionar investigações contra o filho dele.
PRÁTICA COMUM
O Estadão não é o primeiro jornal a sofrer restrição de acesso aos sites do Senado. Mas os outros jornais já foram “liberados”.
HACKERS
O Prodasen informou que o endereço eletrônico do jornal foi bloqueado após computadores do Senado identificarem uma “tentativa de invasão”.
CONVENIENTE
Jornalistas reclamam do acesso à internet no próprio Senado. Onde a imprensa vai, o sinal do wireless enfraquece. A Casa culpa o provedor.
MUDOU RÁPIDO
Mal deixou o PT, Marina Silva já faz críticas ao governo Lula. Classificou-o de “insensível às causas sociais”. Mudou muito...
LULA ENQUADROU MERCADANTE, O IRREVOGÁVEL
Após mais de cinco horas no Palácio da Alvorada, entre “chá de cadeira” e conversa, o presidente Lula enquadrou novamente a bancada do PT no Senado, incluindo o líder que não a lidera, Aloizio Mercadante (SP), que passou toda a quinta-feira anunciando sua saída “irrevogável” da função. No final do discurso em que a montanha pariu um rato, o líder pôs o rabo entre as penas: “Não tenho como dizer não ao presidente”.
ÓLEO DE TOLO
Demorou: a Petrobras anunciou ontem “grande volume de óleo leve” na Bacia de Campos, enquanto o Senado enfrentava o mar de lama.
TROPA DE CHOQUE
Influentes no partido, mas não junto a Lula, Eduardo Suplicy e o deputado Carlos Abicalil (MT) apoiam a volta de Delúbio Soares ao PT.
LULA EM LONDRES
O presidente Lula vai a Londres em novembro receber um prêmio por haver contribuído para o aperfeiçoamento das relações internacionais.
MIRA CAOLHA
Cada vez menos gente no governo federal acha que não há maracutaia na desapropriação de terrenos no governo do Pará, de Ana Julia (PT). Agora, o governo talvez recue nas críticas aos supostos responsáveis pelos atrasos na implantação de novos projetos no Estado.
CARTAS NA MESA
Cristovam Buarque (PDT-DF) ironizou a permanência de Aloizio Mercadante na liderança petista: “Senadores do PT viraram carteiros. Num dia, carta do Berzoini. No outro, a do Lula”. E o Senado obedece.
PROVOCAÇÃO
O governador de Minas, Aécio Neves, derramou-se em elogios ao deputado Ciro Gomes (PSB-CE) só para irritar outro tucano ilustre, o governador José Serra. Ciro e Serra não se bicam há anos.
BOLSA-VOTOS
Somando já 12 milhões de beneficiados, o Bolsa Família deve incorporar até o fim do ano mais 500 mil famílias. Em 2010, ano eleitoral, deve chegar ao total de 15 milhões de assistidos.
CASA DE MARIMBONDOS
O balaio de requerimentos que o governo arquivou na CPI da Petrobras incluiu o esclarecimento de denúncias envolvendo supostas doações irregulares para a Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).
TÁBUA DE SALVAÇÃO
A oposição em Pernambuco (DEM, PSDB e PPS), tentam convencer Jarbas Vasconcelos (PMDB) a disputar o governo do Estado. E tentar viabilizar a reeleição dos senadores Sérgio Guerra e Marco Maciel.
BOI NA PARADA
A empresa Palestino organiza vaquejadas e rodeios em Goiânia e responde a vários processos, mas vai levar R$ 1,6 milhão do governo federal para organizar o desfile de 7 de Setembro em Brasília.
BATENDO RECORDES
Se o ensino no Brasil vai mal, não é certamente por falta de escolas. Somente em julho o Ministério da Educação autorizou o funcionamento de mil novos cursos superiores no País. Até para corretor de imóvel.
PENSANDO BEM...
...com toda essa esculhambação, é hora de Delúbio Soares voltar com pompa e glória ao PT.

PODER SEM PUDOR
VERBO SOLTO
Certa vez, em Curitiba, o jovem vereador Fábio Camargo (DEM), bem ao seu estilo mauricinho de topete, fez um pronunciamento parabenizando o colega Ney Leprevost (PP), que estreou uma coluna em jornal local. Em meio ao discurso, Camargo foi aparteado pelo vereador Paulo Salamuni (PMDB):
– A coluna é política ou é social?
Camargo respondeu de pronto:
– As duas, pois Ney é um excelente político e um grande socialista!