sexta-feira, julho 03, 2009

AUGUSTO NUNES

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A classe média inventada pelos alquimistas federais continua a subir pelo elevador de serviço

3 de julho de 2009

Todo verão é a mesma história: os alquimistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e os acrobatas da Fundação Getúlio Vargas, a FGV, aquecem o governo a que se subordinam com mágicas numéricas que ampliam a extraordinária coleção de espantos produzidos pela Era Lula. Nesta semana, por exemplo, o IPEA descobriu que, apesar da crise mundial, a classe média brasileira ficou só 1% menor. Uma marolinha.

Rogério precisa saber que continua onde nunca esteve, lembrei. Em 6 de agosto de 2008, contei-lhe a grande notícia do inverno passado: em companhia de outros 4 milhões de brasileiros, acabara de subir de categoria social. “Você agora é da classe média”, comuniquei ao paulistano João Rogério da Silva Alves, 36 anos, casado há 15, motorista de táxi há 13, que mora com a mulher e duas filhas no bairro de Cachoeira, um amontoado de construções tristonhas na periferia profunda de São Paulo.

A rua é asfaltada e o serviço de água funciona razoavelmente, mas a rede de saneamento básico ainda não chegou lá. Como os vizinhos, os Alves jogam detritos e dejetos no leito de um córrego que os despeja no Rio Tietê. A casa, alugada por R$ 300 mensais, tem dois cômodos de 12 metros quadrados cada um. Um serve de cozinha, sala de visitas, sala de jantar e copa. O outro é o quarto, dividido ao meio por um lençol ali pendurado para proteger a privacidade inexistente: do outro lado da cortina improvisada ficam as camas das filhas e a TV comprada em janeiro de 2006 por R$ 800, fatiados em 12 prestações.

Acorda às 5h, busca o carro na garagem da frota de táxis, estaciona antes das 6h numa esquina na região dos Jardins, trabalha 16 horas por dia e vai dormir perto da meia-noite. Folga aos domingos se juntou o necessário durante a semana. Não tira férias há mais de 10 anos. “Não tenho esses luxos”, resume. ”Vivo uma vida de pobre”. Ganha por mês cerca de R$ 1.800, que se somam aos R$ 400 que a mulher consegue como diarista. A renda familiar, portanto, ultrapassa os R$ 1,064 que, por decisão do IPEA, riscam a fronteira onde acaba a classe pobre e começa a classe média.

“Quem ganha mais que mil e sessenta e quatro reais mudou de classe”, insisti. Ele achou estranho ter subido na vida sem mudar de vida. Só é pobre quem ganha entre R$ 207 e R$ 1.063, expliquei. ”Como é que posso ser da classe média se não tenho como fazer o que faz a classe média?”, intrigou-se. E como acha que é a vida na categoria a que foi subitamente promovido pelo governo?

A classe média vai ao cinema ou ao teatro uma vez por semana, exemplificou. Rogério não vai ao cinema há 15 anos e nunca foi ao teatro. “Vontade eu tenho, o que não tenho é dinheiro”, resignou-se. Ficou quieto alguns minutos. No fim da corrida, revelou que estava pensando em fazer um teste. ”É fácil descobrir se deixei mesmo de ser pobre”, sorriu. ”Vou tentar subir pelo elevador social pela primeira vez”.

Ficou sabendo hoje que a classe média continua do mesmo tamanho. Ele permanece, portanto, onde o IPEA decidiu que está há quase um ano. Perguntei-lhe se fez o teste. João Rogério de Sousa Alves contou que a classe média das estatísticas continua subindo pelo elevador de serviço.

CLÓVIS ROSSI

Césares, de Honduras ao Maranhão


Folha de S. Paulo - 03/07/2009

Fosse há 25 ou 30 anos, o golpe em Honduras também encontraria uma reação virtualmente unânime entre os governos do subcontinente: quase todos seriam a favor do golpe, não contra. Afinal, golpes e golpistas eram a regra na região; democracias, a exceção. Há, portanto, algo a comemorar: a América Latina alcançou um belo grau de estabilidade. Não faz muito, um golpe em Honduras jamais ganharia manchete em jornais brasileiros, porque em geral manchetes são dedicadas a anomalias -e golpes eram a normalidade.
Pena que a institucionalização ainda seja bastante deficitária, para não falar nos problemas sociais obscenos que a democracia não conseguiu resolver depois que as ditaduras os agravaram.
É sintomático que Tomas Eloy Martínez, um extraordinário jornalista argentino, prêmio Ortega y Gasset de jornalismo, por sua trajetória impecável, dedique um comentário publicado ontem em "El País" (Espanha) justamente ao que chama de "cesarismo democrático na América Latina".
Diz Tomas Eloy que, na América Latina, "desde as revoluções pela independência, a maior parte das nações, castigadas por sucessivas crises políticas e cenários de transição, conheceram mais caudilhos que soluções institucionais".
Bingo. A crise de Honduras tem algo a ver com isso. O presidente Manuel Zelaya tentou ser o César de turno. A oposição, em vez de cortar a tentativa pela via institucional, apelou às baionetas, como faz qualquer César de arrabalde. O caso José Sarney tem algo a ver com o cesarismo, ainda que meramente regional, no caso maranhense. Perpetua-se no poder, cria uma dinastia e acaba se julgando dono das instituições ou, ao menos, de uma delas, o Senado Federal. Se houvesse a tal "solução institucional", já teria sido defenestrado.
Sem dor.

GOSTOSAS


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VINÍCIUS TORRES FREIRE

Areia movediça no fundo do poço


Folha de S. Paulo - 03/07/2009

Apesar da falácia marqueteira do mercado, dados de junho indicam recessão comprida e regressão do trabalho nos EUA


A RENDA POR CABEÇA em bancões americanos em 2009 pode ser semelhante ou maior que a do recorde de 2007, diz reportagem do "Wall Street Journal". De modo algo sarcástico, mas não muito, pode se dizer que talvez esteja aí a explicação para os sustinho de hoje dos mercados financeiros com o mau resultado do emprego nos EUA em junho. Desde março, abril, os povos dos mercados esparramam pela mídia financeira, na americana e britânica em especial, que vivíamos a primavera dos "brotos verdes" na economia, clichê que sucedeu o do "fundo do poço". Mas "vivíamos" quem, cara pálida (ou "brancos de olhos azuis", no dizer de Lula)? O pessoal do mercado que não perdeu o emprego de fato voltara a fazer dinheiro depois que o governo americano: a) Avisou definitivamente em março, abril, que não haveria mais quebras na grande finança; b) Que não estatizaria mais ninguém; c) Que permitiria maquiagem de balanços financeiros; d) Que continuaria o jorro do dinheiro público americano para financiar e garantir a circulação de títulos privados; e) Que, com o apoio de alguns países do G20, haveria dinheiro bastante para evitar a quebra de países na periferia do capital, como no Leste Europeu, poupando assim bancos europeus de novos rombos pesados. Assim, no segundo trimestre o povo encheu a burra de dinheiro, mandando até algum para cá, valorizando o real, inflando a Bovespa e as commodities. Em suma, "o pior passara". Para o povo da finança.
No mercado de trabalho americano, a situação continua horrível. Porém, ironicamente, apesar do sustinho estereotipado do mercado, segue despiorando, muito lentamente. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA atingiram o pico no início de abril (pela média móvel de quatro meses). Mas, como avisava o Nobel Paul Krugman, o trabalhador ainda vai sofrer por um bom tempo. Os ditos analistas de mercado, porém, faziam festa com esse dado do "pico" de abril. Diziam, com base numa inferência estatística meio porca, que a economia costuma chegar ao fundo do poço de 4 a 10 semanas depois do cume dos dados do seguro-desemprego. Bem, já se passaram 13 semanas desde então.
Estatísticas menos fantasistas mostram que todos os empregos criados desde a última recessão, que terminou em 2001, ora foram para o brejo. A recuperação do emprego nessa crise (governo Bush) havia sido a pior desde a Segunda Guerra (isto é, o mercado de trabalho ficou muito enxuto nesse período). O número médio de horas trabalhadas por semana é o pior desde 1964 (o início dessa série de medições). A duração do desemprego "oficial" é a maior desde 1948. Tudo isso aponta para uma grande relutância das empresas em contratar e investir. O desemprego "oficial" é agora de 9,5% (há outras medidas: está em 16,5% a taxa que inclui desalento e trabalhadores em tempo parcial que queriam trabalhar em horário integral). A taxa de desemprego nos EUA e Europa agora é a mesma.
Os números do emprego nos EUA são muito criticados e voláteis. Mas, se o dado de junho está certo, o consumo não deve se recuperar tão cedo, pois a população ainda está endividada, mais pobre e tem de recompor a poupança perdida na crise.

ELIANE CANTANHÊDE

Fim do Senado


Folha de S. Paulo - 03/07/2009

Pela Constituição, vige no Brasil um sistema de independência entre os Poderes. Na prática, não passa de balela. Quem manda hoje no Senado é o presidente da República.
José Sarney perdeu o apoio do DEM, do PSDB, do PDT e do PT para permanecer na presidência do Senado. Mas, no auge do seu isolamento, Lula saiu da retórica e veio em seu socorro na prática. O mesmo Lula que deixou à deriva companheiros petistas como Dirceu, Palocci, Genoino, Delúbio, mensaleiros e aloprados, agora joga a boia de salvação para Sarney. Reverteu assim a decisão da bancada petista de pedir o afastamento de Sarney.
Não foi por amizade que Lula interveio, nem por preocupação com as instituições ou com o Senado especificamente. Foi por cálculo político. No fundo, ele dá de ombros para o Congresso e para atos secretos, empreguismo, verbas indenizatórias. Mas tem profundo interesse em evitar a CPI da Petrobras agora e em garantir a aliança do PMDB com Dilma em 2010.
Lula não defendeu Sarney. Defendeu-se. Desprezou o discurso pela ética em favor do aliado e ontem foi jantar com os senadores petistas para exigir, com boa lábia, que façam o mesmo. Seu argumento é igual ao de Sarney: aquela sequência de confusões entre público e privado são bobagens, tudo não passa de uma "guerra política" criada pela oposição e pela imprensa. Acredita quem quer.
Se a renúncia de Sarney parecia iminente, agora parece improvável. Mas é cedo para apostar. Nunca se pode descartar um "fato novo", na forma de netos, cunhadas, mordomos e contratos. E Sarney é experiente o bastante para saber que Lula pode enquadrar o PT, mas não pode impedir que petistas continuem trabalhando contra ele.
O dramático é que, se Sarney sai, a crise fica. E se Sarney fica, a crise continua. Quem vai acreditar um milímetro na seriedade das sindicâncias internas? As raposas estão cuidando do galinheiro.

INFORME JB

Sarney, a cada dia com uma agonia

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 03/07/09

Depois de conversar por telefone dois momentos ontem, em diálogos rápidos mas confidenciais e camaradas, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ao presidente do Congresso, José Sarney, que o receberia hoje em Brasília para definir de vez a situação dele no Senado. Isso só aumentou a agonia de Sarney – embora, segundo aliados próximos, ele esteja mais tranquilo com as palavras de Lula. No papo, o cacique peemedebista queixou-se do abandono do PT. Lula se dispôs, mais uma vez, a enquadrar a bancada. Lula disse que quer resolver logo o caso, porque viaja no domingo à noite para a Europa – fica em compromissos pela França e Itália, e volta domingo que vem. Sarney fica. Não se sabe até quando.

Guardas... Comboio

Depois que a trupe petista deixou a casa de Sarney, quarta à noite, entrou em cena a tropa de choque: os ministros (e apadrinhados) Hélio Costa (Comunicações) e Edison Lobão (Energia) e, ainda, os senadores Gim Argello (PTB), Renan Calheiros (PMDB) e Wellington Salgado (PMDB).

A ida de 10 do PT a Sarney foi um incidente. A verdade é que só Aloizio Mercadante (SP) e Ideli Salvatti (SC) estavam convocados. Mas nos corredores do Senado foram encontrando os colegas.

Na reserva

Nada de crise. O presidente Lula adiantara na quarta a sua chegada a Brasília em uma hora, vindo da Líbia, para assistir em casa ao jogo do Corinthians. Nem pensou em receber o abandonado José Sarney.

Outro ex

A presidente da Agência Nacional de Aviação Civil demitiu o chefe de gabinete.

Panos quentes

Não vai bem – mas deve melhorar – o clima entre Dilma Rousseff e Geddel Vieira (Integração), cujo secretário-executivo voltou choroso de uma reunião com ela e pediu demissão.

Samba, Dilma

Roberval Uzeda, pai de santo e compositor, fez um samba-campanha para Dilma. Entregou a fita ontem. E pediu R$ 30 mil.

Do campo

O Instituto dos Advogados Brasileiros criou, no Rio, a Comissão Permanente de Direito Agrário, que será presidida por Octavio Mello Alvarenga.

Pais & filhos

O PL que prevê punição para pais que incitarem filho contra um dos cônjuges está na Comissão de Seguridade Social e não na CCJ.

Vale

A Vale tem 120 mil empregados. Virar manchete porque desfez 300 contratos é pura tempestade em copo d’água.

MÍRIAM LEITÃO

Tempo súbito

O GLOBO - 03/07/09


De repente, o primeiro semestre acabou! Não sei quanto a você que lê a coluna, mas eu simplesmente tomei um susto. Já é segundo semestre, aquele período em que os economistas tinham dito que seria a hora da retomada. É inevitável perguntar: ela está acontecendo? Não! O que está acontecendo é uma redução da queda. Aqui e na economia internacional comemoram-se números menos negativos.

Será que o tempo passa mais rápido nas crises econômicas? Não sei explicar como foi que esse primeiro semestre voou, afundada que estava em tentar entender uma crise tão diferente das outras. Já vi muitas crises - todas as dos anos 80 e 90 - mas esta é global, revoga o estabelecido na teoria econômica, e tem uma capacidade ímpar de produzir surpresas e reviravoltas.

A economia brasileira parece um organismo com temperaturas diferentes. Imagine um médico que tem que tomar a temperatura dos braços, do tronco, das pernas e da cabeça, para dizer qual é a temperatura média do paciente. Assim ficamos nós que temos que escrever sobre economia. Alguns setores gelados, outros mornos. Falaremos deles outro dia.

A produção industrial de ontem mostra como cada indicador é relativo. Os números podem ser bons ou ruins, dependendo do ângulo em que são analisados. O resultado é positivo porque a produção industrial de maio subiu 1,3% em relação a abril; porque é o quinto resultado positivo seguido; porque é melhor do que o previsto; é ruim porque, na comparação com maio do ano passado, a queda é de 11% e o ano terminará com uma queda de 5%. É bom porque a queda está ficando menor, mas o fato é que, no ano, a indústria vai produzir menos do que no ano anterior.

Na economia internacional, alguns jornais especializados comemoram sinais de recuperação.

Mas é até engraçado falar em recuperação. Foi tratado como bom, por exemplo, o resultado de 28% de queda nas vendas de automóveis em junho nos EUA porque, no ano, é a menor queda.

Mas convenhamos 28% é um tombo! Analistas ouvidos pelo "Wall Street Journal" consideraram que esse número é sinal de que se chegou ao fundo do poço e que agora as vendas podem melhorar. Também foi considerado um bom número, a destruição de 472 mil empregos privados em junho. É que no primeiro trimestre, a média mensal foi de 690 mil. Ontem, o dado que saiu foi a taxa de desemprego. Ela subiu para 9,5%. Foi um dado negativo, mas já era esperado.

Como se vê, o que alguns chamam de retomada, é apenas a redução da intensidade da queda. As vendas de carros, divulgadas pela Fenabrave, foram recordes no mês passado. Bom, mas elas estão evidentemente infladas pelo artifício do benefício fiscal somado às ameaças de que a redução do IPI seria suspensa. Pelo sim, pelo não, quem queria comprar, decidiu não pagar para ver e antecipou a compra. O benefício foi prorrogado por mais três meses no caso do carro.

Seja como efeito do tempo, ou dos fortes estímulos econômicos, os indicadores do mês de junho, que estão saindo em todos os países do mundo, mostram o mesmo quadro de melhora.

Em alguns poucos países os resultados de produção foram positivos. Na China, a produção industrial sobe pelo quarto mês e, na Índia, os indicadores também estão positivos. Em outros, é a queda que ficou menos intensa. No Japão e na Austrália registraram-se as menores quedas e os analistas dizem que o pior da recessão passou. Mesmo assim, o mês de junho é o décimo terceiro mês em que os indicadores de produção da Austrália estão abaixo de 50 pontos, número que marca a fronteira entre crescimento e recessão. O ministro das Finanças do Japão, falando ao "Financial Times" disse que o pior passou, mas ressaltou que a economia pode ser afetada por qualquer piora na Europa ou Estados Unidos. A soma de todos os dados divulgados sobre junho mostra o melhor quadro em nove meses, desde que a crise se aprofundou em setembro passado.

O que os economistas daqui e de fora discutem é como será a recuperação. Alguns avisam, como fez Stuart Green, economista do HSBC ouvido pelo "FT", que é muito provável que a recuperação não será forte nem durável.

Os economistas se agrupam em letras. Há os que acham que o desenho da recuperação vai imitar um V - rápida e forte. Ou um U - mais demorada. Ou um WW, com idas e vindas. Há os bem pessimistas que acham que será como na internet: WWW. A economia mundial viveria surtos de melhora, seguidos de novas quedas. E há os mais otimistas que acreditam que o movimento econômico imitará o desenho de uma raiz quadrada: a economia sobe rápido e permanece em forte crescimento.

O mais realista seria deixar de lado essa sopa de letras e pensar o seguinte: a recuperação vai ser lenta porque essa crise é de grande envergadura, grandes proporções e muitos dos fundamentos da crise permanecem. Ela é global, e nos globalizamos, portanto, é meio ingênuo acreditar que estamos numa redoma. Veja-se o caso do comércio internacional: ele está encolhendo 25% este ano, e o nosso volume de comércio também encolheu 25% neste semestre. A queda das exportações afeta a produção industrial, que afeta o PIB. Não há um processo exclusivamente doméstico, apesar das diferenças das economias. O quadro ainda é frágil e a conjuntura, fugaz, como o tempo.

CELSO MING

O medo deles


O Estado de S. Paulo - 03/07/2009

Ontem foi a vez do presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, tentar aplacar temores de que a inflação possa voltar a galope na zona do euro.


Após a decisão sobre os juros (que foram mantidos em 1% ao ano), tomada ontem, Trichet deu sua costumeira entrevista. E, apesar da expressiva queda da inflação (de 0,1% em junho), explicou que, na hora apropriada, os grandes bancos centrais estarão provendo o enxugamento ordenado da enorme liquidez que inunda hoje os mercados.

Dia 3 de junho fora a vez de Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de assegurar em depoimento dado no Congresso americano de que "o Fed não está monetizando a dívida do Tesouro americano".

Há meses, chefes de Estado e analistas de prestígio vêm denunciando o enorme potencial inflacionário do despejo de ao menos US$ 18 trilhões pelos bancos e pelos Tesouros dos países centrais (dados da ONU).

Um dos dados mais preocupantes que pipocam nos computadores dos analistas é a rápida elevação do rendimento (yield) dos títulos públicos de longo prazo nos Estados Unidos. Nos últimos seis meses, por exemplo, o rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro americano aumentaram de 2,23% ao ano registrados ao final de dezembro para 3,52% ao final de junho.

Em março, o Fed decidira recomprar US$ 300 bilhões desses títulos e outro US$ 1 trilhão em ativos amarrados a hipotecas, com objetivo de neutralizar essa alta. O principal problema do momento é o de que uma esticada do rendimento dos títulos de longo prazo tende a ser repassada para os juros cobrados nos contratos habitacionais (hipotecas) e afundar ainda mais os preços dos imóveis.

Essa alta dos rendimentos reflete certa rejeição dos ativos públicos, fato que derruba seus preços de revenda no mercado. A queda do seu preço, ou seja, a necessidade de gastar menos dólares para tê-los em carteira, aumenta a proporção dos juros previstos em contrato em relação ao capital investido.

Duas são as explicações para essa alta da remuneração dos títulos de longo prazo. A primeira é a de que os investidores estão prevendo uma inflação futura em proporção tal que desvalorize em termos reais o retorno dos títulos de dívida. A alta bem menos acentuada dos títulos com correção pela inflação parece reforçar essa hipótese. A segunda é a de que os investidores estejam prevendo enorme despejo de títulos públicos nos próximos dez anos destinado a financiar o déficit orçamentário dos Estados Unidos (previsto em quase US$ 2 trilhões por ano), em volume superior à demanda que possa haver nesse período.

Apesar das reiteradas declarações de cunho tranquilizador passadas por Bernanke e por Trichet, o mercado não parece seguro, aparentemente porque não entendeu ainda como será possível retirar tantos trilhões de dólares no mercado sem provocar novo colapso no crédito ou outros solavancos no mercado financeiro global.

E há, também, a questão da coordenação dessa operação. A derrubada da atividade econômica está bem mais acentuada na Europa do que nos Estados Unidos. E a situação dos bancos europeus, que enfrentam forte calote, também está mais complicada.


Confira

Ladrão do século - A imprensa europeia insiste em chamar de "ladrão do século" a Ronald Biggs, famoso por ter assaltado em agosto de 1963 o trem pagador de Glasgow, Inglaterra. Ele conseguiu levar o equivalente hoje a US$ 4,2 milhões.

Comparado aos deste século, Biggs é um ladrão de galinhas. Bernard Madoff, por exemplo, sumiu com nada menos que US$ 65 bilhões. E Allen Stanford, com US$ 7 bilhões.

Biggs alardeava que ele e os 14 que assaltaram o trem não dispararam um único tiro. Madoff e Stanford nem arma carregavam. Fizeram quase tudo só com cliques de computador.

PAINEL DA FOLHA

Guarda definitiva

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/07/09

Ao sugerir, na noite de anteontem, que o recuo do PT do pedido de afastamento de José Sarney aproximou o PMDB do partido em 2010, Renan Calheiros despertou uma espécie de galhofa silenciosa de seus colegas peemedebistas da Câmara.
Eles ponderam que a sigla estará, ‘muito possivelmente’, com Dilma Rousseff na eleição presidencial, mas que os termos da aliança serão, cada vez mais, decididos por Michel Temer e companhia. ‘Os senadores não estão em condições de dizer o que o PMDB vai fazer’, diz um expoente do grupo. ‘Sarney menos ainda. É ele que depende de Lula, não o contrário.’

Fogo brando - Um termômetro importante de que a fervura da crise no Senado baixou desde anteontem é o fato de que Roseana Sarney (PMDB-MA) anunciou a disposição de retornar a São Luís hoje e reassumir o governo do Maranhão na segunda-feira. Ela estava ao lado do pai desde a semana passada.

Metralhadora - Ferrenho defensor do ‘fica Sarney’ no PT, Delcídio Amaral (MS) mirou vários alvos quando falou em ‘diatribes’ e ‘bazófias’ por parte de quem passou a pedir a cabeça do presidente: do correligionário Tião Viana (AC) a Arthur Virgílio (PSDB-AM), passando por Cristovam Buarque (PDT-DF).

Assessora... - Valdir Raupp (PMDB-RO) diz não saber quem é Ludmila Sobral Ascarrunz, funcionária comissionada que já integrou o quadro de seu gabinete e no início de 2008 foi transferida para o gabinete do bloco da maioria, onde também nunca foi vista.

...e modelo - Ludmila foi nomeada originalmente pelo ex-senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Recebe R$ 3,8 mil. É ex-modelo da agência Ford. Localizada no Rio, onde mora, confirmou que trabalha no Senado, mas desligou o telefone logo em seguida.

Prioridades - Até hoje reticente quanto às reclamações sobre o atraso no pagamento das emendas parlamentares, o governo enviou ao Congresso um pedido de abertura de crédito especial de R$ 100 milhões para concluir a reforma do Palácio do Planalto.

À disposição - O Brasil cedeu um avião da FAB para transportar o secretário-geral da OEA até Honduras, onde se espera que ele negocie o retorno do presidente deposto José Manuel Zelaya.

Pulverizar... - Governadores de Estados beneficiados pela Transnordestina, Eduardo Campos (PSB-PE), Cid Gomes (PSB-CE) e Wellington Dias (PT-PI) divulgarão documento para defender que os recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste continuem cem por cento destinados à ferrovia.

...ou não - Como a obra patina, há quem defenda a aplicação da parcela do fundo que não puder ser gasta na Transnordestina em outros projetos. Eduardo Campos, porém, alega que os obstáculos foram removidos e que será possível cumprir o cronograma.

Veja bem - A questão dos recursos para a Transnordestina motivou descompostura de Dilma Rousseff no secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Luiz Antonio Eira, que pediu demissão. Testemunha do episódio, Campos avalia que ‘não houve ofensa’ por parte da ministra. Outros presentes consideraram sua atitude ‘grosseira’ e ‘desrespeitosa’.

Lattes - Reportagem na próxima ‘Piauí’ questiona o currículo de Dilma divulgado pelo site da Casa Civil. Ali se informa que ela é mestre em teoria econômica e doutoranda em economia monetária e financeira pela Unicamp. A universidade disse à revista que não há registro de matrícula no mestrado e que o doutorado foi abandonado.

Tiroteio

Lula enquadrou o PT, e agora o senador Mercadante procura um bode expiatório.
De JOSÉ AGRIPINO , líder da banca do DEM, sobre o fato de o petista ter procurado responsabilizar os ‘demos’ pela crise no Senado, uma vez que o partido controla há anos a primeira secretaria, espécie de centro administrativo da Casa.

Contra - A AGU enviou ao Ministério Público de SP parecer contrário a acordo negociado com o Deutsche Bank em torno de supostas contas de Paulo Maluf. O banco pagaria U$ 5 mi ao Brasil para evitar sua eventual inclusão no rol de investigados no caso.

Contraponto

Hora do recreio

Líder do governo no Congresso e mais firme defensora do apoio do PT a José Sarney, Ideli Salvatti deu um tempo da crise do Senado, ontem à tarde, para participar do encontro de Lula com os jogadores do Corinthians, que na véspera conquistara a Copa do Brasil.
Toda de branco e preto, ela aproveitou para pedir o autógrafo de Ronaldo em seu cartão de senadora, que leva o brasão do time.
-Isso aqui valeu a pena!-, exclamava, radiante.
A alegria, porém, durou pouco:
-Agora deixa eu voltar para aquele inferno...

COISAS DA POLÍTICA

A gripe suína e os sustos do mundo

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 03/07/09

A morte é tema incômodo, mas talvez seja certa a hipótese de que o homem só cresceu, e se distinguiu na natureza, porque descobriu que poderia morrer. Nesse momento, negociou com o Mistério o contrato no qual reconhecia a transcendência e nela se amparava. Embora poucos acreditem na morte absoluta, os crentes e os agnósticos se agarram à esperança da continuidade da vida em nossos descendentes. Estamos protegidos pela ideia de que, embora todos morram, a Humanidade continuará. Estaremos na carne, na inteligência, na memória e nos sentimentos dos que vierem. Só realmente nos atemorizam os recados de que a vida humana pode desaparecer um dia do Universo, da mesma forma como provavelmente tenha surgido: por acaso.

Os sustos estão se tornando mais frequentes. Há cinco anos, o tsunâmi do Oceano Índico matou 220 mil pessoas. Não foram muitos os mortos, se os compararmos às dezenas de milhões abatidos nas guerras do século passado e destes primeiros anos do novo milênio. Consequência mais preocupante do maremoto foi a alteração da velocidade de rotação da Terra, com repercussão na velocidade de translação, segundo os cientistas. Isso nos mostra que, como a existência de cada um de nós, a vida do planeta é concessão das circunstâncias.

Alastra-se a pandemia da gripe suína pelo mundo. Os governos entregam a solução do problema às autoridades sanitárias. Estas não parecem ter conseguido estabelecer ação internacional homogênea e coordenada. A produção de uma vacina poderá – ou, não, quem sabe? – evitar a catástrofe, mas dificilmente será possível imunizar os pobres de todos os continentes. É bem provável que os eugenistas sociais contem com o vírus, a fim de limpar o mundo daqueles que eles consideram imprestáveis e descartáveis, já que a castração dos pobres não trouxe os resultados esperados. O problema – e já houve especialistas que deram seu aviso – não é apenas técnico; é político. Produzida a vacina, deverão ser escolhidos os primeiros a imunizar-se. Em processo dessa natureza, cada minuto é um risco. O ideal seria que todos se imunizassem ao mesmo tempo. No Brasil, o Ministério da Saúde decidiu – dentro de aceitáveis critérios científicos – não medicar os contaminados, a fim de prevenir a mutação genética do vírus, que o poderia imunizar contra o único medicamento conhecido, o tamiflu (fosfato de oseltamivir). Essa resistência já está sendo registrada. De acordo com as autoridades, só serão medicados os mais débeis – crianças e idosos. Para surpresa dos especialistas, o primeiro óbito no país foi o de um caminhoneiro gaúcho, de 29 anos.

Repetem-se os mesmos movimentos do vírus durante a pandemia de 1918. De letalidade discreta, no início, a gripe fortaleceu-se no inverno europeu, matando impiedosamente naqueles meses. Tendo chegado ao Brasil por volta de setembro – ou seja, em nossa primavera – a espanhola, como indevidamente se chamou, foi democrática em sua brutalidade: dela não escapou nem mesmo o presidente Rodrigues Alves, que havia sido eleito pela segunda vez, e morreu antes da posse, em janeiro de 1919. Naquela primeira irrupção, quando os registros estatísticos eram precários, o número de mortos foi calculado entre 40 e 50 milhões em todo o mundo.

Segundo reconhece o New England Journal of Medicine, datado de segunda-feira passada, o vírus provavelmente foi libertado de um laboratório de pesquisas, em 1977 – depois de a enfermidade ter sido extinta em 1957 – e, pouco a pouco, foi reocupando o mundo. O fato é que não estamos, os governos e os cidadãos, dando muita importância ao perigo. O número de contaminados cresce quase exponencialmente, embora – tal como no passado – a letalidade permaneça reduzida nesta fase inicial. O secretário-geral da ONU convocou a comunidade internacional ao exercício de solidariedade efetiva, e de redobramento dos esforços, a fim de impedir o pior. Ninguém pode prever quantos morrerão quando a pandemia chegar a seu auge. Mas a comunidade internacional parece mais preocupada em desestabilizar o governo reeleito do Irã e em combater o islamismo, como faz Sarkozy ao proibir o uso da burca em território francês.

No Brasil, fora os esforços do Ministério da Saúde e de alguns secretários estaduais, os homens públicos estão aplicando toda a sua retórica e articulações no processo sucessório, como se pudesse haver sucessão no caos.

ANCELMO GÓIS

Ministro do passado

O GLOBO - 03/07/09

A britânica The Economist desta semana dedica bom espaço ao pedido de demissão do ex-ministro do Futuro, Mangabeira Unger, e à sua volta a Harvard.
Segundo a revista, Mangabeira “levou para o governo do PT seu pensamento, que é uma mistura curiosa de esquerdismo e liberalismo, cuja lógica cartesiana, às vezes, parece clara só a ele mesmo” – e “sua partida vai aliviar muitos de seus colegas”.
SEGUE...
No texto, a revistona faz ainda uma crítica ao PT e a Lula:
– Um mistério da vida política brasileira é no que o PT acredita. O partido nasceu em 1980 com uma ideologia que misturava marxismo, teologia da libertação, promessa de nacionalização e redistribuição de terras e renda. No poder, Lula não tem feito nenhuma dessas coisas.
Só que...
Há controvérsias.
DE MOLHO
Maria Rita está em casa com suspeita de gripe suína.
Nossa cantora foi ontem ao Hospital Samaritano, no Rio, com tosse e febre. Foi orientada a ficar em casa.
AGACIEL DOS PAMPAS
A revista Piauí que chega às bancas hoje diz que Dilma Rousseff, nos anos 1980, foi demitida do cargo de diretora-geral da Câmara de Porto Alegre porque “chegava atrasada ao trabalho”.
Agora, com a possibilidade de a moça ser presidente, o vereador que a demitiu acha que a culpa não era dela, mas do... relógio de ponto da Câmara, “que vivia quebrado”. É. Pode ser.
POR AMOR
Veja só. Uma aluna do Colégio Santo Inácio, no Rio, que voltou às aulas ontem depois da descoberta de um caso de gripe suína, combinou um procedimento de emergência com o namorado, também da escola. Não pode... Beijar na boca.
GOIS NA FLIP 1
O biólogo Richard Dawkins, nascido no Quênia, foi a estrela de ontem na Flip com a palestra “Deus, um delírio”.
A plateia adorou o ateísta, e ele adorou a plateia e Paraty – tanto que, assim que acabou a palestra, pediu para remarcar sua volta a Londres. “Se precisar, alugo um avião para não sair daqui”.
GOIS NA FLIP 2
Chico Buarque, dessa vez, não vai poder jogar futebol com outros escritores em Paraty. Está contundido.
Em 2004, quando esteve na Flip pela primeira vez, falou do seu livro Budapeste, mas também promoveu uma pelada, que foi a maior atração.
GOIS NA FLIP 3
O novo na Flip de 2009, até agora, é a campanha contra a gripe suína.
O velho é a falta de luz de vez em quando.
B.O. Quarta à noite, quatro ladrões assaltaram os clientes do restaurante Azumi, em Copacabana.
Levaram celulares, relógios, dinheiro, joias, além de bolsas das mulheres.
FLA E OLYMPIKUS
A Olympikus, nesses primeiros dias como fornecedora do Flamengo, já vendeu 210 mil camisas do clube.
VIVA GERALDO!
Geraldo Azevedo, o grande músico pernambucano, embarcou ontem para uma turnê pela Europa, com shows em Gaia (Portugal), Paris, Londres, Barcelona e Lisboa.

GOSTOSA


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DORA KRAMER

Sob custódia do Planalto

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/07/09

Muito bem: o presidente Luiz Inácio da Silva intervém no Senado, faz de José Sarney um presidente tutelado pelo Palácio do Planalto, assume a custódia das lixeiras do Parlamento, submete o PT a um vexame ímpar e o que isso influi no processo da sucessão presidencial?
Ou, antes, o que a eleição de um presidente da República e a boa governança de um País têm a ver com a sustentação de um esquema político obsoleto e moralmente apodrecido? A rigor, nada. Bem como a manobra não acrescenta um voto - podendo tirar muitos - a candidaturas governistas nem tampouco serve como garantia da adesão do PMDB à chapa com patrocínio oficial.
Não obstante, o argumento por trás dos movimentos do presidente Lula em defesa do presidente do Senado é o de que Lula age em prol da governabilidade e do êxito eleitoral de seus aliados em 2010.
Alega-se que o presidente da República atua no propósito de preservar a estabilidade política e de evitar uma “crise sem precedentes” no Senado que poderia “comprometer o restante do seu mandato”.
Crise sem precedentes o Senado vive há pelo menos oito anos, período em que assiste ao permanente questionamento público dos presidentes escolhidos pelo colegiado, já se vê, por critérios que não levam em conta normas de boa conduta.
A intervenção explícita - de maneira nunca vista - do Poder Executivo, se influência tiver sobre a crise, será no seu agravamento. Quanto ao comprometimento do mandato de Lula, não é visível o motivo do receio.
São três as possibilidades de solução até agora apresentadas: a licença do presidente Sarney até a conclusão da investigação e desmonte das atividades da rede de ilicitudes montada ao longo dos últimos 14 anos; renúncia e realização de novas eleições; formação de um grupo suprapartidário para encaminhar as soluções, independentemente de Sarney sair ou ficar.
Objetiva e friamente nenhuma delas configura um problema. Se Sarney pedir licença, assume o primeiro vice, Marconi Perillo, do PSDB. Alega-se que o governo “não aceita” entregar a presidência do Senado ao partido que será seu maior adversário em 2010 e que, ademais, Lula “detesta” Perillo.
Questão de gosto. Muita gente no Parlamento também deve “detestar” algum ministro do Executivo e nem por isso a nomeação de todos eles deixa de ser prerrogativa do presidente. No tocante à “entrega” do Senado à oposição, é de se perguntar por quê. Descontada a hipótese de o PSDB fazer a revolução, de que loucuras seria capaz o partido?
Tocaria a presidência com o mesmo espírito de composição que preside o Senado e pautou a escolha de um tucano para a primeira vice-presidência na Mesa comandada por Sarney. Se Sarney renunciar, realizam-se novas eleições. E daí? Realizaram-se várias. Em quantidade maior que as regulamentares de dois em dois anos, em função de vacâncias anteriores no curso do mandato Seria apenas mais uma. Com a mesma dificuldade de sempre: ausência de nomes de consenso.
Desta vez só seria preciso cuidado redobrado no quesito folha corrida. A terceira possibilidade - recusada, mas até agora a mais ponderada - é a do grupo suprapartidário. O PSDB apresentou a sugestão, o PT encampou, mas a Mesa Diretora recusou, também suprapartidariamente, com receio de perder poder.
Não teria, é verdade, o controle absoluto sobre as investigações e Eventuais reformulações, mas manteria suas funções habituais. O grupo administraria a crise e a Mesa continuaria no comando do Senado.
Falar em perda de poder pontual, deste ou daquele, nessa altura é irrelevante, pois o nome do jogo é a recuperação de um poder já perdido coletivamente. Ou o Senado percebe que trata da sua sobrevivência ou os grupos dominantes continuarão a reboque das conveniências do Palácio do Planalto. Hoje ou amanhã, seja Lula ou outro o presidente da República.
O único risco real à governabilidade é exatamente o aprofundamento do desequilíbrio de poder entre os Poderes. Este é o tema atinente ao interesse do Parlamento como instituição. Não é a motivação do presidente Lula para sustentar o insustentável.
A ele interessa apenas e tão somente concluir o seu mandato com índices altos de popularidade. É o seu patrimônio. Não pode inscrever em sua biografia nenhuma grande mudança estrutural no Brasil.
Sua obra se circunscreve à obediência de parâmetros instituídos pelo antecessor e mundialmente adotados. Caso se rebelasse contra eles, não governaria. Isso na economia.
Na política, seu legado será o do retrocesso. Lula leva da presidência a inédita popularidade.
É na preservação desse capital que joga quando opta pelo caminho do conservadorismo, em detrimento da aposta na moralização e na modernização de procedimentos.
Para isso, não hesita em sacrificar o PT. Quando o senador Aloizio Mercadante cobra o reconhecimento da iniciativa do partido ao enfrentar o grupo de Sarney, comete apenas o equívoco de fingir que o presidente Lula não tem nada a ver com isso.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não abandonamos Sarney”
LÍDER DO DEM NO SENADO, AGRIPINO MAIA (RN), CUJO PARTIDO APOIOU A ELEIÇÃO DE JOSÉ SARNEY

SARNEY NÃO DECLAROU CASA AO TSE
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deve enfrentar um novo constrangimento: a revelação de que sua casa localizada na QL 12 do Lago Sul, em Brasília, não consta da última declaração de bens que ele apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral. O imóvel foi devidamente declarado ao Imposto de Renda, mas, por falha de sua assessoria, deixou de ser incluída no documento protocolado no TSE.
NOUVELLE COUSINE
O presidente Lula vai jantar segunda-feira (6), em Paris, com a atriz global Glória Pires, que há alguns meses mora na capital francesa.
ESCOLINHA DO LULA
A senadora petista Fátima Cleide (RO), que é professora, soltou ontem na TV Senado um “previlégio”, sobre as mordomias “antigas” da Casa.
DEVAGAR E SEMPRE
A ministra Dilma vem restringindo a agenda: ontem começou às 15h30 com despachos internos, e às 16h30 esteve com o presidente Lula.
NOVA SUSPEITA
Uma funcionária de pista da empresa aérea Gol, no aeroporto de Brasília, é a mais recente suspeita de infecção do vírus da gripe
suína.
TUCANOS ARTICULAM A SUBSTITUIÇÃO DE VIRGÍLIO
Insatisfeitos com as explicações do líder Arthur Virgílio (AM), sobre denúncias como o empréstimo de dez mil dólares feito a ele pelo ex-diretor-geral Agaciel Maia, senadores tucanos articulam discretamente a substituição de Arthur Virgílio (AM) por Marisa Serrano (MS), na liderança do PSDB. Eles acharam especialmente grave a história do aspone que Virgílio manteve morando na Europa por conta do Senado.
PAC DE INTERNET
A crise empacou a internet no Senado, mais lenta que tartaruga manca. Muitos servidores levam laptop de casa, apontando suposta “censura”.
FORCA BAIANA
Além do feriado de 7 de setembro, governo e Justiça baianos pararam ontem, Dia da Independência da Bahia, e só voltam segunda. Afe!
QUEM VEM LÁ
O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) disse ontem que “não é homem de ficar se escondendo”. Com aquela cabeleira, é difícil.
SINAIS DA CORTE
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, viajou ontem às 17 horas para Maceió. Não está indo à praia, é verdade, mas é sinal de que a crise do Senado está longe de um desfecho. Ou já arrefeceu.
BOLAS DA VEZ
O PT vai apontar a artilharia para o amplo telhado de vidro do líder Arthur Virgílio (PSDB-AM), a quem Agaciel Maia mandou US$ 10 mil para pagar hotel em Paris. O PMDB prefere o telhado de Tião Viana (PT-AC).
LEALDADE
Ao fazer discurso alfinetando o presidente do Senado, José Sarney, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse ontem que o presidente Lula “reconhece a lealdade”. Talvez por isso Lula nem lhe dirija a palavra.
CASA DE ENFORCADO
Aloizio Mercadante lamentou a derrota do vingativo senador Tião Viana (PT-AC), que “queria reestruturar o Senado”. Quem sabe criando a Secretaria de Celulares para Filhos no Exterior.
NINGUÉM QUER
Tem gente no governo defendendo a extinção pura e simples da Sealopra, a secretaria que foi ocupada por Mangabeira Unger. Nem o PMDB, que aceita até injeção na testa, manifestou interesse pela pasta.
PROFESSOR, NÃO
O coordenador do curso de Direito da UFPE, Ivanildo Figueiredo, diz que Marco Maciel (DEM-PE), “apesar de todos os méritos”, jamais lecionou naquela universidade, ao contrário do que informa o site do senador.
“NÃO É BEM ISSO”
Israel foi o primeiro governo a reconhecer o novo governo de Honduras, países vizinhos abrem as fronteiras, e as presidentes do Chile, Michelle Bachelet, e da Argentina, Cristina Kirchner, adiaram a viagem de volta a Tegucigalpa com o presidente deposto Miguel “Não é bem isso” Zelaya.
FIM DO BLOQUEIO
O desembargador federal Paul Erik Dyrlund suspendeu o bloqueio de R$ 100 milhões do laboratório Sanofi-Aventis, por não haver “plausibilidade jurídica” nas alegações do procurador da República, em uma ação que diz respeito apenas a discussão sobre patente de remédio para câncer.
PENSANDO BEM...
por mais que emita sinais, a caixa-preta do Senado jamais será encontrada.

PODER SEM PUDOR
PREFEITO PICHADOR
O então prefeito Ronaldo Cunha Lima retornava a Campina Grande (PB), após visitar uma cidade vizinha, quando viu uma placa na entrada da cidade com a frase “Acorda, Campina”. Era obra dos adversários, conclamando os munícipes a acabar com e hegemonia do seu grupo político. O poeta desceu do carro, conseguiu um balde de tinta e um pincel e completou:
– Acorda, Campina, os Gaudêncio querem voltar!

SEXTA NOS JORNAIS

- Globo: PMDB ameaça deixar o governo e enquadra PT


- Folha: Desemprego nos EUA e na Europa volta a piorar


- Estadão: Com apoio do PT, Sarney se segura no cargo


- JB: Mulher perde mais empregos na crise


- Correio: Rumo ao colapso


- Valor: Empresas renegociam dívidas e driblam crise


- Jornal do Commercio: Advogada executada dentro do escritório