quarta-feira, junho 03, 2009

TOSTÃO

Desisti de sonhar

JORNAL DO BRASIL - 03/06/09

A queda de Ronaldinho e a aceitação por quase todos de que ele não deve ser mais convocado foi um alívio para Dunga. Sem o jogador, o técnico pode armar a Seleção do jeito que sempre quis, mesmo quando Ronaldinho era convocado.

Dunga concluiu ainda que é melhor não chamar Ronaldinho que colocá-lo na reserva, o que concordo. Por esse e outros motivos, Felipão não levou Romário para a Copa de 2002.

O time brasileiro continua com dois volantes muito defensivos, que marcam mais atrás (Gilberto Silva e Felipe Melo), além de Elano, que defende e ataca pela direita. O objetivo principal é contra-atacar, com Robinho e Kaká, ideais para atuar dessa maneira.

As melhores atuações da Seleção foram dessa maneira, contra Argentina, Itália, Chile, Venezuela e Portugal. Mas o time também foi muito mal jogando assim, fora de casa, contra Paraguai, Equador e até contra as fracas seleções do Peru e da Colômbia. No Morumbi, o Uruguai, marcando por pressão, sufocou o Brasil. Sábado, vão tentar fazer o mesmo. Ainda bem que temos dois excelentes zagueiros e o excepcional Júlio César.

Apesar de Elano ter surpreendido com algumas ótimas atuações na Seleção, prefiro Daniel Alves. Mesmo sendo escalado de lateral no Sevilha e no Barcelona, Daniel Alves é um armador que marca e avança pela ponta e pelo meio. É o que faz Elano. Dunga já fez essa substituição na final da Copa América. Daniel Alves possui mais velocidade e mais recursos técnicos.

Como Felipe Melo e Gilberto Silva atuam pelo meio, e Elano, pela direita, falta um armador pela esquerda que defenda e ataque bem, como Anderson. Mesmo se não estivesse contundido, Anderson seria reserva. Deveria jogar Gilberto Silva ou Felipe Melo. Prefiro Felipe Melo ou Josué.

Outra opção no meio seria Kléberson ou Ramires. Dunga já disse que Ramires é meia, reserva de Kaká. Ramires não brilhou nos últimos jogos porque atuou mais à frente, no lugar de Wagner, da intermediária para o gol. Aí é mais fácil de ser marcado. Por ser extremamente veloz e precisar de muitos espaços, Ramires joga melhor quando parte do próprio campo para chegar ao ataque.

Não pedi o fim dos volantes. Apenas não vou usar mais essa palavra, que só serve para confundir. Prefiro chamá-los de armadores defensivos. Eles são mais que necessários, desde que marquem bem e tenham talento para iniciar as jogadas ofensivas.

A Seleção precisa ter opções táticas. Ela nunca marca por pressão, não forma uma dupla de típicos atacantes (Luís Fabiano e Pato ou Nilmar) nem nunca atuou com um centroavante e um atacante de cada lado, que volta também para marcar, como joga o Corinthians e muitos times europeus. Dos convocados, só Robinho tem características para ser esse atacante pelos lados.

Sábado, contra o Uruguai, a Seleção vai ser sufocada e jogar muito mal, como ocorreu várias vezes nas Eliminatórias, ou vai se defender e contra-atacar bem, como também já ocorreu várias vezes? Melhor seria se a Seleção ganhasse, dominasse a partida e desse espetáculo. Já desisti de sonhar com tudo isso.

GOSTOSA


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FERNANDO RODRIGUES

Um Congresso em frangalhos


Folha de S. Paulo - 03/06/2009
 

No mesmo dia em que surgiu mais um caso de impostura no Congresso, saiu o resultado da pesquisa Datafolha com uma oscilação positiva na aprovação de deputados e de senadores.
Para 19% dos brasileiros o Congresso tem um desempenho "ótimo" ou "bom". Em março, ainda no início da atual onda de estripulias no Legislativo, o percentual era de 16%. Não há motivo para comemoração. Pelo contrário, trata-se apenas da consolidação de uma tendência há anos detectada.
Desde o início desta década, a aprovação do Congresso variou de 11% a 22% em pesquisas Datafolha.
Os 19% atuais estão dentro dessa faixa de tolerância da sociedade.
Sempre há, historicamente e em qualquer lugar, um grupo disposto a olhar com extremo desdém para as mazelas do país -por desinformação, desânimo ou ambos.
A estabilização do Congresso nesse patamar de aprovação ao rés do chão tem sido à custa de mais de 50 episódios de ações incorretas e mau trato do dinheiro público. Ontem, a notícia ruim veio do Senado.
Integrantes da Câmara Alta licenciados para ocupar cargos de ministros continuam recebendo auxílio-moradia. Foram R$ 345,8 mil para o ralo. Nada acontecerá.
Um dos senadores licenciados é Alfredo Nascimento, do PR do Amazonas, hoje ministro dos Transportes. O PR é o ex-PL, sigla das mais desenvoltas no escândalo do mensalão. Como se vivesse numa bolha e desconectado da sociedade, o político amazonense declarou estar esperando ser "informado oficialmente pelo Senado sobre o assunto". Depois, "examinará a necessidade e a qualidade das medidas a serem tomadas".
O político recebe auxílio-moradia como senador sem ser senador.
Não contente, acha necessário "ser informado oficialmente" sobre seu ato. Atitudes assim garantem o congelamento da aprovação do Congresso no patamar dos 20%.

A ARGENTINA, CHAVEZ E O MERCOSUL

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 03/06/2009
 
O Mercosul não deve aceitar o coronel Hugo Chávez em sua mesa de decisões. Essa é a nova bandeira dos líderes empresariais argentinos. Desde a semana passada eles pressionam o Congresso e a presidente Cristina Kirchner para retirar o apoio oficial ao ingresso da Venezuela no bloco. A campanha foi desencadeada pela estatização de três indústrias do grupo Techint, anunciada poucos dias depois de uma visita do presidente venezuelano à Argentina. O desaforo foi agravado quando Chávez garantiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num encontro em Salvador, na Bahia, não ter a intenção de expropriar empresas brasileiras. A presidente Cristina Kirchner aceitou facilmente a explicação do colega venezuelano sobre a declaração no Brasil - "foi uma brincadeira" -, mas o empresariado não ficou satisfeito. Afinal, a decisão de estatizar as três companhias foi mantida. 

Os líderes do setor privado argentino tentam mobilizar os colegas brasileiros, paraguaios e uruguaios para impedir a sujeição do Mercosul aos objetivos da política bolivariana. 

Se os empresários brasileiros entrarem no movimento e decidirem agir com determinação, talvez ainda possam impedir uma votação pró-Chávez no Senado. Na Câmara dos Deputados, a pretensão chavista de influir nas deliberações do bloco já foi aprovada. 

A decisão do presidente Hugo Chávez de implantar na Venezuela o modelo socialista é soberana, "mas é contrária ao modelo de integração do Mercosul", disse o secretário da União Industrial Argentina, José Ignacio de Mendiguren. 

Ele se referia não apenas ao compromisso democrático do bloco regional, mas também ao regime de investimentos nos países do bloco. Desapropriações como aquelas decididas na Venezuela são incompatíveis com a segurança jurídica indispensável à integração. Em documento entregue a deputados da oposição, líderes empresariais condenaram a atitude complacente de autoridades argentinas: quando se ferem os interesses nacionais, "não se trata de uma decisão interna e soberana de outro Estado, como deploravelmente dizem membros do governo argentino, mas de medidas que afetam a relação entre países". Essa mesma lição poderia ter sido ministrada ao governo brasileiro, quando baixou a cabeça e ainda tentou justificar as agressões à Petrobrás praticadas pelo discípulo boliviano de Hugo Chávez, o presidente Evo Morales. 

A complacência da presidente Cristina Kirchner é explicável por sua dependência financeira do Tesouro venezuelano, principal financiador da dívida pública argentina. Sem acesso ao mercado internacional e sem disposição para buscar uma composição com o Fundo Monetário, as autoridades argentinas acabaram aceitando o auxílio de Chávez, empenhado em usar os petrodólares de seu país para ganhar influência política na América Latina. As autoridades brasileiras não têm essa desculpa: alimentaram as ambições do caudilho venezuelano e de seus discípulos por mera incompetência na definição de seus objetivos estratégicos. Foi mais um dos muitos erros causados pela fantasia do presidente Lula de exercer uma liderança terceiro-mundista. 

As preocupações do empresariado argentino são legítimas e plenamente justificadas pelos fatos. Mas há outros motivos para se rejeitar a presença de Chávez na mesa de decisões do Mercosul. Como o bloco é uma união aduaneira, nenhum de seus membros pode celebrar acordos de livre comércio isoladamente. Acordos desse tipo dependem da adesão de todos os sócios. Será uma enorme irresponsabilidade sujeitar as negociações do bloco - e, portanto, sua integração no sistema global - aos interesses políticos do líder da Alba, a grotesca Alternativa Bolivariana para a América Latina. Se houvesse dúvidas quanto à vocação autoritária do presidente venezuelano, sobraria ainda essa questão fundamental: por que sujeitar os interesses externos do Mercosul aos caprichos de um homem como Chávez, que já declarou que quer ingressar no bloco para transformá-lo em instrumento de seu projeto bolivariano? 

Em Brasília, os senadores governistas, obedientes ao presidente Lula, provavelmente votarão a favor do caudilho venezuelano. Caberá aos oposicionistas impedir o desastre.

CELSO MING

Alinhamento dos juros


O Estado de S. Paulo - 03/06/2009
 
Aumentam as pressões para que os juros primários (Selic) se alinhem com os juros internacionais.

Já não se trata mais de derrubar os juros para garantir mais crescimento econômico, mas para evitar uma excessiva valorização do real, independentemente do que isso possa significar.

Nos últimos dias, essa posição foi defendida aqui no Brasil pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Sarney Luiz Gonzaga Belluzzo e pelo ex-ministro do Desenvolvimento do governo Fernando Henrique Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Eles estão preocupados com a baixa abrupta do dólar no câmbio interno (valorização do real), fator que tira competitividade do produto brasileiro em razão do barateamento em reais das importações e do encarecimento em dólares das exportações.

Entendem que a falta de convergência dos juros internos comandados pela Selic com os juros externos trará uma enxurrada de dólares ao País que procurarão tirar proveito dos juros bem mais altos aqui dentro. Quando isso acontecer, o dólar, que já vem mergulhando, afundará ainda mais diante do real.

Por enquanto, as estatísticas não denunciam um afluxo anormal de moeda estrangeira que venha a aproveitar os juros mais altos no Brasil. Mas, à medida que os investidores internacionais saírem de suas posições defensivas e se voltarem para o risco, isso pode ocorrer. Aumenta a percepção de que o Brasil é a noiva da vez. Bancos e escritórios de finanças trabalham com computadores que 24 horas por dia apontam oportunidades de ganhos com mordidas com juros (arbitragem) e disparam automaticamente, mundo afora, ordens de compra e venda de ativos.

As pressões para que haja alinhamento de juros não são muito diferentes das reclamações que têm sido feitas por autoridades monetárias do resto do mundo. O presidente do Banco da Inglaterra (banco central), Mervyn King, por exemplo, tem se queixado de que, a cada recuo dos juros nos Estados Unidos, uma invasão de moeda estrangeira no mercado inglês cuida de valorizar insuportavelmente a libra esterlina.

O problema é que cada país tem a política monetária que o momento pede. Agora, por exemplo, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) opera a juros próximos do zero por cento ao ano porque precisa apagar um incêndio e desobstruir o mercado de crédito. Se a cada mexida da política monetária do dólar ou do euro for preciso alinhar os juros, o País perderia capacidade de administrar a sua própria.

No fundo, o que está em questão é uma enorme desproporção. O mercado financeiro é rigorosamente global e opera no sistema de vasos comunicantes. E, no entanto, as políticas monetárias seguem sendo nacionais ou, no máximo, regionais.

A globalização está pedindo convergência ou para uma moeda única ou para coordenação de políticas monetárias. Enquanto não houver isso, será preciso lidar com assimetrias monetárias.

A convergência monetária está em curso no Brasil. Em 2003, os juros estavam nos 26,5% ao ano e, na semana que vem, terão chegado à casa dos 9%. O que precisa ser discutido é se a velocidade dessa convergência é adequada ou não. Se não é e precisa aumentar, cabe perguntar se o País aceita correr o risco de mais inflação que a flexibilização do plano de metas implicaria. 

Confira

Subindo - Enquanto o dólar afunda globalmente diante das moedas fortes, o petróleo segue na direção contrária, agora a caminho dos US$ 70 por barril. Em Nova York, ao longo de 2009, já acumulou alta de 31,5% e, nos últimos 30 dias, de 26,2%.

BRASÍLIA - DF

Candidato pronto


Correio Braziliense - 03/06/2009
 

Embora digam em público que José Serra (PSDB) será o maestro de sua sucessão no governo de São Paulo, aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) citam um fator preponderante que justifica a candidatura do antecessor de Serra ao Palácio dos Bandeirantes. Dono de uma robusta intenção de voto, segundo a pesquisa Datafolha, Alckmin dá a Serra a tranquilidade necessária para percorrer o país em campanha à Presidência da República, se o atual governador for mesmo o candidato, sem ter de se preocupar em “construir” um sucessor em seu estado. 

***
Diante da ascensão da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Serra sabe que precisará de máxima exposição onde os tucanos tradicionalmente têm dificuldades. Neste cenário, ter um candidato já pronto no próprio quintal será um privilégio de poucos em 2010. Em tempo: Orestes Quércia já procurou Alckmin. Prefere o secretário como candidato a governador do que na sua cola como um dos nomes para o Senado.


Tchau

Encarregado de tocar a proposta de privatização de aeroportos geridos pela Infraero, o superintendente de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Anderson Ribeiro Correia, está com um pé para fora do cargo. Ele vinha em rota de colisão com seu superior, o diretor Alexandre Gomes de Barros. 

Fim do mistério

O Ministério das Cidades promete revelar hoje o que todo mundo já sabia: as vencedoras de sua concorrência de mais de R$ 100 milhões na área de publicidade — Artplan, Propeg e Agnelo. A concorrência está há seis meses em andamento e as três empresas são dadas como certas há muito tempo. É a força do envelope número 29. 

Tucanos & andorinhas 

Se os senadores do PSDB quiserem mesmo fazer verão na CPI da Petrobras terão que mudar de pássaro. É que, entre eles já há quem diga que a especialidade dos tucanos nunca foi investigar ninguém. Ontem mesmo, o presidente do partido, Sérgio Guerra, avisava que não tem por que mexer com o diretor de Exploração, Guilherme Estrella. Dizia que “apesar de petista, Estrella é um homem sério”. 


Vingança no prato 

O líder do PMDB Renan Calheiros jantou ontem com o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Até os tapetes do Senado sabem das rusgas entre Delcídio e o líder do PT Aloizio Mercadante (SP). E quem passa por eles diz que uma indicação do petista para posição de destaque na CPI da Petrobras seria a melhor maneira do alagoano dar um safanão em Mercadante. 

No cafezinho...

 
 

Abre-alas 
Instalada ontem com a posse da deputada Nilmar Ruiz (foto), a Procuradoria Parlamentar da Mulher tem como primeira demanda uma denúncia contra o vereador Guilherme Gazzola (PPS), do município de Itu (SP). Em novembro passado, ele postou em seu blog a foto de uma colega acompanhada da frase “Saudosa deputada cabrita”. A “brincadeira” desencadeou uma reação furiosa da Câmara Municipal à Assembleia Legislativa. Agora, o vereador será investigado no Congresso Nacional. 

Não repitam essa 
Depois de dançar um forró de pé de serra com o ministro José Múcio Monteiro no fim de semana em Caruaru (PE), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, só tem olhos para a regulamentação do pré-sal. Reunião atrás de reunião e Lula só diz, “Dilma, Dilminha, eu não quero nada pela metade...” Lula não quer ver a cena de outro dia, quando, numa conversa sobre o PAC, lhe avisaram que da BR-101 só faltavam as pontes e viadutos. “Dilma, Dilminha, resolva isso, por favor!”, reclamou ele com cara feia para o pessoal da área de transportes. 

The Oscar goes to… 
A polêmica réplica da estrutura da Primeira Missa, montada em pleno Eixo Monumental, será reaproveitada no portal principal do Taguaparque, um dos maiores projetos do governo Arruda, que chega à reta final das obras da primeira etapa pelas mãos da Novacap. Pelo menos, os R$ 420 mil investidos para a montagem da estrutura não serão desperdiçados. 

Bordão 
Coordenador da direção-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Antônio de Moraes, levou a militância em prol da exploração exclusiva do pré-sal pela Petrobras para a secretária eletrônica de seu celular. “Mudar a lei do petróleo para que pré-sal seja do povo brasileiro”, diz a gravação. 

RUY CASTRO

Quatorze minutos de eternidade


Folha de S. Paulo - 03/06/2009
 

Entre a hora presumida de entrada do Airbus A330 da Air France na zona de turbulência sobre o Atlântico e a última mensagem enviada pelo equipamento do avião, na noite de domingo, passaram-se 14 minutos. Se fosse só isso, já seria aterrorizante. Mas o tempo de apreensão, angústia e pavor a bordo pode ter sido ainda maior para os 228 passageiros e tripulantes.
É tempo de sobra para que, diante da iminência de morte, a vida -tudo que se fez e se disse, ou o que deixou de ser feito ou ser dito- passe várias vezes pela cabeça de uma pessoa, com uma definição de cinema. E com uma crueldade de Juízo Final, porque não há mais tempo para dizer ou fazer o que faltou.
Entre os que conseguem se manter íntegros em tal situação, há quem tente vencer o abismo rabiscando algo às pressas, descrevendo o avião em queda ou a aproximação das chamas, despedindo-se de parentes ou namorados, ou tentando deixar uma reflexão mais profunda. É uma tentativa desesperada de comunicar-se pela última vez, de fazer com que sua voz seja ouvida depois do nada.
Sabemos disso porque fragmentos dessas mensagens costumam ser encontradas em destroços de aviões caídos em terra. É por esses retalhos calcinados que nos damos conta de que o drama pessoal de cada vítima de um acidente aéreo é maior do que a fria estatística da soma dos mortos no mesmo acidente.
Na tragédia do voo AF 447, comovemo-nos com o casal rumo à lua-de-mel em Paris e com o alemão que iria tratar dos papéis para se casar com uma brasileira. Mas havia também empresários, professores e executivos, que viajavam a negócios, a estudos ou para receber prêmios -enfim, para um luminoso futuro próximo. E outros cujas histórias pessoais, talvez riquíssimas, nunca chegaremos a conhecer.

GOSTOSA


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MÓNICA BERGAMO

LULA & FUTEBOL


Folha de S. Paulo - 03/06/2009
 

"Se eu não pegar no pé, ele não dorme", diz Marisa

Presença rara na noite paulistana, a primeira-dama, Marisa Letícia, ocupa a única mesa reservada no restaurante Praça São Lourenço, na Vila Olímpia, na festa de aniversário do ministro Orlando Silva, do Esporte, na noite de segunda-feira. 
Acompanhada da nora Marlene Araújo e do cabeleireiro Wanderley Nunes, ela exibe uma nova cor de cabelo. "É loiro bege", diz Wanderley, que fez a tintura no mesmo dia, em seu salão. "Ela parou o shopping Higienópolis."

 

Ciceroneada à mesa pela mãe e pela sogra do ministro, Marisa é cercada pelos garçons, que oferecem água, vinho e salgadinhos. E fala rapidamente à coluna: "Não poderia deixar de dar um abraço no meu amigo de tantos anos. Meu marido está viajando e eu fiquei em São Paulo por causa de uns compromissos, então fiz questão de vir representá-lo".
Ela diz que não conversou com o presidente Lula durante todo o dia, em que ele cancelou a ida a um almoço em El Salvador devido à tragédia do voo da Air France. "Ela não vai falar sobre isso", diz Marlene. Marisa veste terninho Gregory e cachecol tricotado por ela mesma.

 

Personalidades do mundo esportivo fazem fila para cumprimentar a primeira-dama: as ex-jogadoras de basquete Hortência e Karina, o ex-piloto Emerson Fittipaldi... No jardim do restaurante, Marisa encontra o locutor esportivo Luciano do Valle, da Band, com a mulher, Flávia. "O Lula vê futebol até de madrugada. Se eu não pegar no pé, ele não dorme", diz ela. Luciano conta que fez uma entrevista com o presidente para um programa regional que apresenta no Recife e que ele ficou brincando com Laura, a filha de dez anos do narrador. 
"No final, ela perguntou: "Quando eu vou poder votar no senhor para presidente?". E o Lula respondeu: "Agora não dá mais"", conta Luciano.

 

Viviane Senna e o marido, Arthur Briquet, chegam e cumprimentam Marisa. Ela lembra que, em encontro com o corintiano Lula, o são-paulino Briquet precisou "renegar" o time. "O Lula falou "Sai daqui!" quando ele disse que era são-paulino", diz a primeira-dama. "Aí eu falei que era santista", completa Briquet. Marisa, que comentou ter na família "um neto palmeirense e um são-paulino", termina a noite prometendo ao presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, que vai ver o próximo jogo do Tricolor no Morumbi.

MERVAL PEREIRA

Briga no escuro


O Globo - 03/06/2009
 

Os palanques estaduais para a eleição de 2010 já estão sendo negociados nas disputas que ocorrem no Senado para o preenchimento de cargos na CPI. E a disputa maior, uma verdadeira briga no escuro, é dentro da base aliada, entre PT e PMDB. O senador Renan Calheiros domina completamente hoje o PMDB no Senado, e em consequência tem mais poder do que quando era o próprio presidente. Aproveita-se do vácuo de poder deixado pelo presidente José Sarney, que deve ter se arrependido de ter cedido aos seus argumentos para concorrer à presidência, e se credencia junto aos seus pares como o grande interlocutor do governo. Do seu ponto de vista, Renan Calheiros fez tudo certo, até mesmo convencendo Sarney a disputar um lugar que já fora seu e para o qual não desejava voltar. 

Ao romper o acordo tácito que indicava que o PT faria o presidente do Senado enquanto o PMDB ficaria com a Câmara, num rodízio de parceiros políticos, Renan provocou um curto circuito que desencadeou toda a onda de denúncias que, desde a eleição, no início do ano, domina a pauta do Senado. 

O senador Tião Viana, candidato petista com o apoio do PSDB, se propunha a fazer uma reforma profunda nos procedimentos do Senado, sabedor, como todos os demais colegas, que nos bastidores os hábitos e costumes da Casa não eram nada republicanos. 

Assim como, em 2001, o então deputado federal Aécio Neves, do PSDB, foi eleito presidente da Câmara em detrimento de um acordo que faria o PFL assumir a presidência, também hoje o PMDB rompeu o acordo com o PT e elegeu Sarney para a presidência do Senado, provocando as mesmas reações. 

Naquela ocasião, começou a se desgastar a aliança PSDB-PFL que sustentava o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e apoiaria a candidatura tucana à sucessão. 

Vários líderes pefelistas passaram a apoiar a candidatura de Lula, o mesmo acontecendo com parte do PMDB, que deu seu apoio formal a José Serra, mas, como sempre, dividiu-se entre os dois principais concorrentes. 

Hoje, a principal sustentação da base aliada é o PMDB, mas a dificuldade de fazer acordos regionais está se refletindo nas relações congressuais entre os dois partidos, sobretudo no Senado, onde a maioria governista é muito frágil. 

Apenas três senadores peemedebistas, e justamente os que têm mais cacife político - Pedro Simon, Jarbas Vasconcellos e José Sarney - não colocarão seus cargos em disputa em 2010. 

O PMDB tem nada menos que 16 senadores que disputarão uma das vagas em 2010, sendo que cinco deles são suplentes sem luz própria que terão de devolver a vaga para os titulares ou para o partido. 

Desses, não há nenhum que seja um líder destacado em seu estado, com a exceção talvez de Romero Jucá, que é mais ligado ao governo Lula do que ao partido, ou o próprio Renan Calheiros, que, embora tenha uma imagem nacional desacreditada, ainda não se desgastou totalmente em Alagoas. 

Para que o PMDB não perca a hegemonia no Senado, será preciso o apoio político de um dos partidos que disputarão a Presidência da República, PT ou PSDB, e é neste ponto que se encontram as coisas. 

O senador Renan Calheiros montou a CPI da Petrobrás ao seu gosto, para ganhar poder de barganha junto ao governo. Ofereceu a presidência para a oposição, sem consultar o PT, e queria que o PMDB ficasse com a relatoria. 

O Palácio do Planalto interveio para colocar o PT na presidência, e não abriu mão da relatoria para o PMDB. Mas a disputa pessoal entre Renan Calheiros e o líder do PT, Aloizio Mercadante, está impedindo que o líder do governo no Senado, Romero Jucá, seja indicado para o cargo, o mesmo Jucá que o próprio Renan já escolhera como relator. 

Ao perceber que a lealdade de Jucá seria ao governo e não ao PMDB, Renan tentou impingir à base aliada a norma de não colocar na CPI nenhum líder partidário. 

Com isso, tirava também da CPI Mercadante e Ideli Salvatti, dois dos articuladores no PT para que Renan Calheiros não fosse cassado no episódio que o derrubou da presidência do Senado. 

Talvez justamente por se sentir devedor, dando razão aos céticos quanto à natureza humana, Renan quer distância dos dois. 

Na tropa de choque de Renan na CPI constam também o senador Fernando Collor, do PTB, de quem se reaproximou; o segundo suplente Paulo Duque, que na manobra para adiar a instalação da CPI já demonstrou que é mais fiel a Renan do que ao governador do Rio, Sérgio Cabral, eleito originalmente para a vaga; e Leomar Quintanilha, que, na presidência da Comissão de Ética, ajudou Renan por amizade pessoal e não por questões políticas. 

O mais impressionante é que ao vetar o líder do governo no Senado para o cargo de relator, Renan Calheiros está escancarando sua estratégia de manobrar a CPI para usá-la como arma de manobra política contra o próprio governo. 

Mostra a intenção de negociar com a oposição e com o governo o andamento da CPI. Uma clara distorção da coligação que dá suporte ao governo, numa demonstração de que é preciso realizar uma profunda reforma política para reduzir a margem de manobra individual de cada político, em benefício de programas partidários. 

A atuação do PMDB, apesar de causar problemas para o governo, não deve trazer muito alento para a oposição, especialmente no caso de precisar do partido para um eventual governo. 

Nada mais perigoso do que ter como aliado preferencial um partido que trabalha à base da chantagem política desorganizada, onde cada cacique regional tem suas próprias regras.

PANORAMA POLÍTICO

Pânico na Petrobras

Ilimar Franco
O Globo - 03/06/2009
 

A direção da Petrobras está inquieta com a CPI . Teme a exposição de seus contratos, definidos como "sofisticados e complexos". Avalia que eles não podem ser analisados como os de uma prefeitura. Argumenta que os investimentos envolvem pacotes, nos quais o financiador está associado a empresas de engenharia ou fornecedores de equipamentos ou a construtoras. A empresa está alarmada com o prejuízo à sua imagem com a divulgação de denúncias anônimas não comprovadas. 

Está pintando disputa no PT 

O presidente Lula está determinado a manter Gilberto Carvalho no Planalto. Alega que Gilberto não tem o perfil para presidir o PT e que precisa dele na reta final do governo, quando a maioria dos ministros terá pedido demissão para concorrer. Apesar disso, na quinta-feira, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e Gilberto Carvalho terão uma conversa final com Lula. Se isso se confirmar, a presidência do PT deve ser disputada pelo ex-senador José Eduardo Dutra, da Construindo um Novo Brasil, e o secretário-geral, José Eduardo Cardozo (SP), da Mensagem. A Democracia Socialista, no entanto, simpatiza com Dutra. 

Tenho que aguardar. O PSDB, decidindo pelo Aécio, muda o quadro eleitoral nacional. Teremos que avaliar esse novo quadro" - Carlos Lupi, ministro do Trabalho, após visitar o governador Aécio Neves 

O PROTESTO. O Greenpeace protestou ontem no Senado contra mudanças na proposta de novo Código Florestal enviada pelo governo ao Congresso. Uma das militantes, usando a faixa "Miss Desarmamento", com uma imagem presa ao rosto da presidente da CNA e senadora Kátia Abreu (DEM-TO), foi detida. Kátia protestou indignada: "Por que o Greenpeace não atua na Europa, que mantém apenas 0,3% de sua floresta nativa?". 

Fogo amigo 

Dizem no PMDB que o líder no Senado, Renan Calheiros, está de mal com o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), porque seu motorista perdeu um cargo de comissão. Funcionário da Câmara, ele dá expediente no Senado. 

PSDB coloca Serra e Aécio na TV 

Os governadores José Serra e Aécio Neves serão as estrelas das inserções na TV que o PSDB vai colocar no ar em junho. Os tucanos optaram por inserções de um minuto, em vez de trinta segundos, para que Serra e Aécio possam ter uma exposição maior. Os 20 programas irão ao ar durante quatro dias e pretendem mostrar ao público as principais realizações das administrações tucanas em São Paulo e Minas Gerais. 

Vacinado contra as pesquisas 

Disputado pelo presidente Lula e pelo governador José Serra, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração) não se impressiona com as pesquisas. "Parece até que as eleições vão ser agora, em outubro, e não no ano que vem", ironiza. Cético, se diz escaldado com pesquisas com tanta antecedência. Cita as eleições de Jaques Wagner na Bahia, em 2006, e de João Henrique em Salvador, em 2008. "Apoiei os dois na baixa, me chamaram de maluco e deu no que deu", resume.

A DIRETORIA brasileira de Itaipu não está nada satisfeita com a possibilidade de o governo Lula permitir ao Paraguai vender parcela de sua cota no mercado livre de energia. 

ALIÁS, no governo Lula há um certo desencanto com o presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Além da desmoralização, com a descoberta dos filhos, dizem que sua base vai da direita à esquerda radicais. 

O LÍDER do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), está dando uma canseira no governo. Ainda não disse quem vai indicar para relator da CPI da Petrobras.

 

Limites 

A oposição não vai investir contra a Diretoria de Exploração da Petrobras, ocupada pelo petista Guilherme Estrella, que cuida do pré-sal. "Ele é honesto e essa é uma área estratégica", resume o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).

KÁTIA ABREU

Desmatamento, não Produção, sim


O Estado de S. Paulo - 03/06/2009
 
Proponho que o artigo 1º do novo Código Florestal seja explícito e taxativo: "Não será permitida nenhuma derrubada florestal em todo o território nacional, sendo garantida a preservação das matas ciliares (margens dos rios, córregos, nascentes e lagoas) nos limites fixados por laudos geológicos, contra os riscos de erosão e prejuízos aos aquíferos."

Naturalmente, essa redação é improvisada e o texto adotado deverá atender a exigências tanto ambientais quanto de técnica jurídica, mas o espírito é esse. Que seja uma declaração prévia do compromisso da agropecuária com a defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo, a garantia de segurança jurídica para quem produz no campo.

Antigamente, quando as leis eram mais eficazes e literariamente enxutas, essas afirmações peremptórias constavam dos famosos parágrafos que radicalizam a intenção dos legisladores. Ou alguém neste país já esqueceu o professor Sobral Pinto no inesquecível comício das Diretas-Já, em 1984, no Rio - 1 milhão de pessoas na Candelária! -, recitando solenemente o § 1º do artigo 1º da Constituição: "Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido"?

Citando um só parágrafo, o notável advogado liberal derrotava, com o argumento moral, a arrogância do regime militar, que depois de 20 anos de poder absoluto se rendia à força da citação singela e suficiente. Pois procuro algo semelhante. Um artigo 1º para o futuro Código Florestal que não deixe dúvidas, seja taxativo, satisfaça todas as exigências, dirima todas as suspeitas, desarme os ânimos mais exaltados. Mas, ao mesmo tempo, possibilite uma afirmação da consciência ecológica do povo brasileiro, solidária com o clamor de toda a humanidade. Sem, naturalmente, perder-se no labirinto de utopias que se desviam da realidade econômica e social, perseguindo propostas irrealistas.

Não sei se sou pouco original nessa discussão nem quero reviver antigos desencontros pelos quais não fui responsável, mas parto de três entendimentos que se harmonizam e se completam para ajudar a construir uma solução de compromisso nova na forma e no conteúdo, em nome da agropecuária brasileira. O primeiro princípio é óbvio: a defesa intransigente do meio ambiente, considerando que a civilização acordou com bastante atraso para sua preservação, quase no limite do risco irreversível. Portanto, temos uma questão de salvação pública, um imperativo da condição humana.

O segundo é a realidade histórica, prática milenar na vida do planeta, quando o homem se comportou perdulariamente com relação à natureza, substituindo sua cobertura natural, irreversivelmente, como se fosse um bem inesgotável. Imagine-se que na velha Europa desapareceram 99,7% das florestas, 92,2% na pobre África, 94,4% na Ásia, 92,3% na América Central. No caso brasileiro, o desmatamento de 25% a 30% das florestas, restando ainda aproximadamente 470 milhões de hectares de matas, criou um estoque de terras para plantio e criação de 383 milhões de hectares suficientes, dispensando definitivamente novos desmatamentos.

A terceira questão que se apresenta é a produção agropecuária, especialmente de alimentos, item tão importante quanto a preservação ambiental, desde que a terra seja trabalhada com consciência ecológica e obedecendo aos padrões científicos e tecnológicos da preservação. Como no caso, por exemplo, das áreas de preservação permanente das margens dos rios, que devem ter a largura determinada pelo declive e pela profundidade da cobertura arenosa ou argilosa do solo. Pela legislação atual, sem nenhum fundamento pedológico, está estabelecida por uma tabela rígida e irrealista (tanto que teve suspensa sua aplicação, por inaplicável) de 100, 200 e 500 metros às margens dos cursos d?água em que é proibido plantar, em todo território nacional. O critério desse espaço é definido pela largura do espelho d?água, sem considerar a questão essencial do solo e declive, como ensinam os pesquisadores da Embrapa. Ou a Embrapa pode ser acusada de conspiração contra o meio ambiente?

Assumindo a responsabilidade de 24% do PIB e, além de abastecer o mercado interno, gerar 36% das exportações totais (US$ 58,4 bilhões), a agropecuária nacional não é uma aventura marginal nem uma força reacionária no processo social brasileiro, tem um papel de vanguarda na economia. Assim, deve ser reconhecida como protagonista essencial num debate que tem que ver com alguns de seus temas fundamentais - a preservação e vitalidade do solo, bem como da qualidade das águas -, que certamente nenhum outro grupo debatedor tem mais motivações para defender.

Um estatuto ambiental equilibrado, eficiente e prático é indispensável à segurança jurídica da atividade agropecuária e à sua própria responsabilização perante a sociedade. Tal segurança e responsabilização, porém, tornam-se inviáveis se mantida a legislação vigente, impossível de ser cumprida, pois impede a produção de alimentos em 71% do território nacional. Isso num país onde, infelizmente, 23 milhões de pessoas ainda passam fome, segundo dados da ONU.

A saída, portanto, ao alcance de um gesto de boa vontade geral, sem ranhetices, preconceitos ou radicalismos, é buscar o consenso e a aplicação de soluções simples, como a do artigo 24 da Constituição, que estabelece a competência da União para fixar as normas gerais (e a aprovação de um novo Código Florestal moderno e vigoroso é a oportunidade perfeita para isso) e os Estados se encarregarão de aplicá-lo conforme as situações regionais específicas.

Aliás, é hora de quebrar o monopólio usurpado por um grupo de falsos anjos da natureza que pretende decidir o que pode e não pode em matéria de meio ambiente, recusando verdades científicas e laudos insuspeitos da Embrapa, referência essencial do desenvolvimento sustentado da agropecuária brasileira. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), que presido, dispensa quem investe no confronto e insiste no diálogo para ajudar a construir um Brasil com mais comida, meio ambiente, diversão e arte.

PAINEL

Crise de confiança

 Renata Lo Prete
Folha de S. Paulo - 03/06/2009
 

O impasse na instalação da CPI da Petrobras pode ser resumido assim: o PMDB não confia no PT, e a recíproca é verdadeira. Renan Calheiros quer reduzir ao máximo a margem de manobra dos petistas na comissão por acreditar que, para se livrarem do pior, eles jogarão o foco da investigação sobre os setores da empresa comandados pelo PMDB.
A mesma lógica leva o PT a concluir que, se não assegurar um dos postos de comando da CPI, serão mais expostos os seus quadros na estatal. O partido teme especialmente por Wilson Santarosa, gerente de Comunicação Institucional. Um único objetivo une as duas siglas: não deixar a investigação andar.

Cotoveladas
Os peemedebistas Renan Calheiros, "dono" da CPI, e Romero Jucá, cotado para assumir a relatoria, mas rejeitado pelo correligionário, disputam espaços no sistema Petrobras. 

Oscar
A oposição não compra pelo valor de face o propalado tiroteio entre Renan e Jucá. Vê aí encenação, em benefício do objetivo maior: adiar a instalação da CPI. 

Quem pisca
Renan e Aloizio Mercadante (PT) aguardam a indicação um do outro para se mover. Se Renan vetar Jucá na relatoria, Mercadante pode indicar Ideli Salvatti para a presidência. Se Renan aceitar Jucá, Mercadante indica João Pedro ou até a opção do PC do B, Inácio Arruda. 

Lebre
Alheio às evidências de que apenas cumpriu um roteiro predeterminado por Renan, Paulo Duque (PMDB-RJ), 81, desfilava orgulhoso de sua estripulia de encerrar a reunião da CPI em 15 minutos. "Cheguei uma hora antes ao meu gabinete. Meia hora antes, estava na sala. Em respeito a mim e à imprensa, achei por bem encerrar". 

Incólume
Ninguém do PMDB ou do DEM apareceu para inquirir o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia ontem, no inquérito aberto para investigar os desmandos administrativos de sua gestão. Durante toda a oitiva, Agaciel se comportou como um senador licenciado, sem que ninguém lhe incomodasse.

Mente aberta
Do líder do do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, sobre o Ibope que dá 18% a Ciro Gomes num confronto com Geraldo Alckmin (PSDB): "Meu candidato é Emídio de Souza, mas o resultado mostra que Ciro pode ser alternativa para unificar o campo democrático em SP". 

Corrida do ouro
Definidas as cidades da Copa de 2014, governos e prefeituras correm em busca de financiamento. O lobby do Rio Grande do Norte visa incluir o metrô de superfície de Natal no PAC da mobilidade urbana. 

Língua de sogra
Não bastasse uma festa de aniversário na segunda prestigiada até pela primeira-dama, Marisa Letícia, o ministro Orlando Silva (Esporte) ganhou coro de parabéns ao discorrer sobre o projeto da "Copa limpa" em audiência pública ontem no Senado. Romeu Tuma (PTB-SP) trouxe o bolo. 

Alta prioridade
Paulo Maluf (PP-SP) apresentou na Câmara projeto de lei estabelecendo pena para quem propuser ação civil pública que, depois, comprove-se motivada por "questões políticas". 

Encerrado
A Executiva Nacional do PSDB arquivou o processo de expulsão contra Walter Feldman, deputado federal licenciado e secretário paulistano de Esportes. A ação foi aberta em 2008 por alckmistas descontentes com o engajamento de Feldman na campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM) à reeleição. 

Visita à Folha
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista, visitou ontem a 
Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.

Tiroteio

"Obama acha que Lula é "o cara" porque ainda não conhece Renan Calheiros."

De JARBAS VASCONCELOS (PMDB-PE), a respeito do controle exercido pelo líder de seu partido sobre as indicações para a CPI da Petrobras.

Contraponto

Quase famosa

Em campanha para levar uma corrida da Indy para Ribeirão Preto, terra natal do piloto Hélio Castro Neves, a prefeita Dárcy Vera (DEM) viajou recentemente a Miami ao encontro de dirigentes da categoria.
Durante intervalo entre dois compromissos, ela foi almoçar num restaurante da orla. Enquanto aguardava a comida, puxou papo, no inglês possível, com o simpático cliente da mesa ao lado. E surpreendeu-se quando várias pessoas se puseram a tirar fotos dos dois:
-Puxa, eu não sabia que me conheciam aqui nos EUA!
Alguém cuidou de explicar à prefeita que seu interlocutor era Patrick Dempsey, que vira a cabeça das mulheres como o neurocirurgião da série de TV "Grey"s Anatomy".

CLÓVIS ROSSI

Perdido, não

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/06/09

SÃO PAULO - Quando você começa a achar que não há nada mais a ser descoberto na face da Terra (fisicamente, digo), eis que um imenso Airbus fica 36 horas, pouco mais, pouco menos, completamente sumido, como se tivesse caído na ilha de "Lost".
Foi só ontem à tarde que o ministro Nelson Jobim (Defesa) informou não haver dúvidas de que os destroços localizados pertencem ao avião da Air France.
Ainda assim, eu, leigo absoluto, jamais poderia supor que a rota aérea que uso com razoável regularidade -e exatamente pela Air France, nos últimos anos- e que é das mais movimentadas do mundo pudesse ter um tipo de buraco negro ou um ponto cego em que desapareça um baita avião.
OK, dirão os especialistas, o avião afundou no mar. Mas parece coisa realmente de "Lost" ficar sabendo que nenhum sinal exterior boiou durante as primeiras 36 horas de frenética busca.
Ainda mais que vivemos já há um punhado de anos a era da tecnologia, da tecnologia da informação, das comunicações, da globalização -tudo tendente a deixar tudo muito exposto desde os primeiros momentos ou no mínimo a partir do instante em que amanheceu na área em que ontem se comprovou a existência dos destroços.
Não estou tecendo alguma teoria conspiratória envolvendo terrestres ou extraterrestres. Só estou dizendo que, pela primeira vez na vida, a ideia de voar me causa algum (pequeno) desconforto, ainda mais que tenho reserva em um voo Air France para dentro de 20 dias, praticamente na mesma rota (o voo sai de São Paulo, não do Rio).
Não adianta me contar que voar é mais seguro que andar de carro. Já sei. Já sei também que ninguém morre de véspera, a não ser o peru (assim mesmo no Natal, que não cai ainda). Meu medo não é de morrer.
É de ficar perdido, morto ou vivo, e sem poder escrever.

ANCELMO GÓIS

TIM MAIA, O FILME

O GLOBO - 03/06/09
 
A vida de Tim Maia vai virar filme dirigido por Mauro Lima, o de Meu nome não é Johnny.
Será baseado no best-seller Vale tudo, biografia escrita por Nelson Motta. Depois de um ano de disputa com pesos-pesados do cinema, o produtor paulista Rodrigo Teixeira e a Margarida Filmes compraram os direitos dos herdeiros.
SETE E NÃO SE FALA...
O pessoal da antiga Varig, inclusive do fundo Aerus, apresentou esta semana uma proposta na mesa de negociação para retirar todas as ações contra o governo.
Querem R$ 7 bilhões e não se fala mais nisso.
COMO SE SABE... 
Em março, a pedido das duas partes, para que se tentasse um acordo, foi suspenso o julgamento no STF daquela ação de defasagem tarifária da velha Varig contra o governo.
AGORA 
O governo deve fazer uma contraproposta.
ELEIÇÃO 2010
Zé Dirceu atua nos bastidores para formar uma espécie de rede de imprensa simpática ao PT, que incluiria os jornais Hoje em Dia, de Belo Horizonte, e Correio do Povo, de Porto Alegre (ambos da Igreja Universal), e um terceiro no 
Rio.
MAESTRO 
O mestre Oscar Niemeyer vai fazer o projeto da estátua do maestro Tom Jobim que ficará no Galeão.
LISTA POLÊMICA
Pela lei francesa, as famílias é que divulgam, se quiserem, os nomes de parentes mortos em acidentes aéreos.
Aqui, até corre na Justiça ação contra a TAM por ter segurado sete horas a lista dos mortos em Congonhas, em 2007.
QUEM TEM... TEM
Esse festejado grupo americano de jazz Spyro Gyra, que faz turnê pelo Brasil semana que vem, tinha um show agendado este mês no México. Desistiu com medo da gripe suína.
GINÁSTICA 
Ana Gutierrez, filha da empresária Ângela Gutierrez, comprou pequena participação na rede de academias A!BodyTech, controlada por Alexandre Acioly.
A LISTA DA CARNE
Carrefour, Makro, Perdigão, Wal-Mart e Ypê são algumas das 69 empresas, além do Pão de Açúcar, notificadas porque comprariam insumos (carne, sobretudo) de 21 fazendas que promovem desmatamento ilegal, segundo o MP federal no Pará.
O Pão de Açúcar lembra que seus fornecedores “assinam termo em que se comprometem a atender a legislação de proteção do meio ambiente, de segurança e medicina do trabalho”.
FUNK VETADO
Alguns moradores da Cidade de Deus, no Rio, organizam um ato hoje pela volta do funk à comunidade.
Dizem que, desde que a favela foi ocupada por policiais, o funk está proibido. Será?
PEQUENO PRÍNCIPE
O acidente com o Airbus da Air France, em que morreu o príncipe herdeiro dom Pedro Luís de Orleans e Bragança, de 26 anos, não foi o primeiro na família real brasileira.
Nos anos 1970, dom Eudes de Orleans e Bragança, estava num avião que caiu na Jamaica e sobreviveu.