segunda-feira, abril 27, 2009

AUGUSTO NUNES

O menino maluquinho do Ceará virou um cinquentão muito doido


VEJA ON-LINE - 27/04/2009

Na campanha de 2002, o candidato Ciro Gomes desfiava promessas no horário eleitoral no rádio quando um ouvinte lhe perguntou se pretendia ser presidente da Suiça. ”Lá é parlamentarista”, subiu o tom o orador.  ”É só um aviso aí pra esses petistas furibundos. Tem que fazer as perguntas com um pouco mais de cuidado pra largar de ser burro”. Pegou mal, não demorou a entender o próprio Ciro, que demorou alguns dias para balbuciar o inconvincente pedido de desculpas e recitar a frase tão verdadeira quanto uma cédula de 3 reais: ”Nunca agredi ninguém em minha extensa vida pública”.

Como?, espantaram-se os mandacarus do sertão e as areias do litoral do Ceará. Ciro rima com grosseria desde a primeira subida ao palanque. Em 1994, por exemplo, quando ainda se enfeitava com plumas de tucano, foi à luta contra o partido que apoiaria no século seguinte:  “Os políticos do PT são uns mijões nas calças”, resumiu numa entrevista. Em 2002, portanto, tinha pelo menos oito anos de milhas acumuladas. De lá para cá,  o que andou fazendo e dizendo transformou o antigo menino maluquinho num cinquentão doido demais.

Entre os melhores dos seus piores momentos inclui-se o confronto com celebridades que se opõem à transposição do Rio São Francisco e visitaram a Câmara dos Deputados em fevereiro de 2008. Avesso a aparecer no local do emprego, o fervoroso partidário do projeto estava lá para recepcioná-los. Para encurtar a conversa, mirou a atriz Letícia Sabatella e apertou o gatilho: ”Não sei se estou no mesmo lugar que o seu, mas é parecido. Eu, ao meu jeito, escolhi a opção de meter a mão na massa. às vezes suja de cocô. Mas minha cabeça, não. Meu compromisso, não”. Letícia achou que aquilo nem merecia resposta.

Três meses depois de Letícia, chegou a vez de Luizianne Lins, prefeita da capital cearense em campanha pela reeleição. Cabo eleitoral da candidata Patrícia Saboya, senadora e mãe de seus filhos, o deputado federal estacionado no PSB (depois de escalas no PMDB, no PSDB e no PPS) deu uma geral na paisagem e soltou o diagnóstico:  “Fortaleza é um puteiro a céu aberto”. Para não perder o apoio do governador Cid Gomes, irmão de Ciro, a prefeita fez de conta que não ouvira direito. Cid também. O resto da família não fez comentários.

Neste abril, o cearense brigão pousou no Congresso disposto a transformar em endereço permamente o Sanatório Geral, que o hospeda há 14 anos. Irrompeu no plenário bravo com os colegas que recomendavam alguma temperança no uso de passagens aéreas. “Até ontem era tudo liberado!”, esbravejou. “Então, por que mudar? É um bando de babacas!”. Ficou mais bravo ainda quando soube que viera do Ministério Público a informação de que havia financiado com dinheiro da Câmara, tungado dos contribuintes, um giro internacional da mãe. “Ministério Público é o caralho!”, caprichou. ”Não tenho medo de ninguém! Da imprensa, de deputado! Pode escrever o caralho aí!”, recomendou aos  jornalistas. A recomendação foi atendida, mas nem por isso Ciro Gomes reduziu a marcha. “Até parece que isto é um pardieiro de salafrários!”, irritou-se no dia seguinte com o noticiário. E então sumiu de novo.

Candidato do PSB ao Planalto até a semana passada, Ciro talvez tenha de mudar do partido para continuar na corrida:  os correligionários ficaram assustados com a performance do artista. Também candidato ao Planalto, mas pronto a estender a mão aos concorrentes, o senador Cristovam Buarque, do PDT, sugeriu-lhe uma brusca mudança de rota. ”Quem quer ser presidente não precisa estudar em Harvard”, ensinou. “Precisa é conhecer o Vale do Jequitinhonha”". 

Como qualquer brasileiro com mais de três neurônios, Cristovam sabe que  Ciro Gomes precisa é de um curso intensivo de boas maneiras.  Se o senador anda achando que a solução está no Jequitinhonha, decerto descobriu que as mães daquela região mineira continuam lavando com sabão a boca de moleques que dizem palavrões em público.

LAURO JARDIM - VEJA ON-LINE

CÂMARA


Clima de campanha

Michel Temer ficou desde sexta-feira pendurado no telefone em contato com líderes partidários e deputados influentes. O trabalho é para garantir que amanhã sua resolução acabando com a farra das passagens saia vitoriosa do plenário. A previsão é que Temer desembarque em Brasília no início da tarde e as conversas pessoais sigam até à noite.

Denúncia que ajuda

A gravidade denúncia de que os gabinetes de vários deputados negociaram as passagens aéreas com agências de viagem deram uma força a Temer. Os deputados estão assutados com o rumo da discussão, que até o meio da semana passada ainda era tratada como familiar. Agora, está virando caso de polícia.

TELEVISÃO

Ibope de seleção

A vitória do Corinthians sobre o Santos ontem à tarde garantiu à Globo uma audiência do tamanho de um jogo de seleção brasileira - até um pouco maior. O jogo registrou 35 pontos, segundo os números prévios do Ibope em São Paulo (e em segundo lugar, ficou a Band, com 11 pontos, que também transmitia a partida).  Em outubro passado, por exemplo, quando a Globo mandou ao ar o empate de zero a zero entre Brasil e Bolívia, válido pelas Eliminatórias, o ibope cravou 34 pontos para a Globo.

ELEIÇÕES 2010

Palocci nas mãos de Gilmar

Com o anúncio do câncer de Dilma Rousseff,  a solução Antonio Palocci para à presidência da República tende naturalmente a ganhar força no PT. Inicialmente, Palocci estava se preparando para disputar o governo de São Paulo. Era no máximo um plano B para Lula e o PT. Agora, dependendo da evolução do quadro médico de Dilma, Palocci pode passar de opção para nome obrigatório.
Só que Palocci está nas mãos de Gilmar Mendes. O presidente do STF é o relator do caso da quebra de sigilo do caseiro Francenildo - e Palocci só será candidato a cargo majoritário se for inocentado da acusação que lhe pesa nos ombros: a de ter determinado a quebra do sigio bancário do seu ex-caseiro.
No início do mês, Gilmar deu sinais de que levaria o caso para julgamento em maio. Se isso acontecer, e Palocci for inocentado, ninguém mais segurará as especulações em torno de sua candidatura à presidência. 
Mas o caminho de Palocci é pedregoso: basta que um dos ministros do STF peça vistas do processo e o ex-ministro da Fazenda, terá que guarar sua ansiedade no armário por mais algumas semanas ou meses.

Efeito Dilma

Não demora muito e algum engraçadinho do PT  vai  relançar a tese do terceiro mandato para Lula.

STF

Gilmar e Joaquim cara a cara

O reencontro de Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes cara a cara pode ocorrer na sessão do STF desta quinta-feira.

Barbosa desembarcou ontem à noite em Brasília, depois de um fim de semana no Rio de Janeiro. Trabalhará normalmente hoje e amanhã. Na quarta-feira se submeterá no Hostpital Sírio-Libanês (SP) a um tratamento para sua crônica dor decoluna - um tratamento novo, de rádio-frequência, que ele iniciou no mês passado.

Aos mais próximos, disse no fim de semana que, se estiver em condições, pretende participar, sim, da sessão de quinta-feira.   

E como será o reencontro com Gilmar?

- Pouco intervenho nas sessões. Este é o meu estilo. Agora, se achar que devo intervir, o farei normalmente, disse.

O espírito não é de briga.

Lincoln para relaxar

A propósito, Joaquim Barbosa tem tentado relaxar lendo O Gênio Político de Abraham Lincoln, biografia lançada em 2005 pela historiadora americana Doris Goodwin. São 944 páginas de puro deleite.

INFORME JB

Geddel e Wagner começam a disputa

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 27/04/09

Cerca de 280 prefeitos da Bahia fazem amanhã uma marcha em Salvador, para reclamar da queda de repasses da União, como o Fundo de Participação Municipal, e o não atendimento às demandas pelo Programa Saúde da Família. Mas o alvo é o governador Jaques Wagner (PT), que chega de viagem ao exterior na tentativa de controlar a rebelião. E o fogo-amigo. Explica-se: quem está por trás da marcha promovida pela União dos Municípios da Bahia é o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (foto), pré-candidato ao governo. Ontem, seu afilhado político, o prefeito de Salvador, João Henrique, e o deputado ACM Neto (DEM) (foto) voaram juntos para o interior e fizeram palanque na cidade de Saúde para incendiar a marcha. PMDB e DEM são da base de Wagner no estado, mas já atuam pelo ministro.

Eleições à parte Convocação

Aliados, aliados; eleições à parte. Esse é o lema, embora Wagner e Geddel escondam dos holofotes a disputa nos bastidores. Negam o embate e o rompimento. Mas o fato é que Geddel é candidato e quer fechar com o DEM.

O fim de semana foi de convocação. Geddel chamou seus 130 prefeitos para a marcha. ACM Neto intimou uns 40. O ministro e o deputado se falam ao telefone quase diariamente.

Muy amigo

Sabem quem estava no palanque de João Henrique e ACM Neto em Saúde, ontem, inflando os alcaides? O senador Cristovam Buarque (PDT), amigo de Wagner. Mas ex-petista convicto.

Quem manda

A União dos Municípios da Bahia, UPB na sigla, com adesão de mais da metade das cidades baianas, é comandada por um prefeito de Geddel, que venceu a eleição contra um petista de Wagner.

Cobrança

"Não é uma ação contra Wagner, mas contra o governo federal que ele representa", acusa o deputado Geraldo Simões, apontando para Geddel. O PT está irritado com a indiferença de Wagner. Vai cobrar um rompimento.

A lista...

A Infraero fez a limpa. Exonerou centenas de funcionários que não eram concursados. Fala-se em 250.

... do coronel

Tudo em cima do relatório do coronel Hélcio Medeiros Ribeiro, o chefe da Inteligência. Ele virou o terror da estatal. A empresa avisou, aliás, que não tem agentes da Abin em seus quadros.

Susto

Há algo sobre passagens aéreas assombrando o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), 1º secretário do Senado. Recebeu ligação da coluna, no sábado, e foi logo perguntando: "É sobre o Gabeira? É do Gabeira?".

Meirelles dos juros

O presidente do BC, Henrique Meirelles, pegou a mania de Lula de criticar a imprensa. Contou para empresários que, quando um ministro cobra a baixa da Selic, em tom de brincadeira, os jornais abrem manchete: "Cobrança forte de queda dos juros".

É a crise

A cúpula do Ministério da Fazenda tomou satisfações com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional sobre uma portaria que aliviou um caso de cobrança da siderúrgica CSN. Temem abrir precedentes em tempos de crise.

COISAS DA POLÍTICA

O imponderável ficou maior

Rodrigo de Almeida

JORNAL DO BRASIL - 27/04/09

Os prazos são razoáveis, a descoberta se deu no estágio mais inicial do linfoma, as chances de cura parecem grandes e a fortaleza com a qual habitualmente se cerca e se move dão à ministra Dilma Rousseff credenciais suficientes para se manter no jogo – como a forte chefe da Casa Civil, a líder do principal programa de desenvolvimento econômico do governo e candidata a candidata em 2010. Mesmo assim, está-se inegavelmente diante de uma bomba gigantesca. (Houve quem classificasse a notícia do sábado como um terremoto).

É delicado tratar de assuntos de saúde no mundo político, mas este caso se revela especial: Dilma é a principal ministra e a preferida do presidente Lula para disputar sua sucessão pelo PT. Sua saúde, portanto, entrará na equação política daqui para frente. Não seria diferente em qualquer país do mundo. Eis por que o tema foi tratado no sábado como assunto de Estado, com uma admissão serena e exemplar da doença e do tratamento, por Dilma, ao lado do ministro Franklin Martins (Comunicação Social).

Os males que temos, no corpo e na alma, têm de ser combatidos. Os tumores, lancetados. Os medos, vencidos. Merecem, pois, a solidariedade e a torcida da família, dos amigos, dos aliados mais próximos, dos adversários mais distantes e mesmo de quem, com alguma sensibilidade, não parece preocupado com os rumos do atual governo e da sucessão presidencial do ano que vem.

Este é um lado da moeda: a aposta individual de Dilma na cura do câncer que a abate. No outro lado, a aposta dupla, a conjugação de esforços – pessoais e partidários – tanto na tarefa da cura quanto na manutenção de sua condição de primeira-ministra-candidata. É aí onde doença, presente e futuro políticos vão misturar-se ainda mais. Nenhuma dúvida sobre qual lado ela escolheu.

Ouvindo no fim de semana intelectuais e parlamentares petistas, conclui-se que ambos, PT e governo, darão tempo ao tempo. Em público, há uma avaliação corrente de que, na prática, pouca coisa muda. Por ora. Apostam-se nas credenciais citadas na abertura da coluna. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, sublinhou que o nome de Dilma está consolidado em todas as correntes do petismo e que a revelação do câncer não muda essa consolidação. É uma conduta correta. Seria mesmo cedo qualquer desvio de rota no momento. Mais do que isso, seria inútil, descortês e desonesto agir diferente. Há alguns meses à frente para o quadro adquirir contornos mais nítidos.

É preciso reconhecer, porém, que, embora a sucessão esteja longe, uma eventual troca de candidato, se vier a ocorrer, deverá ser realizada até o início de 2010. Se muito. Neste campo, é possível enxergar alguns cenários no horizonte próximo. Um deles é mais otimista para Lula, Dilma e PT: o sentimento de solidariedade e simpatia, comuns nesses casos, pode ajudá-la. A ministra já enfrentou outros momentos complicados em sua vida. Vencendo mais esse drama, sai dele curada e, por que não, publicamente santificada – ainda que seja um ganho involuntário, sem qualquer semente publicitária que associe a vitória contra a doença à superação das adversidades políticas (até porque a conduta da ministra desabona qualquer possibilidade de exploração do caso).

Um outro cenário torna a coisa mais difícil. A saúde de um potencial presidente é assunto de interesse público, sobretudo porque o país já viveu o trauma de Tancredo Neves, há 24 anos. A notícia do fim de semana instaurou uma dose adicional de imponderabilidade à sucessão. Enquanto não houver a certeza da plena recuperação médica de Dilma, fica prejudicada não só a costura de apoios políticos e empresariais, fundamental na pré-campanha, quanto o próprio desempenho da ministra à frente do governo. Nenhum dos cenários é perfeito, e só o tempo imediato ajudará a abrir os possíveis caminhos – de Dilma, dos partidos e dos eleitores.

Mea-culpa

Jornalismo e política muitas vezes andam unidos pela mão da insensibilidade e da frieza. Ou outra definição não se pode dar às exigências do ofício – analisar os passos políticos demarcados por um drama pessoal. Com o pedido de perdão, vão aqui a expressão de desvelo e os votos de sucesso pleno à ministra nesta que provavelmente será a luta mais penosa e profunda de uma vida repleta de desafios pessoais e políticos.

MÓNICA BERGAMO

Caos


Folha de S. Paulo - 27/04/2009
 

O mutirão feito em Manaus pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para libertar presos que cumprem pena de forma irregular fez um diagnóstico dramático sobre a situação: de 35 processos analisados até o fim da semana passada, 25 tinham problemas -e os presos, que cumpriam penas, em sua maioria, por furtos simples, foram colocados em liberdade. O presídio Raimundo Vidal Pessoa, construído para abrigar 104 presos, tinha 750; os detentos se revezam para ir ao banheiro e até para dormir.

CAOS 2
E mais: na enfermaria, um preso paraplégico agoniza com escaras (crosta resultante da mortificação de tecido), já que mal consegue se movimentar. Os juízes que visitaram o presídio devem entregar um relatório a Gilmar Mendes, presidente do CNJ, afirmando que a situação é "caótica".

CAOS 3
O CNJ já fez mutirão em seis Estados. De 7.000 presos que tiveram seus processos examinados, 2.000 foram libertados porque já estavam encarcerados há mais tempo do que previam as penas a que foram condenados.

 

SHOW
O TSE deve julgar amanhã a representação contra o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, acusados por PSDB e DEM de fazerem propaganda eleitoral antecipada no encontro de prefeitos organizado pelo governo federal em fevereiro. Os ministros decidiram marcar a votação para a abertura, ou uma espécie de "horário nobre" da sessão.

 

EM BOA COMPANHIA
Em cerca de dez anos, oito dos dez ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) já vão ter se aposentado. Menos dois: Gilmar Mendes, 53, e Joaquim Barbosa, 54. Eles são os mais jovens da corte. "Os dois vão ter de se aturar por muitos anos ainda. Seria melhor se acertarem de uma vez", diz um dos magistrados. Serão longos 16 anos de convivência: a aposentadoria, no STF, é compulsória aos 70 anos.

CONFESSO QUE VIVI
A biografia de José Sarney, escrita pela jornalista Regina Echeverria, será publicada pelo grupo Leya.

RUY CASTRO

O país doente


Folha de S. Paulo - 27/04/2009
 

Na quinta-feira da outra semana, no Rio, um bebê de quatro meses foi levado pela mãe e pela tia a um hospital da zona oeste com sinais de brutalidade pelo corpo. Ao examiná-lo, os médicos encontraram fraturas antigas e recentes em seus braços, pernas e clavícula, além de hematomas por espancamento. A mãe acusou o marido; este a acusou de volta. Os vizinhos falaram das constantes brigas do casal e do choro da menina. Pai e mãe foram presos.
Também naquela quinta, em Goiânia (GO), outra menina, de nove meses, foi atacada a tesouradas pela mãe e sofreu várias perfurações antes de ser salva pelo pai, que arrombou a porta do banheiro onde a mulher se trancara com o bebê. A mãe disse ter recebido "ordem de Deus para sacrificar a criança". Horas depois, na mesma Goiânia, um PM reformado espancou a filha de um ano e um mês porque ela "se recusava a falar". A mãe do bebê tentou intervir e também foi agredida.
Dois dias depois, em Santana do Livramento (RS), uma mulher de 42 anos matou os dois filhos, de oito e seis anos, com tiros na cabeça, e se matou em seguida, do mesmo jeito. Amigos atribuem seu desespero ao fato de estar separada do marido, sem pensão, com dois filhos para criar e a mãe doente.
No mesmo dia, em Porto Ferreira (228 km de SP), outra mulher, 57, foi acusada de espancar seus netos, uma menina de quatro anos e um menino de dois, usando uma chave inglesa. As crianças sofreram graves ferimentos na cabeça e fraturas nas mãos. Ao ser neutralizada pelo marido, a mulher, que toma remédios "controlados", tentava se enforcar com uma meia de nylon.
Mais do que nunca no Brasil, a violência está também dentro de casa. Quando nem crianças e bebês sentem-se a salvo de seus pais, tios ou avós, é porque o país parece definitivamente doente.

ANCELMO GOIS

Aula curta
O Globo - 27/04/2009
 

Estudo do economista Marcelo Neri, da FGV, mostra que, na faixa de 7 a 14 anos, os alunos brasileiros ficam apenas 4,2 horas diárias na escola.

O maior período de permanência é em Brasília (4,7 horas).

Na África do Sul, os garotos ficam pelo menos seis horas por dia na aula.

Metas de Educação

Para Neri, é preciso ampliar este período. “O tempo na escola é das poucas variáveis na mão dos gestores públicos que aumenta comprovadamente o aprendizado”.

A pesquisa será lançada hoje no Seminário sobre Metas de Educação na FGV do Rio.

Alô, Juca Ferreira!

Longe das vistas dos governantes, e de boa parte do público, pois o acesso é somente por estrada de terra, cai aos pedaços em São Bartolomeu, distrito ermo de Ouro Preto. uma igreja do século XVIII que leva o nome do santo.

Você é Frei Betto?

 Frei Betto diz que, estes dias, tem recebido “com orgulho” cumprimentos por ter indicado Joaquim Barbosa para o STF.

Em seu livro “Calendário do Poder” (Rocco), o ex-assessor de Lula conta que o apoio a Joaquim decorreu de um acaso.

O trecho

“Pouco antes da virada do ano de 2002, fui à agência da Varig, em Brasília, tratar do meu retorno a São Paulo, após a posse presidencial.

Instalei-me no primeiro banco vazio, ao lado de um cidadão negro que nunca vira.

“— Você é o Frei Betto? – indagoume.

“Confirmei. Apresentou-se: Joaquim Barbosa... Trocamos ideias e, ao me despedir, levei dele o cartão e a boa impressão.”

Para concluir...

 “Em março, Márcio Thomaz Bastos indagou se eu conhecia um negro com perfil para ocupar vaga no STF. Lula pretendia nomear um para a suprema corte do país. Lembreime de Joaquim Barbosa.”

Devo, não nego...

 Eduardo Paes está no meio de uma negociação importante para aliviar as finanças do Rio.

Trata da dívida de R$ 8 bi com o governo federal. A renegociação inclui o Banco Mundial.

Menino do Rio

 Lula, que vem dia 30 vestir a camisa da campanha Rio 2016, volta dia 5 de maio.

Inaugura o Instituto Sarah, na Barra, e visita as obras do Into, no antigo prédio do “JB”, na Avenida Brasil.

BRASIL S.A

O Copom tem medo de quê?


Correio Braziliense - 27/04/2009
 


O momento é de levar a taxa Selic a 9,75% ao ano, um patamar histórico para um país que já esqueceu o que é ter juros de um dígito

De hoje até a quarta, não haverá assunto mais comentado na seara econômica do que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Apesar da certeza de que a taxa básica de juros (Selic) cairá, muitos analistas decidiram, nos últimos dias, reduzir o otimismo. Em vez de um corte de 1,5 ponto percentual, apostam, agora, em queda entre 0,75 e um ponto. 

O que mais intriga é que uma das justificativas para a postura mais conservadora do Copom seria a possível retomada da economia. Mas vejam só: o mesmo mercado que fala em “sinais de retomada” está, há três semanas consecutivas, elevando a estimativa de retração do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Como pode, então, alguém falar em riscos de uma atividade mais forte, que resultaria em inflação à frente, se o consenso é de que o PIB tomará um tombo significativo? Diante dessa contradição, não há motivo para o Copom se intimidar. O momento é de cortar, sim, a Selic em 1,5 ponto percentual e levar a taxa a 9,75% ao ano, um patamar histórico para um país que já esqueceu o que é ter juros de um dígito. Se há um risco neste momento, é de um Copom conservador demais detonar os frágeis sinais de que a economia está saindo do fundo do poço. 

O BC sabe que, por maior que tenha sido a reação da economia nos últimos dois meses, o Brasil ainda está longe de reunir condições para fechar o ano com PIB positivo. A previsão oficial do banco é de crescimento de 1,2% em 2009, mas até os contínuos da instituição sabem que tal número é pura ficção. Se o país conseguir cravar crescimento de 0,5% já se dará por satisfeito. 

Brincadeira 
Outro argumento usado para sancionar um corte menor é a disposição do governo em ampliar os gastos. Vamos ser realistas: esse aumento de despesas não vem de hoje. Dizer que o governo está fazendo política fiscal anticíclica é brincar com a nossa inteligência. A não ser em 2003, quando tomou posse e precisava dar um choque de credibilidade, Lula nunca segurou os cofres públicos. E, mesmo assim, a taxa Selic caiu, de 26% para os atuais 11,25%. 

A única política anticíclica de que o governo realmente dispõe para estimular a produção e o consumo é a monetária. E tudo está conspirando a favor para uma Selic de um dígito. A inflação está em queda. Todas as projeções apontam para índices de preços abaixo de 4,5%, o centro da meta perseguida pelo BC. Será, então, que há motivos para o Copom ter medo de ser mais agressivo neste momento? Não podemos esquecer que o corte de 1,5 ponto agora ainda terá impacto na economia no último trimestre. Além disso, a redução virá em um momento de retomada da confiança no futuro. E a confiança é vital para que a roda da economia volte a girar sem traumas. 

Hora da virada 
O presidente do BC, Henrique Meirelles, vem dizendo que o Brasil será um dos primeiros países a sair da crise. Sendo assim, ele deveria convencer seus pares de que a virada do Brasil, que está em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de PIB negativo), depende de uma Selic muito mais baixa do que a que está em vigência. Os integrantes mais conservadores do Comitê certamente vão alegar que é melhor ir devagar com o andor para que a taxa não tenha que subir novamente à frente, quando a economia estiver com o fôlego renovado. E qual o problema de a Selic voltar a subir com uma economia mais aquecida? É para isso que existe a política monetária, para manter o equilíbrio da economia. Foi por sempre estar atento aos desequilíbrios econômicos e agir técnica e prontamente, que o BC brasileiro conquistou credibilidade para que hoje o país possa vislumbrar a oportunidade de ter uma Selic abaixo de 10%. 

Unanimidade 
As apostas estão na mesa. Meirelles já andou conversando com todos os integrantes do Copom para a importância de a decisão sobre a Selic ser tomada de forma unânime. Um Copom unido será um contraponto importante às pressões que se seguirão nas próximas semanas, diante da enxurrada de indicadores ruins que vão aparecer. O pior deles será divulgado em 9 de junho, justamente o primeiro dia de reunião do Comitê: a queda do PIB no primeiro trimestre e a confirmação oficial de que a crise empurrou o Brasil para a recessão.

PAINEL

Efeito colateral

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 27/04/09

Por mais rápida e definitiva que venha a ser a recuperação de Dilma Rousseff, permitindo-lhe manter a condição de candidata de Lula à Presidência, a notícia de que a ministra extraiu um linfoma e terá de se submeter a quimioterapia introduziu um novo elemento na formação da chapa governista para 2010. 
Despencou a cotação de peemedebistas com biografia mais problemática que vinham sendo mencionados como possíveis vices de Dilma. Não significa que o PMDB tenha deixado de ser o parceiro preferencial -e necessário- do PT. Mas a lista de opções nessa seara se estreitou, e o nome escolhido terá de agregar à chapa mais do que densidade eleitoral.

Vai lá - Dilma não queria participar da entrevista coletiva dos médicos sobre seu estado de saúde. Foi convencida pelo colega Franklin Martins (Comunicação Social).

Água fria - Em privado, líderes do chamado ‘bloquinho’ avaliam que o mais recente destempero de Ciro Gomes (PSB), a propósito da farra das passagens aéreas na Câmara, comprometeu o esforço para reapresentar o deputado e ex-ministro como nome alternativo da base governista para a eleição presidencial.

A boa - Deputados tremem só de imaginar o momento em que vier à luz a lista de voos nacionais realizados com passagens da Câmara. Se com as viagens internacionais, menos numerosas, a coisa ficou feia, que dirá agora.

Plus - A cota de passagens não é o único meio de voar à disposição dos congressistas. Eles também podem usar a verba indenizatória para comprar os bilhetes.

Mea culpa - Do deputado Vic Pires (DEM-PA), sobre a farra aérea: ‘Erramos todos e estamos na UTI. Se não entendermos os recados da sociedade, em poucos dias estaremos sob sete palmos de terra. Aliás, de lama’.

Melô - A proposta na Câmara para driblar o ímpeto moralizador e manter a emissão de passagens para familiares dos deputados ganhou bordão inspirado em Zeca Pagodinho: ‘Deixa a cota me levar’.

Feirão - O Cruzeiro do Sul, que destinou recursos à empresa de uma ‘laranja’ do ex-diretor do Senado João Carlos Zoghbi, não é o único banco a operar crédito consignado na Casa. Contrariando as normas da polícia legislativa, é comum ver moças distribuindo panfletos de ofertas de empréstimos de instituições financeiras que firmaram convênios semelhantes.

Linha direta - A Contact, empresa em nome da babá de Zoghbi e que, segundo o ex-diretor, tem como ‘sócios ocultos’ seus filhos, dispõe do cadastro de servidores do Senado, com seus respectivos salários e telefones. A empresa fazia as ligações oferecendo empréstimos em ‘condições vantajosas’ em nome do banco Cruzeiro do Sul.

No pescoço - A Subsecretaria de Pessoal Inativo, vinculada à Secretaria de Recursos Humanos, tem sido procurada por aposentados e pensionistas que se endividaram muito além do limite de 30% dos vencimentos. Na semana passada, o Senado recebeu mandado de segurança de um funcionário pedindo que a Casa seja arrolada como devedora solidária de um empréstimo, por não ter imposto o limite de desconto em folha.

Caixa-preta - A única maneira de mensurar a situação do crédito consignado no Senado seria auditar a folha de pagamento, guardada a sete chaves. Ralph Campos Siqueira, indicado pelo PMDB para suceder Zoghbi, não permite o acesso de outras áreas, como o Controle Interno, ao sistema de informática que gerencia a folha. Contratada para propor a reestruturação administrativa, a FGV não conseguiu examinar os dados.

Tiroteio

Sou contra limitar a saída de juízes para dirigir pequenas associações de classe. A lei não prevê isso, e o Conselho Nacional de Justiça não legisla. 
De MARCELO SEMER, ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia, sobre a intenção do conselheiro João Oreste Dalazen de restringir o afastamento de magistrados.

Me dá um dinheiro aí

José Serra e o apresentador de televisão Otávio Mesquita se conheceram há alguns anos num voo para São Paulo. Depois de trocarem amabilidades a bordo, despediram-se no aeroporto. No ponto de táxi, porém, o tucano percebeu que não carregava nenhum centavo e, ao avistar na fila seu mais novo conhecido, foi direto ao ponto: 
-Otávio, me desculpe. Sei que nós acabamos de nos conhecer, mas será que você teria algum dinheiro para me emprestar? É para o táxi... 
O apresentador socorreu o hoje governador naquela hora difícil, desde então, tornaram-se de fato amigos.