quarta-feira, abril 22, 2009

FERNANDO RODRIGUES

A saída é mais transparência


Folha de S. Paulo - 22/04/2009
 

A fórmula para estancar a onda de desvios éticos no Congresso é dar transparência total a todos os gastos do Poder Legislativo. Imediatamente. Até porque vai demorar até novas regras entrarem em vigor, com o eventual fim das verbas indenizatórias.
Se um deputado souber que a passagem aérea para Miami de sua namorada estará visível na internet, certamente pensará duas vezes antes de espetar a conta no Congresso. Com tudo aberto, o senador habituado a fretar jatinhos também ficará constrangido ao mandar a nota fiscal para ser paga com dinheiro público. Empregadas domésticas recebendo pela Câmara passarão a ser mais raras.
Enfim, nessas horas, a luz do Sol é o melhor desinfetante -como sintetizou em 1913 Louis Brandeis (1856-1941), juiz da Suprema Corte dos EUA. Quando o problema é a transparência, a solução é haver ainda mais transparência.
É igualmente desejável haver regras mais rígidas. O uso de verbas no exercício do mandato deve ser mais controlado. Mas nenhuma proibição ou norma terá tanto efeito quanto deixar tudo aberto, diariamente, na internet.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), parece ter acordado para essa saída óbvia. Deu indicações de caminhar nessa direção ainda nesta semana. Do Senado não se ouve palavra, numa atitude típica de uma Casa legislativa arrogante, desconectada da vida real e rumo à insignificância.
Seria ingênuo vincular o anúncio de mais transparência a uma abertura total das contas. Com essa turma, é melhor esperar para ver -inclusive porque há a proposta disparatada de aumentar salários em troca da divulgação dos dados. Se, por um milagre, prevalecer o bom senso, e o fim da opacidade vier de graça para a sociedade, os deputados poderão talvez recuperar uma parte do prestígio perdido.

PARA...HIHIHI

TE CUIDA!

Já aconteceu de você, ao olhar pessoas da sua idade e pensar:
Não posso estar assim tão velho?!?!
Veja o que conta uma amiga:
- Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava dependurado na parede.
Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei de um moreno alto, que tinha esse mesmo nome. Era da minha classe do colegial, uns 30 anos atrás, e eu me perguntava:
- Poderia ser o mesmo rapaz por quem eu tinha me apaixonado à época?
Quando entrei na sala de atendimento imediatamente afastei esse pensamento do meu espírito. Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, profundamente enrugado, era demasiadamente velho
pra ter sido o meu amor secreto.
Depois que ele examinou o meu dente, perguntei-lhe se ele estudou no Colégio Sacré Coeur.
- Sim, respondeu-me.
- Quando se formou? perguntei.
- 1965 . Por que esta pergunta?
- É que.... bem... você era da minha classe, - eu exclamei.
E então, este velho horrível, careca, barrigudo, flácido, cretino, lazarento me perguntou:
A  sra. era professora de quê ?

PANORAMA POLÍTICO

Terra arrasada

Ilimar Franco
O Globo - 22/04/2009
 
Os adversários da legislação ambiental federal encontraram uma forma para tentar torná-la letra morta. A Confederação Nacional da Agricultura, defendendo a tese de que União e estados podem legislar de forma concorrente, está em campanha para que governos estaduais e Assembleias Legislativas adotem leis ambientais próprias, mais brandas e permissivas à atividade econômica.

O protótipo foi em Santa Catarina

 

Santa Catarina foi o primeiro estado a aprovar uma legislação ambiental que conflita com a federal. A lei catarinense tem regras mais flexíveis de proteção ao meio ambiente.

 

A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEMTO), considera que “muitas normas ambientais federais são excessivas, incoerentes, irreais, e apenas inviabilizam a agricultura, a pecuária e o agronegócio”. A CNA vai defender a posição de Santa Catarina quando o tema chegar ao STF. A senadora é do Democratas, que adotou como sua bandeira o meio ambiente.

 

Na página do partido na internet há um link, o Área Verde, que diz “Veja o que os Democratas já estão fazendo pelo meio ambiente”. Lá, não há uma linha sequer tratando da atuação da ruralista.

 

"Esta sensação de segurança é fundamental para espantar o alarmismo, mas sem otimismo irresponsável” — Jaques Wagner, governador da Bahia, sobre a redução do IPI e a ajuda para estados e municípios

 

PARENTES PERDEM O VOO. Depois de um dia inteiro de consultas, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), decidiu atender ao senso comum e vai proibir que as passagens aéreas sejam usadas pela mulher e por parentes dos deputados.

 

Elas serão de uso exclusivo dos parlamentares. “Não se tolera mais essa prática”, disse Temer, que agora está preocupado em garantir os votos para aprovar a decisão no plenário.

 

Ajustes de olho na opinião pública

 

Depois de muito ouvir, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), pode desistir de equiparar os salários dos deputados ao dos ministros do STF. Ocorre que, mesmo que ele acabe com a verba indenizatória e reduza os recursos à disposição dos deputados, as manchetes do dia seguinte serão a do aumento de salário dos deputados. Por isso, sua tendência ontem era a de reduzir a verba sem mexer no salário.

 

O Ministério Público na linha de tiro

 

Como sempre acontece nesses casos, há um mal-estar no Congresso com o Ministério Público. Alguns líderes querem que a Mesa da Câmara entre com uma queixa, alegando quebra de sigilo, contra quem investigou o uso das cotas de passagens aéreas. Os líderes acusam os procuradores de terem vazado os dados para a imprensa antes mesmo que chegasse à Câmara o relatório do inquérito enviado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

 

O site

 

O ex-governador Anthony Garotinho informa que recebeu notificação para que seja tirada do ar na internet a página “Volta Garotinho”, mas explicou: “Não tenho como tirar o site do ar, porque não tenho controle sobre o domínio”.

 

A explicação

 

A assessoria do TRE do Rio informa que não age de ofício, precisa ser provocada para tirar sites e blogs de política do ar. Quanto a sites de candidatos a presidente, informa que não pode fazer nada porque sua jurisdição é estadual.

 

REAÇÃO do deputado Geraldo Pudim (PMDB-RJ) à decisão do TRE de tirar do ar o site “Volta Garotinho”.

 

“Lamento a atitude do deputado Índio da Costa (autor do requerimento ao tribunal). Acho que ele deveria fazer o mesmo com seu chefe, o Cesar Maia”.

 

NO FÓRUM Empresarial de Comandatuba, Ivan Lins usou seu show para pedir apoio ao projeto, do deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), que desonera a produção de CDs e DVDs.

 

O PODER Executivo está nadando de braçada com a crise ética no Congresso, que abateu até a oposição.

MERVAL PEREIRA

Éticas em conflito


O Globo - 22/04/2009
 

O que mais impressiona nesta já longa e penosa discussão sobre os gastos do Congresso é ver que os senhores parlamentares só avançam em suas decisões sob pressão da opinião pública. Na semana passada, diante dos escândalos seguidamente denunciados, as Mesas da Câmara e do Senado se reuniram para definir regras da utilização das passagens, e fizeram apenas oficializar o que já era de uso corrente, como se dando transparência a critérios absurdos eles ganhassem um sentido aceitável pela sociedade.

 

A tentativa de conter o sangramento não deu certo, e dias depois foi preciso que se anunciassem novas medidas, que estão para sair. Fica a sensação de que os parlamentares vão testando a que ponto a opinião pública aceita que seus privilégios alcancem, tentando manter alguns deles a todo custo.

 

É o caso das passagens para terceiras pessoas que não sejam parentes. Um senador com quem conversei, e dos mais sérios, atribuía à “prerrogativa do mandato” o direito de oferecer uma passagem a uma pessoa para vir depor em uma CPI, ou participar de uma audiência pública no Congresso.

 

Ou mesmo mandar um assessor viajar para acompanhar de perto algum fato, ou para participar de uma atividade qualquer, um seminário, por exemplo.

 

Tendo a concordar, mas creio que seria mais correto que o deputado ou senador, em vez de ter uma cota pessoal para usar, fizesse uma requisição formal de passagem à direção da Câmara ou do Senado, justificando toda vez que precisasse de uma para seu trabalho parlamentar.

 

Uma questão central aqui é a tal “cota pessoal” de qualquer coisa, sejam passagens, selos ou telefone.

 

Ela se transformou em um complemento salarial, uma compensação pelo salário inadequado.

 

E as soluções mais criativas vão surgindo, como a tal verba indenizatória de R$ 15 mil que pode ser usada em determinadas circunstâncias sem pagamento de Imposto de Renda.

 

Claro que a utilização indiscriminada e atemporal dos créditos de passagens aéreas também foi uma maneira que algum burocrata imaginativo descobriu para agradar aos senhores parlamentares, e assim, o que seria um instrumento de trabalho passou a ser um privilégio que afasta o parlamentar de seu representado, em vez de aproximá-lo.

 

Deveria haver um teto para cada item desses, acima do qual o parlamentar teria que arcar com a despesa.

 

Mas a “cota pessoal” não deveria se acumular indefinidamente, com a possibilidade de o deputado ou senador convertê-la em dinheiro ou outras benfeitorias quando assim o desejasse.

 

Tenho a impressão de que a cota de cada um deveria se encerrar a cada mês, e o que não fosse usado voltaria para os cofres públicos.

 

Admito, porém, que pode ficar muito custoso fazer esse balanço mensal, e aceitaria que ele fosse feito de seis em seis meses, ou mesmo anualmente, no caso das passagens, mas não no caso do telefone.

 

Mas o espírito deveria ser um só: o uso a trabalho, nunca como um complemento salarial que dá ao parlamentar o direito de usá-lo como bem lhe convier.

 

Não é possível aceitar que o critério seja individual, pois existem deputados, como o ministro Geddel Vieira Lima, que acha que não dá para alguém definir o que é ético e o que não é ético.

 

É verdade que a ética da política se diferencia da ética na vida pessoal, como na famosa distinção de Max Weber, que chamou de “ética da convicção” a da vida pessoal, baseada nos princípios morais que prevalecem em determinado tempo em cada sociedade, e a “ética da responsabilidade”, que é a dos políticos, que teria um campo mais amplo e flexível de ação.

 

Seria essa “ética da responsabilidade” que permitiria, por exemplo, a um político assumir compromissos para conquistar a maioria parlamentar e poder, assim, atingir o “bem público”.

 

Essa ética particular, em muitas ocasiões, é usada como desculpa para transgressões, e há as em que o preço pago para atingir o “bem público” invalida os eventuais benefícios que poderiam ser alcançados.

 

Mas, quando se fala de dinheiro público com passagens ou telefone celular, não está em jogo a “ética da responsabilidade”, mas a ética do senso comum, a da vida pessoal de qualquer cidadão.

 

Não há como explicar viagens ao exterior, ou passagens dadas a amigos e parentes, dentro da atuação política normal.

 

O grave nessa história toda é que estamos sem Legislativo na prática, porque as duas Casas estão paralisadas desde a eleição das novas presidências, no começo do ano, por denúncias aos borbotões, e, em consequência, os políticos perderam totalmente a credibilidade diante da opinião pública.

 

Os poderes Executivo e Judiciário estão à frente dos acontecimentos políticos, ditando os rumos de acordo com suas agendas próprias, enquanto o Legislativo vai a reboque, incapacitado na sua ação.

 

Paradoxalmente, essa incapacitação surgiu no momento em que parecia que os políticos ganhavam relevância na disputa de poder, especialmente o PMDB que, dominante nas duas Casas, surgia como o grande polo de poder político.

 

Mesmo altamente popular, o presidente Lula parecia refém do PMDB, até que as disputas internas dentro do partido, e, sobretudo, a disputa entre PT e PMDB pela hegemonia na coalizão governista, colocou para a luz do dia todas as mazelas do Congresso.

 

Assim como, anteriormente, a disputa do PTB com o principal núcleo político do governo revelou ao país o mensalão. São consequências do uso desabusado de uma visão distorcida da “ética da responsabilidade”, em detrimento da “ética da convicção”.

GOSTOSA


LINDA
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ARI CUNHA

Amor pelo poder


Correio Braziliense - 22/04/2009
 

Causa medo o que está acontecendo no Maranhão. Um estado cassar o governador alegando corrupção. Logo onde. José Sarney veio da bossa-nova da UDN. Mantém no coração o ódio que aprendeu com Carlos Lacerda. E cresceu mais. Preso ao mando, não aceita sequer no outono da vida, abrandar os sentimentos. O furor do poder comanda as ações, apesar de ser um intelectual. É um marimbondo de fogo e não solta as rédeas do estado. Jackson Lago jogou a toalha. Assume o governo a senadora Roseana Sarney, para se licenciar por ordem médica. Vai fazer nova cirurgia. Há pessoas que nascem com amor no coração, sentimento humano e belo. Há os que nascem com amor ao poder. São como água e óleo. Não se misturam. O poder fascina. No Maranhão, sempre significou o “direito à vida”. Chegou-se a falar em criar um estado dentro do território e relegá-lo à oposição. Em sendo forte, havia o plano de dividir a terra. Se o povo tiver juízo, na próxima eleição pode haver a alforria de um eleitorado que traz amarrado na perna uma corrente com bola de ferro. Povo que fala a língua com pureza e sujeita o cangote a puxar carro de boi com submissão. Por muito menos, a França, que deu origem ao Maranhão, degolou até a rainha. Marselha é o grande exemplo.


A frase que foi pronunciada

“Não há dinheiro que recupere o tempo perdido. O mundo não deve nada. Existia antes dele.”
Pensamento de Mark Twain.


Preços 
O brasileiro ficou cabreiro com a baixa dos preços em muitos itens de necessidade. Precavido, tem passado os últimos dias pesquisando preços para ver onde comprar mais barato. A surpresa ficou por conta de um mais esperto. Encontrou lojas com o preço acima do atual, ainda com o IPI. 

Prejuízo 
UBS é o maior banco da Suíça. Anunciou prejuízo de US$ 1,755 bilhão no primeiro trimestre. Promove a demissão de 8,7 mil funcionários e pretende atingir um total de 67.500 até o ano 2010. Acontece que a dispensa leva de roldão funcionários de valor para a empresa. O mercado vai ficar repleto de gente competente sem ter quem lhe pague o mesmo salário. 

Mercado interno 
Mesmo com a crise econômica internacional, o mercado interno no Brasil continua forte. Há necessidade de se reduzirem os juros. Nesse caso, o capital vai sofrer. Acontece que a conta não deve ser paga pelo povo e o presidente Lula da Silva já tem pensamento formado sobre a defesa do povo. 

Lobby 
Kellogs, General Mills e Kraft Foods se uniram para fazer lobby no Senado americano e enfrentar o senador Tom Harkin, de Iowa. Ele prega a medicina preventiva e quer cortar do mercado tudo o que não tem valor nutricional para as crianças. No Brasil, a força de multinacionais chega devagar e aos poucos tira de circulação a multimistura que salvou milhares de crianças. 

Trem-bala 
Se existe alguma coisa que inveja os americanos é o sistema de trem da Europa. Obama apoia o trem-bala em todo o país, o que pode gerar novos empregos, reduzir a dependência do petróleo e limpar o ar. Quanto maior o número de linhas, mais barato fica o exercício da modernidade. 

Dinheiro público 
Agricultores brasileiros sempre recorrem ao governo e ao Legislativo pelo perdão de dívidas. Na Califórnia, o problema é maior. Falta água. A natureza não pode prover o gasto com tecnologia para arrancar água do deserto. A senadora Feinstein propôs um plano similar ao do desvio de água do São Francisco. Só que, uma vez começadas as obras, não há possibilidade de interrompê-las com “desculpe, foi um engano”.

História de Brasília

Muito boa e correta a atitude do sr. Adauto Cardoso, pedindo à Mesa para dar forma jurídica ao pedido. Espero poder acompanhar todas as sessões desse inquérito, para noticiar seu andamento.

BRASIL S.A

Que Opep o quê!


Correio Braziliense - 22/04/2009
 

Sem alarde, Petrobras cresce nos EUA, já é seu 8º maior fornecedor e toma mercado até da Opep


Sem alarde, a Petrobras está conquistando uma sólida e crescente participação entre os maiores fornecedores de petróleo cru e seus derivados nos EUA, num avanço que vem de longe, mas ganha força de 2003 para frente, no governo Lula, e chega a 2009, em plena crise, já deslocando até fornecedores tradicionais do cartel da Opep. 

No último relatório da Administração de Informação de Energia dos EUA, EIA em inglês, referente a abril, o Brasil aparece como o 8º maior exportador de petróleo, com a média de 382 mil barris/dia no primeiro bimestre, 126% acima do volume exportado em igual período do ano passado. Está acima de grandes exportadores, como Argélia e Rússia, e segue Canadá, México, Arábia Saudita, Venezuela, Angola, Iraque e Nigéria, pela ordem, no ranking da EIA. 

Incluindo derivados, a Rússia sobe para a 8ª posição e Brasil vem para a 9ª, mas os volumes exportados são mais impressionantes. Nos dois primeiros meses do ano, a Petrobras exportou para os EUA 417 mil barris/dia, mais que o dobro que em 2008. Em janeiro, a média diária foi ainda maior, 450 mil/dia, quase tanto quanto a Rússia — maior produtor mundial com 9,71 milhões de barris/dia, 1,64 milhão acima do segundo colocado, a Arábia Saudita. 

Tais números revelam uma tendência — função no Brasil do aumento gradativo da produção da Petrobras, que irá intensificar-se com o início da exploração de petróleo em alto mar no chamado pré-sal. E nos EUA, desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, da diversificação de fornecedores por razões de segurança. 

É a mesma motivação de outros dois grandes importadores, o bloco europeu e a China, que buscam fornecedores estáveis politicamente, não hostis – premissa tratada como geopolítica no caso dos EUA — e garantias contra um risco potencial: a redução das reservas ou por esgotamento, situação no Mar do Norte e no México, mas que também é ameaça na península arábica, segundo especialistas, ou por falta de investimentos, drama, sobretudo, da Venezuela e Nigéria. 

A Rússia cresce nesse vácuo, mas é vista com desconfiança. Várias vezes, sob o governo de Vladimir Putin, a Rússia se serviu do gás, de que é o maior fornecedor da Europa, como arma política contra suas ex-repúblicas da era soviética. Sem histórico de conflitos e relações adjetivadas, o Brasil começa a entrar neste mercado sutil e sibilino pela porta da frente dos fornecedores dos EUA. E logo mais da China, com quem a Petrobras negocia desde o ano passado um acordo de financiamento do pré-sal com pagamento em petróleo. 

Brasil incomoda 
Desde 2003, três exportadores de petróleo vêm ganhando espaço no mapa dos fornecedores dos EUA, ainda os maiores consumidores do mundo, apesar da crise: Angola, Rússia e Brasil. Angola é o 5º do ranking de fornecedores, e ampliou 63% seus embarques nos últimos cinco anos até fevereiro passado. No mesmo período, as entregas da Rússia cresceram 96%. O grande destaque foi Brasil, com aumento de 286%, um feito histórico. O petróleo, até os anos 80, sangrava as contas externas brasileiras. O país afundou nas décadas de 70 e 80 com o embargo de exportações e dois choques de preços promovidos pela Opep. Hoje, as exportações da Petrobras incomodam o cartel. 

Com a língua de fora 
O ministro do Petróleo da Argélia, Chakib Khelil, que presidiu a Opep em 2008, manifestou-se, em março, “desapontado” com a Rússia por não ter acompanhado o corte de produção feito para sustentar o preço, que caiu do recorde de US$ 147,27 em julho para a faixa de US$ 40. Os 11 membros da Opep fizeram três cortes, tirando 4,2 milhões de barris do mercado, 14% da oferta do cartel. O melhor que conseguiu foi um precário equilíbrio. Para o ministro saudita Ali Al-Naimi, ouvido pela Bloomberg, o preço precisa estar entre US$ 60 e US$ 70 para custear pesquisas. Na verdade, para impedir que os países produtores, como Venezuela, ponham a língua de fora. 

Ações de longo curso 
Com a recessão, EUA cortaram 818 mil barris importados da Opep e, ao mesmo tempo, dobraram as compras no Brasil, 29% de Angola e 18% da Rússia, tendência que continua. Segundo a Bloomberg, Brasil e Rússia faturaram US$ 23,2 milhões/dia com exportações aos EUA em janeiro. É um movimento geoestratégico de longo curso, que se soma às decisões do governo Obama de expandir a produção interna, a 3ª maior do mundo, que só caía desde 1998, e incentivar energias que substituam o petróleo. Questões para o Brasil refletir. 

Ruptura de paradigmas 
O que os EUA fizerem na área energética importa ao Brasil não só pelo aspecto comercial, mas como definição de padrões. O programa de resgate das montadoras GM, Chrysler e Ford, por exemplo, força-as a reinventar a produção de motores. Os híbridos elétricos têm a preferência, e já atraem Japão e China. Na área elétrica, os EUA assumiram a liderança da produção eólica e estudam trocar o carvão por energia nuclear e tecnologias de ruptura, como a fotossíntese sintética. A saída da crise financeira, na concepção do governo Obama, envolve o relançamento da indústria, capitaneada por novas energias. Num cenário assim, o pré-sal só pode ser acelerado.

NAS ENTRELINHAS

O inferno de Kátia no reino de Ana Júlia


Correio Braziliense - 22/04/2009
 

Como a esquerda vem transformando uma de suas maiores vitórias numa grande e retumbante derrota

 
 
 
É furiosa a carta pública assinada pela senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito da nova rodada de conflitos na região de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará. 

Como sabe todo brasileiro vivo ou morto, quando uma mulher irrompe no cenário com as narinas inflamadas de indignação, convém ouvi-la. Ainda que seja para discordar, convém ouvi-la. 

A epístola, de seis incisivos parágrafos, usa termos como “gravíssima situação”, “clima de terror”, “reiterada ação criminosa perpetrada por grupos armados”, “território sem lei”, “direitos fundamentais da pessoa humana ofendidos de forma recorrente”. Um inferno civilizatório descrito em linguagem de manifesto. 

E tudo por quê? Porque ativistas do movimento dos trabalhadores sem-terra invadiram, pilharam e depredaram a Fazenda Esperança. No rol de sócios da propriedade figura o banqueiro Daniel Dantas. Ele mesmo, o supervilão nacional, segundo propaganda repetida há muitos anos, sobretudo por setores do PT ligados a fundos de pensão de empresas estatais. 

Na última sexta-feira, houve um episódio de extrema gravidade na fazenda. Milícias sem-terra se armaram e marcharam cancela adentro, a destruir tudo o que lhe impedisse o avanço rumo à vila onde moram os funcionários do lugar. Há contradições sobre a motivação da ofensiva. 

Para enfrentá-la, os seguranças da fazenda abriram fogo. Os “militantes” responderam com mais fogo. Havia uma equipe da TV Liberal, repetidora da Globo no Pará, no meio das duas linhas de tiro. Imagens chocantes foram captadas. Homens empunhando armas e atirando uns nos outros. Alguns caindo alvejados. Não há margem para dúvidas. Ali há uma guerra. Civil, mas guerra. 

Vitória... 
A assim chamada esquerda brasileira desde o nascimento elegeu a reforma agrária como uma de suas bandeiras. Em certa época, fazia muito sentido. Níveis inaceitáveis de pobreza no campo eram com justiça creditados aos latifúndios que, embora férteis, nada produziam em favor da sociedade. 

Até mesmo a forte emigração da segunda metade do século 20 – criadora dos bolsões de miséria nos grandes centros urbanos brasileiros – pode ser logicamente relacionada à concentração ilegítima de terras nas mãos de coronéis e oligarcas de todos os tipos. 

A ação do Estado para corrigir tal desequilíbrio é recente, depois da redemocratização. Resume-se à compra das terras ociosas pelo governo e sua distribuição aos movimentos sociais, inclusive o dos trabalhadores rurais sem-terra. 

Do ponto de vista político há uma vitória retumbante da esquerda sobre o assunto. Todos os governos a partir de 1985 reconheceram a tese de que o direito de propriedade das chãs brasileiras se extingue na exata medida em que elas não são usadas. Tanto que o preço da desapropriação é inferior ao valor de mercado das terras tomadas para fins de reforma agrária. 

Embora a ideia central permaneça intacta como política de governo, a realidade a que ela se aplica mudou profundamente e há muito tempo. 

O Brasil tornou-se nos últimos anos uma potência agrícola. As fazendas por aqui têm produtividade muito acima das concorrentes da Europa ou dos Estados Unidos. A renda apropriada pelo país a partir do agronegócio é alta, muito alta. Compõe, na verdade, boa parte dos US$ 200 bilhões em reservas acumuladas nos últimos seis anos. Deixar lugar fértil improdutivo custa caro. Por isso mesmo, não costuma durar muito. 

E derrota... 
Os trabalhadores sem-terra, por seu lado, somente em alguns poucos e ralos casos lutam com justiça por um punhado de chão para plantar e para colher. Na esmagadora maioria das vezes, está metido em tramoias para, com suas ocupações, prejudicar politicamente desafetos seus ou de seus aliados. Ou mesmo para fins mais vis, tais como elevar ou reduzir o valor de mercado de propriedades ou mesmo incluí-las artificialmente no programa de reforma agrária. 

O estado do Pará, como se sabe, é governado pela petista Ana Júlia Carepa. Se bem me lembro, ela teve uma passagem medíocre pelo Senado. Gostava de fazer discursos sem pé nem cabeça sobre tramas financeiras de lavagem de dinheiro. Um de seus personagens favoritos era justamente Daniel Dantas. 

Seja o banqueiro ou não o bandido que dizem, é fato que a Fazenda Esperança exerce o potencial econômico que dela se espera. Tanto que a Justiça do Pará já determinou ao governo do estado que restabeleça a posse aos proprietários. Isto é, que retire de lá os invasores. 

A demora de Ana Júlia Carepa em cumprir a ordem judicial não só empobrece ainda mais a biografia da grande dama paraense. Faz o Brasil parecer um lugar menos civilizado do que realmente é.

INFORME JB

O time da praia bate um bolão

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 22/04/09

Os governadores que foram ao fórum empresarial de Comandatuba (BA), no fim de semana, e cujas capitais concorrem como sede para a Copa de 2014, aproveitaram a passagem do ministro do Esporte, Orlando Silva (foto), para cobrar maior participação do governo nos investimentos. O presidente Lula e o próprio ministro já disseram que a União não vai construir estádios – que devem ser dos orçamentos dos estados, via PPPs. Mas não basta, chora o time que se reuniu no hotel à beira da praia. Eduardo Braga (Amazonas) – confiante de que Manaus baterá Rio Branco e Belém – Eduardo Campos (Pernambuco) e Luiz Henrique (Santa Catarina) pressionaram. Campos fez até apelo social para o governo entrar com o PAC: "Temos um projeto de arena, que criará até um bairro novo nos arredores", disse à coluna.

Gol do Dudu Carioquinha

Das três capitais dos governadores supracitados, só Recife está praticamente certa da escolha da Fifa, mês que vem, para sede da Copa. Manaus e Florianópolis ainda têm fortes concorrentes.

Eduardo Braga é um gaiato. No almoço da ADVB, no Rio, mostrou uma carteirinha de estudante da cidade que ganhou depois de uma visita a uma escola estadual em Madureira. Disse que vai usá-la para meia entrada no cinema.

Porta aberta

Outra esperta é Roseana Sarney. Não bastava a aprovação do TSE. Só pisou no Maranhão para tomar posse como governadora depois de encomendar pesquisa. Descobriu que mais de 60% do povo aprovavam sua volta.

Mar...

O ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, não vai entregar no 1º de maio, como queria, o novo marco regulatório do petróleo. Será até o fim do ano, porque a equipe interministerial que cuida do tema quer caprichar mais.

... e subsolo

Lobão também vai entregar, no pacote, a revisão do código mineral. Quer regras mais claras para a exploração do subsolo nacional. E na esteira dos pelots, claro, vem a polêmica dos royalties para municípios.

Recado

Ainda sobre Lobão. No fórum de Comandatuba, ele mandou recado para o colega Carlos Minc (Meio Ambiente), com quem se dá bem. "É mais fácil subir num pau de arara do que obter licença para construção de hidrelétricas".

Morde...

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), comemorou como um gol ao saber pela coluna que o presidente Lula havia liberado dinheiro para compensar o FPE. Diz que vai pedir R$ 250 milhões. "É a perda estimada para o ano" com a queda da arrecadação de impostos, explicou.

... e assopra

Mas Dias, cauteloso e aliado do Planalto, vai devagar, ciente de que a Viúva também vive no aperto. "Não podemos matar a galinha dos ovos de ouro, né?", sorriu.

Teto solar

Autor da ideia adotada pelo governo para gerar energia solar nas casas populares do novo pacote habitacional, o senador Renato Casagrande (PSB-ES) vai ao ministro Carlos Minc para buscar uma solução para os custos.

Homens ao mar

Marinheiros dos Estados Unidos, do Brasil e de outras nações parceiras das Américas e da Europa estão prontos para dar o pontapé inicial no 50º Exercício Naval Unitas, o exercício naval multinacional de maior duração do mundo. A interação deste ano será realizada de 30 de abril a 5 de junho na costa de Jacksonville, Flórida.

PAINEL

“A Casa toda fez"

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/04/09

Questionado sobre a informação de que teria usado passagens da Câmara para viajar com a mulher a Paris, o corregedor da Casa, ACM Neto (DEM-BA), diz que ‘isso pode ter acontecido’. ‘Mandei fazer um levantamento, pode ter sido um reembolso da Varig’, afirma o deputado, a quem caberá examinar o uso de bilhetes por seus pares. Sobre seu próprio caso, sentencia: ‘Não há ilícito. A passagem era vista como uma vantagem do parlamentar, que economiza. Não tem que devolver porque não houve erro. A Casa toda fez’. E não está na hora de moralizar? ‘Acho que está na hora de a Casa ter coragem de se defender. Estão colocando nomes de pessoas sérias como se fossem bandidos! Acho que a imprensa quer fechar o Congresso.’

Vale-Câmara -  Arquivos das notas fiscais antigas de verba indenizatória contêm vários recibos de gastos no exterior. Há indícios de que, além de emitir as passagens para viagens particulares, deputados também pediam reembolso de gastos sob a rubrica ‘Locomoção, hospedagem e alimentação’.

Lembra? - Um dos remédios a ser apresentado pelos líderes será o estudo da FGV elaborado para cortar até R$ 57,7 milhões dos gastos da Câmara, que sugere a fusão das cotas: verba indenizatória, passagens e telefone/correio. Custou R$ 140 mil e segue na gaveta há dois anos.

Em família - O caso do casal Camata, o senador Gerson e a deputada Rita, ambos do PMDB do Espírito Santo, que recebem auxílio-moradia ‘dobrado’ para morar no mesmo imóvel em Brasília, está longe de ser o único: há uma lista de parlamentares que ganham o benefício e dividem o mesmo teto.

Casa & cia - Além disso, diversos congressistas, especialmente no Senado, declararam à Justiça Eleitoral ter imóvel em Brasília. No entanto, eles usam o auxílio de R$ 3.300 para pagar contas de luz, água e empregados.

Bancada da bola -  Os ex-jogadores Müller e Marcelinho Carioca serão candidatos a deputado federal por São Paulo em 2010. Vampeta também tentará vaga na Câmara, pela Bahia. Todos no PTB.

Aceleração - O novo site do governo do Maranhão ainda está em ‘desenvolvimento’, mas, ao lado da foto de Roseana Sarney (PMDB), já aparece um logotipo. Do PAC.

Via rápida - Um dos motivos que indispuseram o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) com Alexandre Gazineo foi o acúmulo de contratos com vencimento até julho que o novo diretor-geral da Casa começou a mandar ao primeiro-secretário, para que fossem aditados sem licitação.

Caça-fantasmas - Em ofício, o diretor de Controle Interno do Senado, Shalom Granado, pediu ao de Recursos Humanos, Ralph Siqueira, a lista de todos os servidores autorizados a trabalhar fora da Casa, com justificativa para as respectivas permissões. Pergunta também de que forma é feito o registro de ponto desses assessores.

Não pode - Em guerra interna na Casa, os advogados do Senado sustentam que o atual advogado-geral, Luiz Fernando Bandeira de Mello, ocupa o cargo ilegalmente. Baseiam-se na resolução 73, de 1994, segundo a qual apenas quem é oriundo da carreira pode ocupar o posto.

Outro lado - Bandeira de Mello avalia que a interpretação é equivocada. Diz que, por ser um cargo de confiança, a Advocacia Geral pode ser ocupada por qualquer servidor. Bastaria pertencer à Casa.

Dia do caçador - Ladrões entraram anteontem no plenário da Câmara Municipal de Itaitinga (CE) e assaltaram os vereadores. Levaram celulares e dinheiro. O bando buscava a verba da folha de pagamento dos servidores.

Tiroteio

Passagens só de ida: parece ser essa a saída para este Congresso que não legisla, não fiscaliza o Executivo e vive de negociatas por cargos. 
De CLAUDIO WEBER ABRAMO , diretor-executivo da Transparência Brasil, sobre o uso indiscriminado das passagens aéreas na Câmara.

Contraponto

Boa noite e boa sorte

Anos atrás, o pernambucano José Jorge, ex-senador e hoje ministro do TCU, disputava vaga na Câmara e, ao mesmo tempo, tinha de montar a chapa de candidatos a deputado estadual do então PFL. A lista de postulantes em muito superava o número de vagas. Um dos mais insistentes era um cabo eleitoral conhecido como Neguinho. Sem ter como encaixá-lo, José Jorge avisou: 
- Neguinho, tenho duas notícias para você. Vou dar logo a ruim: não tem vaga para ser candidato a estadual. 
- Mas o senhor prometeu... 
- A boa é que você será candidato a federal. 
Animado, Neguinho já ia pedindo ajuda financeira para a campanha, mas o dirigente cortou o papo: 
- Sinto, mas agora somos concorrentes. Cada um por si!