sábado, abril 18, 2009

AGORA VAI

Exército israelense prepara ataque ao Irã


colaboração para a Folha Online

O Exército de Israel prepara um ataque militar contra as instalações nucleares iranianas, no caso de uma determinação do governo liderado pelo novo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu. A informação foi divulgada neste sábado pelo jornal britânico "The Times".

"Israel quer ter a segurança de que se o seu Exército receber autorização, pode atacar o Irã em poucos dias, inclusive horas. Se prepara a todos os níveis para esta eventualidade. A mensagem ao Irã é que a ameaça não é apenas verbal", informou uma fonte do ministério da Defesa israelense ao "Times".

A informação divulgada neste sábado vai contra as declarações do presidente de Israel, Shimon Peres, que nesta quinta-feira (16) disse que uma intervenção militar israelense no país estaria descartada.

Entre as medidas planejadas, está a compra de três aviões radares Awacs e exercícios em escala nacional para preparar a população para possíveis represálias. Nos últimos anos, os dirigentes israelenses afirmaram em várias oportunidades que se reservavam todas as possibilidades, incluindo a força, para impedir que o Irã obtivesse armamento nuclear.




Amir Cohen/Reuters
Israel estuda a possibilidade de atacar o Irã com tropas militares e aéreas, segundo jornal britânico "Times"
Israel estuda a possibilidade de atacar o Irã com tropas militares e aéreas, segundo jornal britânico "Times"

GOSTOSA


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VERDADE??????

FALANDO SÉRIO

Gente, fico chateado quando usam a Internet para espalhar informações que não procedem!

Me enviaram hoje um e-mail dizendo que o sangue do nosso presidente é do tipo A-peritivo, e o dos eleitores dele é do tipo O-tário.

É muita sacanagem e falta de ética, usar a Internet para passar esse tipo de coisa. Temos que divulgar informações corretas!

O sangue do presidente é do tipo B-bum e o dos eleitores Ab-estalhados.

DORA KRAMER

Sagrada "famiglia"

O ESTADO DE S. PAULO - 18/04/09

As novas regras para o uso de passagens aéreas no Congresso dão uma ideia um pouco mais precisa sobre o que quis dizer o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes, na quarta-feira ao explicar que as medidas de correção demoravam, mas seriam tomadas de "maneira segura".

Desde anteontem deputados e senadores que financiaram viagens de parentes, amigos, correligionários, funcionários e agregados podem estar seguros e dormir o sono dos justos porque não devem satisfação alguma sobre os gastos de um passado enterrado por decreto do Legislativo.

É a aplicação da mesma lógica adotada na decisão de divulgar as notas fiscais das despesas com a chamada verba indenizatória a partir de abril, deixando o passivo acumulado nos oito anos de existência da verba sob a anistia do sigilo.

De oficialização em oficialização das transgressões, o Parlamento vai firmando consigo uma espécie de pacto antirrepublicano pelo qual o vale-tudo passa a ter validade legal.

Quem farreou "para trás" farreou. Quem não farreou que farreasse porque o dano de imagem será igual para todos. O surpreendente é que os corretos não se insurjam. A menos que já não exista quem possa atirar um pedregulho.

Em relação às passagens, a segurança a que aludia o primeiro-secretário do Senado é mais ampla, pois regulariza a irregularidade para o futuro.

Agora é norma: mulher, marido, filhos, dependentes e funcionários podem com toda a segurança legal (não moral) viajar para qualquer lugar do Brasil ou do mundo à custa do contribuinte. Como se delegação tivessem recebido nas urnas para exercer os mandatos.

O que era para ser uma forma de o parlamentar se deslocar entre seu Estado de origem e a capital do País transformou-se em complementação salarial.

Se o congressista recebe a cota e a utiliza como quer, podendo inclusive transformar cinco passagens de tarifa "cheia" em mais de 20 bilhetes promocionais, isso significa ganho. De dinheiro, por mês, todo mês religiosamente, salário, portanto.

Sem desconto de imposto, tal e qual a verba extra.

A questão de fundo que o Congresso insiste em ignorar é o descontrole, ou melhor, a ojeriza a qualquer tipo de controle.

A evidência disso está na suspeita, ora sob investigação do Ministério Público, de que há um esquema de contrabando dessas passagens, vendidas no mercado paralelo com deságio.

Esse tipo de degenerescência, perfeitamente verossímil, é quase uma obviedade num ambiente onde os responsáveis pelo zelo daquilo que recebem nas urnas se revoltam quando chamados aos costumes, pois se consideram seres merecedores de reverências. São, na ótica interna, "nobres", levam a sério o tratamento de "excelência", não percebem a ironia contida nesse anacronismo de província.

Os atuais presidentes das duas Casas se fazem de desentendidos. O senador José Sarney escreve artigos inteiros sem tocar nem de leve no assunto que lhe concerne e, quando o faz, como na edição de ontem da Folha de S. Paulo, tergiversa. Tenta brincar de artista das entrelinhas, misturando Afeganistão com Lei de Gérson, Stanislaw Ponte Preta com Tribunal de Contas, muriçocas com Cleópatra, para concluir: "E o que tem isso a ver com corrupção? Absolutamente nada."

Se a ideia era desmoralizar cobranças, usar da escrita para fazer rir e ainda levar os mais desavisados a concluir que nada guarda relação com coisa alguma - inclusive sua condição de presidente com a esbórnia reinante no Senado -, só conseguiu confirmar que foge do assunto à espera do fim do vendaval.

O presidente da Câmara, Michel Temer, justifica-se alegando que não pode resolver os problemas da Casa com "um soco na mesa".

Não. Mas pode começar a enfrentá-los deixando de lado a concepção - exposta já na primeira entrevista depois de eleito, em fevereiro - de que os desvios de procedimentos são questões "menores". Pode também olhar as coisas como elas são no lugar de se associar à teoria da conspiração contra um dos pilares da democracia.

Pode usar seu poder para ordenar os procedimentos internos de forma a evitar que uma decisão tomada num dia seja refeita no outro, que uma mesma medida seja interpretada de maneiras diferentes por integrantes da Mesa.

Não só pode como deveria se render à evidência de que a hora não é mais de maquiar, é preciso resolver as coisas da forma como precisam ser resolvidas, sem embromação nem tentativas de compor a necessidade de dar alguma satisfação ao público de fora com o atendimento dos interesses internos.

Os de fora pedem ao Congresso respeito pelo voto obrigatório e que retribua com o cumprimento estrito de suas obrigações, entre as quais a preservação do decoro.

Os de dentro querem tempo, convictos de que dá para esticar a corda, esperar a poeira baixar e deixar tudo como está.

A solução para o dilema é inescapável. Se não vier agora, terá de vir mais tarde, pois a sinuca apresentar-se-á a qualquer um que se disponha a comandar o Poder Legislativo.

MERVAL PEREIRA

O perigo da gastança

O GLOBO - 18/04/09


O melhor exemplo do momento atual, em que o gasto público parece ter ficado totalmente fora do controle, é um projeto de lei baseado na medida provisória que já está sendo conhecida como a "MP do Bem-Bom". Ela mostra que a gastança está solta. O que era um projeto de lei para favorecer o parcelamento de pequenas dívidas, até R$10 mil, de microempresários, transformou-se em 70 artigos com benesses a todo tipo de contribuinte, em muitos casos sem limites da dívida. A coisa saiu do controle graças ao deputado da base governista Tadeu Felipelli, do PMDB do Distrito Federal, que foi adicionando ao projeto original benefícios para os mais diversos setores, e agora o governo tenta que a oposição barre no Senado o que sua base já aprovou na Câmara.

A secretária da Receita, Lina Maria Vieira, perambula pelos gabinetes da oposição pedindo pelo amor de Deus que não deixem votar o projeto enquanto o líder do governo negocia a ampliação dos benefícios. Varejo puro, a medida provisória agora trata de vários setores da economia, ao sabor dos lobbies, desde o açúcar do Norte Fluminense até a criação de camarões.

Esse ambiente político se dissemina enquanto o governo vai ampliando as concessões a diversos setores da economia, o que para alguns é um jogo de altíssimo risco, e para Lula, um "jogo de audácia".

O que o governo chama de política anticíclica a oposição diz que é gasto sem estratégia, com o simples objetivo de tentar fazer a economia não entrar em recessão a curto prazo, esquecendo-se dos fundamentos permanentes do equilíbrio fiscal de longo prazo.

Por ter aumentado seu gasto corrente acima do crescimento do PIB, o governo teve que reduzir o superávit primário. Contou, para isso, com o espaço fiscal que ficou aberto com a redução dos juros, mas, ao contrário do que fazem os governos dos Estados Unidos e de outros países, está gastando mais em custeio da máquina pública do que em investimentos.

E fazendo caridade com o chapéu alheio, como afirmam prefeitos e governadores de todos os matizes políticos, pois a redução de IPI para automóveis e agora para a chamada linha branca retira de estados e municípios parte da arrecadação desses impostos, que já está reduzida devido à própria crise econômica. E com isso provoca pressões políticas para mais compensações financeiras.

Um exemplo de como quando o governo parte e reparte fica com a melhor parte é a sistemática da redução do superávit primário.

A meta da União caiu de 2,15% para 1,40% do PIB. A das estatais, sem a Petrobras, passa de 0,70% para 0,20%. Para estados e municípios, cai de 0,95% para 0,90%.

Quem sabe fazer contas diz que isso significa que a meta do governo federal diminuirá em 0,75 ponto do PIB, uma redução de 35%, enquanto a meta das estatais (a maioria federais, mesmo excluída a Petrobras) cairá em 0,5 ponto do PIB, ou corte relativo de 71%.

Enquanto isso, a meta dos governos estaduais e municipais será reduzida em 0,05 ponto do PIB, um recuo de apenas 5%. Mesmo assim, essa meta de superávit, mesmo reduzida, será de difícil execução, a menos que a economia melhore muito.

O início do ano sempre foi historicamente o melhor período, mas até o momento a meta não foi atingida.

Com o novo aumento real do salário mínimo de 6% e os reajustes de funcionalismo público já contratados, há quem ache que o único jeito de a situação fiscal não estourar seria o país crescer muito, o que é improvável que aconteça nos próximos anos.

Essa postura do governo federal também provoca uma ação na mesma direção de estados e municípios, que também aumentaram seus gastos com pessoal.

O governo está apostando que, quando passar a crise, o investimento externo vai voltar, e o país atrairá novamente o capital produtivo. Mas o mais provável é que o arranjo financeiro mundial mude, não vai haver dinheiro para emergentes, a era de dinheiro abundante, farto, sem maiores preocupações não vai se repetir tão cedo.

Pelo contrário, o mundo rico vai "chupar" o dinheiro do mundo. Neste momento, o país está remetendo dinheiro para os Estados Unidos como nunca, o Imposto de Renda na fonte, no setor remessa para o exterior, explodiu, com um aumento de 60%.

Países que, como os da Europa Ocidental e os Estados Unidos, hoje estão fazendo déficits fiscais imensos, de um lado vão ter que subir os juros em algum momento, para atrair investimentos para cobrir seus rombos; e, de outro, terão que combater a inflação que virá em consequência.

Nós teremos então o dilema de disputar os investimentos internacionais pelo aumento dos juros, ou pela atratividade de nossa economia. Mas, se estivermos às voltas com uma crise fiscal, as condições para investimento estarão prejudicadas.

Há uma contradição entre esperar que o dinheiro volte e fortalecer o mercado interno, que está sendo tratado à base de isenções de impostos e não com soluções estruturais, permanentes.

Tudo indica que o governo não vai reverter o superávit fiscal e vai apostar fundo nas obras de infraestrutura. Deveria fazer isso, mas reduzir o custeio.

O problema é que estamos agindo sem uma estratégia de Estado, mas sim de preservação do poder do governo, e quando comparam nossa política anticíclica com a de Obama nos Estados Unidos, esquecem-se de que ele, além do fato de que emite dólares, por enquanto uma moeda desejada no mercado internacional, faz aumento do gasto público com mudanças estruturais.

Reformando a saúde, na indústria automobilística exigindo reestruturações, compromissos com menos emissão de carbono, novas tecnologias ambientais, dinheiro para estimular pesquisas, banda larga nos prédios públicos, construção de prédios inteligentes.

DIOGO MAINARDI

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Diogo Mainardi
Obama e o cachorro português

"Quantos cachorros portugueses são necessários
para trocar uma lâmpada? Quantos são necessários
para bombardear as usinas nucleares da Coreia do 
Norte e do Irã?"

Barack Obama ganhou um cachorro português. É o cachorro da anedota: tenta se acasalar com a perna da empregada ou com a almofada, e passa o dia inteiro correndo atrás do próprio rabo. Quantos cachorros portugueses são necessários para trocar uma lâmpada?

Manoel? Joaquim? Nada disso: o cachorro português de Barack Obama se chama Bo. De acordo com o Washington Post, em homenagem a Bo Diddley, o guitarrista de blues. Um bocado de gente notou que Bo pode ser interpretado também como B.O. – as iniciais de seu dono, Barack Obama. Nesse caso, Barack Obama é igual a Quincas Borba, que tinha um cachorro chamado Quincas Borba.

Depois de passar dois parágrafos correndo atrás de meu próprio rabo, rosnando e latindo, cheguei ao ponto a que queria chegar. Barack Obama, dono do cachorro Barack Obama, certamente ignora as ideias de Quincas Borba, dono do cachorro Quincas Borba, porém elas poderiam ser-lhe de grande utilidade no relacionamento com a Coreia do Norte, ou com os aiatolás iranianos, ou com os terroristas em Tora Bora. Quincas Borba é tratado como um demente por seu autor, Machado de Assis. Mas o Humanitismo, a filosofia criada por ele, que atesta o "caráter benéfico da guerra", parece condensar e caricaturar as ideias do próprio Machado de Assis, com aquele seu realismo reacionário, com aquela sua crueza fatalista, com aquele seu conformismo desiludido, com aquele seu azedume zombeteiro.

Cito Quincas Borba:

"Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas... Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".

A implacabilidade do pensamento de Machado de Assis está claramente refletida na trama do romance Quincas Borba, em que os bandoleiros conseguem pilhar todas as batatas e os tontos morrem na miséria. Barack Obama, dono do cachorro Barack Obama, pode dispensar os conselhos humanitistas de Quincas Borba, dono do cachorro Quincas Borba. Mas a pergunta que ele talvez tenha de fazer um dia é a seguinte: quantos cachorros portugueses são necessários para bombardear as usinas nucleares da Coreia do Norte e do Irã?

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

Maílson da Nóbrega
É hora de privatizar 
o Banco do Brasil ?

"Já não existe falha de mercado que exija um BB 
estatal. A ingerência do governo indicou que é preciso
protegê-lo definitivamente. A saída mais óbvia é a privatização"

A recente ingerência no Banco do Brasil frustrou quem achava que ele estava protegido contra o populismo inconsequente. Ao emitir a ordem para baixar os juros e expandir o crédito, o governo agiu como se fosse dono do banco e não o seu acionista controlador, condição que não inclui o poder de ditar políticas prejudiciais à instituição e aos acionistas minoritários.

Bancos estatais se justificam se o mercado não é capaz de prover o crédito e o sistema de pagamentos. A Inglaterra e os Estados Unidos, onde não havia essa falha de mercado, enriqueceram sem dispor de bancos públicos. Países europeus criaram bancos comerciais estatais para se industrializar, mas praticamente todos já foram privatizados.

Nas suas três encarnações, o BB supriu falhas de mercado. Na primeira (1808), ofertava moeda divisionária para atender às necessidades do comércio do Rio de Janeiro, que se expandia com a chegada da família real. Na segunda (1851) – quando foi fundado pelo barão de Mauá e depois estatizado –, concedia crédito, modestamente (no fim do século XIX, possuía cinquenta funcionários).

Foi na terceira fase (1905) que o BB começou a funcionar como poderoso instrumento do governo. A criação da Carteira de Redescontos em sua estrutura (1921) lhe deu funções de banco central, que manteria até 1986. Era o começo de uma sucessão de arranjos institucionais que lhe garantiriam fartos recursos oficiais para cumprir sua missão. A arrancada para o longo período de glórias ocorreu na era Vargas.

Nessa terceira encarnação, o BB se tornou o maior banco do país e o principal supridor de crédito para a agricultura, a indústria e o comércio. Com o advento do Banco Central, em 1965, um defeito de interpretação da respectiva lei permitiu que passasse a receber recursos ilimitados, a custo zero, por uma "conta de movimento" do BC. Adquiriu, assim, a capacidade de conceder subsídios creditícios em larga escala.

Durante três décadas, o crédito do BB se expandiu sem parar. Seus lucros cresceram. Tornou-se um dos oito maiores bancos do mundo. Tudo isso cobrando juros muito abaixo dos de mercado e com uma onerosa estrutura para atender à orientação do governo. A situação, pouco lógica e muito custosa para os brasileiros, era disfarçada pelos ganhos do BB com a "conta de movimento" e a inflação.

A "conta" ficou insustentável e, em 1986, foi extinta. Por isso, o BB foi autorizado a operar e buscar receitas em todas as áreas do sistema financeiro. Era preciso tempo, mas em meio à transição, em 1994, veio o Plano Real, eliminando as rendas inflacionárias. O BB quebrou na prática, mas foi salvo da falência com bilhões dos contribuintes.

Sem suas duas grandes fontes de lucros, mas capitalizado pelo Tesouro, o BB deparou com o desafio de se viabilizar. Enxugou seus quadros, modernizou a gestão, diversificou-se e investiu fortemente em tecnologia. Foi a grande revolução de sua história. O BB perdeu as vantagens do suprimento de recursos do governo, mas continuou com os ônus de organização estatal: sede em Brasília, indicações políticas para o seu conselho diretor, fiscalização do Tribunal de Contas, submissão às regras de concorrência pública e mudança frequente de administração.

Era impossível livrar-se desses custos, mas cumpria blindar-se contra a ingerência política nas operações. Criou-se um departamento de análise de risco de crédito. O crédito foi segregado da área comercial. Aperfeiçoou-se a área de finanças para reforçar o caráter técnico de suas recomendações. As decisões se tornaram colegiadas em todos os níveis. O Tesouro assumiu os custos de subsídios creditícios.

Viu-se agora que essas barreiras eram frágeis. Seu desmonte para atender a "obsessões" do governo (ou objetivos eleitorais?) conta com um forte incentivo: uma nova ruína do banco somente aconteceria em próximas administrações.

Já não existe falha de mercado que exija um BB estatal. A ingerência do governo indicou que é preciso protegê-lo definitivamente. A saída mais óbvia é a privatização, embora a sociedade ainda não a perceba. A mudança mental requer tempo, talvez mais de uma geração, mas parece ter chegado a hora de começar a discutir a ideia.

APERTAR OS CINTOS, SIM


EDITORIAL

O ESTADO DE S. PAULO - 18/4/2009

Elogiado nesta página na semana passada por ter dito a governadores e prefeitos reunidos em Montes Claros (MG) que, por causa da queda da arrecadação em todos os níveis de governo, é hora de "apertar os cintos", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ter-se arrependido do que disse. Na última terça-feira, durante visita à indústria de papel e celulose Klabin em Telêmaco Borba (PR), afirmou que "não há nenhuma razão para os prefeitos apertarem o cinto".

Agora, para Lula, a quebra da arrecadação tributária não exige mais o controle estrito das despesas, sobretudo os gastos de custeio e pessoal, de modo a preservar a capacidade de investimento do setor público, para melhorar e ampliar os serviços prestados à população. Os prefeitos podem continuar gastando como já faziam.

Afinal, é isso mesmo que o governo do PT faz, pois a falta de realismo é a marca de sua política fiscal. Apesar da crise, gasta-se cada vez mais no sustento da máquina e com o funcionalismo federal. Quando se examinam os números da execução orçamentária da União no primeiro trimestre tem-se a nítida impressão de que a economia brasileira nunca esteve tão bem como agora. Em plena crise, que desde novembro faz cair de maneira ininterrupta, em valores reais, a arrecadação federal, as despesas correntes da União - isto é, os gastos com o custeio da máquina e com o funcionalismo - crescem a um ritmo impressionante.

Nos três primeiros meses do ano, as despesas correntes aumentaram 23,4% em relação a igual período do ano passado, de acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) publicados na quarta-feira pelo jornal O Globo. As despesas com pessoal foram as que mais cresceram (27%), por causa dos reajustes e benefícios concedidos generosamente pelo governo para diferentes carreiras do funcionalismo. Novos benefícios estão previstos para os próximos anos, ou seja, os gastos com pessoal continuarão a subir e a roubar espaço dos investimentos no Orçamento da União.

Nos três primeiros meses de 2009, os investimentos foram 11,7% maiores do que no período janeiro-março de 2008, mas, se a queda da arrecadação federal se mantiver por um período mais longo, o governo terá de cortá-los, pois não tem como reduzir gastos com pessoal ou com itens obrigatórios, como as aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e as transferências compulsórias para Estados e municípios.

Apesar da quebra da arrecadação - no primeiro trimestre, ela foi 0,6% menor em valores correntes e 6,02% menor em termos reais do que em igual período de 2008 -, o que limita sua capacidade de gastar, e por isso lhe exige mais austeridade na administração financeira, o governo Lula decidiu conceder R$ 1 bilhão aos municípios, a título de compensação pela redução das transferências através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Com essa ajuda federal, os municípios poderão continuar gastando como se não houvesse crise - aliás, ao dizer que não precisam "apertar os cintos", o presidente os "autorizou" a agir desse modo.

É um modo de administrar que impõe custos pesados aos contribuintes. O mercado de trabalho formal (com carteira assinada) no País registrou uma redução de 57,6 mil empregados nos três primeiros meses do ano, mas o resultado teria sido muito pior se a administração pública, nos três níveis, não tivesse feito contratações. De janeiro a março, o número de novos funcionários públicos no Brasil chegou a praticamente 60 mil. É bom para as estatísticas do mercado de trabalho, mas é ruim para o bolso dos contribuintes, que sofrem os efeitos da crise, mas, ainda assim, terão de pagar os vencimentos dos novos servidores.

Se depender da sugestão de alguns técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - instituição do governo que já produziu importantes trabalhos para orientar a ação do setor público, mas hoje está sob controle do PT -, quanto mais grave for a crise, mais o emprego público deverá aumentar. Com base na estranha tese de que o emprego público deve servir de instrumento para contrabalançar os efeitos negativos da crise, esses técnicos sugerem a contratação intensa de funcionários. Não se preocuparam em saber de onde virá o dinheiro para isso.

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote


Fábio Portela

Moraes 2012

Valéria Gonçalvez/AE


Os tucanos da cidade de São Paulo andam ressabiados com o prefeito Gilberto Kassab, do DEM. Muitos enfrentaram seu próprio partido no ano passado para defender a candidatura de Kassab. Em troca, esperavam contar com o apoio do prefeito nas próximas eleições municipais, em 2012. Mas cresce no ninho tucano a convicção de que Kassab pretende lançar Alexandre de Moraes, de seu próprio partido, à sua sucessão. Moraes acumula quatro dos cargos mais importantes da prefeitura: as secretarias de Transportes e de Serviços e as presidências da SPTrans e da CET, autarquias que cuidam do transporte urbano e do trânsito da cidade. É uma concentração de poder incomum para quem não está sendo preparado para voos mais altos. Oficialmente, Kassab nega a articulação.

 

Além dos canivetes

Arquivo pessoal


A Victorinox é a mais tradicional marca de canivetes suíços. Há dez anos, produz também maletas de viagem, mochilas e bolsas. No ano passado, foram vendidos 2 milhões de unidades, principalmente na Europa. Agora, a divisão de bolsas da Victorinox mira o mercado brasileiro. Seus produtos começaram a ser distribuídos no país timidamente no início do ano, mas sumiram das prateleiras da Daslu e da rede VR, as lojas que os ofereciam. O sucesso animou a gerente da marca no Brasil, Maria Eugênia Mori, a planejar a conquista de 100 pontos de venda até o fim do ano e de 200 até o fim de 2010. A matriz já deu seu aval.

 

Pesquisa conveniente

Rodrigues Pozzebom/ABR


Há três semanas, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), presidido por Marcio Pochmann,divulgou um estudo no qual dizia que o estado brasileiro não é inchado e defendia a contratação de mais servidores públicos. Em casa de ferreiro, espeto de ferro. O Ipea acaba de realizar o maior concurso de sua história, para contratar oitenta funcionários. As vagas começaram a ser preenchidas na semana passada.

 

Levando fumo

Divulgação


A indústria de charutos no Brasil, baseada na Bahia, está prestes a pedir a extrema-unção. Desde fevereiro, as exportações caíram 46% devido à crise global. E, no mercado interno, os produtores não conseguem competir com os similares cubanos. Motivo: os charutos da ilha de Fidel não pagam imposto de importação. Enquanto isso, os brasileiros são taxados com 30% de IPI. O presidente do Sindifumo, José Henrique Barreto, faz campanha em Brasília para reduzir pela metade o imposto e ainda tenta negociar um desconto no ICMS com o governo baiano. Sem isso, Barreto avalia que a indústria do fumo negro vai virar fumaça até o fim do ano.

 

No meio do caminho...

Celso Junior/AE


A ministra Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, sabe que precisa ter o PT e o PMDB aliados no maior número possível de estados em 2010, mas está difícil. Em Minas Gerais, o segundo estado mais populoso do país, há uma pedra que parece intransponível. O PMDB não abrirá mão de lançar o ministro Hélio Costa para governador. O PT tem como postulantes ao cargo o ministro Patrus Ananias e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. A ideia de Dilma era embarrigar os dois na coligação de Costa, um como candidato a vice e o outro como candidato ao Senado. Mas o PMDB mineiro fechou questão: oferecerá apenas uma vaga na chapa aos petistas.

O funcionalismo paga o verde

Tony Avelar/AP


O estado americano da Califórnia é um exemplo de boas práticas ambientais. Os programas de preservação criados pelo governador Arnold Schwarzenegger viraram referência mundial. Políticos de vários países – entre eles os governadores brasileiros Blairo Maggi, de Mato Grosso, e Eduardo Braga, do Amazonas – já ouviram conselhos de Schwarzenegger. A crise econômica, porém, estava secando o verde e o governador chegou a mandar fechar 48 parques estaduais californianos. A reação contrária foi tão grande que o ex-ator radicalizou e decidiu manter os programas financiando-os com parte do salário (dois dias de trabalho por mês) de cada servidor do estado. Será que isso também vai virar referência mundial?

VILLAS-BÔAS CORRÊA

Lula expõe demais a candidata Dilma


COISAS DA POLÍTICA

JORNAL DO BRASIL - 18/04/09

Se o presidente Lula não controla a eloquência nos seus improvisos para qualquer auditório, muito menos o faz em entrevista a uma emissora de rádio e na informalidade de uma conversa com o radialista que não o importuna com perguntas indiscretas.

Mas o presidente foi além dos limites da conveniência na entrevista ao radialista Antônio Carlos, da Rádio Globo, e que teve os trechos principais reproduzidos em O Globo, na 5ª página da edição de quinta-feira, dia 16.

Se as perguntas não foram reproduzidas, ficamos com as respostas. E nunca o presidente foi tão claro, direto e categórico, a ponto de desafiar os riscos que rondam todos os candidatos em eleições diretas.

Entre aspas: "Fazer a minha sucessão é uma tarefa gigantesca. Todo mundo sabe que tenho intenção de fazer com que a companheira Dilma seja a candidata do PT e dos partidos. Agora, se ela vai ganhar, é uma tarefa que vai depender do trabalho de cada brasileiro e de cada brasileira". Antes de chegar à candidatura da ministra Dilma, Lula traçou o panorama do país após os seis anos e quatro meses de seus dois mandatos: "Posso dizer que o Brasil é o país que está mais sólido no mundo. Nós temos um sistema financeiro sólido, fizemos a política anticíclica que alguns não conseguiram fazer ainda, temos bilhões de reais, são quase U$ 300 bilhões de investimento do PAC. Agora, temos um programa de 1 milhão de casas".

Ora, sem o ranço da maledicência, mas no estrito dever de veterano repórter político, a temporada interminável de escândalos que começou com o do mensalão e, em destaque com o caixa 2 para a arrecadação de recursos ilícitos para o financiamento de campanha, chegou ao pico com a série infindável de denúncias que arrastam o Congresso e salpicam nos demais poderes. Não é preciso remexer na pasta dos recortes para ressuscitar venerandas trampas. Pois, agora mesmo, os desvios das cotas das passagens aéreas da caixa sem fundo das mordomias parlamentares, para financiar viagens ao exterior ou para a folia do Carnaval de um grupo ruidoso de foliões convidados pelo deputado Fábio Faria (PMN-RN) e pela sua então companheira da vez, a animadora Adriana Galisteu, é apenas mais um de uma sequência de desatinos. Ministros de Estado arranharam a compostura do cargo ao utilizar os créditos bloqueados quando se licenciaram para assumir os cargos no Executivo.

A mais serena objetividade impõe a advertência para os riscos que cercam a campanha do próximo ano para as eleições majoritárias do presidente e vice-presidente e dos governadores.

E, se o clima é de véspera de turbulência, não se deve esperar uma disciplina de quartel ou de alunos de escola primária de campanha com a carga de queixas, mágoas, ódios reprimidos e com a oposição sonhando com uma reviravolta nas pesquisas que confirmam os mais de 60% da popularidade do presidente Lula.

Mas o candidato não é o presidente. E a candidata, na medida em que cresça na campanha e dispare para o favoritismo, será o alvo da artilharia oposicionista. Não adianta reclamar. É do jogo, aqui e em toda a parte. E a ministra está no limite da imprudência quando insiste em misturar os alhos de candidata com os bugalhos de responsável, administradora, gerente das obras bilionárias do PAC, inclusive a construção de 1 milhão de casas populares com a candidata ao abrir a lista para os doadores de recursos para a campanha.

A transparência e o cuidado que chegue aos centavos não serão suficientes para calar as denúncias, as suspeitas, a maledicência que inundará a campanha. A praga da reeleição criou o vício dos mandatos de oito anos. Não há candidato a mandato majoritário no Executivo – presidente, governador, prefeito – que não sonhe com a dobradinha dos oito anos.

E com os cuidados dos mais atentos, a suspeita justificada ou a infâmia da trampa para incendiar o escândalo é uma rotina das campanhas por todo o Brasil. E jamais um candidato arriscou tanto quanto a ministra Dilma e o seu padrinho político. São milhares de obras por todo o território nacional, despejando milhões de documentos, prestações de conta em cima de um governo desconjuntado pela substituição de titulares candidatos pela improvisação de especialistas de gabinete.

Com fogo não se brinca.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

Roberto Pompeu de Toledo
De volta ao lar

"A favela em que alguém cresceu não tem menor valor, em sua memória afetiva, do que o palácio em que cresceu o príncipe. Em desespero, corre-se para lá"

O jogador Adriano, da seleção brasileira e do Internazionale de Milão, primeiro se notabilizou pelos gols. Aos gols minguantes sucederam farras crescentes. As farras transformaram-no em pivô de escândalos. Nos últimos dias virou, aos 27 anos, personagem de drama. Para quem não acompanhou a história, Adriano, depois do último jogo da seleção, em vez de voltar para a Itália, sumiu. Correu até que teria sido baleado. Ao reaparecer, deu uma entrevista que continha dois pontos fundamentais. O primeiro foi o bombástico anúncio de que iria parar, pelo menos temporariamente, de jogar futebol. "Perdi a alegria de jogar", disse. O segundo, a informação de que passara os dias de sumiço na favela Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde nasceu e cresceu. Ficou-se sabendo que com frequência ele se refugia na favela. "Estou sempre aqui", diz, num vídeo feito por holandeses na Vila Cruzeiro. "Amo minha favela." Ambos os pontos conduzem a questões mais amplas.

A primeira tem a ver com o futebol mesmo. Não há caso similar, até onde a vista alcança, de jogador que, ainda com anos de carreira pela frente e ganhando uma fortuna, tenha decidido abandonar tudo. Jogador que perde a alegria de jogar é triste como palhaço que não vê mais sentido em fazer graça, artista plástico que não mais se encanta pelas cores ou filósofo para quem especular vira uma chatice. Adriano é um caso especial. Ele hoje nega, mas já admitiu problemas com alcoolismo. Talvez sofra de depressão. Mesmo assim, seu caso é emblemático. Ele sumariza o novo "trato dos viventes", para usar o título do livro do historiador Luiz Felipe de Alencastro sobre o comércio de escravos no Brasil, em que se transformou a indústria do futebol.

Não; não se pode comparar a situação do escravo transplantado da África para uma vida de sofrimento no Brasil com a do jogador exportado para uma vida de riqueza no exterior. Exceto por três fatores – um, que se trata igualmente de comércio em que a mercadoria são pessoas; dois, que na maior parte das vezes envolve gente de pele escura; e três, que para essa gente/mercadoria o lado de lá da linha significa o desterro. Adriano transferiu-se para a Itália aos 19 anos. Foi disparado, sem escala para aclimatação, da Vila Cruzeiro a Milão. À penúria da favela seguiu-se a era das mansões, das mulheres e dos carrões. O preço a pagar foi o de ter desembarcado num mundo de língua, hábitos e referências novas – tanto mais atordoantes para quem tem formação deficiente e estrutura psicológica frágil. Seu caso chama atenção para o lado obscuro do sucesso dos artistas da bola.

A segunda questão suscitada pela entrevista de Adriano, sobre seu refúgio na Vila Cruzeiro, serve como involuntária contribuição a um debate hoje na ordem do dia no Rio – o da expansão das favelas. O governo estadual projeta construir muros para proteger áreas verdes do avanço das construções. A moda do muro, que viceja da Cisjordânia à fronteira EUA-México, chega ao morro carioca como símbolo de uma rendição: desiste-se da urbanização, da fiscalização e outras providências que exigem seriedade de propósitos e continuidade administrativa em favor de um golpe de tijolo e cal. A contribuição de Adriano ao debate é apontar uma razão pouco citada para a expansão das favelas: o fato de muita gente gostar de morar nelas. De o apego à favela, numa multidão de brasileiros, ser um traço cultural.

Aos que só observam a favela de longe, como a um planeta distante, parece inconcebível que alguém possa preferir a Vila Cruzeiro a Milão. Adriano, que estaria construindo uma casa na favela, é a mais ilustre evidência em contrário. Ele é fruto daquele ambiente meio aldeia e meio cidade, meio roça e meio bairro de subúrbio, em que o costume é morar todo mundo grudado, partilhar fortemente sua vida, andar pelas vielas de chinelos e bermudas, aceitar o convívio com o tráfico como no asfalto se aceita conviver com o delinquente de colarinho-branco – e não troca isso "por nada e por ninguém", como diz no filme dos holandeses. Os verdadeiros paraísos são os paraísos perdidos, escreveu Marcel Proust. O paraíso que Adriano perdeu, ao se lançar mundo afora, é a Vila Cruzeiro. A favela em que alguém cresceu não tem menor valor, em sua memória afetiva, do que o palácio em que cresceu o príncipe. É o lugar em que sentiu os primeiros cheiros e ouviu os primeiros sons. Na hora em que a mente se perturba, corre-se para lá, na busca de segurança e de aconchego, como quem corre, em desespero, em busca da pátria.

PAINEL

Lista de espera


RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/04/09

A revelação em série de casos de parlamentares que usaram sua cota de passagens aéreas para viajar a turismo com familiares e amigos ameaça jogar luz sobre um rumor antigo nos corredores da Câmara: o de que alguns deputados venderiam seus bilhetes e a milhagem nos guichês de agências de turismo. A prática seria comum entre representantes do Centro-Oeste, que costumam ir e voltar de suas bases de carro. 
O elo perdido é a lista de quem ‘adquiriu’ essas passagens nas agências, confrontada com o gabinete de onde elas saíram. Um caso chegou a ser alvo de inquérito da Polícia Federal, entregue ao Supremo em 2008 por envolver o deputado Luiz Bittencourt (PMDB-GO). Está nas mãos do ministro Cezar Peluso.

Outro lado - Marcelo Barbosa, gestor ambiental da Dersa, nega ter atribuído ‘à natureza’ mortes de animais ocorridas durante obras do trecho sul do Rodoanel.

Férias - Outra preocupação nos bastidores Câmara é o período em que os bilhetes foram emitidos, já que durante o recesso o parlamentar não teria que ir a Brasília.

Ângulo - Enquanto Roseana Sarney (PMDB) tomava posse na Assembleia, o site oficial do governo do Maranhão anunciava: ‘O governador Jackson Lago (PDT) assinou convênios para construção de hospital de urgência e realização de obras de saneamento básico e asfaltamento’. Continua: ‘Ele foi recepcionado por uma calorosa manifestação popular, portando faixas de apoio, foguetório e banda’.

Arraial - Uma empresa pernambucana, de nome A-SIM Consultoria e Marketing, recebeu recursos da Petrobras para pilotar em 2008 os dois principais festejos de São João do Nordeste: em Campina Grande (PB) e Mossoró (RN). A empresa também tem contratos com a Eletrobras para tocar projetos culturais de ‘incentivo a artes cênicas’.

Torneira fechada - Sem alarde, o ministro do Tribunal de Contas da União Valmir Campelo, cujo filho é representante da Fiesp em Brasília e aparece nas investigações da Operação Castelo de Areia, determinou que a Petrobras suspenda pagamentos de serviços na Refinaria Abreu e Lima, obra tocada pela Camargo Corrêa e citada pela PF por indício de sobrepreço.

Ovos de ouro - José Roberto Arruda (DEM) aponta ‘descaso total’ do BB como uma das razões para o naufrágio da compra do Banco Regional de Brasília. Além disso, o governador alega que, no processo de saneamento interno para a venda, a instituição saltou de um lucro médio anual de R$ 10 milhões para R$ 120 milhões em 2008.

Tema quente - Dirigentes da Força e da CUT aproveitaram reunião com Guido Mantega sobre a redução do IPI, ontem, para tratar de possíveis mudanças na remuneração da poupança. O ministro da Fazenda se comprometeu a conversar com as centrais quando o governo decidir o que fazer com a caderneta.

Secretário - No encontro que teve com líderes sindicais no início da semana, Lula fez questão de ler ele mesmo a ata da reunião anterior com o mesmo grupo. O presidente disse que doravante fará sempre assim, para apurar o que efetivamente saiu do papel.

Pai da matéria - Em entrevista que o jornal argentino ‘La Nación’ publica amanhã, Lula afirma que as pesquisas ‘são como exame de pressão’. O importante, segundo ele, é se manter numa boa média. ‘Se o seu resultado é alto demais, ou baixo demais, você está morto.’

Plataforma - A Força Sindical bem que tentou fazer de Dilma Rousseff a estrela de seu 1º de Maio em São Paulo. Mas a ministra da Casa Civil teve de declinar. Estará com Lula no grande evento para marcar o início das operações do campo de petróleo de Tupi.

Tiroteio

Para abrir loja ou posto de gasolina é preciso obter licença ambiental, mas se o governo quiser derrubar a Floresta Amazônica para duplicar a BR-319, não precisará mais. 
Do deputado LUIZ CARREIRA (DEM-BA), criticando a aprovação pela Câmara do texto que afrouxa a legislação para permitir obras em rodovias sem licenciamento ambiental prévio.

Contraponto

Decreto-lei

Deputados do PT se reuniram no gabinete da liderança da bancada, na terça-feira, para decidir quantos e quais petistas participariam, horas mais tarde, de encontro com a ministra e pré-candidata Dilma Rousseff. Diante da demanda, o líder Cândido Vaccarezza (SP) propôs sorteio. 
-Acho melhor escolhermos um deputado por região. Sorteio parece ingênuo, coisa lá do colégio Sagrado Coração de Maria-, opinou Nilson Mourão (AC). 
O colega Luiz Couto (PB), que é padre, manifestou pronta e enfaticamente sua discordância: 
-Alto lá! Se fosse no colégio Sagrado Coração de Maria, a madre superiora decidiria e ponto final!

GOSTOSA


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FERNANDO RODRIGUES

Anistia geral

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/04/09

BRASÍLIA - O principal efeito das novas regras para uso de passagens aéreas no Congresso é a anistia completa, geral e irrestrita de todos os delitos já cometidos.
Jatinhos alugados com dinheiro público, passagens para a família e amigos passearem no exterior, carregamento de cotas de bilhetes mesmo depois de terminado o mandato. Tudo ficou liberado. No passado, não havia regra.
No direito público, se a permissão não está expressa, não existe. Ocorreram delitos. Mas deputados e senadores se autopresentearam com um perdão retroativo a tempos imemoriais. De lambuja, a farra agora passou a ser legal.
O deputado Inocêncio Oliveira produziu uma justificava exemplar para levar os parentes a passeio no exterior com verbas oficiais da Câmara: "A família é sagrada. É preciso deixar a família fazer qualquer viagem". A regra para cônjuges e filhos também usarem as passagens aéreas não contém nenhuma lógica gerencial conhecida.
Deputados e senadores chegam na terça-feira e ficam até quinta-feira em Brasília. É a já consagrada "semana de deputado". Passam a maior parte do tempo nos Estados.
Por que cônjuges e filhos precisam de passagens aéreas? Simples. Porque quem paga é o contribuinte. E os presidentes das duas Casas do Congresso demonstram ter levado o Poder Legislativo a um ponto máximo de desconexão com o senso comum da sociedade.
O senador José Sarney (PMDB-AP) e o deputado Michel Temer (PMDB-SP) assumiram o comando do Congresso em um estágio maduro de suas carreiras. Poderiam dar-se ao luxo de tomar atitudes mais arrojadas, rompendo paradigmas e melhorando a imagem do Legislativo. Até agora não cumpriram essa profecia. Aliás, estão mais perto do dito popular segundo o qual 
de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. 

LYA LUFT

REVISTA VEJA

Lya Luft
Internet, o bem e o mal

"É triste que um meio de comunicação, pesquisa, 
lazer e descobertas como a internet seja
usado tantas vezes para fins tão negativos"

Com suas maravilhas e armadilhas, a internet faz parte de meu cotidiano há muitos anos: fui dos primeiros escritores brasileiros a usar computador. Com ele, a cada manhã começa meu dia de trabalho, buscas e descobertas, pesquisa e comunicação. A internet, que isola os misantropos avessos aos afetos, une os que gostariam de estar juntos ou partilham as mesmas ideias, mas também serve para toda sorte de fins destrutivos, que vão da calúnia política à vingança pessoal.

Ilustração Atômica Studio


Talvez seja uma falha, mas nem tenho site: gosto da minha privacidade, num mundo que adora os holofotes e quer ser filmado, fotografado, estar em youtube e orkut, visto por webcams ou celulares indiscretos, por vezes perversos. De um lado, o vulgar: ditas celebridades curtem viver e morrer em cena, e fazem questão de mostrar, se possível, as entranhas. Exibem-se bundas e peitos, detalhes picantes (em geral desinteressantes) da vida pessoal, frivolidades, histeria ou maledicências. De outro lado, o grave. Exemplo: rapazes filmam num celular oculto cenas pessoais com suas namoradas ou amigas e as espalham via internet; com fotografias inocentes, criam-se imagens maldosas que acabam num youtube ou orkut, para alegria dos mentalmente maldotados. É bem triste que um meio de comunicação, pesquisa, lazer e descobertas como a internet seja usado tantas vezes para fins tão negativos.

Ter um blog me cansaria: leio os de jornalistas cuja opinião vai me interessar no curso do dia e dos acontecimentos mais singulares. Mas um blog meu seria extremamente sem graça, então dispenso disso a mim mesma e meus leitores. Alguém estranhou que eu não estivesse no Orkut, no qual, por um tempo, houve, entre outras mil coisas, duas tribos: os que me amavam e os que me detestavam. Visitar um lugar assim me cansaria mortalmente, e o tédio é um de meus inimigos. Minha alegria está em curtir meus amores, os lugares que me encantam ou abrigam, os livros e a música, e a natureza. Incluo entre meus prazeres as melhores coisas que internet e televisão proporcionam. (Excluam-se programas que divulgam o patético convívio numa casa-jaula humana. Se ainda não foram filmados usando o vaso sanitário, aguardem.)

Nos questionamentos sobre crianças e adolescentes que lidam com os meios eletrônicos, tenho uma sugestão: dar-lhes discernimento para que possam entender e escolher. Continua, porém, o drama da involuntária, muitas vezes nem sabida, exposição de pessoas desavisadas à maledicência e à calúnia, à invasão não consentida da privacidade pelas câmeras, às montagens sobre fotos banais, às informações falsas que alguns julgam engraçadas – toda sorte de maldade de que as vítimas não podem se defender. Tais indignidades jamais seriam feitas em público, ou assinadas embaixo: florescem na sombra da covardia e da mediocridade, do desrespeito e de poucas luzes intelectuais.

Se é ingenuidade ou desinformação mandar via internet textos apócrifos de Clarice, Drummond ou Borges, inventar uma falsa despedida de García Márquez anunciando que está à beira da morte ou atribuir a Fernando Pessoa versinhos derramados, é cretino e mau denegrir pessoas que nem sabem o que lhes está acontecendo. Já existe uma instrumentação legal para caçar e punir pedófilos que tentam assassinar moralmente menores de idade. Agora, urge que se crie um equivalente para casos como os que acabo de citar, pois causam dor a quem não merece nem pode se explicar. E que ele seja muito eficaz: para que gente indefesa não tenha exibidas, por desaviso e inexperiência, intimidades próprias; nem se escrachem, por malignidade e deficiência mental, intimidades alheias.

Dois defeitos são inatos e incorrigíveis no ser humano, e de ambos nos livre o destino: burrice e mau caráter. O uso doentio de um instrumento tão fantástico quanto a internet, quando não é psicopatia, é uma conjunção desses dois melancólicos atributos.

PADRÃO HISTÓRICO

EDITORIAL

FOLHA DE SÃO PAULO 18/04/09

Uso de verba da Petrobras para bancar ONGs ligadas ao PT se repete ao longo dos anos, assim como a desfaçatez de envolvidos 


HÁ ESCÂNDALOS inusitados e ridículos, como o episódio dos dólares flagrados na roupa íntima de um assessor petista. Há os propícios à reportagem fotográfica, como o do castelo de um deputado mineiro. Há escândalos de alta complexidade e envergadura; há também os que ao contrário, são de uma simplicidade pasmosa, como a farra das passagens aéreas no Congresso.
A Petrobras se especializou, ao que parece, numa modalidade própria de escândalo, em que 
o descaso com o patrimônio público, o aparelhamento partidário e a desfaçatez dos envolvidos se somam a outra característica, não muito frequente no mundo da negociata e da esperteza: uma patente falta de imaginação.
Nesta quinta-feira, a 
Folha noticiou que a Petrobras transferiu R$ 1,4 milhão a uma ONG para que esta organizasse festas de São João em 26 municípios baianos no ano passado. A ONG é dirigida pela vice-presidente do PT da Bahia, que também acumula os cargos de dirigente da CUT e assessora do líder da bancada petista na Assembleia Legislativa do Estado.
Esse caso de patrocínio "companheiro" reproduz sem alterações um escândalo que veio à tona em 2006. Naquele ano, noticiou-se que a Petrobras contratara, sem licitação, uma ONG encarregada de fazer serviços de treinamento de mão-de-obra. Da ONG participavam empresas que doaram R$ 2,5 milhões a políticos do PT, então em campanha eleitoral.
Mais que isso, a Petrobras destinou, naquela época, R$ 31 milhões para organizações não-governamentais que apoiavam a candidatura de Lula à reeleição.
Confrontado com aquelas revelações, o presidente da estatal,
José Sérgio Gabrielli, investiu de modo destemperado contra a imprensa, acusando-a da prática de "jornalismo marrom".
O mesmo termo volta a ser empregado por Gabrielli, ao ser flagrado em reincidência. Num tom menos exaltado -a prática da vida pública tende a limar as arestas de personalidade dos administradores brasileiros-, o presidente da estatal saiu-se com o mesmo refrão.
"Peço desculpas porque posso soar agressivo", declarou, antes de considerar as reportagens "típicas do que antigamente se chamava de jornalismo marrom".
Seriam fruto, diz, de uma visão e de um comportamento jornalístico "que não condizem com o histórico da 
Folha".
Digamos que condizem, sim -pelo menos quando se consultam os arquivos de 2006, dando conta do uso desavergonhado de verbas da Petrobras na sustentação de ONGs vinculadas ao PT.
De "não-governamentais", entidades desse tipo só têm, na prática, o nome; aparelhadas pela militância petista, sobrevivem de patrocínios, supostamente destinados, por exemplo, a promover valores e tradições da cultura nacional. Festas juninas, com certeza. Apadrinhamento, paroquialismo, abuso de poder e negociatas, mais ainda.

MÍRIAM LEITÃO

A escolha é nossa


O GLOBO - 18/04/09

A América Latina gosta de perder décadas e oportunidades. Aceita caudilhos, tiranos e tiranetes com razoável regularidade. Tolera que seus governantes confirmem as caricaturas feitas sobre a região. Usa, para se dividir, o que seria fator de união: a Amazônia, os rios comuns, a energia. A América Latina gosta de terceirizar suas culpas, achando que suas mazelas são imposições externas.

Em 2005, a Cúpula das Américas, em Mar del Plata, foi um fiasco. Não se discutiu nada sério e o esporte favorito era atacar George Bush, o detestável. O anfitrião culpou-o numa reunião bilateral por todas as misérias latino-americanas. O excêntrico Hugo Chávez comandou uma passeata contra o governo americano, organizada com o apoio implícito do governo argentino.

Uma nova liderança americana com todas as virtudes de Barack Obama abre a chance de uma relação amadurecida no hemisfério. A declaração de ontem da secretária de Estado, Hillary Clinton, é animadora. Um passo pequeno, mas um reconhecimento de que a política americana sobre Cuba fracassou. A resposta de Raúl Castro, de que está disposto a conversar sobre tudo, é outro sinal interessante. O diálogo isola ainda mais a patética Alba, que se reuniu para dar um suposto apoio a Raúl Castro, que, pelo visto, é mais esperto que todos eles. Na tal reunião, o presidente da Bolívia, Evo Morales, pediu para ser expulso da OEA, e se definiu como membro da inexistente corrente “marxista-leninista-comunista-socialista”, e Chávez avisou que não assinaria o comunicado conjunto negociado pelos governos. Nada sério.

A América Latina tem muitas mazelas: pobreza, desigualdade, exclusão, racismo. O problema é que, ao lutar contra elas, os líderes preferem culpar alguém ou algo externo. Dependendo da época, muda o culpado. Pode ser o colonizador, os Estados Unidos, o imperialismo, as multinacionais, a CIA, a dívida externa, a trilateral, o capitalismo, o FMI, o neoliberalismo. O inferno são os outros, e nunca as escolhas da região, os governantes eleitos ou tolerados, a indulgência com os erros, a corrupção.

Os Estados Unidos, por sua vez, ficaram prisioneiros de uma armadilha enferrujada. É espantoso que, 20 anos depois da queda do muro de Berlim, a potência americana ainda veja algum sentido no embargo a Cuba. O passo de Barack Obama, permitindo viagens, colaboração nas telecomunicações e remessas ao país, é insuficiente. Obama teve uma atitude madura e moderna em relação ao mundo muçulmano, mas ainda não encontrou o jeito de revogar essa velharia da Guerra Fria. O embargo foi decretado para sufocar o regime, sustentado pela União Soviética, que já acabou há quase duas décadas. Pelo menos, agora o governo americano já reconhece que fracassou.

O teste de resistência derrotou os EUA. Mas o tempo os derrotou a todos. Fidel Castro lembra o personagem literário do Outono do Patriarca, com aparições em que parece o fantasma de si mesmo. A ilha revolucionária, que incendiou a esperança dos jovens latinos nos anos 60 e 70, virou apenas uma capitania hereditária.

Cuba, com seu território menor que a Pensilvânia, não pode permanecer eternamente ditando o tom da relação entre os países do continente. Donna Hrinak, ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, resumiu esse sentimento. “Trabalhei 30 anos no hemisfério. Nós perdemos tempo, dinheiro e energia demais discutindo Cuba. Morei na Polônia comunista, e nós a inundamos de informação, visitantes e intercâmbio cultural, e isso mudou o regime.”

Cuba é apenas uma ilha com um governo autoritário, que lembra as ditaduras longevas da região, como foram as de Stroessner ou de Trujillo, e que tem um indiscutível mérito: atingiu conquistas sociais inéditas. Evidentemente, ao contrário do que pensam os defensores do esclerosado regime castrista, isso não o absolve dos crimes contra a vida e a liberdade. O embargo isolou e sacrificou seu povo. É inaceitável.

Mas é apenas um detalhe. O relevante é o atraso da região, que tem muitas oportunidades de construir um futuro mais sólido e as despreza. Veja o que aconteceu com a Bolívia. Nos últimos anos, o preço do gás e a demanda pelo produto boliviano estavam em alta. Em vez de aproveitar e atrair investimentos, Evo Morales demoliu a confiança do consumidor brasileiro de que ele poderia ser um fornecedor confiável. Chávez desperdiçou o boom do petróleo com populismos e má administração. É um governante eleito construindo uma tirania. Na semana passada, Morales fez uma exótica greve de fome, para pressionar o Congresso. A Argentina, país que tem alto nível educacional, aceita a anomalia de ter uma presidente exercendo funções protocolares e um ex-presidente governando de fato o país. O Brasil é atacado por Bolívia, Equador e Paraguai, como se fosse um sub-Estados Unidos, cada vez que os governantes desses países estão disputando alguma eleição ou plebiscito. Depois, voltam a ser “muy” amigos.

Será boa para todos uma nova era de relacionamento maduro, moderno e pragmático, mas a salvação não virá de Washington, como nunca veio de Madri, Lisboa ou Londres. A região está por sua própria conta e vive das suas escolhas.