sexta-feira, janeiro 02, 2009

NELSON MOTTA

Os bons companheiros


O Globo - 02/01/2009
 

-O que você quer ser quando crescer, meu filho? 

- Sindicalista! 

Garoto esperto. No Brasil país de todos, que é mais de alguns "todos" do que de outros, a carreira sindical passou a ser uma das mais valorizadas. Não só pelos benefícios pessoais, da estabilidade no emprego sem trabalhar às benesses das diretorias sindicais, mas como trampolim para cargos políticos e eletivos, que pode levar aos melhores empregos da República. 

A nobre missão de defender os interesses dos companheiros de trabalho tem sido um terreno fértil para talentos, mas não necessariamente nas suas categorias. Ocupados em lutar pelos companheiros, eles não têm tempo, nem aptidões e nem ambição de progredir em seus ofícios. 

É difícil vislumbrar sindicalistas, por exemplo, entre bancários, que sejam os melhores profissionais de sua área. É natural: eles odeiam, ideologicamente, a idéia de banco, detestam seus empregadores gananciosos e exploradores, nada entendem do negócio. Entendem de salários, carreiras, horas extras, planos de saúde, aposentadorias, bônus, participações nos lucros e na administração, questões trabalhistas. 

Sua missão legítima é conquistar, no papo ou no grito, as maiores vantagens possíveis para a categoria. Sua formação, suas estratégias e seus objetivos são conseguir cada vez mais para seus companheiros, e só para eles. E já é muito! Para equilíbrio do capitalismo, é preciso que alguns façam este trabalho. Mas será que isto os qualifica para um alto cargo em um banco, uma agência reguladora ou uma estatal? 

Ou faz de um líder petroleiro um expert em produção ou comércio de petróleo? E, no entanto, tantos ocupam cargos que exigem qualificações profissionais que eles não têm, simplesmente porque não estudaram, não praticaram e nem se desenvolveram nos seus ofícios. Porque estavam trabalhando pelos companheiros. 

Deve ser por isso que, quando a militância sindical qualifica alguém para uma diretoria de estatal, um banco ou uma agência, seja inevitável que, chegando lá, eles continuem priorizando os interesses dos companheiros, e só deles. Não é por mal, é só força do hábito. 

ILIMAR FRANCO

Independência

Panorama Político

O Globo - 02/01/2009
 

Último candidato a se lançar na disputa pela presidência da Câmara, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) está propondo a recuperação de uma agenda própria da Casa. "No vazio dessa agenda é que há o abuso das medidas provisórias e a pressão das corporações", disse ele, que já foi presidente da Câmara e ministro responsável pela articulação política do governo Lula. 

Aldo critica governo 

Na agenda proposta por Aldo está a reforma tributária, que o governo não conseguiu votar no ano passado por falta de apoio de governadores. "Não para votar como um pacote. Tem que ser um programa que se atravesse como um rio, pisando sobre as pedras, e não que se mergulhe e saia do outro lado", disse ele, que também defende a votação da reforma política. O deputado também propõe a implantação, aos poucos, do Orçamento impositivo. "Enquanto isso, vamos votando medidas provisórias, mas tem que ter limites. Quando eu era ministro, até reajustar tabela de cobrança de conselhos queriam fazer por MP", disse ele. 

Sem rusgas 

Apesar de apoiar Temer, o PT não vai tratar Aldo como adversário na disputa pela presidência da Câmara. A orientação é não esticar a corda. A preocupação é com o apoio do Bloco de Esquerda (PCdoB-PSB-PDT) nas eleições de 2010. 

Os discursos sobre a crise parecem quase uma torcida" - Ideli Salvatti, senadora (PT-SC), afirmando que a oposição aposta no quanto pior, melhor 

Quércia quer lugar de Temer 

Orestes Quércia está se movimentando de olho na presidência do PMDB. O deputado Michel Temer (PMDB-SP), atual presidente do partido, tem dito que não vai renunciar ao cargo, se for eleito presidente da Câmara. Mas peemedebistas afirmam que ele não quer é abrir uma nova frente agora. O senador Romero Jucá (RR) também está trabalhando pela presidência do PMDB, mas sofre resistências por ser um "neopeemedebista". 

Medidas contra crise dividem governo 

Enquanto o presidente Lula quer mais medidas de incentivo à economia para enfrentar a crise, a equipe econômica do governo se divide sobre quais iniciativas seriam melhores. Parte do governo, como o Ministério do Desenvolvimento, defende medidas pontuais para alguns setores, como foi a redução do IPI para os automóveis. Outro grupo, mais forte na Fazenda, quer benefícios horizontais, como novas alíquotas do IR, beneficiando de uma vez 25 milhões de contribuintes. 

COMPENSAÇÃO. Já tem peemedebista sugerindo que o presidente Lula dê o Ministério da Saúde ao senador Tião Viana (PT-AC) como compensação pela presidência do Senado. São os partidários da candidatura José Sarney (PMDB-AP). 

ESTILO. Empossado vice-prefeito de São Bernardo (SP), Frank Aguiar (PTB) conclui assim a mensagem da caixa postal de seu celular: "Fui!". 

MP. A pauta de votações do Senado já começa 2009 trancada por uma medida provisória. 

Lua-de-mel 

Com a bênção do PT, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) continuará na liderança do governo este ano. "A não ser que o Obama convide ele", disse a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). A lua-de-mel deve-se ao apoio de Jucá a Tião Viana (PT-AC). 

ANCELMO GÓIS

Abre o bolso, Chávez


O Globo - 02/01/2009
 

Antes de embarcar para Fernando de Noronha, Lula convidou o governador Eduardo Campos para ir, dia 16 agora, à Venezuela encontrar Hugo Chávez. 

É que, sobre a construção da refinaria de Abreu e Lima, parceria dos dois países em Pernambuco, o venezuelano é só gogó. 

Até agora 

A Petrobras já pôs R$500 milhões nas obras. 

Já a venezuelana PDVSA, que terá 40% do negócio, não investiu nenhum centavo até agora. 

No mais... 

O governador não espera atrair visitantes para Fernando de Noronha com a ida de Lula. É que a capacidade para turistas no lugar está saturada. 

Campos até mandou retirar da ilha uns 40 carros que rodavam por lá. Ainda ficaram 200. 

Casas populares 

Lula deve anunciar até 30 de janeiro um pacote para a construção civil. 

Em parceria com os estados, os planos são de construir umas 500 mil casas. 

11 Paraguais 

Em 2008, a usina de Itaipu Binacional bateu o recorde mundial de geração de energia. A geração acumulada ano passado alcançou 94.684.781 MWh. 

É energia suficiente para abastecer a Argentina por um ano ou o Paraguai por 11 anos.

CELSO MING

Metamorfose

O Estado de S. Paulo - 02/01/2009


A crise global é um bicho em metamorfose. Não começou em 2008; explodiu, sim, em 2008, e não tem prazo para terminar.

Seus nomes também vão mudando. Começou como crise subprime, porque eclodiu no segmento das hipotecas podres americanas. Logo se viu que não foi só a bolha dos imóveis que estourou. A encrenca é muito maior porque, a partir de determinado momento, já não se sabia mais quais eram os preços de um grande número de ativos e, então, passou a ser chamada crise do lixo tóxico. 

Em seguida, banco deixou de confiar em banco, o crédito estancou e foi preciso enfrentar a subcapitalização das instituições financeiras, fossem elas bancos ou não. Sobreveio, então, a expressão crise de desalavancagem.

E, a partir daí, tudo virou crise financeira global que já não se restringe às finanças porque há uma forte recessão encomendada e em fase de entrega, que poderá ou não degenerar em depressão.

Essa é uma crise sem precedentes. Não guarda características comuns às anteriores. Basta dizer que, nos últimos 50 anos, o primeiro efeito sempre foi o derretimento da moeda e dos títulos do país em crise. Desta vez, está acontecendo o contrário. O dólar e os títulos do Tesouro americano continuam sendo os ativos mais procurados e, portanto, mais valorizados. Mas aí já entramos na ideia desta coluna, que é a de apontar algumas novidades que podem ficar consagradas.

A primeira delas é o princípio de que banco grande não pode quebrar. Quando as autoridades entregaram o Lehman Brothers à própria sorte, imaginavam que moralizariam o mercado financeiro. Até agora, foi o maior desastre desta crise. O desmonte do Lehman espalhou o pânico em todos os mercados. Em novembro, o Citigroup arrancou US$ 307 bilhões em socorro oficial. 

Outra característica sem precedentes dessa crise é a intervenção dos governos. Nunca bancos centrais e secretários de tesouro se meteram tanto nos negócios. Bancos foram parcialmente estatizados, bancos centrais compraram ativos podres de bancos ou de empresas comuns, recursos fiscais foram usados para comprar ativos rejeitados pelo mercado ou repassados ao contribuinte para que continue consumindo.

A intervenção estatal ao redor do mundo se conta aos trilhões de dólares. Mas ainda é pouco. Nos próximos meses, mais recursos e intervenções virão. Provavelmente em janeiro o governo Obama anunciará novo pacote, de US$ 850 bilhões, para socorrer a economia. Essa intervenção não ficará sem consequências. Falta saber quais serão.

E, por falar em atuação do Estado, há ainda a questão regulatória. É verdade que faltou regulação aos mercados. Mas não é verdade que essa foi a falha central. A maioria das leis e dos regulamentos está aí e não há muito o que mudar. A falha principal foi dos organismos de fiscalização e supervisão. Os bancos centrais falharam miseravelmente, as agências de acompanhamento do mercado financeiro e de classificação de risco falharam miseravelmente e os governos falharam miseravelmente.

Aí está a pergunta a ser respondida em 2009: como é que se pode contar com mais intervenção do Estado para disciplinar os mercados se o agente que mais falhou na origem desta crise foi o próprio Estado? Ou o Estado é outro animal em metamorfose?


Confira

E os fundos de pensão? Trilhões de dólares em patrimônio derreteram nessa crise: imóveis, hipotecas, ações, títulos de dívida, commodities. 

Está para aparecer quem calcule a desvalorização da aposentadoria futura de tanta gente pelo mundo, que estava amarrada aos fundos de pensão.

Parte desses ativos recuperará valor. Mas sabe-se lá quanto do patrimônio anterior desaparecerá para sempre. Boa pergunta está em saber qual será a reação do cotista do fundo. Vai trabalhar mais ou esperar pela recuperação do seu patrimônio? Ou vai se conformar em viver com menos?

SEXTA NOS JORNAIS

JORNAIS NO BRASIL E NO MUNDO

Jornais nacionais

Folha de S.Paulo
Na posse, prefeitos já preveem cortes

O Estado de S.Paulo
Prefeitos assumem com corte de gastos

Jornal do Brasil
Paes toma posse e decreta: 1. Choque de ordem no município/ 2. Auditoria na Cidade da Música/ 3. Fim da aprovação automática/ 4. Aperto no orçamento da prefeitura

O Globo
Eduardo Paes assume cortando gastos com pessoal e contratos

Correio Braziliense
Calotes vão crescer no primeiro semestre

Estado de Minas
Da posse ao caos

Diário do Nordeste
Siderúrgica do CE ameaçada

Extra
Alunos da prefeitura vão poder praticar esportes em clubes do Rio

Correio do Povo
Temporal provoca mortes e destruição em Belo Horizonte

Zero Hora
Promessas reafirmadas

Jornais internacionais

The New York Times (EUA)
Indústria do aço, em colapso, espera estímulo dos Estados Unidos

The Washington Post (EUA)
No Iraque, o dia seguinte

The Times (Reino Unido)
Foguetes em Gaza colocam usina nuclear de Israel em zona de batalha

The Guardian (Reino Unido)
Criminosos enfrentam voto público para punições

Le Monde (França)
Sarkozy deverá obter resultados concretos perante a crise

China Daily (China)
Mundo faz festa silenciosa para chegada de 2009

El País (Espanha)
Rússia reabre guerra do gás na Europa

Clarín (Argentina)
Novos ataques israelenses em Gaza afastam trégua