sábado, dezembro 19, 2009

PAINEL DA FOLHA

A bolha de Lula

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/12/09


Não é a primeira vez que Lula rouba a cena de Dilma Rousseff. O show do presidente na reta final de Copenhague trouxe à memória de auxiliares o evento do anúncio do marco do pré-sal. Meticulosamente preparado para dar uma bandeira à ministra-candidata, acabou tendo apenas Lula como protagonista.

Ciente de que a conferência do clima foi um de seus últimos palcos internacionais antes de deixar o cargo, Lula não perdeu a chance de brilhar... sozinho. Ao defender que o Brasil ofereça recursos para um fundo global, o presidente cuidou bem de seu prestígio, mas desautorizou a chefe de delegação Dilma - que acumulava reveses mesmo antes de sua chegada.

Lados 1 - Na reunião de Lula com governadores, quarta-feira em Copenhague, José Serra defendeu a participação do Brasil no fundo de combate a mudanças climáticas, que já havia apoiado publicamente. Ao lado do presidente, Dilma, que tinha se manifestado contra a ideia, nada falou.

Lados 2 - Dentro do governo, um dos apoiadores da contribuição do país ao fundo é o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

De fato... - Contribuição para a crônica da retirada de Aécio Neves da disputa presidencial: em telefonema a Serra na véspera, o governador de Minas Gerais disse apenas que precisava falar com o de São Paulo tão logo este desembarcasse no Brasil, vindo de Copenhague. Só no telefonema seguinte, no próprio dia do anúncio, Aécio esclareceu do que se tratava - embora Serra já desconfiasse.

...e de ficção - Não é verdade, porém, que Serra tenha apelado a Aécio para recuar da decisão ou mesmo adiá-la. Não fez isso porque não quis e por saber que não adiantaria.

Na vitrine - Depois de submergir nos dias mais críticos do Arrudagate, quando a cúpula do DEM demonstrava catatonia, a senadora ruralista Kátia Abreu (TO) reapareceu com discurso algo light na conferência do clima em Copenhague. Correligionários enxergam tentativa de se credenciar como opção de vice na chapa de José Serra. A chance é quase inexistente.

Em festa - De volta de Copenhague, Lula vai comemorar o fim de ano hoje com funcionários da Granja do Torto e do Palácio da Alvorada. Na terça-feira à noite será a vez do primeiro escalão do governo celebrar com o presidente.

A conferir - A Convenção Nacional do PV, hoje, deverá determinar que seus filiados deixem os cargos em governos estaduais, sob o argumento de criar palanques ‘independentes’ para a presidenciável Marina Silva (AC). O diretório baiano entregou a secretaria de Meio Ambiente. Mas há sérias dúvidas de que todos seguirão a diretriz.

Mãozinha - Um dos cenários eleitorais no Ceará prevê a desistência do ministro José Pimentel (Previdência) em levar adiante sua candidatura ao Senado. O movimento abriria espaço para o governador Cid Gomes (PSB) trabalhar pela reeleição de Tasso Jereissati (PSDB).

Prêmio - Gilberto Kassab (DEM) nomeou José Rubens Domingues, ex-presidente da Juventude do PSDB, para a Subprefeitura de Cidade Ademar. Domingues chegou a enfrentar processo de expulsão da sigla por ter apoiado o prefeito, e não o tucano Geraldo Alckmin, na eleição de 2008.

Estica-e-puxa - A bancada da Educação ganhou a disputa com a ruralista por um naco maior no Orçamento de 2010. Para atender o pleito da Agricultura por mais recursos ao programa Garantia de Preços Mínimos, o relator, Geraldo Magela (PT-DF), teria de tesourar R$ 1 bilhão da Educação. O deputado não topou.

Vespeiro - Com a reforma administrativa devagar-quase-parando, o Senado decidiu alterar o contrato de serviço de copiadoras, um negócio de milhões até hoje comandado por empresas indicadas pelo ex-diretor-geral Agaciel Maia. O preço pago por xerox na Casa é quase três vezes superior ao praticado no mercado.

Tiroteio

Na minha opinião, a chance hoje é zero.

Mas não um zero absoluto. Um zero relativo.

Do senador EDUARDO AZEREDO (PSDB-MG), tentando mensurar a possibilidade de Aécio vir a ser vice numa chapa encabeçada por Serra.

Contraponto

Para quem quiser ver

Ao retornar de viagem à China, dias atrás, o deputado William Woo se deu conta da proximidade do Natal e comprou no próprio aeroporto alguns panetones para presentear parentes e amigos.

Ausente do país quando estourou o Arrudagate, que atingiu especialmente o DEM, mas resvalou também para o seu PPS, Woo não entendeu o olhar entre divertido e espantado das pessoas que o viam passar com as caixas do produto-símbolo do escândalo candango:

- Puxa, que incrível! Está todo mundo me reconhecendo!

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