terça-feira, dezembro 01, 2009

MARCOS NOBRE

Peemedebização

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09


COM AS IMAGENS do governador do panetone com a mão na massa, a longa derrocada do PFL chegou a seu fim. Travestido de DEM desde 2007, a dissidência do partido oficial de sustentação da ditadura militar está no caminho de se tornar um partido médio como tantos outros.
O diferencial do PFL era o seu peso na aliança sólida com o PSDB desde a eleição de FHC. Em 1995, essa aliança tinha de saída uma base de 184 deputados federais, que subiu ainda para impressionantes 204 deputados em 1999.
Esse diferencial desapareceu nas últimas eleições. O desespero de parte dos demos para que o PSDB lançasse logo o candidato presidencial era o de quem sabe que está para cair da primeira divisão dos grandes partidos.
A contrapartida desse declínio é a resistível ascensão do PMDB. O jogo entre os dois grandes polos da política está zerado. Não só o PT, mas agora também o PSDB passou à condição de refém do PMDB.
O que ainda hoje sustenta a política institucional em qualquer país democrático é que ninguém chega ao governo se não for capaz de mostrar um rumo a seguir, por mais vago que seja. Governo ainda é sinônimo de capacidade de formulação, debate e implementação de políticas. Não é à toa que o PMDB não tem candidatura própria há 15 anos.
As quatro candidaturas presidenciais postas até agora têm lastro de formulação política. Seja porque as pessoas em questão têm visão de conjunto do país, seja porque dispõem de burocracias partidárias capazes de produzir um discurso relativamente homogêneo e unitário. Mas o problema é que nenhuma delas até agora dá mostras de como seria possível contornar o PMDB. E, sem contornar o PMDB, quem governar vai continuar como laranja da avacalhação geral da política.
Claro que o PMDB não é raio em céu azul. Tem força eleitoral. Mas consegue essa posição porque parasita governos e diretrizes políticas alheias, sejam quais forem. É o mais autêntico produto da política em dois polos instalada desde 1994.
Combina à perfeição balcão de negócios e cara de pau Não é de hoje que convivemos com o mau cheiro da política brasileira. Mas a sensação de que não há como escapar dele chegou a uma espécie de ápice. A política brasileira só sai da autofagia em que se encontra se romper com a sua peemedebização.
Porque, seja com o artigo deplorável de César Benjamin, seja com o vídeo de José Roberto Arruda, seja com as ininterruptas denúncias contra Sarney e os seus que não dão em nada, seja com a voz que imita Lula em propaganda de papel higiênico, é da peemedebização da política que se está falando.

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