quinta-feira, novembro 12, 2009

JANIO DE FREITAS

Tudo pelos mesmos

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/11/09


A MAIOR BENEFICIADA PELO "BOLSA CELULAR" SERÁ A EMPRESA CELEBRIZADA PELO FECHAMENTO DE UM NEGÓCIO ENTÃO PROIBIDO

O "ACORDO" QUE o governo diz tentar com telefônicas, para que deem o crédito de R$ 7 a cada beneficiário do Bolsa Família que ganharia um celular tem explicação muito menos estapafúrdia do que a motivação da nova generosidade governamental.
Menos estapafúrdia, é claro, nas circunstâncias de um país cujo governo muda até leis para beneficiar empresários sem que, com isso, beneficie o próprio país ou alguma parte de sua população.
Com a mudança na lei que proibia a absorção da área de uma tele por detentores de outra área, o grupo da empreiteira Andrade Gutierrez (o sócio financiador de um filho de Lula) e o grupo Carlos Jereissati adquiriram o controle também da telefonia celular no Nordeste. No qual está a maior concentração de beneficiários dos atuais 12 milhões de filiados ao Bolsa Família, e dos futuros que começariam por mais 1 milhão já em 2010.
A maior beneficiada pelo já chamado Bolsa Celular será, portanto, a mesma empresa celebrizada pelo fechamento de um negócio bilionário então proibido, e só justificado pela certeza antecipada de que Lula mudaria a lei para torná-lo possível. Fruto dessa peculiaridade presidencial, a Oi (do negócio Oi/Telemar/ Brasil Telecom) continua muito aquém no número de usuários: para igualar-se a Vivo, por exemplo, precisa atrair cerca de 15 milhões deles para o seu cadastro. O Nordeste, o Bolsa Família, o ministro Hélio Costa e Lula sabem disso.
Com R$ 7 de crédito, o filiado ao Bolsa Família usará o celular de graça por uns minutinhos e pagará pelos outros telefonemas no sistema telefônico mais caro dentre os celulares do mundo. Faturamento da Oi, que Hélio Costa, em momento de algum tipo de modéstia, calculou em apenas R$ 5 por cabeça acima dos R$ 7. Mas não só o nordestino e os novos usuários de outras regiões estão na mira da generosidade lulista com as teles. Cada um de nós dará sua quota para compensar os bilhões, 2 já de saída, de que o governo promete dispensar as teles do esquema, isentando-as da taxa devida ao Fistel, Fundo de Fiscalização das Telecomunicações.
Se desejar, junte tudo ao ano de eleição que, na prática, já está em curso.

Mais apagão

O apagão deu a amostra do que virá dos meios de comunicação na campanha eleitoral. Já durante a escuridão, um comentário radiofônico explicava à população ansiosa que a redução do IPI de geladeiras, fogões, televisões, e demais produtos da chamada linha branca, levara a muitas compras, que provocaram excesso o consumo de energia. Logo, também o apagão.
Na manhã de ontem, desta vez pela TV, um outro dava o seu bom dia com a sugestão de que o apagão poderia dever-se a ato do MST ou de índios. Horas depois, outra vez pelo rádio, uma intervenção chamada de comentário político já começava com tudo: "Dilma não fica imune nesse apagão". Com o esclarecimento geométrico: "No centro da questão fica a capacidade de gestão da ministra".
Causa explicada, fontes do ato causador indicadas, responsabilidade pessoal apontada -para que tanta procura da origem do apagão pelos técnicos? E, sobretudo, para que tanta determinação, nas áreas oficiais, de não citar a Cesp entre os prováveis motivadores do apagão, o que seria dado como propósito de chutar a responsabilidade para o governo José Serra?
O apagão não foi só de luz.

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