segunda-feira, novembro 16, 2009

GEORGE VIDOR

Engessado

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09

No afã de ver aprovados os projetos de lei que estabelecem o modelo de partilha para a produção de óleo e gás em futuros blocos na área do pré-sal, o governo acabou engessando também as licitações que poderiam mirar apenas o pós-sal nessa mesma região. A redação atual dá margem para essa interpretação, pois se refere à exploração na área do pré-sal, sem definir tal característica.

Paulo, que se estende pelo litoral do Estado do Rio, foram encontrados reservatórios gigantescos - o que motivou o governo a promover a mudança no modelo - como, por exemplo, os campos de Tupi e Iara. No entanto, é bem provável (e o pré-sal do Parque das baleias, na parte da Bacia de Campos localizada no litoral do Espírito Santo, deu provas disso) que haja muitos reservatórios relativamente pequenos. E ainda que, nessa faixa de 800 quilômetros de comprimento por 200 quilômetros de largura, batizada de "picanha azul", talvez existam reservatórios no pós-sal e não no pré-sal.

Se adotados o modelo de partilha e a exigência de operador único (no caso, a Petrobras) para tudo, esse engessamento fará com que se perca oportunidade de exploração de campos pequenos.

Há, na própria Bacia de Campos, blocos com reservas estimadas em dezenas de milhões de barris (e não centenas de milhões ou bilhões de barris) que atrairiam investidores.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tem condições de demonstrar que a intenção não é de engessamento se autorizar a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a promover uma nova Rodada de Licitações, no primeiro semestre do ano que vem, com blocos das Bacias de Campos e de Santos que foram retiradas da oitava (ainda em suspenso) e da nona rodadas.

O pré-sal, devido ao seu enorme potencial de produção, tem concentrado as atenções da indústria do petróleo no Brasil, mas é o póssal que ainda está tocando o barco no setor. Só na Bacia de Campos (que responde por 83% da produção nacional) há 19 áreas que estão em desenvolvimento - ou seja, na fase de preparação para entrada em produção. E várias outras continuam sendo exploradas.

O segmento de petróleo e gás participa com 60% dos US$ 450 bilhões de investimentos industriais previstos para o Brasil no período de 2009 a 2012. Considerando-se os investimentos em infraestrutura, a parcela de petróleo e gás chegaria a 35%.

Os projetos da Petrobras, em média, movimentam três quartos (75%) desses investimentos.

O pré-sal multiplicará esses números. A pesquisadora Adriana Perez, do centro de estudos do petróleo do Ibre (instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas, estima em US$ 600 bilhões os investimentos necessários para se desenvolver os campos do pré-sal nas duas próximas décadas.

Para se ter uma idéia da ordem de grandeza do capital para essas inversões, o volume total de investimentos na economia brasileira, por ano, vem se situando em US$ 300 bilhões.

O presidente do conselho de administração da CSA Thyssenkrupp, Niclas Müller, assumiu o posto meses atrás com a difícil tarefa de substituir Erich Heine, uma das vítimas do trágico acidente com o avião da Air France que fazia o voo RioParis e caiu no Oceano Atlântico.

Além dos vínculos profissionais, Müller era amigo de Heine; suas famílias se visitam frequentemente.

A montagem da nova siderúrgica em Santa Cruz já estava bem adiantada quando Müller desembarcou no Brasil para ocupar o cargo que ficara vago, mas quem conhece obra sabe que os "finalmentes" são decisivos.

Projetos dessa envergadura causam impacto ambiental e, no caso de uma usina de aço, é impossível se evitar a emissão de CO2, pois é inerente ao processo de fabricação.

Nunca ninguém escondeu isso, e as autoridades brasileiras (federais, estaduais e municipais) certamente devem ter pesado os prós e os contras na balança antes de receber de braços abertos potenciais candidatos a investir no setor.

Voltando à CSA, não só para que o licenciamento fosse possível, mas também para atender às exigências de um mercado consumidor preocupado com o meio ambiente, o projeto no Rio foi concebido já se prevendo o aproveitamento de gases na geração de energia elétrica e de vapor, assim como a utilização de filtros nas chaminés, o reaproveitamento da água e a transformação da escória do alto-forno em clínquer (que é a base do cimento). Com essas iniciativas, o grupo alemão, associado no projeto à Vale, até obteve alguns créditos de carbono, certificados pela ONU.

No ano que vem a CSA começa a produzir aço. Nos "finalmentes" da obra um outro item terá de ser adicionado, que é a batalha pela imagem da companhia.

A siderúrgica tem contribuído para revigorar uma das regiões mais pobres do Rio e não vai querer ser vista como vilã do meio ambiente.

Como há outros empreendimentos siderúrgicos programados para o estado, que não podem ser desprezados por sua importância econômica e social, o Rio de Janeiro realmente precisa ter uma estratégia de compensação e neutralização das emissões de carbono.

Até porque as belezas naturais serão as principais vitrines de todo o Estado do Rio na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016, e o desafio será provar que existe desenvolvimento harmônico com a natureza.

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