domingo, novembro 01, 2009

ELIO GASPARI

Lula acha que chega à eleição em triunfo

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/11/09



Com a economia rodando a 7%, desemprego em queda e consumo em alta, basta que Dilma não tropece


NA SEMANA PASSADA Lula teve uma conversa com empresários e parlamentares no Palácio da Alvorada e desenhou um cenário triunfante para a eleição de 2010.
Nosso Guia acredita que no segundo semestre a economia estará crescendo a 7%, com aumento da renda dos trabalhadores e expansão do consumo. Será um cenário de sonho para quem quer preservar seu patrimônio eleitoral no andar de baixo.
No campo político Nosso Guia convenceu-se de que a oposição será obrigada a aceitar uma eleição plebiscitária, cuja expressão mais simples será a comparação com os oito anos tucanos de Fernando Henrique Cardoso.
Lula pretende eleger Dilma Rousseff colando no candidato da oposição o rótulo de continuador da experiência tucana e apresentando-a como continuadora de seu governo.
Falta combinar com os russos, mas, olhando-se para o estado de paralisia física e cerebral em que caiu o PSDB, Lula conseguiu o melhor dos mundos. Falta um ano para a eleição e só há um jogador em campo: ele.
1989 E O MURO
Vem aí o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim (dia 9, segunda feira da próxima semana). Na realidade, o que vem aí é muito mais que isso, é o 20º aniversário do ano glorioso de 1989.
Em pouco mais de um ano acabaram-se um império (o soviético), uma modalidade de organização política (a ditadura do partido comunista) e um modo de produção (o socialista). Extinguiu-se também a chama dos projetos revolucionários como instrumento de transformação das sociedades.
A "queda do Muro" foi o desfecho de um processo que começou seis meses antes, quando a Hungria abriu sua fronteira com a Áustria, drenando a população da Alemanha Oriental. Ao final de maio pedaços de arame farpado da fronteira austro-húngara já eram vendidos como souvenirs.
Aprende-se isso, e muito mais, no livro "1989 - O ano que Mudou o Mundo", do jornalista americano Michael Meyer. Ele testemunhou a mudança e presenciou a revolução tcheca, ao som do chacoalhar dos chaveiros. Quem tiver curiosidade pela grandeza de 1989 e pela ousadia da reunificação da Alemanha, pode dispor de 236 páginas de inteligente narrativa.
Quem quiser fechar o foco na revolução alemã estará bem servido com "O Muro de Berlim - Um Mundo Dividido, 1961-1989". Nele aprende-se o nome da pessoa que furou a barreira. Foi Harald Jaeger e comandava o posto policial da cancela da Bornholmer Strasse. Jaeger ergueu a barreira e deixou a multidão passar. Em 1997 comprou uma banca de jornais e trabalha nela, com a mulher.

BOA NOTÍCIA
Uma grande operadora de telefonia quer oferecer aos consumidores ligações gratuitas em troca de mensagens publicitárias que seriam ouvidas antes do início da ligação. Quem quiser adere ao plano. Quem não quiser fica como está.

MÁ EMENDA
A turma do mensalão acredita que se for aprovado o projeto que acaba com o foro privilegiado, os 39 companheiros se livram da lâmina do ministro Joaquim Barbosa. Podem estar cometendo um grave erro. Se os processos dos mensaleiros que não têm mandato parlamentar caírem nas mãos de um juiz malvado na 1ª instância, os doutores poderão ter a prisão preventiva decretada. Terão saudade de Joaquim Barbosa.

NOSSO GUIA
Alguém precisa avisar a Lula que catador de lixo não é profissão. No limite, poderia ser um ofício, mas é apenas ocupação.

TERMÔMETRO
Vai a leilão no dia 17 de novembro, na casa Christie's de Nova York, um desenho de Hélio Oiticica da série concretista dos Metaesquemas. Está avaliado entre US$ 60 mil e US$ 80 mil. Em maio um guache parecido tinha a mesma estimativa e foi arrematado por US$ 186 mil. (Oiticica exigia que essas obras não fossem chamadas de "desenho".) O desempenho da peça será um bom termômetro para que se avalie o efeito do incêndio de uma parte do acervo de Oiticica sobre a cotação de sua obra no mercado.

BASTA PUXAR O FIO
Se o ministro Tarso Genro quiser, estoura as malfeitorias de uma rede de fornecedores de equipamentos de segurança. Houve uma época em que ela se cevou na Infraero.

PSDB, O EXTERMINADOR DA OPOSIÇÃO

Quem não gosta de Nosso Guia precisa se mobilizar para impedir que o PSDB destrua a oposição brasileira. O tucanato tornou-se um ingrediente tóxico tanto no atacado como no varejo.
No atacado, o governador José Serra quer paralisar o partido, jogando para março o anúncio do nome do candidato à Presidência da República. Se o problema fosse apenas de prazo, Serra teria argumentos para justificar sua posição. Lamentavelmente, a questão é outra: ainda não se sabe se Serra quer trocar uma reeleição certa para governador por uma candidatura a presidente que a cada dia parece mais pedregosa. Talvez nem ele mesmo saiba.
Recordar é viver: durante todo o ano de 2005 a popularidade de Lula sofreu uma forte erosão. Entre agosto e dezembro as pesquisas do Datafolha indicavam que ele perderia a eleição do ano seguinte para Serra. Em janeiro de 2006 o quadro começou a virar e no final de fevereiro Nosso Guia botou oito pontos de frente. Em março Serra tirou o time de campo.
Serra quer esperar até março sem que haja qualquer garantia de que irá para a briga. Já o governador Aécio Neves quer uma decisão rápida, caso contrário disputará uma cadeira de senador. Não se poderia esperar que o neto de Tancredo Neves fosse a uma disputa de mato-ou-morro, mas o ultimato de Aécio indica que ele já achou a saída de emergência.
O PSDB tornou-se um tóxico também no varejo. Em vez de fazer oposição, sua bancada no Congresso associa-se às piores iniciativas da bancada governista e da banda esperta do PMDB.
O tucanato denuncia as maracutaias petistas, mas é incapaz de levantar a voz diante das malfeitorias dos seus hierarcas. Noves fora o mensalão mineiro, em cujo processo está denunciado pelo Ministério Público o ex-presidente do partido, senador Eduardo Azeredo, o tucanato teve um governador e um senador cassados pelo Supremo Tribunal Federal (Cássio Cunha Lima e Expedito Júnior). Isso deixando-se de lado a ruína de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul.
O PSDB deu os votos necessários para que o Senado e a Câmara aprovassem a Bolsa IPI que borrifaria os exportadores com créditos de R$ 34 bilhões, pelo menos. Fez isso mesmo depois do Supremo Tribunal Federal ter derrubado a pretensão dos empresários. Vexame final: Lula vetou o mimo.
Na semana passada, iniciativas de três tucanos (Flexa Ribeiro, Marcos Monte e Roberto Rocha) puxaram os interesses do ruralismo das trevas para aprovar um projeto de anistia para desmatadores. A moralidade foi defendida por militantes do movimento Greenpeace que, acorrentados a poltronas do plenário da Câmara, fizeram um escarcéu e transferiram a votação do projeto.

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