sexta-feira, outubro 16, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O BB quer segurar muito mais

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/10/09


O BANCO do Brasil informou ontem à CVM que pretende comprar parte do IRB-Brasil Re, o antigo Instituto de Resseguros do Brasil, controlado pela União e a maior empresa de seguro de seguradoras da América Latina. A "União Federal, por intermédio do Ministério da Fazenda, aceitou iniciar tratativas", diz o eufemismo do fato relevante enviado pelo BB à CVM.
O IRB ficou "pop" durante as revelações detonadas pela descoberta do mensalão, quando foram identificadas vastas traficâncias de influência na companhia. Quando Antonio Palocci ainda era ministro da Fazenda, até 2006, pretendia-se privatizar o IRB, um "legado varguista" (foi criado em 1939 por Getúlio Vargas).
O economista Marcos Lisboa, que fora secretário de Política Econômica sob Palocci, assumiu o IRB a fim de prepará-lo, se não para a privatização, ao menos para a abertura do mercado de resseguros. A quebra do monopólio foi aprovada em 2007 e começou a valer mais ou menos em 2008 (Lisboa agora é da direção do Itaú Unibanco). Atualmente, o Bradesco tem cerca de 21% de participação na empresa, o Itaú tem 18%, e o BB, 1%. BB, Bradesco e Itaú têm disputado nacos do mercado de seguros, que vem passando por um processo de concentração braba no país. No início do mês, o BB havia anunciado parceria com a gigante de seguros espanhola Mapfre.
Se o BB engolir o IRB, será mais um passo da onda de desprivatização de Lula 2: Petrosal, "Nova Eletrobrás", SuperPetrobras, talvez nova Telebrás, as capitalizações dos bancos estatais. No governo, diz-se que o BB vai ter mesmo o controle do IRB-Brasil Re. Argumenta-se que, mesmo com a abertura do mercado, o negócio de resseguros não deslanchou. Grandes obras precisam de grandes seguros e, pois, do anteparo de grandes resseguros. O pessoal do governo diz que o Estado "precisa entrar" nesse negócio para melhorar as condições gerais de financiamento das grandes obras.

Vale tudo, vale nada
Ministros de Lula foram a campo e aos corredores para amenizar a "crise", talvez factoide, com a Vale. Eike Batista, o mago do neoempreendedorismo nacional, anunciou que estão pelo menos por ora suspensas suas tentativas de comprar o controle da Vale. Lula e a empresa vazaram por aí que estavam de bem desde agosto ou setembro, a depender da versão.
Como se observava ontem nesta coluna, alguns integrantes do primeiro escalão do governo Lula consideravam toda essa história bem esquisita (ainda é). Atribuíam a "articuladores políticos da candidatura Dilma Rousseff" a plantação de notícias a respeito da "crise" e as tentativas de aumentar o peso do governo na empresa, embora desconfiassem da viabilidade do projeto e da própria participação de Lula nisso tudo.
Para que tal plano tivesse sentido, seria preciso: 1) afrontar acionistas privados, como Bradesco e Mitsui, mesmo com chance escassa de sucesso; 2) que Batista e/ou o governo arrumasse capital suficiente para a operação, já por si só duvidosa. Hoje, esses informantes do governo diziam que Lula "considera que já deu seu recado à Vale e a Roger Agnelli".

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