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US$ 10 BILHÕES virou troco para o Brasil. É o dinheiro que o país vai emprestar ao FMI, dinheiro empilhado nas reservas internacionais, mantidas pelo Banco Central. Como o Brasil faz dívida em reais a fim de comprar reservas, o custo de manter reservas é muito alto. Grosso modo, é a diferença entre a taxa de juros pela qual o governo se endivida em reais (pelo menos 8,75% ao ano) e a taxa de juros que recebe pelas reservas, hoje em dia quase nada. No caso do empréstimo para o FMI, essa taxa é de 0,25% ao ano. Trata-se, pois, de um seguro muito caro. Para que o seguro? Para momentos como a explosão da crise de 2008, quando o capital se paralisa de medo, e o país só conta consigo mesmo para rolar seus compromissos financeiros externos. Ou para mostrar ao mercado que o país tem como pagar seus compromissos, evitando assim que o capital dito "estrangeiro" fuja e/ou que as taxas de juros para o país aumentem. As reservas do Brasil equivalem a US$ 225 bilhões. Qual é o volume de reservas necessário para que o seguro seja "seguro"? Mistério. Ou, talvez, a pergunta seja retórica. Tem entrado muito investimento estrangeiro, especialmente em ações e o dito "produtivo". O Banco Central compra quase todas as "sobras". Mesmo assim, o dólar valia ontem R$ 1,76, mais ou menos no mesmo preço da semana anterior à da quebradeira em Wall Street, inaugurada em 15 de setembro de 2008 (mesmo com o BC comprando à larga, o dólar foi à casa do R$ 1,60 em agosto de 2008). Há economistas para quem o BC poderia deixar o real se valorizar até o "ponto de equilíbrio", parando com a compra de reservas. Em tese, em algum momento, o real ficaria tão forte que haveria expectativa de que uma desvalorização ou estabilidade seria mais provável que uma valorização adicional. Um sinal disso seria a alta forte e rápida do deficit em transações correntes (compraríamos ainda mais bens e serviços do exterior que venderíamos), por exemplo. Talvez tais eventos desestimulassem entradas adicionais de moeda forte e valorizações extras do real. Como ninguém sabe onde ocorre o "equilíbrio", se é que ocorre, nem se pode ocorrer antes de danos graves à produção nacional, muitos economistas consideram que não é prudente testar a dureza do chão se jogando de cabeça. O real é a moeda que mais se valoriza, entre as relevantes. Está barato especular (a taxa de juros no mundo rico é zero ou menos que isso). BCs e governos do mundo rico despejaram dinheiro nas economias a fim de conter a crise, mas não há muito onde investir e o risco diminuiu muito: sobra capital. Como somos sinodependentes e a China se recuperou bem, entram dólares pelo comércio externo brasileiro, o que ajudou a atenuar a crise brasileira. Então, parecemos uma boa oportunidade para o capital sobrante: temos juros altos, tínhamos ações baratas, a economia se recuperou mais cedo, a moeda se valoriza. Tão cedo o Brasil não vai deixar de se tornar centro de reciclagem dos dólares sobrantes no planeta -a não ser na hipótese de novo colapso. Emprestar ou não um troco para o FMI é assunto menor, em termos financeiros. O problema é o que fazer do agora crônico real forte. |
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