domingo, outubro 25, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

O bruxo

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09



BRASÍLIA - Para quem não sabe, ou não lembra, o general Golbery do Couto e Silva era um sujeito discreto, que raramente aparecia, mas tinha desenvoltura como ninguém e mandava como poucos durante a ditadura militar. Começou como mentor do SNI e acabou como agente da distensão duas décadas depois. Um "bruxo", dizia-se.
Regimes vão, regimes vêm, e sempre há um bruxo mexendo peças e soprando ideias. Na era Lula, o bruxo é na verdade um carola baixinho, com a humildade dos que saboreiam intimamente o seu poder.
Nada se faz e se decide sem ele, especialmente nesses tempos em que o piloto e a pilota sumiram, voando de comício em comício por aí.
O bruxo da vez se chama Gilberto Carvalho. Por ele passam nomeações, projetos, decisões, articulações no Congresso, o ritmo das reuniões e as maldades. Desde a macro-questão até a graça e a desgraça de quem gravita em torno de Lula.
José Dirceu, o espaçoso, gostava de ostentar poder, e Antonio Palocci, o sonso, sonhava com o próprio poder. Ao contrário deles, Gilberto Carvalho tem intimidade com Lula e, ao que se saiba, não é candidato a nada; seu poder não emana do povo, emana de Lula e para Lula.
Na hipótese de transição para Dilma, certamente Dirceu e Palocci terão o seu lugar, mas o homem de Dilma, como hoje é o homem de Lula, será (ou seria) Gilberto Carvalho. Até como fiel depositário da cadeira para Lula em 2015. Para o bem ou para o mal.
Não custa lembrar seu embate cara a cara com os irmãos de Celso Daniel. Um falava branco, os outros falavam preto, todos com igual veemência, igual convicção. Logo, num dos lados havia um mentiroso quase patológico. Por uma causa? Ou por uma crença?
Agora, é rezar para que Gilberto Carvalho não faça as bruxarias na ordem inversa às de Golbery. Ou seja: que não tenha começado com a distensão (nos bons tempos do bom PT) e acabe criando SNIs.

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