quinta-feira, outubro 08, 2009

CLÓVIS ROSSI

Primeira classe, quarta classe

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/09


ESTOCOLMO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz, uma e outra vez, que o Brasil será a quinta ou sexta potência mundial até 2016, o ano em que a Olimpíada será no Rio. Tomara. Mas não é esse o torneio realmente relevante.
A China já é a segunda ou terceira economia mundial, mas, como sua, digamos, família é excessivamente numerosa, em termos de renda per capita está entre as mais pobres do G20 -imagine então do G2.
O Brasil, por sua vez, já é a oitava, nona ou décima economia do mundo, mas é apenas o 75º colocado no Índice de Desenvolvimento Humano. Está longe portanto de ser de primeira classe, ao contrário do que crê o presidente.
Sem contar que o Brasil está entre os líderes em um aspecto negativo: é o quarto maior emissor de gases poluentes.
O sentido comum, portanto, diria que a agenda ideal para o país seria combinar essa busca pelo pódio em matéria de crescimento econômico com uma colocação bem melhor em emissão de gases.
Fácil de falar, difícil de fazer, até porque não há país que possa servir de modelo para essa combinação.
O Brasil, em todo o caso, leva uma vantagem: sua estrutura energética é das mais limpas do mundo, talvez a mais limpa. O ponto fraco brasileiro é o desmatamento. Somado ao de outras áreas do mundo, o desmatamento gera 20% da emissão de gases que ameaçam o planeta.
Dito de outra forma: o Brasil tem menos necessidade do que outros países de reinventar sua economia, para torná-la "verde", como dita o jargão da moda. Pode ser "limpo" apenas policiando com competência a devastação florestal.
Não basta reduzir o desmatamento, há que eliminá-lo. Para isso, no entanto, é preciso aceitar que o justo direito ao crescimento, que Lula também enfatiza regularmente, não significa fazê-lo a qualquer custo, inclusive o de sujar o planeta e, por extensão, o futuro.

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