quinta-feira, outubro 15, 2009

CELSO MING

Alegria, alegria

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/10/09



Se há exagero em afirmar que a euforia está de volta, certamente não há se ficar dito que estamos bem perto disso.

Ontem o Índice Dow Jones, que mede o comportamento das ações negociadas na Bolsa de Nova York, fechou acima dos 10 mil pontos, depois de ter despencado de lá em outubro de 2008.

A Bolsa de São Paulo não deixou por menos. O Índice Bovespa passou dos 66 mil pontos e está a apenas 9% do seu pico de alta, obtido em maio do ano passado, antes da eclosão da crise. Somente em 2009 (e estamos apenas em meados de outubro), a Bolsa brasileira avançou 76%.

Ontem todas as bolsas europeias se esqueceram dos problemas e atropelaram. Frankfurt subiu 2,45%; Londres, 1,98%; Paris, 2,14%. E, em Nova York, o petróleo voltou à casa dos US$ 75 por barril de 159 litros, sinal de que aumenta a confiança no crescimento do consumo.

Enquanto isso, o dólar continua sua trajetória morro abaixo. No mercado internacional, atingiu seu menor nível em 14 meses quando comparado ao valor das moedas que compõem uma cesta de seis moedas internacionais. E, aqui no Brasil, fechou a R$ 1,703, a uns passos da casa do R$ 1,60.

Quem já tinha saído da toca parece exultante. Quem está saindo só agora pode achar que está chegando atrasado.

Há dias, o mercado internacional vinha ensaiando a revoada. O pretexto se apresentou ontem quando um dos bancos mais importantes dos Estados Unidos, o JPMorgan, mostrou um resultado substancialmente superior ao esperado, e as vendas no varejo no mercado americano tiveram queda, em setembro, de apenas 1,5%, e não superior a 2,0%, como os analistas projetavam.

A percepção geral é a de que as profecias de que viria uma quebra da recuperação da economia em W ou em WWW (ou seja, com recaídas bruscas), e não em V, parecem ter sido abandonadas, ao menos enquanto não aparecer notícia particularmente ruim.

Esse comportamento do mercado não reflete propriamente a velocidade da recuperação do sistema produtivo depois da crise braba. Reflete a existência de volumes nunca vistos de recursos zanzando pelos mercados, os mesmos que foram despejados pelos Tesouros e grandes bancos centrais com o objetivo de contra-atacar a crise.

Nessa paisagem, o Brasil é a bola da vez. Todos os dias, os analistas falam maravilhas do B dos Brics. Não há quem não queira agora ativos, vejam só, em reais.

O Banco Santander elegeu a Bolsa brasileira como o cenário mais promissor para uma subscrição de US$ 8,1 bilhões em ações. E verificou que um fundo soberano, o de Abu Dabi, ficou com a fatia de US$ 328 milhões.

Terça-feira, o Banco do Brasil se apresentava no mercado internacional de bônus disposto a convencer tomadores para US$ 500 milhões em bônus perpétuos. Obteve interessados para US$ 13 bilhões, mas fechou pouco mais de 10% disso.

A abundância de recursos atiça os assopradores de bolhas. Mais cedo ou mais tarde, os bancos centrais terão de enxugar a dinheirama. Mas, por enquanto, não ousam passar para essa fase porque temem a reversão da retomada, como ainda ontem o Fed (banco central americano) deixou claro na sua Ata.

E isso vai sendo entendido como senha para a alegria geral

Confira

Tudo errado - Ontem o governador de São Paulo, José Serra, fez a seguinte afirmação: "Os juros siderais e o câmbio mega-hipervalorizado são muito piores para o desenvolvimento do que qualquer medida de defesa do meio ambiente."

O governador não disse como teriam de ser nem a política monetária (política de juros) nem a política de câmbio para não sabotarem o desenvolvimento.

Nada aconteceu depois de publicadas essas declarações. Mas, se José Serra dissesse o que disse em junho de 2010, na condição de líder das intenções de voto, qual seria a reação do mercado financeiro?

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