quarta-feira, setembro 09, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O dólar com sotaque de iene


Folha de S. Paulo - 09/09/2009

Moeda americana parece padecer de ienização, não se sabe se crônica ou aguda, e desce a ladeira outra vez

O DÓLAR entrou de novo em liquidação ou trata-se apenas de mais uma promoção passageira (digamos, de uma, duas semanas)? De menos incerto, o dólar parece padecer de ienização, não se sabe se crônica ou aguda.
"Ienização": de iene, a moeda japonesa, moeda de uma grande economia com taxas de juros muito baixas, utilizada portanto para especulação nos mercados financeiros. Em euros, o dólar estava ontem quase tão barato quanto em setembro do ano passado e apenas 9% acima do pico da desvalorização ante a moeda europeia.
A taxa de juros no mercado interbancário de Londres (Libor) para negócios com dólar por três meses ficou menor que a Libor de três meses para o iene no final de agosto. Ontem, o juro do dólar estava até um pouco menor que o do franco suíço.
No auge da especulação que antecedeu os desastres de setembro de 2008, chegou a ficar popular a conversa sobre "carry trade" com ienes. Isto é, trata-se da operação de tomar empréstimos baratésimos na moeda japonesa e vendê-la a fim de comprar moedas de países com altas de taxas de juros, moedas que de resto se valorizavam, caso dos países vendedores de commodities (Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Brasil, por exemplo). O dólar agora é uma estrela do "carry trade".

O "status" do dólar
Há gente no mercado que atribui as baixinhas recentes e adicionais do dólar aos "reiterados protestos globais de estima e consideração" pelas medidas de relaxamento fiscal e monetário, retomados no final de semana por autoridades do G20, banqueiros centrais e ministros das finanças dos países ricos.
Ou seja, não será tão cedo que os bancos centrais mais importantes elevarão juros, que os governos deixarão de gastar e que deixarão de doar dinheiro barato para bancos.
Por falar em bancos, observe-se de passagem que não será tão cedo também que as autoridades econômicas do mundo rico passarão a apertar os critérios de contabilidade e supervisão das finanças. Apesar de toda a conversa da "nova, melhor e mais forte regulação", tudo isso por ora é para inglês ver, pois a banca está meio que liberada para melhorar & maquiar balanços, com subsídio e vista grossa dos governos de EUA e Europa.
Havia ainda gente que, ontem, a relacionar "parte" da fraqueza do dólar a declarações de gente da ONU (Unctad) e da China sobre a necessidade de tirar a moeda americana do trono e blablablá.
Mas o que parece mais relevante mesmo é que está difícil fazer dinheiro nos EUA, e as taxas de juros lá ficarão baixas durante muito tempo, segundo declaração pública e firmada do Fed . Está barato tomar dinheiro em dólar. Há taxas de juros gordas, como a brasileira, pelo mundo, e moedas e economias em ascensão, como as dos países mais dependentes da China e que parecem sair mais cedo da recessão (de novo, nós, o Canadá, a Austrália); há Bolsas inflando pelo planeta, em particular na periferia.
Com o dólar a cair pelas tabelas, ouro, petróleo e outras commodities sobem mais. O que deve dar mais impulso à valorização do real.

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