quarta-feira, setembro 23, 2009

TODA MÍDIA

Sob cerco golpista

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/09/09


Foi manchete ao longo de manhã e tarde nos sites brasileiros, cedeu lugar ao grau de investimento, mas retornou à noite, telejornais inclusive. Nos enunciados, "Embaixada tem serviços básicos cortados", "Amorim diz que não tolerará ação contra embaixada", "Lula pede que Zelaya não dê razão para ataque", "Governo aciona Conselho de Segurança da ONU". E alternativas como "Zelaya diz ter buscado embaixada por lição de democracia".


O "New York Times" destacou a repressão policial e a rejeição por Lula, em Nova York, de "mais golpes militares". No "Wall Street Journal", atenção ao risco de "violência renovada".
Ambos avaliam que "a volta surpresa põe Brasil em posição desconfortável, longe do papel de estadista frio que preza". Na americana AP, Lula cobrou que Zelaya não dê pretexto para ataque. Na chinesa Xinhua, o governo "de facto" prometeu não atacar.


No topo das buscas de Brasil no fim do dia, Reuters e AFP destacavam que o Departamento de Estado dos EUA pediu "respeito à inviolabilidade da embaixada", um "princípio de relações internacionais que é aceito universalmente", até por ditadura militar.

TV BRASIL ANTES
A rede estatal ouviu Zelaya anteontem. "Queria agradecer ao presidente Lula, ao chanceler Amorim e ao [assessor] Marco Aurélio Garcia, que abriram as portas para iniciar o diálogo. Que a luta pela democracia sirva para a América Latina".

GLOBO & RECORD
Ontem foram as redes privadas, também por telefone. No destaque do "Jornal Nacional" e antes do portal G1, Zelaya afirmou ter pedido "proteção" e não "asilo" ao Brasil. No "Jornal da Record", disse que "avisou" as autoridades brasileiras.


"ESPETACULAR"
newsweek.com

O "Christian Science Monitor" destacou de Honduras que "Zelaya esnobou Hugo Chávez pelo Brasil", que de sua parte "agarrou o papel de líder".
A "Newsweek", em edição já programada, deu a longa reportagem "O político mais popular do mundo", dizendo que "por sete anos ele fez um trabalho espetacular como presidente do Brasil. Mas Lula pode resistir às tentações para jogar isso fora?" (abaixo, na home).
A revista postou separadamente a íntegra da entrevista com o "carismático Lula", "homem do momento". E fez até uma relação com os "transformadores" ou "líderes que refizeram radicalmente os seus países" encabeçada por Lula, mais Margaret Thatcher, Deng Xiaping, Nelson Mandela, Kim Dae-jung etc.

"DURACELSO"
A nova viagem de Lula estimulou também análises com títulos como "Brasil alvoroça a ordem mundial", no espanhol "El País", e "Como Lula posicionou o Brasil no mundo", no argentino "La Nación". O primeiro diz que ele vai falar na ONU "com a autoridade de quem chega com os deveres de casa muito bem feitos". O segundo elogia a ação de Celso Amorim pelo mundo e sublinha seu "apelido no Itamaraty", Duracelso, referência à pilha.

BRASIL & ÍNDIA
Dos muitos encontros do Brasil em Nova York, na ONU, resultou reportagem no indiano "Business Standard", com repercussão no "WSJ", anunciando que "Brasil e Índia vão se opor à União Europeia na Organização Mundial do Comércio", sobre propriedade intelectual.
Por outro lado, em agências indianas como PTI, o fórum Ibsa (Índia, Brasil e África do Sul) se reuniu para articular pressão por cadeira no Conselho de Segurança.

NOTA ALTA

Na escalada, os telejornais tentaram explicar grau de investimento como "atestado de bom pagador", na Globo, ou crédito "recomendado", na Band.
Na manchete da Reuters Brasil, a partir do fim do dia, "Moody's vê Brasil 'vencedor' e dá grau de investimento".
Quer dizer, a agência de classificação de risco vê o país "como vencedor da crise global". No portal Exame, com ironia, "A Moody's demorou".

IBOPE ALTO

Em meio à atenção com Honduras, saiu enfim o Ibope. Reuters Brasil, Valor Online, Agência Brasil e outros ressaltam que o otimismo com juros e empregos permitiram até "ligeira alta" para o governo.
Por Folha Online e outros, "Ciro Gomes cresce e empata com Dilma Rousseff". No portal iG, Ciro comentou a queda da petista e chegou a ser manchete, "Dilma sofre agressão".
Diz ele que "há contra ela um fenômeno que já aconteceu comigo, que é uma desequilibrada agressão, um processo de difamação permanente". Ainda no iG, críticas à ausência de cenários alternativos, na pesquisa, só com Ciro ou Dilma.

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