quarta-feira, setembro 23, 2009

RUY CASTRO

Dinheiro voando


Folha de S. Paulo - 23/09/2009

Acabo de receber um intrigante e-mail. De algum ponto do ciberespaço, um homem que se assina Patrick -sem sobrenome- me escreve em inglês oferecendo-me sociedade num negócio que não diz qual é, mas para o qual afirma dispor de "US$ 20 milhões", de que planeja investir "uma parte" numa "economia estável" e visando "grandes lucros a longo prazo".
Oba! Não é todo dia que cai do céu um anjo com a carteira cheia de dinheiro e disposto a contribuir para a nossa redenção financeira. "Dependendo de chegarmos a um acordo sobre certos termos, espero poder confiar ao senhor o montante acima", diz Patrick, enigmático. É uma reticência natural -afinal, e apesar de tudo, US$ 20 milhões são US$ 20 milhões, ou quase isso.
"Quero deixar claro que esta não é uma proposta humanitária, mas estritamente comercial, já que há muito dinheiro à vista para todas as partes envolvidas", ele continua. Epa! Quer dizer que há outras partes envolvidas? É o que parece -e só agora vejo, decepcionado, que o e-mail não me foi nominalmente dirigido, mas a um "Estimado amigo". Ou seja, o gajo talvez nem saiba meu nome.
E se for uma daquelas pegadinhas da internet, em que você se deixa seduzir pela mensagem, clica em algum link para abri-la e, ao fazer isto, expõe seus dados bancários, senhas secretas, cartões de crédito, diário íntimo e até a agenda com os telefones das namoradas? Sim, só pode ser isso -a internet está cheia de pessoas cruéis e mal intencionadas.
Mas, nesse caso, não tenho que clicar em nada. Donde como ele poderia me pegar? "Por favor, não leve a mal nenhum aspecto desta oferta", adverte. "Se conhecer uma boa aplicação para a dita quantia, é só me responder". Hmmm... O que tenho a perder? Acho que vou morder a isca.

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