terça-feira, setembro 01, 2009

LUIZ GARCIA

Mayrink

O GLOBO - 01/09/09

Um dia, sabe-se lá por quê, a revista “Veja” decidiu ter uma reportagem de capa sobre a nostalgia. Encomendou-se o texto a Geraldo Mayrink.

Ele produziu uma pequena obra-prima que começava assim: “Não se faz mais nostalgia como antigamente.” Mayrink, que morreu na semana passada, fazia parte da legião de jornalistas que, jamais chamados a fazer parte da elite dos cronistas, ou por não terem essa ambição, sabiam trabalhar com as palavras. Não era como hoje, quando jornais e revistas abrem generosos espaços — como este aqui — para numerosos pedestres palpiteiros do dia a dia.

Durante muito tempo, contavam-se nos dedos os membros do primeiro time: Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Henrique Pongetti, para citar só os que lembro no momento. Encantavam os leitores mesmo quando escreviam sobre coisa nenhuma: tinham compreensão e aplauso dos leitores até mesmo se, cada um à sua maneira, comentavam a falta de assunto.

Na vala comum das redações, raros eleitos assinavam seus textos. Os patrões não gostavam de expor seus nomes à cobiça dos concorrentes.

Um desses anônimos — que só ficou conhecido mais tarde, quando embarcou numa breve e brava carreira política, encerrada pela ditadura militar, foi Hermano Alves.

Foi quem me ensinou que as opiniões de um jornal nem sempre precisavam ser expostas em intermináveis editoriais: duas ou três frases de boa pontaria podem dar conta do recado.

Nem ele nem O GLOBO ficaram sabendo, mas foi sua a inspiração para os editoriais curtinhos espalhados nas páginas de noticiário que são até hoje uma marca registrada do jornal.

Geraldo Mayrink fazia parte de uma geração de bons jornalistas que saíram de Juiz de Fora para praticar jornalismo de alto nível, principalmente pela qualidade do texto, no Rio e em São Paulo, por volta da década de 60.

Não sei se a fonte secou; se aconteceu, uma pena: suas águas, como a de outras cidades mineiras, eram cristalinas.

Seja como for, não consigo evitar uma impressão: hoje, o texto dos jornais de primeira linha tem excelentes qualidades, entre elas uma qualidade e profundidade na informação que não existia nos meus tempos de foca.

Mas a concisão talvez não esteja entre suas virtudes mais notáveis.

Assim, e para não dar razão a mim mesmo, fico por aqui. Pedindo apenas licença para registrar, com nostalgia, uma última desconfiança: a de que talvez não existam mais Geraldos Mayrinks como antigamente.

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